Análise Arkade: o balé psicodélico e cheio de segredos de Bound

20 de agosto de 2016

Análise Arkade: o balé psicodélico e cheio de segredos de Bound

Prepare-se para embarcar em uma belíssima viagem surreal por um mundo regido pela dança: Bound é um jogo indie meio experimental que certamente é diferente de tudo que você já viu, confira nossa análise!

A grávida, a criança e a bailarina

A história de Bound ramifica-se por 3 momentos distintos: temos uma mulher grávida caminhando pela praia. Temos uma princesa bailarina que vive em uma realidade maluca, cheia de cores e voxels estourando pelos cantos. E temos breves vislumbres de uma garotinha vivendo situações familiares diversas em um tom meio sombrio..

O que estas 3 realidades tem em comum? A princípio, quase nada. A forma vaga e sutil com que a trama do game progride nunca é direta, e o que temos são basicamente pistas que interligam estes universos tão distópicos. Eles meio que convergem para uma mesma direção, mas não espere nada muito linear. Bound é aquele tipo de jogo que, justamente por não explicar direito o que se passa, deixa espaço para interpretações diversas, e é corajosa por abordar com muita sensibilidade temas que não vemos muito no mundo dos games.

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Os 3 momentos de Bound ilustrados: a mulher grávida…

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A princesa bailarina em um mundo psicodélico…

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E as crianças em flashbacks meio sombrios.

A parte do game em que realmente jogamos — no papel da bailarina — tem um ar de conto de fadas: você controla uma princesa bailarina que deve proteger seu “reino” e sua mãe de uma entidade demoníaca gigante que é chamada simplesmente de “monstro”. Sua principal arma? Seu talento na dança e sua notável agilidade.

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O “monstro” e a bailarina.

Dançando e saltando

Bound é essencialmente um jogo de plataforma e exploração 3D. Nossa bailarina — que mal podemos dizer que é humana — se move de forma fluida e graciosa por cenários altamente psicodélicos que estão em constante evolução, se abrindo, se fechando, pulsando e se expandindo como se fosse um enorme organismo vivo.

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Tá vendo esses cubos? Todos eles estão sempre pulsando e girando.

Neste mundo psicodélico de cores e voxels, seu papel é basicamente seguir em frente, usando seus talentos acrobáticos para evitar quedas e obstáculos, se equilibrar por passagens estreitas e não errar o pulo em trechos que envolvem plataformas móveis ou cordas.

Confira abaixo um breve momento de gameplay que capturamos no PS4:

O gameplay em si é bem simples: você controla a bailarina pelo analógico esquerdo, e conta com botões que realizam ações básicas como pulo e rolamento — movimentos realizados com a graça e a elegância típicas do balé.

Ao manter o gatilho direito pressionado, fitas coloridas materializam-se ao redor da personagem, servindo como uma espécie de escudo contra chamas, correntes pulsantes de voxels (?!) e outros perigos.

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Além da proteção, as fitas meio que dão um boost nas habilidades da bailarina, e sem dúvida deixam suas piruetas e rodopios ainda mais bonitos.

Criando seu próprio caminho

Os cenários de Bound são em sua maioria bem grandes, e escondem muitas rotas e caminhos alternativos que você geralmente acaba descobrindo meio que sem querer. Sempre existe uma forma bem linear e óbvia de ir do ponto A ao ponto B, mas você pode arriscar criar seus próprios atalhos através de plataformas, cordas e parapeitos.

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Explorar bastante todas as possibilidades que o cenário oferece geralmente lhe rende boas recompensas: existem diversas áreas e passagens secretas no jogo, e em muitos casos elas escondem “pérolas” que ajudam a desenvolver a esparsa narrativa. Quase todos os troféus de Bound são secretos, o que lhe dá uma boa pista de quão cheio de segredos é o jogo.

Sabe outra coisa bem bacana deste jogo? Surfar em fitas, saca só:

Ainda que ele possa ser jogado em modo “speedrun” — também existem troféus para isso — eu recomendo fortemente que você deguste Bound sem pressa, explorando bem cada cenário e se esforçando para criar seus próprios caminhos e alcançar lugares que parecem inalcançáveis… mesmo que isso demande um bocado de tentativa e erro.

Um jogo lindo

Apreciar Bound sem pressa nem chega a ser um sacrifício, diga-se de passagem, dada a beleza surreal do game. Com um estilo artístico todo próprio, o game usa e abusa de voxels “mutantes” para encher a tela de cores e formas que estão sempre girando, mudando e se transformando. O simples fato de você encostar em uma parede já modifica seu aspecto, reforçando a impressão de que o cenário em si é um enorme organismo vivo.

Confira mais um pouco de gameplay abaixo:

Em alguns momentos, acho que o “excesso de informação” até deixa as coisas meio confusas — e a câmera vez ou outra se perde e atrapalha um bocado, também — , mas na maior parte do tempo o visual do jogo é bem impressionante. E o melhor é que Bound já chega com um Photo Mode incrível que rende screenshots realmente épicas! Confira algumas das minhas abaixo:

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Momento Karate Kid. ^^

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Explosão de voxels.

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Detalhe de um cenário surreal.

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As fitas em alto contraste.

Ainda que mergulhe fundo na plasticidade do balé, o game não traz coisas como “O Quebra-Nozes” ou “O Lago dos Cisnes” em sua trilha sonora. As músicas misturam violinos com batidas techno e muitos “barulhinhos” estranhos, que se misturam em uma dissonância que é bem atmosférica, e casa muito bem com toda essa vibe esquisita e surrealista do game.

As animações da personagem são simplesmente incríveis. Eu não sou exatamente um especialista em balé, mas mesmo para um leigo é fácil perceber que houve muito capricho na composição dos movimentos da personagem. Tal qual uma bailarina real, ela se alonga, fica na ponta dos pés, realiza piruetas e floreios com graciosidade e leveza dignas de uma bailarina de verdade.

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A beleza e a plasticidade do balé ainda ganham mais pontos por ser algo quase nunca visto em um game.

Conclusão

Ainda que tenha uma história fragmentada e meio vaga, Bound sem dúvida merece ser experimentado pelo conjunto da obra. A beleza do game por si só já chama a atenção, mas ele também possui um gameplay agradável, que se torna desafiador quando o próprio jogador decide ousar e ir em busca de segredos e caminhos alternativos. Bound é feito de segredos, e sua perseverança em encontrá-los é recompensada.

Análise Arkade: o balé psicodélico e cheio de segredos de Bound

Ainda que tenha uma vibe que faça ele parecer quase um jogo experimental, Bound ganha força por abordar com muito capricho algo pouco visto no mundo dos games — o balé — e conseguir mesclar dança e gameplay de formas bem inventivas. Tal qual Journey e o recente ABZÛ, ele não entrega uma história “mastigadinha”, mas a jornada sem dúvida é bela e satisfatória.

Bound foi lançado em 16 de agosto. O game é exclusivo para PS4, e possui menus e legendas em português brasileiro.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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