Análise Arkade: o balé psicodélico e cheio de segredos de Bound
Prepare-se para embarcar em uma belíssima viagem surreal por um mundo regido pela dança: Bound é um jogo indie meio experimental que certamente é diferente de tudo que você já viu, confira nossa análise!
A grávida, a criança e a bailarina
A história de Bound ramifica-se por 3 momentos distintos: temos uma mulher grávida caminhando pela praia. Temos uma princesa bailarina que vive em uma realidade maluca, cheia de cores e voxels estourando pelos cantos. E temos breves vislumbres de uma garotinha vivendo situações familiares diversas em um tom meio sombrio..
O que estas 3 realidades tem em comum? A princípio, quase nada. A forma vaga e sutil com que a trama do game progride nunca é direta, e o que temos são basicamente pistas que interligam estes universos tão distópicos. Eles meio que convergem para uma mesma direção, mas não espere nada muito linear. Bound é aquele tipo de jogo que, justamente por não explicar direito o que se passa, deixa espaço para interpretações diversas, e é corajosa por abordar com muita sensibilidade temas que não vemos muito no mundo dos games.
A parte do game em que realmente jogamos — no papel da bailarina — tem um ar de conto de fadas: você controla uma princesa bailarina que deve proteger seu “reino” e sua mãe de uma entidade demoníaca gigante que é chamada simplesmente de “monstro”. Sua principal arma? Seu talento na dança e sua notável agilidade.
Dançando e saltando
Bound é essencialmente um jogo de plataforma e exploração 3D. Nossa bailarina — que mal podemos dizer que é humana — se move de forma fluida e graciosa por cenários altamente psicodélicos que estão em constante evolução, se abrindo, se fechando, pulsando e se expandindo como se fosse um enorme organismo vivo.
Neste mundo psicodélico de cores e voxels, seu papel é basicamente seguir em frente, usando seus talentos acrobáticos para evitar quedas e obstáculos, se equilibrar por passagens estreitas e não errar o pulo em trechos que envolvem plataformas móveis ou cordas.
Confira abaixo um breve momento de gameplay que capturamos no PS4:
O gameplay em si é bem simples: você controla a bailarina pelo analógico esquerdo, e conta com botões que realizam ações básicas como pulo e rolamento — movimentos realizados com a graça e a elegância típicas do balé.
Ao manter o gatilho direito pressionado, fitas coloridas materializam-se ao redor da personagem, servindo como uma espécie de escudo contra chamas, correntes pulsantes de voxels (?!) e outros perigos.
Além da proteção, as fitas meio que dão um boost nas habilidades da bailarina, e sem dúvida deixam suas piruetas e rodopios ainda mais bonitos.
Criando seu próprio caminho
Os cenários de Bound são em sua maioria bem grandes, e escondem muitas rotas e caminhos alternativos que você geralmente acaba descobrindo meio que sem querer. Sempre existe uma forma bem linear e óbvia de ir do ponto A ao ponto B, mas você pode arriscar criar seus próprios atalhos através de plataformas, cordas e parapeitos.
Explorar bastante todas as possibilidades que o cenário oferece geralmente lhe rende boas recompensas: existem diversas áreas e passagens secretas no jogo, e em muitos casos elas escondem “pérolas” que ajudam a desenvolver a esparsa narrativa. Quase todos os troféus de Bound são secretos, o que lhe dá uma boa pista de quão cheio de segredos é o jogo.
Sabe outra coisa bem bacana deste jogo? Surfar em fitas, saca só:
Ainda que ele possa ser jogado em modo “speedrun” — também existem troféus para isso — eu recomendo fortemente que você deguste Bound sem pressa, explorando bem cada cenário e se esforçando para criar seus próprios caminhos e alcançar lugares que parecem inalcançáveis… mesmo que isso demande um bocado de tentativa e erro.
Um jogo lindo
Apreciar Bound sem pressa nem chega a ser um sacrifício, diga-se de passagem, dada a beleza surreal do game. Com um estilo artístico todo próprio, o game usa e abusa de voxels “mutantes” para encher a tela de cores e formas que estão sempre girando, mudando e se transformando. O simples fato de você encostar em uma parede já modifica seu aspecto, reforçando a impressão de que o cenário em si é um enorme organismo vivo.
Confira mais um pouco de gameplay abaixo:
Em alguns momentos, acho que o “excesso de informação” até deixa as coisas meio confusas — e a câmera vez ou outra se perde e atrapalha um bocado, também — , mas na maior parte do tempo o visual do jogo é bem impressionante. E o melhor é que Bound já chega com um Photo Mode incrível que rende screenshots realmente épicas! Confira algumas das minhas abaixo:
Ainda que mergulhe fundo na plasticidade do balé, o game não traz coisas como “O Quebra-Nozes” ou “O Lago dos Cisnes” em sua trilha sonora. As músicas misturam violinos com batidas techno e muitos “barulhinhos” estranhos, que se misturam em uma dissonância que é bem atmosférica, e casa muito bem com toda essa vibe esquisita e surrealista do game.
As animações da personagem são simplesmente incríveis. Eu não sou exatamente um especialista em balé, mas mesmo para um leigo é fácil perceber que houve muito capricho na composição dos movimentos da personagem. Tal qual uma bailarina real, ela se alonga, fica na ponta dos pés, realiza piruetas e floreios com graciosidade e leveza dignas de uma bailarina de verdade.
A beleza e a plasticidade do balé ainda ganham mais pontos por ser algo quase nunca visto em um game.
Conclusão
Ainda que tenha uma história fragmentada e meio vaga, Bound sem dúvida merece ser experimentado pelo conjunto da obra. A beleza do game por si só já chama a atenção, mas ele também possui um gameplay agradável, que se torna desafiador quando o próprio jogador decide ousar e ir em busca de segredos e caminhos alternativos. Bound é feito de segredos, e sua perseverança em encontrá-los é recompensada.
Ainda que tenha uma vibe que faça ele parecer quase um jogo experimental, Bound ganha força por abordar com muito capricho algo pouco visto no mundo dos games — o balé — e conseguir mesclar dança e gameplay de formas bem inventivas. Tal qual Journey e o recente ABZÛ, ele não entrega uma história “mastigadinha”, mas a jornada sem dúvida é bela e satisfatória.
Bound foi lançado em 16 de agosto. O game é exclusivo para PS4, e possui menus e legendas em português brasileiro.