Análise Arkade: Gran Turismo Sport inaugura uma nova era para o simulador
Desde 1997, quando o primeiro Gran Turismo chegou, o simulador da Polyphony Digital mudou para sempre o automobilismo nos videogames. Antes dominado por jogos arcades, com maior foco na diversão do que no realismo, os simuladores, que estavam restritos em sua maioria apenas nos computadores, começaram a se sentir mais a vontade nos consoles, com Toca Touring Car, Colin McRae Rally e tantos outros games somando no universo das corridas realistas.
O tempo passou, novos simuladores chegaram, entre eles, Forza e Project CARS e, hoje, mais do que nunca, o automobilismo virtual vive uma época muito interessante, já que com Realidade Virtual e gameplay cada vez mais realista, os simuladores servem até na descoberta e formação de novos talentos para as pistas reais, a ponto de Gran Turismo colocar pilotos dentro de uma 24 Horas de Le Mans.
E, com o andar natural da carruagem, era natural que o Playstation 4 recebesse uma nova versão de Gran Turismo. Ela chegou, porém de um jeito totalmente diferente do qual estamos acostumados. Se por um lado, o gameplay exigente e a sua busca eterna pela perfeição na simulação de pilotagem continuam, por outro, esqueça a “enciclopédia do automóvel” o qual estamos acostumados: agora Gran Turismo é um game competitivo, e quer que você utilize tudo o que aprendeu em suas corridas nas últimas duas décadas para correr contra vários pilotos pelo mundo.
O que mudou?
Com um novo nome e uma nova proposta, várias coisas mudaram em Gran Turismo. A primeira coisa que você irá perceber ao ligar o game é que não há mais um modo carreira, como dita a tradição da série. Esqueça as provas para habilitação, as licenças de vários tipos, as várias competições divididas por categorias e a imensa garagem com carros que vão do Fusca até os conceitos. O Sport do game quer dizer que agora temos que utilizar tudo o que aprendemos nos games da franquia até hoje, para competir com outros corredores por todo o mundo.
Tudo bem, ainda há alguns desafios offline, como as corridas simples contra a máquina e desafios pelas pistas do jogo, com direito a buscar tempos de ouro, prata e bronze por setor ou em todo o circuito, porém, Gran Turismo Sport é um game para ser jogado online, e para marcar esta nova era do jogo. Com isso, o jogo perde todo aquele conteúdo rico que foi acumulando pelo passar dos anos, porém investe pesado no online, oferecendo eventos de todos os tipos possíveis, para todos os tipos de jogadores.
Infelizmente, estas mudanças também afetaram o conteúdo do jogo, que perdeu diversas pistas, contando com um número muito baixo para um jogo do gênero, ainda mais nesta altura do campeonato. Mesmo com Interlagos, as pistas são poucas e não chegam nem perto das disponíveis em Project CARS e Forza, com o mesmo acontecendo com os carros. Sim, queria competições online de Fusca, mas não será em GT Sport que irei conseguir.
O que não mudou?
Quando você joga Gran Turismo Sport, mesmo com esta mudança radical no conceito, você percebe que está jogando o mesmo game de sempre. A mesma física, os mesmos carros que não amassam quando se chocam com algo, e os mesmos visuais, com as devidas atualizações visuais, claro. Os menus completos (até demais) continuam a oferecer uma imensidão de opções, seja para o gameplay, ou para os carros que você possui, tudo como era em 2013.
Também não mudou o jeitão de progressão dentro do game. Mesmo sendo um game para ser jogado exclusivamente online, você vai encontrar os clássicos desafios da série, porém divididos em desafios, aulas e pistas que pedem sua volta mais rápida, tudo com premiação em ouro, prata e bronze, como sempre foi. Apenas muda o fato de que nada disso vai ser relevante para desbloquear um modo carreira que não existe, servindo mais como treino e também como uma das várias formas de se ganhar um carro na faixa, cumprindo um número X de objetivos.
