Análise Arkade: colonizando a galáxia de Mass Effect Andromeda
Mass Effect Andromeda chegou há algumas semanas, e você deve ter acompanhado um pouco do burburinho que o game gerou pela internet. Se você está receoso em pegar o game ou não, confira nossa resenha, pois vamos tentar ser um pouco mais racionais em nossas opiniões.
Colonizando a galáxia
Mass Effect Andromeda inicia um novo arco narrativo dentro do universo já estabelecido da franquia. Com isso, quero dizer que este jogo traz uma história completamente nova, e você não precisa necessariamente ter jogado a trilogia anterior para entender tudo o que acontece aqui. Os fãs de carteirinha sem dúvida irão encontrar ligações e referências, mas no geral, e você não conheceu Shepard, nem a Cidadela, não se preocupe, não vai ficar boiando aqui.
O novo jogo vai longe no futuro, mais de 600 anos, para ser mais exato. Após décadas de guerras e eventos cataclísmicos em nossa galáxia, só havia uma chance de salvação para as raças que aqui viviam: buscar abrigo em outro canto. Esta era a função da iniciativa Andromeda; que enviou “arcas” com milhares de pessoas ( de espécies diferentes, como Turians, Asaris, Salarians e Humanos) em estado de hibernação criogênica para uma outra galáxia — Andromeda, claro — onde supostamente existem planetas aptos para colonização.
Claro que nem tudo sai conforme o planejado: há uma anomalia chamada Miasma deteriorando a galáxia de Andromeda, e os “mundos dourados” que pareciam saídos bons de mais para ser verdade são na verdade lugares inóspitos, com atmosferas tóxicas, temperaturas baixíssimas, e outras adversidades que inviabilizam a sobrevivência.
Para piorar, quase todas as “arcas” desapareceram misteriosamente, de modo que a Nexus — a central que deveria estar organizando as coisas em Andromeda — passa centenas de anos sem receber notícia nenhuma. Quando finalmente a arca Hyperion, que transportava os humanos, chega em Andromeda, encontra um cenário muito diferente daquele que era esperado.
Assim, no controle de um/uma personagem chamado(a) Ryder — que já chega nesta nova galáxia passando por terríveis provações e dramas familiares –, acaba caindo no seu colo o fardo de ser o “Pathfinder“, e você vai ter de encarar a difícil missão de transformar o amontoado de planetas hostis de Andromeda em mundos propícios para a vida não só de seres humanos, mas de todas as outras raças que migraram da Via Láctea.
Ah, e você também vai precisar descobrir o que aconteceu com as “arcas” desaparecidas, interagir com novas raças alienígenas que não estão nem um pouco satisfeitas em terem sua galáxia “invadida” pelo pessoal da Nexus, encarar a onipresente ameaça dos Ketts (que são basicamente os aliens malvados do novo game) e desvendar os mistérios de ruínas alienígenas ancestrais. Tudo isso enquanto arruma tempo para cumprir toneladas de sidequests e quem sabe até descolar um “crush”, afinal, ninguém é de ferro, né?
Bem-vindas novidades ao gameplay
Depois que já estiver familiarizado com o universo do game, você perceberá que logo uma rotina será estabelecida: como Pathfinder, sua função é explorar os sistemas que compõem a galáxia de Andromeda, fazendo o possível para tornar “colonizáveis” os planetas próximos.
Você cria uma tripulação bem variada para sua nave — a estilosa Tempest — e é livre para explorar os planetas como bem quiser. Claro que é recomendável que você tente se ater às missões prioritárias, pois elas não só desenvolvem a história do game, como também incutem um propósito real às suas viagens. Mas, como sua missão é tornar todos estes mundo habitáveis, cumprir missões, criar bases e encontrar as relíquias alienígenas que “melhoram” as condições de cada mundo também são objetivos importantes.
Os Ketts dominam praticamente todos os cantos de Andromeda, e cabe a você e seu esquadrão a missão de enxotá-los de todos os locais por onde passarem. Na hora do combate, Mass Effect é um shooter cover based bem tradicional, com o diferencial que aqui você tem uma classe principal, mas pode habilitar e equipar diferentes “estilos” de combate, que concedem novas habilidades ao seu personagem.
