O que aconteceria se Gran Turismo nunca tivesse existido?
Embora seja um dos primeiros gêneros dos videogames, lá nos anos 70, os jogos de corrida passaram por momentos importantes ao longo das décadas. Houve a definição do gênero, com Enduro, o amadurecimento com Super Monaco GP II, e a expansão tridimensional com Daytona USA. Neste caminho, Gran Turismo, feito pela Polyphony Digital apenas para Playstation, rendeu grande sucesso com seus carros e pistas.
Mas, e se o game nunca tivesse sido lançado? Como o universo dos games de corrida seguiriam hoje em dia? As mudanças seriam poucas, ou seriam drásticas? É o que imaginamos em nossa coluna “o que aconteceria se”, que cria um “multiverso gamer”, avaliando cenários distintos dos quais conhecemos atualmente. Desta vez, o cenário foi sugerido por Marcus Crisostomo, nosso leitor, que argumentou que este exercício de imaginação seria interessante, já que Gran Turismo 7 chegou recentemente.
Já falamos, neste formato de matéria, sobre Street Fighter e Playstation. Agora iremos, juntos, imaginar um mundo sem Gran Turismo.
A Polyphony Digital faz games de ação
Você sabia que, antes de Gran Turismo, a Polyphony Digital fez um clone de Mario Kart? E o mesmo estúdio chegou a fazer um interessante game de ação com robôs no espaço? Motor Toon Grand Prix, por exemplo, é de 1994, e trazia a mesma aura dos jogos de corrida do Mario, com muita cor e carros divertidos. E, após o lançamento de Gran Turismo, o estúdio ainda lançou Omega Boost, shooter com robôs.
O que mostra que o estúdio, vinculado ao Playstation desde o lançamento do primeiro console, poderia sim produzir outros jogos além de Gran Turismo. Omega Boost, por exemplo, poderia ser o carro chefe da empresa, que poderia ser melhor explorado no futuro, aproveitando o potencial do Playstation 2.
Enquanto isso, Motor Toon poderia ser a resposta da Sony para Mario Kart, que ainda teria Crash Team Racing como outro game forte para concorrência no gênero. Com a saída iminente de Crash Bandicoot como figura exclusiva, a série de carros poderia ser a alternativa para o futuro.
O que permitiria que a Polyphony desenvolvesse, ao invés de games de corrida, jogos de ação. Poderia explorar os vários ramos de games de ação disponíveis durante os anos, e trazer sua solução exclusiva para a Sony. Quem sabe, até poderia lidar com carros, mas em um game de mundo aberto?
Forza for Speed
Sem Gran Turismo, uma outra série, que também brilhava nestes dias, poderia fazer ainda mais sucesso: Need for Speed. Com os games de Playstation e, anos mais tarde, o sucesso da série Underground, a franquia da Electronic Arts ditaria, ainda mais, o que era a tendência nos jogos de corrida.
Seria, assim, a grande influência para os jogos Forza. A série da Microsoft, que estreou em 2005 no primeiro Xbox, trazia, logo de cara, mais de 200 carros, e pistas reais e fictícias. Foi uma grande resposta da Playground Games para a Sony, e criou uma série que, em muito, supera a série concorrente, tanto em sua série regular, quanto no mundo Horizon.
Mas, sem o game da Sony, o alvo da concorrência seria Gran Turismo, o que nos faz imaginar que a imaginação poderia ser inversa da realidade. Ou seja: Forza poderia surgir primeiro com sua série Horizon, com sua proposta de corridas alucinantes, para depois propor uma outra série, mais séria, com foco na simulação.
E a SEGA?
Nos anos 90, é importante lembrar que a SEGA também contava com boa presença nos jogos de corrida. Virtua Racing, Daytona USA, Sega Rally e Indy 500 são alguns dos exemplos. Todos estes games, no entanto, apesar de muito bonitos visualmente, eram todos focados na adrenalina arcade, sem foco na simulação.
O mais perto que a SEGA chegou neste segmento foi em Sega GT, que ainda ficava muito atrás do contexto de Gran Turismo. Então, apesar de pensar sobre algum futuro para a SEGA e seus jogos de corrida sem o Gran Turismo, a tendência é a de pensar que a jornada da companhia, mesmo sem o game da Sony, seria a mesma.
