Análise Arkade: viaje pela cativante jornada de B.U.D. em Grow Home
A Ubisoft nos dá mais uma dose de seu lado “indie” com Grow Home, simpático game “experimental” desenvolvido pelos veteranos da Ubisoft Reflections. Confira a nossa análise na sequência!
Desde o ano passado a Ubisoft vem nos mostrando que não é preciso ser independente para fazer jogos indies, basta ter “mentalidade indie”, coragem de correr riscos por fazer algo criativo e fora dos padrões comerciais — uim punhado de pessoas talentosas e de mentes criativas e voilá, você tem um jogo que cai facilmente nos moldes típicos dos indie games atuais.
Em 2014, a Ubisoft nos surpreendeu (positivamente) com seus criativos jogos menores, mas nem por isso menos caprichados. Estamos falando de Child of Light e Valiant Hearts, jogos que ganharam vários prêmios e garantiram uma “abertura” para a empresa tentar mais projetos pequenos, desenvolvidos por pessoas que estão habituadas aos grandes lançamentos, mas também têm vontade (e criatividade) para tentar algo novo e diferente.
Eis que chega o time da Ubisoft Reflections — um estúdio formado por veteranos da indústria que passaram a maior parte do tempo desenvolvendo Far Cry 3, Watch_Dogs e também responsáveis por terem criado a franquia Driver — e nos apresenta a mais nova empreitada com “cara de indie” da empresa, Grow Home.
Grow Home é um criativo e charmoso jogo que conta a história do desengonçado robozinho B.U.D. (sigla de Botanical Utility Droid), que cai em um planeta desconhecido e tem a missão de fazer uma imensa planta crescer o mais alto possível e desabrochar, assim ele poderá pegar suas sementes oxigenar o seu planeta natal. A missão foi comandada pelo computador de sua nave, intitulado M.O.M., e te leva a um mundo impressionante e marcante.
Grow Home é um jogo fascinante, tanto pelo sua estética diferenciada quanto pela simples jogabilidade que o envolve. Não demora para o jogador ser cativado pelo jeito estranho com que B.U.D. se move, ou se impressionar pelo mundo que está a sua volta, que se torna ainda mais exótico e interessante graças ao seu visual Low Poly. Tudo em sua volta tem um certo estilo em sua textura, desde o terreno, os animais, as plantas e claro, B.U.D.
Outro atrativo é a forma que o mundo foi construído verticalmente: temos a gigantesca Star Plant que vai crescendo e envolvendo tudo que está ao seu redor enquanto B.U.D. vai escalando e encontrando novos setores até o topo deste planeta, onde M.O.M está te esperando.
Por ser um jogo pequeno — é possível terminá-lo em cerca de duas horas — e de certo modo solitário, o pessoal da Ubisoft Reflections precisava criar uma personalidade cativante para B.U.D., afinal, ele é o único personagem com quem interagimos no jogo inteiro (além da planta, claro). E com isso em mente, o jeito peculiar dele se mover, sua face que parece sempre estar meio assustada e sua personalidade curiosa transforma-o em um personagem do qual é impossível não gostar, deixando um sorriso no rosto de qualquer um que o controle.
E aqui entra a desengonçada jogabilidade em ação: as vezes controlar B.U.D. se lembra muito o jogo QWOP, onde cada botão é responsável por um certo membro do personagem. Os botões “WASD” funcionam para se movimentar, “E” para acionar objetos e os botões do mouse fazem parte do sistema de escalar, onde o click direito corresponde à mão direita do robô, e o click esquerdo à mão esquerda. Por B.U.D. não ter juntas, seu movimento é desajeitado e confuso visualmente, ou seja, corra muito para uma direção e todo seu corpo se move em uníssono, pare bruscamente e veja a dificuldade que B.U.D. tem para interromper o movimento por completo.
Todo esse movimento desarticulado faz parte da jogabilidade e da experiência de se jogar Grow Home, você fica boa parte de seu tempo — especialmente mais perto do final — escalando a imensa Star Plant e suas respectivas junções, tentando se mover cuidadosamente entre elas e fazê-la crescer ainda mais. Aí fica claro que o verdadeiro desafio aqui é dominar a movimentação de B.U.D., e saber exatamente quando parar, virar uma curva e “voar” para pontos mais distantes.
A palavra “voar” está entre aspas porque o nosso protagonista não tem esse poder, mas ele dá um jeitinho, de modo que ele consegue mais planar do que realmente voar. No entanto, o seu poder de planar não é de sua tecnologia e sim do próprio mundo, com B.U.D. pegando uma imensa margarida e usando-a com o botão F, assim ele começa a planar lentamente enquanto cada pétala da margarida se solta, mostrando quanto tempo de voo nosso robozinho tem.
Outras ferramentas que ajudam B.U.D. em suas escaladas são as folhas secas, que lhe deixam planar por mais tempo, e as próprias folhas da Star Plant, que funcionam como plataformas de pulo para o nosso protagonista chegar até um ponto mais rápido.
Uma das primeiras telas do jogo é feita a recomendação de que Grow Home seja jogado com um controle para facilitar o domínio de sua movimentação. Mas o jogo não tem uma punição real pela sua morte, de modo que o uso do teclado e mouse é totalmente aceitável.
É um pouco mais difícil de pegar o jeito? Sim, mas Grow Home é muito mais sobre a jornada do que seu desfecho, então errar, cair e recomeçar fazem parte da experiência, e a dificuldade e o aprendizado tornam a aventura muito mais divertida e recompensadora.
A Star Plant, peça-chave na exploração, tem um funcionamento bastante simples: o crescimento dela vem de cada raiz — que está apontada para algum lugar aleatório — e o objetivo é fazer com que B.U.D. chegue até em uma destas raízes e ative-a, para fazê-la chegar até algumas pedras flutuantes, que estão embebidas de energia, só aí é que os galhos da Star Plant começam a crescer, e eles crescem desenfreadamente. Pense que a Star Plant é uma planta que cresce verticalmente (para cima) e de lado a lado com suas raízes, sendo tão confusa e errática quanto uma planta normal.
B.U.D. precisa controlar estas raízes para que dê tudo certo, e cada raiz é um desafio graças ao crescimento caótico da planta. Este é na verdade o único desafio “real” de Grow Home, conseguir levar os brotos da Star Plant até as pedras de energia e criar uma estratégia para acelerar o crescimento dela. Você nem precisa se preocupar em não ter nenhuma raiz disponível, pois a planta vai se modificando e criando novas raízes, o que sempre te mantém com raízes suficientes para seguir seu caminho enquanto cria uma verdadeira obra de arte botânica.
Grow Home é um jogo cativante pelo conjunto da obra: ele mescla o seu visual com a jogabilidade de maneira bem orgânica, não para criar algo difícil ou complicado de jogar, mas sim para oferecer uma experiência de escalada e exploração calma e relaxante, onde seu único objetivo é fazer a Star Plant crescer para levar B.U.D. até o topo, em um jornada bonita e enriquecedora. Assim como Journey, o que temos aqui é um jogo mais preocupado em oferecer uma experiência diferenciada do que a ação e a competitividade típicas dos videogames.
Com Grow Home, a Ubisoft mostra mais uma vez que os jogos com premissas pequenas são os mais significativos, deixando espaço para o jogador simplesmente curtir e relaxar. Como seus irmãos “com cara de indie” da produtora, Grow Home cativa, e com certeza ficará muito tempo em sua memória.
Grow Home foi lançado no dia 4 de fevereiro e está disponível para PC.