Ainda que o gameplay em si não reinvente a roda, a Bioware criou certos “atalhos” interessantes, que tornam a jogatina mais dinâmica. Por exemplo, não há um botão para buscar abrigo atrás de muretas, mas seu personagem faz isso automaticamente caso esteja empunhando uma arma. A coleta de munição e energia também é automática, bastando o personagem chegar perto das caixas correspondentes. Ah, e agora temos um jetpack, o que aumenta consideravelmente a mobilidade dentro e fora dos combates!
Mass Effect Andromeda tem toneladas de missões e sidequests, muitas delas bem longas e trabalhosas. Você vai caças Ketts, mas também vai buscar relíquias, resgatar prisioneiros, desativar estações de mineração, sabotar fortalezas inimigas, e muito mais. Isso sem falar nos embates puramente ideológicos que rolam com seres de outras raças, afinal, estamos em outra galáxia, então os “alienígenas” agora somos nós!
Confira abaixo um vídeo que mostra uma missão de resgate quase inteira. Fomos até um planeta gelado resgatar uma Angariana influente das garras dos Ketts. São mais de 40 minutos de gameplay e, ao final, temos até uma batalha contra um sub-chefe:
Você deve ter reparado que as escolhas continuam presentes nos diálogos, certo? Pois bem, as coisas estão um pouco diferentes aqui, mais próximas de Dragon Age Inquisition do que da trilogia Mass Effect. Na trilogia original, geralmente tínhamos duas escolhas, que evoluíam seu personagem nas vertentes Paragon e Renegade, o que acabava definido o caráter do seu personagem, e isso afetava seu visual e até seus poderes bióticos.
Em Andromeda essa dualidade simplista foi deixada de lado: temos mais opções de respostas (geralmente 4), indicadas por ícones como um coração (resposta passional) ou uma engrenagem (resposta lógica e objetiva). Ou seja, aqui você não vai simplesmente ser “bom” ou “mau”, e tem mais opções para construir diálogos e relacionamentos mais complexos. Não há necessariamente respostas “certas” ou “erradas”, mas tenha em mente que suas decisões afetam a forma como os outros o veem, o que pode lhe colocar em situações delicadas diante das várias cadeias de comando, hierarquias, cultos e organizações com as quais você terá que interagir.
Por fim, mais uma novidade que merece ser mencionada é o sistema de crafting: agora você pode coletar minérios, peças e outras matéria-primas, que poderão ser utilizadas para criar ou melhorar suas armas e equipamentos. Conforme progride no jogo, você vai coletando blueprints, plantas e esquemas que lhe permitem criar equipamentos realmente poderosos! É um tanto confuso — cheio de menus e submenus — mas vale a pena ficar de olho.
Multiplayer integrado
Um detalhe muito interessante de Mass Effect Andromeda é como ele integra sua parte multiplayer à campanha. Você pode jogar a campanha toda sozinho, mas pode cumprir as Missões de Assalto em equipe — ou, se não quiser, pode simplesmente enviar uma pequena tropa para cumpri-la no seu lugar e esperar para ver o resultado, mais ou menos como fazíamos em Assassin’s Creed: Brotherhood, lembra?
Quem jogou Dragon Age Inquisition vai perceber que o sistema que temos aqui lembra a Mesa de Guerra: são missões pontuais que brincam com uma variante do tradicional modo Horda, com 4 jogadores que lutam para sobreviver às waves de inimigos enquanto algum objetivo secundário deve ser concluído (assumir pontos de controle, transferir dados, etc.). Há diversos personagens e classes diferentes, com perks e habilidades que vão sendo destravados conforme o jogador sobe de nível.
Confira um pouco de gameplay multiplayer abaixo:
Você acessa estas missões através de um console na própria Tempest, e decide se quer cumprir a missão online ou simplesmente mandar a IA fazê-la por você. Em caso de sucesso, é agraciado com créditos e caixas de prêmios que podem conter armas e bons itens. O modo multiplayer em si (acessado pelo menu principal) é essencialmente igual, então, sempre que puder, sugiro que cumpra algumas missões online durante a campanha, seja para dar um respiro e ganhar uns itens, seja para reunir os amigos para uma rodada de tiroteios em aliens.
…
Com tudo o que eu disse aí em cima, gostaria de deixar claro que Mass Effect Andromeda é diferente dos games anteriores, mas ainda tem tudo o que um legítimo game da franquia precisa ter: temos uma história envolvente, gameplay dinâmico e muita liberdade tanto na exploração em si quanto na tomada de decisões e na customização do seu herói.