O Dreamcast seguiria o mesmo caminho, assim como a SEGA, pois apesar de possuir um bom número de fãs, os jogos de corrida da empresa não eram os principais produtos, no que diz respeito à receita. Tanto que atualmente, a SEGA não mantém suas séries antigas de corrida disponíveis.
Formula 1 exclusiva da Sony?
Poucos sabem, mas por cerca de cinco anos, os jogos da Fórmula 1 nos consoles, eram exclusivos de Playstation. Mas antes disso, a Sony já contava com interesse na categoria, usando a Psygnosis (atual Studio Liverpool) para produzir os primeiros games. A iniciativa tinha um foco claro: o mercado europeu, grande consumidor da F1, assim como a SEGA já havia apostado no passado, inclusive com patrocínio de corrida e até da Williams.
A Sony, que também patrocinou equipes de Fórmula 1, sem o Gran Turismo, poderia investir ainda mais pesado na categoria. Poderia, por exemplo, acabar com os vários games da categoria, como os da Visual System ou da EA Sports, e fechar, ainda nos tempos do primeiro Playstation, uma parceria exclusiva com a categoria, provendo para os consoles Playstation games da Fórmula 1.
O que permitiria uma abertura maior da Sony dentro da própria categoria. Se a Sony realmente patrocinou a Prost e a Jordan, num mundo paralelo, ela poderia ter seu nome vinculado à própria categoria, de forma semelhante a seus patrocínios na Champions League. A Sony poderia explorar a categoria com troféus, nomes em corridas e ações em diversos países, apresentando não só o game da F1, como o seu portfólio em locais como Inglaterra, Estados Unidos, Japão, Espanha e até o Brasil.
Permitindo, até, um torneio oficial usando os seus games, para fomentar o crescente universo dos simuladores, fornecendo tecnologias para que jovens pilotos pudessem treinar no game os desafios que teriam nos carros reais.
Espaço livre para a Codemasters
Gran Turismo nunca foi um game focado 100% em simulação. Faz parte de um gênero bem específico, que une a complexidade de alguns elementos dos simuladores, mas mantendo a facilidade de jogatina no modo arcade. Assim, novatos não se assustam ao jogar o game, enquanto veteranos podem plugar o volante e correr “pra valer”.
Quem dominava este formato de game já há algum tempo é a Codemasters. Com a série Colin McRae Rally (que se tornaria a Dirt), e a TOCA Touring Car (que evoluiria para Grid), era o estúdio inglês, hoje parte da Electronic Arts, que produzia games de corrida com uma proposta mais próxima da simulação.
E, sem um Gran Turismo da Sony, talvez o Gran Turismo acabasse surgindo pelos lados da Codemasters. Com um prestígio ainda maior entre os fãs de corrida, a série poderia evoluir ainda mais, para unificar todos os seus games de corrida em um projeto só. Era a chance do jogador curtir as provas na lama, no asfalto e em vários outros terrenos em um só game, com uma chuva de carros e conteúdo.
Um legado importante para os jogos de corrida
Diferente de outros casos, como Street Fighter fez com games de luta, Gran Turismo não é, e nunca foi, um dominante no cenário de jogos de corrida. Por outro lado, não há como negar o impacto que a série trouxe para o mundo dos games, especialmente no que diz respeito a jogos de corrida em console. De maneira semelhante ao que GoldenEye 007 fez para o FPS nos consoles, Gran Turismo ampliou as oportunidades de games de corrida para consoles, popularizando o gênero ainda mais.
Os dois primeiros games para o primeiro Playstation, o quarto game da série e o sexto, que chegou a ter uma interessante parceria com Ayrton Senna, são bons exemplos de games que foram relevantes em suas épocas. Mas a série conviveu, neste tempo, com a ascensão da Codemasters no gênero, com o sucesso de Need for Speed Underground e com simuladores como Assetto Corsa ganhando espaço com os avanços tecnológicos. Até games de moto, como o oficial da Moto GP, ganharam espaço nestes anos.
O que nos faz imaginar que, de certa forma, o cenário de jogos de corrida seria muito semelhante ao atual. Apenas com a diferença que elementos típicos de Gran Turismo, como a seleção farta de carros, a busca pelo detalhismo e até as questões com licenças poderiam ser menos explorados. Mas, no geral, podemos concluir o seguinte:
O mundo dos games não mudaria drasticamente com a ausência de Gran Turismo. Mas, por outro lado, não receberia boas influências de uma série que, até hoje, mantém adeptos em todo o mundo.