Análise Arkade: A New Frontier encerra sua jornada sem avanços significativos na história de Clementine (Season 3, Ep 5)
Mais uma temporada de The Walking Dead, da Telltale Games, conhece seu fim com o quinto episódio, “From The Gallows”. O capítulo escrito por Adam Douglas segue a mesma fórmula que já se tornou previsível na série de TV e não empolga com seu final agridoce.
Muito mais importante do que discutir os acontecimentos do episódio em si, (até porque a jornada é diferente para cada jogador mesmo que o final não mude) é fazer uma reflexão para onde o game de The Walking Dead está sendo direcionado em termos narrativos.
Dê a seu público o que ele não quer
Na primeira temporada do game tínhamos personagens com muita personalidade como Lee, Clementine, Kenny, entre outros, que ajudam muito na imersão da história. Lee era obviamente o personagem principal, mas na verdade todo o construto de mundo foi feito para Clementine.
Na segunda temporada seguimos a garota em sua jornada buscando sobreviver e encontrar um local seguro no mundo apocalíptico. Kenny retorna trazendo uma sensação incrível de familiaridade e outros personagens interessantes e novos conflitos são adicionados a trama.
Até esse ponto a progressão da narrativa era linear e constante, vimos o começo do apocalipse zumbi, passamos anos com os mesmos personagens criando uma afinidade absurda e a indústria dos games conheceu uma das personagens mais icônicas de sua história, Clementine. As escolhas no final da 2ª Temporada foram questionáveis, pois abriu-se um leque inédito de possibilidades com os múltiplos finais e esse fato poderia ser bom ou ruim dependendo da forma como seriam portados para “A New Frontier”.
Aí começam os problemas da 3ª Temporada, que se fosse vendido mercadologicamente como um stand alone, uma história paralela de Clementine em suas andanças pelo mundo, estaria perfeito, mas sendo uma continuação numerada e direta deixa muito a desejar em vários aspectos. Primeiro porque depois de conhecermos personagens acima da média como Lee e Kenny a régua fica muito alta e Javier, David e companhia não são tão tridimensionais quanto os personagens das temporadas anteriores.
O segundo grande problema foi a história, que acabou sendo mais do mesmo especialmente para quem acompanha o universo de The Walking Dead. O protagonista chega em um local seguro, acontece algo dramático e a comunidade conhece seu fim trágico.
Os próprios momentos de tensão que deixavam o jogador perplexo e realmente preocupado tem muito menos peso agora, talvez pelo fio condutor da história ser medíocre, talvez por todos os problemas já citados que combinados não dão aquele sentido de urgência que já vimos outrora.
Cadê a Clementine?
E o principal problema é: The Walking Dead: A New Frontier não é um jogo da Clementine e sim do Javier. Por que isso é ruim? Javier é um personagem fraco? Não. A questão não é essa. Depois de jogarmos dez episódios sob a perspectiva da Clementine, esperar ansiosamente um desfecho para os múltiplos finais (já vamos chegar lá) e ver para onde a história irá somos apresentados a uma jornada em que a personagem principal da franquia é apenas uma sidekick que tem pouco tempo de tela.
Como já mencionei, se a história fosse muito interessante e os novos personagens conseguissem segurar a história para si a conversa seria outra, mas com esses problemas a escolha da Telltale de subaproveitar Clementine é no mínimo estranha. Ela realmente aparece pouco e se não estivesse no enredo talvez não fizesse diferença em termos narrativos.
A história tem seus pontos positivos, especialmente na relação de Javi, Kate e David, que forma uma espécie de triangulo amoroso e assim traz um elemento novo na franquia de games, porém, o senso de urgência peca novamente porque as escolhas em si não mudam muito a narrativa e em muitos momentos as decisões tem tons diferentes, mas sem grandes dualidades que fariam real diferença. Outra coisa que foi extremamente mal feito e de certa forma desrespeitosa com os jogadores foi o porte das escolhas finais da temporada passada para a nova jornada.
Simplesmente não faz diferença o que você escolheu, estar sozinha, com a Jane ou Kenny, enfim, tudo converge para apenas uma linha narrativa na 3ª Temporada. Entendo que seria bem complicado iniciar uma nova história com tantas bifurcações, espacialmente em termos de gameplay, porém, a decisão da Telltale foi preguiçosa e tira todo e qualquer peso da escolha tomada pelo jogador na temporada anterior.
Outro problema grave foi a maneira como fizeram a conversão de todas as escolhas passadas porque tudo é explicado em poucos minutos em forma de flashback e com justificativas pífias. E para encerrar o “filho” de Clementine, A.J., é levado dos braços da garota no começo da temporada e no fim não há resolução, abrindo a possibilidade de um novo segmento de história, agora em busca de A.J.
Conclusão
Dito tudo isso, ‘A New Frontier’ não são cinco episódios ruins, existem alguns elementos interessantes como a relação de alguns personagens dentro do âmbito familiar, a maneira como Javi cuida de uma família que não é de fato sua e também há a inserção de Jesus, personagem icônico dos quadrinhos que dá um charme especial e nostálgico aos fãs.
Não é o melhor trabalho da Telltale em termos narrativos, nem de longe, mas tem algumas valias que vale a pena conferir. É claro que o pouco aproveitamento de Clementine é um ponto negativo, mas se o jogador entender que A New Frontier é um spin-off em que Clem aparece, talvez a jornada de Javier e Kate trata alguns momentos interessantes.
“From The Gallows”, capítulo final de The Walking Dead: A New Frontier foi lançado no último dia 30 de maio com versões para PC, PS4, XOne, iOS e Android. A versão física do game que contém os 5 episódios também já está disponível.