Agora, chegou a hora de falarmos do principal “problema” do jogo, que é o que fez muita gente torcer o nariz para ele sem sequer jogá-lo:
Audiovisual
Sem dúvida o ponto que mais foi alardeado pela internet nos últimos dias. Então vamos abrir o jogo logo de uma vez: Mass Effect Andromeda é um jogo feio? Definitivamente não. E se você não acredita em mim, basta olhar algumas screenshots para perceber que o visual e a direção de arte são excelentes:
Porém, tambpem é fato que ele tem muitos bugs (NPCs flutuando ou ficando enroscados no nada, e alguns que desaparecem logo após diálogos ou cutscenes), e algumas animações faciais realmente estranhas…
Considerando o quanto este jogo é pautado pela história, pelos diálogos e emoções dos personagens, é meio que compreensível que as expressões faciais bizarras dos personagens acabem ganhando tanto destaque. Fica complicado se deixar levar pela dramaticidade de uma cena quando o rosto do personagem não condiz com a emoção que ali devia estar retratada.
Porém, acho um tanto injusto crucificar o game simplesmente por isso. Incomoda? Sem dúvida. Poderia ser melhor? Muito. Mas, apesar disso, Mass Effect Andromeda é um baita jogo, e tem muitas qualidades. E, sendo bem sincero, não é sempre que as expressões dos personagens são bizarras, em muitos momentos elas até que se saem bem, ou, pelo menos, não fazem feio.
Exemplos:
Viu só? Não é sempre que as expressões faciais dos personagens ficam esquisitas, eu diria até que na maior parte do tempo elas se comportaram muito bem enquanto eu jogava.
Além disso, sou da opinião que praticamente tudo o que está errado com esse jogo pode ser corrigido com o tempo, através de patches. Nenhum dos problemas é “game breaking”, nada que torne o game “quebrado” ou “injogável”. Em se tratando de gameplay, Mass Effect Andromeda entrega o que se espera de um game deste naipe, com uma história é instigante e um universo amplo e cheio de lugares para ir e coisas para fazer.
Fora isso, a trilha sonora do game é intensa e grandiosa como deve ser. Composta por John Paesano, que é conhecido por seu trabalho em grandes produções de Hollywood, como The Maze Runner e Demolidor, há músicas orquestradas muito envolventes, que potencializam os acontecimentos e guiam as emoções do jogador.
As dublagens no geral estão muito competentes, também — ainda que alguns diálogos pareçam simplesmente mal escritos –, e sempre é bom lembrar que o game chega ao Brasil com menus e legendas em português.
Conclusão
Ouso dizer que Mass Effect Andromeda está sendo injustiçado. Sei que os vídeos que poparam da versão pré-lançamento do EA Access não foram animadores, mas eu realmente acho que eles não correspondem ao jogo que passei mais de 40 horas jogando nos últimos dias.
Não nego que fica uma impressão de que o jogo foi lançado “antes da hora”, mais uns 2 ou 3 meses sem dúvida seriam bem-vindos para a Bioware dar “aquele” polimento no game. Mas, a EA certamente teve suas razões (mercadológicas, provavelmente) para lançar o jogo já, mas reafirmo que nenhum dos problemas que o jogo tem fazem dele “injogável”, e boa parte deles deve ser corrigido com o tempo — amanhã mesmo já deve sair um patch.
Vi sites gringos apontando Mass Effect Andromeda como “o pior RPG da Bioware“. Eu não joguei tudo o que a empresa lançou, mas, se este é o pior jogo deles, então o patamar alcançado anteriormente foi bem alto, pois como jogo, como RPG de ação/shooter com temática sci fi, Mass Effect Andromeda sem dúvida é competente.
Acredito que o jogo acabou sendo vítima do seu próprio sucesso: Mass Effect possui uma legião de fãs apaixonados, que esperavam nada menos que um jogo impecável. Eu não sei de você é o tipo de pessoa que leva em consideração os reviews antes de investir seu rico dinheirinho em um jogo, mas neste caso específico, eu realmente acho que todos deveriam dar um jeito de experimentar o jogo antes de bater o martelo. Na minha opinião os problemas que o jogo têm não tiram seus méritos, mas claramente há muita gente que discorda.
Agora se me dá licença, eu ainda tenho alguns planetas para colonizar! 😉
Mass Effect Andromeda foi lançado em 21 de março, com versões para PC, Playstation 4 e Xbox One. Ontem (04/04) a versão em disco do game chegou oficialmente ao Brasil. O game está 100% legendado em português brasileiro.