Análise Arkade: a luta pela sobrevivência do indie Feist

23 de dezembro de 2016

Análise Arkade: a luta pela sobrevivência do indie Feist

Feist é um jogo que lembra bastante o já clássico Limbo. Se você curtiu o game da Playdead, provavelmente vai curtir esse aqui também, confira nossa análise!

Siga sempre para a direita

Em uma primeira olhada, Feist parece um side scroller bem tradicional: você controla uma criaturinha peluda que foi aprisionada por alguns monstros peludos bem maiores. Assim que consegue escapar da jaula, seu objetivo fica bem claro: siga sempre para a direita e tente não morrer.

Claro que “não morrer” não é assim tão fácil, pois você encontrará muitos inimigos e obstáculos em seu caminho. De armadilhas à lagartas cheias de espinhos, passando por enormes moscas que atiram ferrões e aranhas implacáveis, terminar uma fase sem morrer pelo menos 5 ou 6 vezes é uma tarefa árdua.

Análise Arkade: a luta pela sobrevivência do indie Feist

Não há bem uma história em Feist. Ao fim de cada fase uma pequena cutscene mostra que os monstros peludos que lhe aprisionaram estão em uma espécie de procissão, indo para algum lugar (que também fica à direita). Como nos jogos da Playdead, temos basicamente uma situação, uma premissa, que não é necessariamente uma trama, mas que mesmo assim — curta e sem palavras — consegue passar uma mensagem.

Natureza e acaso

O combate não é o foco de Feist. Na maior parte do tempo ele é um side scroller “pacífico”, com diversos inimigos que podem simplesmente ser evitados, ou eliminados usando as próprias armadilhas que estão espalhadas pelo cenário. Porém, isso não significa que você precise ficar indefeso o tempo todo: é possível coletar paus, pinhas e pedras para usar como armas, e até alguns inimigos — como as moscas que atiram ferrões — podem ser usados como armas.

Veja um pouco de gameplay abaixo:

Ao final de cada fase, sempre há uma besta peluda “guardando” a saída, e você terá que enfrentá-la se quiser prosseguir. Derrubá-las está fora de questão, seus ataques simplesmente atrasam um pouco os bichos. Assim, geralmente precisamos dar um jeito de “driblar” a criatura para poder passar. Nem sempre isso é fácil, e aí entra um dos aspectos mais frustrantes de Feist: ele carece mais de sorte do que de habilidade.

Por exemplo: em determinada fase, havia um pequeno barranco logo após a besta peluda. O salto normal do personagem não era capaz de levá-lo até o topo, de modo que era preciso “empilhar” umas pedras para ganhar altura. Só que fica bem difícil conseguir fazer isso com a besta te atacando o tempo todo e chutando suas pedras, enquanto várias moscas ficam atirando ferrões lá do alto.

Análise Arkade: a luta pela sobrevivência do indie Feist

Eu tentei de tudo: taquei pedras, dei pauladas, usei as moscas com ferrão, e o bicho continuava vindo de novo e de novo, derrubando minha pilha de pedras e me impedindo de prosseguir (geralmente me matando no processo). Passei mais de meia hora preso nessa batalha até que — por acaso — o ricochete de uma pedra que o bicho tacou em mim deixou-a em um ângulo favorável, que eu pude usar de rampa para pular o barranco um segundo antes dele vir correndo e destruir tudo.

Gravei um pedacinho desta “batalha” com algumas das minhas tentativas frustradas, confere aí:

Não sou um game designer, mas acho que quando há sorte e acaso envolvidas em algo que deveria ser mecanicamente possível, algo está meio errado. Entendo que Feist é um jogo que envolve dificuldade, perseverança e tentativa e erro, mas a maneira aleatória com que certos desafios acabam sendo resolvidos deixa um gostinho meio amargo.

Isso aconteceu ali pela 3ª ou 4ª fase, quando a besta peluda em questão ainda não fazia nada além de me perseguir e me bater. Conforme avançamos pelas 10 fases do jogo, as criaturas vão ficando cada vez mais poderosas, podendo se teletransportar e até soltar magias. Isso para não mencionar uma parte em que elas chegam em bando. A maioria destes encontros é frustrante de alguma maneira, ainda que o pior da minha experiência com o jogo tenha sido esta parte do barranco que descrevi acima.

Audiovisual

Feist também se parece muito com Limbo no quesito visual: tudo o que vemos são silhuetas de cenários e criaturas, sombras negras e muito bem detalhadas que contrastam com os backgrounds verdes, azuis e amarelos do game, que apesar de simples, são lindos e dotados de muita profundidade. Não há muita variedade de cenários ou cores aqui, embora vez ou outra você entre em uma caverna ou comece a chover, o que dá uma mudada.

O destaque vai para os belíssimos reflexos que vemos quando a ação se desenrola por cima de lagos:

Análise Arkade: a luta pela sobrevivência do indie Feist

A trilha sonora é sutil, suave, e passa uma serenidade que nem combina tanto com o jogo em si, que vai se tornando mais e mais difícil conforme avançamos.  No geral o departamento audiovisual como um todo é simples, mas muito competente. Lembra Limbo, Badlands e outros jogos do tipo, mas nem por isso perde pontos, pois tudo é caprichado e polido. Considerando que este é um indie “roots” produzido por apenas 2 pessoas, ele sem dúvida é merecedor de todos os elogios e prêmios que ganhou.

Um detalhe interessante é que Feist está 100% localizado em português. Como eu já disse não há bem uma história (e não há sequer uma voz no jogo todo, nenhuma palavra é proferida), mas seus menus e tutoriais estão em português brasileiro. Um esforço bacana por parte de um estúdio pequeno que merece ser valorizado.

Conclusão

Feist é um joguinho curto e simples que vai direto ao ponto e não pega o jogador pela mão em nenhum momento: você precisa tentar, falhar, e tentar de novo para entender como inimigos e armadilhas se comportam antes de prosseguir. Simplesmente sair correndo e pulando nunca é uma boa ideia, pois certos inimigos são perseguidores implacáveis que não vão lhe dar sossego.

Análise Arkade: a luta pela sobrevivência do indie Feist

Ainda que se pareça muito com Limbo, Feist é muito mais focado na ação e na sobrevivência pura e simples do que nos puzzles. Acho que ele se apoia demais na sorte e no acaso, o que pode se tornar frustrante depois de um tempo para quem não tem muita paciência. Ele não consegue ser tão memorável ou emblemático quanto Limbo, mas oferece entretenimento de qualidade… desde que você embarque sabendo que invariavelmente vai passar um bocado de raiva.

Feist foi lançado para PCs em meados do ano passado. No dia 12 de dezembro deste ano, ele chegou ao PS4 e ao Xbox One. Vamos sortear algumas keys de PS4 no Arkade Gamer Club, então participe do grupo e fique de olho. 😉

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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