Análise Arkade: Explorando a loucura Lovecraftiana do reboot de Alone in the Dark

22 de abril de 2024
Análise Arkade: Explorando a loucura Lovecraftiana do reboot de Alone in the Dark

O gênero Survival Horror nasceu no ano de 1989 com Sweet Home, do NES. Porém, foi em 1992, com Alone in the Dark, que o gênero realmente se consolidou, até a chegada de Resident Evil em 1996, que cimentou o estilo que tornou-se seu padrão.

Agora, Alone in the Dark está de volta com um remake completo, que não só recria seu visual e gameplay, como reconta sua história de uma forma mais profunda e com altas doses de terror cósmico! E chegou a hora de falar sobre como o game acabou se saindo!

A mesma história, mas diferente

Análise Arkade: Explorando a loucura Lovecraftiana do reboot de Alone in the Dark

o remake de Alone in the Dark mantém todas as bases do game original, mas adicionando muitos elementos para “completar” a narrativa, incluindo substituições de elementos de história, o que tornam o enredo como um todo bem mais sombrio.

O game mantém o mesmo plot original, mas com alterações significativas. A história acompanha a dupla de protagonistas Emily Hartwood e Edward Carnby, que vão até a mansão de Derceto em busca de Jeremy Hartwood, o tio de Emily. No original, Jemery cometeu suicídio, e a dupla se dirige à mansão em busca de um piano, que aparentemente esconde os segredos de sua morte.

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No remake, Jeremy está desaparecido, e suspeita-se que ele pode ter cometido suicídio. Assim, Emily (interpretada pela atriz Jodie Comer), contrata o detetive Edward Carnby (interpretado por David Harbour, de Stranger Things) para ir com ela até Derceto e investigar o desaparecimento de Jeremy.

Dependendo de qual personagem você controlar, a história terá cenas diferentes. Além disso, as campanhas dos personagens se completam, tanto com elementos narrativos e principalmente em seus itens colecionáveis, o que falaremos mais adiante. Para este review, joguei a aventura com o detetive Edward Carnby, e em breve pretendo revisitar a aventura, dessa vez na perspectiva de Emily.

Um terror Lovecraftiano bem feito

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Imediatamente ao começar a jogar (principalmente se você jogar o prólogo gratuito do game), você já dá de cara com o sobrenatural. Derceto, uma espécie de hospital psiquiátrico/hotel, esconde mistérios que todos os seus residentes vivem, mas são propositalmente evasivos na hora de explicá-los.

Em vários momentos da aventura, exploramos uma versão alternativa do local, como se toda a mansão tivesse afundado num pântano sombrio, com muitos monstros habitando-a. E fora isso, há diversos portais que levam a diferentes lugares do mundo, todos eles conectados ao mistério do desaparecimento de Jeremy Hartwood.

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Enquanto o game original possuía um enredo simples, com uma boa dose de mistérios, esse remake/reboot eleva tudo para além do cosmos. Alone in the Dark é diretamente influenciado pela obra de H.P. Lovecraft, referenciando não apenas algumas entidades criadas pelo escritor, mas objetos e contos, especialmente “O Assombrador das Trevas” e “Nyarlathotep”, de onde sai a inspiração do principal antagonista da história, o “Homem Sombrio”. E há ainda algumas sutis referências a “O Rei de Amarelo”, de Robert W. Chambers, um dos escritores que inspirou Lovecraft.

A trama acompanha os dois protagonistas enquanto exploram Derceto e, a cada nova descoberta, passam a questionar-se o que é real e o que é ilusão e loucura. Assim, o game mistura dois estilos de terror em um só, estranhamente tanto de forma “unida” como “separada”.

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Um dos estilos é o clássico Survival Horror, em que exploramos a mansão de Derceto, que não é um local muito grande, ocupando talvez metade do tamanho da Mansão Spencer do Resident Evil Original. Nesse “estilo”, exploramos a missão com foco total na resolução de puzzles, coletando itens importantes e visitando sala a sala e corredor a corredor do local, num ritmo bem tranquilo, mas cheio de suspense.

O segundo estilo vem dos trechos em que os cenários mudam, seja com a própria Derceto assumindo uma forma decrépita, ou ao visitarmos outros locais via portais. Nesses pontos, o foco muda para sobrevivência e combate, em que temos de sobreviver a grotescos monstros enquanto desvendamos o desaparecimento de Jeremy.

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Em minha jogatina, escolhi a dificuldade mais alta do game para ver o nível de desafio oferecido. Mas mesmo na dificuldade mais alta, com dicas de puzzles desativadas e monstros mais fortes, a jornada foi tranquila, pois o game não deixa que o jogador fique indefeso. Sabe aqueles momentos em que você encontra muita munição e itens de cura e já sabe que tem uma luta chegando? É exatamente assim aqui.

O combate é secundário, mas envolvente

Alone in the Dark progride principalmente através da exploração e resolução de puzzles. Visite uma sala e colete um item importante que é usada em outra sala, o que desbloqueia pistas sobre o que fazer e para onde ir, bem como desbloqueia outros itens importantes, e por aí vai.

O combate é bem secundário, de forma que raramente você dará de cara com um monstro enquanto está simplesmente explorando. Nas partes em que os cenários se transforam é quando realmente estamos em situações de combate. E, diferente do original, o game possui perspectiva over de shoulder, ao estilo de Resident Evil 4. Mas há um pequeno trecho em que jogamos com câmeras fixas, prestando homenagem ao original!