E, principalmente, o gameplay. Este sim segue intocável e cada vez mais fiel ao que a série sempre valorizou: o dirigir está ótimo como sempre, a física segue seu caminho rumo a perfeição e aqui, não tem nada de fazer curvas sem frear. Para um game que quer fazer história nas competições virtuais, nada mal!
O Sport lá no nome…
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O novo Gran Turismo tem Sport no nome por querer se tornar referência em competições de automobilismo virtual. O bacana é que o game é acessível para todos os tipos de corredores, desde os casuais, que correm apenas para desestressar, quanto para os mais dedicados. E quando falamos de dedicação em Gran Turismo, não podemos esquecer do GT Academy, e muito menos da licença da FIA para torneios oficiais.
Mas, antes de falar de FIA, vamos comentar sobre o funcionamento do modo Sport, que é bem simples: você vai correndo, somando pontos, ganhando dinheiro, carros, milhas e bônus, que podem ser revertidos em melhoras para a sua garagem. Tudo o que você faz no jogo reflete em resultado para você e até a etiqueta é valorizada. Em GT Sport, não há lugar para corredores desesperados, daqueles que saem querendo ultrapassar a todo custo, batendo nos outros carros e prejudicando as corridas alheias.
Um sistema de pontuação mede o seu estilo de pilotagem, aumentando ou diminuindo pontos de acordo com o estilo de pilotagem. Os corredores são separados pelas corridas corriqueiras de acordo com o seu desempenho, nível de pilotagem e também pela etiqueta. Isso significa que pilotos virtuais que se respeitam e que não saem feito doidos por aí não terão suas corridas prejudicadas, enquanto os arruaceiros contarão com pistas só para eles. O único porém é que o sistema ainda não consegue avaliar direito as batidas, pois perdi nível de etiqueta no jogo por receber batidas, evitando-as a todo custo. Se a etiqueta vai ser levada — com razão — a sério, é preciso mais ajustes quanto a pontuação.
O online, que foi bastante trabalhado durante o período de beta, também se mostra firme e competente. Isso deixou todas as corridas que disputei estáveis e divertidas, sem nenhum problema grave, como saída de corridas do nada ou coisa do tipo. Tudo impecável para a pré-temporada do torneio da FIA, que terá início em novembro, com torneios rolando durante o ano de 2018.
É uma nova era, mas que precisa de mais retoques
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Para quem estava preocupado quanto ao principal em Gran Turismo, que é o pilotar os carros de maneira quase que semelhante ao que acontece nas pistas de verdade, pode ficar tranquilo. O gameplay está sensacional, evoluindo muito em comparação a GT6 e mesmo aos betas que apareceram de Sport nos últimos meses. O visual também está bem caprichado e correr no game está divertido como sempre.
Porém, mesmo entendendo que estamos diante de um game que busca o lado competitivo, o seu conteúdo é bem limitado, pelo menos por enquanto. São poucas pistas, poucos carros e até mesmo pouca oferta online, fora das competições oficiais. São apenas três competições diárias nas mesmas pistas, sem muita coisa a se fazer, enquanto aguarda alguma próxima corrida, ou mesmo quando você enjoa de correr sempre no mesmo lugar. Mesmo os modos “offline”, como os desafios, ou um modo fotografia bem legalzinho, não suprem as carências de um game que era conhecido por entupir seus jogadores de conteúdo.
Gran Turismo Sport tem tudo para dar certo e até mesmo aparecer com um “2” pelos próximos anos, mas é preciso que a sua equipe fique bem atenta com o feedback de seus jogadores. A inclusão de Interlagos já nos faz acreditar que, em breve, mais pistas poderão ser adicionadas ao catálogo, e precisamos urgentemente de mais coisas a se fazer online, especialmente para quem, por qualquer razão, não quer participar das competições oficiais da FIA. Porém, como é tudo ainda muito novo para a Polyphony Digital, prefiro aguardar um pouco o futuro do game do que apenas cornetar. Pois potencial ele tem!
Gran Turismo Sport está disponível apenas para Playstation 4.