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Esse trecho de câmera fixa é pequeno, mas muito legal!

Em termos de gameplay Alone in the Dark é bem simples. As ações que você pode realizar são mirar, atirar, esquivar-se e atacar usando armas brancas, desde que você tenha uma equipada. Munições “são e não são” escassas. Você encontrará pouca munição nos trechos de exploração, mas nos trechos de batalha o game é bem generoso, pois, se você não tiver balas e não tiver nenhuma arma branca, estará completamente indefeso.

Todas as armas brancas possuem durabilidade, quebrando após certa quantidade de golpes. Há trechos em que elas estão bem espalhadas nos cenários, e outras em que há caixas em que você pode coletá-las “infinitamente”. Quando elas aparecem em caixas, é porque você precisa usá-las para interagir com os cenários, quebrando tábuas ou paredes, por exemplo, e o game as coloca bem na sua frente para não impedir sua progressão.

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Jogando no nível de dificuldade mais alto os monstros são bem resistentes, alguns conseguindo sobreviver até a dois tiros a queima roupa de espingarda. Assim, o uso da esquiva é primordial, pois esse recurso não apenas permite que você evite levar dano, como permite que você faça um movimento rápido para se afastar, o que abre a chance de você poder atacar.

Há ainda itens de cenário, como pedras e coquetéis molotov, que podem ser usados tanto para atordoar monstros como para distraí-los, ao jogá-los no chão para chamar suas atenções.

Visualmente simples, mas desde quando isso é problema?

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Alone in the Dark é um game com um visual bonito, mas que não almejou atingir o fotorrealismo. Os personagens são bem feitos, principalmente a dupla de protagonistas, com seus visuais recriados dos atores reais que os interpretam, mas simplistas, se considerarmos o “padrão” atual.

De certa forma, os personagens parecem ser o elemento de menos destaque visual aqui. Não me entenda errado, todos possuem visuais bem feitos, ainda que um ou outro pareça “robótico demais”. Mas, se deixarmos de lado de que eles são os atores que contam a história, o verdadeiro foco visual aqui é o cenário, a mansão de Derceto e os vários cenários que visitamos conforme exploramos a mansão e seus mistérios.

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Os cenários são muito bem feitos. A mansão de Derceto é construída de uma forma que transmite a sensação de ser um lugar real, com uma arquitetura simples, decorações típicas da década de 1920-1930, com elementos novos e elementos decaídos. A mansão é, por si só, um personagem vivo dentro do game, que é o que se espera de um remake de um verdadeiro clássico do terror, icônico justamente pelo local em que a aventura se passa.

Além disso, o game mistura ao mesmo tempo trechos de exploração livre com trechos lineares, o que resulta numa experiência bem interessante, que divide o “tipo de ação” que interagimos. Enquanto você está explorando a mansão e resolvendo puzzles, você está seguro. Mas, se tudo ficar escuro, você precisa tomar muito cuidado. E, nos trechos em que visitamos outros locais, a progressão é mais simplificada, na maioria das vezes nos colocando para seguir um único caminho, cheio de perigos entre seu início e final. Mas, há algumas áreas labirínticas que oferecem um grande desafio.

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Na parte sonora o game manda muito bem. Sua trilha sonora predominantemente de jazz estabelece um clima noir excelente. O game todo tem uma estética noir forte, graças as roupas dos personagens, seus monólogos internos e obviamente pelo período histórico em que o game se passa, no auge das histórias de detetives particulares.

Já na parte de terror, temos elementos lovecraftianos muito fortes. De cidades envoltas em névoa, criaturas saídas diretamente de descrições de terror cósmico, indo desde esqueletos mutantes, encobertos por milhares de vermes translúcidos, a verdadeiras monstruosidades indescritíveis.

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O game infelizmente não possui dublagem em português brasileiro, mas dado o seu time de atores vivendo seus personagens, a história é excelente de se acompanhar e muito envolvente, adicionando mistérios e respostas numa cadência muito boa, fazendo com que, quando você finalmente desvenda algo, simplesmente desbloqueia uma nova peça de um mistério ainda mais complexo.

O game, porém, está localizado em português brasileiro em seus menus e legendas, e a localização é excelente! As vezes rola uma confusão, com uma palavra ou outra em espanhol misturada em textos longos, mas nada que prejudique o entendimento do jogador.

Conclusão

Análise Arkade: Explorando a loucura Lovecraftiana do reboot de Alone in the Dark

Alone in the Dark é um remake/reboot excelente, que pega um clássico absoluto dos Survival Horrors – o game que “inventou” o estilo de câmeras fixas, que popularizou-se com Resident Evil – e o traz para a geração atual com uma nova história, ainda fundamentada no original, mas muito mais complexa e sombria.

Dito isso, esse novo game serve como substituto do original? Não. Os games contam a mesma história, mas cada um é produto de sua própria época. Enquanto este Alone in the Dark de 2024 é uma excelente porta de entrada para a série (que infelizmente tem sequências bem… problemáticas), sua experiência é totalmente diferente do original de 1992. Assim, se você tiver a chance, jogue ambos os games, tanto para poder ver de perto sua evolução, como para simplesmente poder jogar um verdadeiro clássico atemporal.

Alone in the Dark foi lançado no dia 20 de março com versões para PC, Playstation 5 e Xbox Series X/S.

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