Análise Arkade: revisitando o belo e desafiador Ori and the Blind Forest Definitive Edition
Um dos melhores jogos de 2015 está de volta ao Xbox One, agora com mais conteúdo! Confira nossa resenha do belíssimo Ori and the Blind Forest Definitive Edition e tente não se encantar por este game incrível!
Contextualizando
Ori and the Blind Forest foi lançado originalmente no ano passado — mais precisamente em 11 de março de 2015. E ele é tão bom que entrou com louvor em nossa lista de Melhores Jogos do Ano. Agora, exatamente um ano depois — 11 de março de 2016 — o pessoal do Moon Studios trouxe ao Xbox One uma versão atualizada do game, que pode tanto ser adquirida como um update do jogo original (por apenas R$ 10,00) quanto adquirido separadamente como um pacote completo (por R$ 39,00).
A Definitive Edition do game chega trazendo algumas boas novidades: temos novas áreas para explorar, novas habilidades para Ori aprender, um (muito bem-vindo) sistema de fast travel, e diferentes níveis de dificuldade, indo da acessibilidade do modo Fácil até o impossível modo Vida Única.
No geral, porém, a experiência do game continua sendo essencialmente a mesma, então atualizamos este review com algumas informações relevantes sobre a Definitive Edition.
Uma história cheia de significado
A trama de Ori and the Blind Forest é simples, mas carregada de significado. Ori é um espírito da floresta que, após se perder de sua “família” (que na prática é a Árvore dos Espíritos), acaba sendo adotada por Naru, uma simpática criatura — que lembra um pouco um urso — que passa a tomar conta dele.
Ori e Naru viviam tranquilos, até que a Floresta começa a morrer, e a comida torna-se rara. Para piorar, temos Koru, uma enorme coruja do mal que caça nosso protagonista e parece disposta a ver a floresta ruir. Então, acompanhado de uma centelha da Árvore dos Espíritos, Ori parte em uma aventura cheia de perigos na esperança de salvar a Floresta.
A história é apresentada de maneira sutil, mas trata de temas bem profundos, como vingança, redenção e companheirismo. Ali pela segunda metade do jogo rola uma reviravolta interessante que faz o jogador reavaliar as ações de alguns personagens. Por mais simples e linear que seja, a trama consegue cativar o jogador, nem que seja simplesmente pelo carisma dos personagens envolvidos.
Vale ressaltar que a Definitive Edition do game acrescenta duas novas áreas (ao já enorme mapa do game), e essas áreas trazem não só novas possibilidades de gameplau como também apresentam um pouco mais da backstory do personagem Naru, a simpática criatura que adota Ori.
Um MetroidVania de raiz
Confesso que fui enganado pelos trailers de Ori and the Blind Forest. Talvez por um pré-conceito (errôneo), eu estava achando que esse seria um jogo curto e fácil, mais preocupado em contar uma história e/ou passar uma mensagem do que em ser instigante e desafiador. Acho que o que eu esperava algo tipo Never Alone ou Valiant Hearts (ambos ótimos jogos, mas simples em suas mecânicas).
Cara, como eu estava enganado! Ori and the Blind Forest é um legítimo MetroidVania, com um nível de dificuldade altíssimo, uma campanha relativamente longa (pode durar mais de 10 horas) e trechos extremamente desafiadores, que irão testar sua perícia nos controles… e/ou te fazer arrancar os cabelos!
O mapa do game é gigante, e todas as áreas são interligadas, de modo que não temos “fases“, mas um todo contínuo — cheio de túneis, cavernas e passagens secretas — que pode ser explorado livremente… Quer dizer, mais ou menos livremente, pois, como em um bom MetroidVania, existem diversos lugares que você só pode acessar depois de adquirir uma habilidade específica.
Saltando, planando e morrendo
Em se tratando de gameplay, Ori and the Blind Forest começa bem básico, mas vai ganhando profundidade conforme você destrava novas habilidades: pulo duplo, escalar paredes, planar (usando uma enorme pena) e uma variação do bom e velho dash aéreo são algumas das habilidades que você vai adquirindo no decorrer da campanha.
Uma das habilidades mais úteis é o dash — que aqui não é bem um dash. Você precisa “ricochetear” em alguma coisa (um projétil, um inimigo ou algum elemento específico do cenário) para poder dar uma “deslizada” pelo ar. Você pode definir a direção desse dash, e em muitos casos terá que emendar um no outro — precisando acompanhar o timing dos tiros inimigos para ter onde “ricochetear” — para evitar abismos, espinhos e outros perigos.
A Definitive Edition acrescentou duas novas habilidades à já extensa árvore de upgrades do jogo original: agora temos o Dash que é realmente um dash e pode ser feito tanto no ar quanto no chão (bem útil para evitar inimigos ou armadilhas) e o Light Burst, que faz com que a centelha de Ori solte pequenas granadas de luz que explodem após alguns segundos.
O mais incrível do jogo, porém, continua sendo a maneira genial como ele integra todas as habilidades de forma criativa ao gameplay: conforme você avança, precisa misturar diversas habilidades — como planadas, pulos duplos, pulos triplos (?!), pulos carregados, escaladas, entre outros — tudo ao mesmo tempo, pois se bobear, é morte certa.
As maneiras como você precisa usar praticamente todo o arsenal de habilidades de Ori para superar os obstáculos e sobreviver é notável. Mesmo sendo “apenas” um jogo de plataforma, Ori and the Blind Forest está sempre se reinventando e agregando novas mecânicas que se complementam muito organicamente e tornam o gameplay extremamente fluido.
Além dos upgrades que você vai destravando naturalmente enquanto joga, você ainda pode habilitar diversos outros na relativamente grande árvore de evolução do game. Boa parte deles são habilidades passivas (que aumentam a sua força ou lhe permitem enxergar através de paredes, por exemplo), mas também temos outras que lhe concedem novos movimentos e/ou melhorias de movimentos antigos.
Mesmo sendo um exímio jogador, você invariavelmente vai morrer — e muito — em Ori and the Blind Forest. Um elemento que facilita um pouco as coisas é o fato de você poder criar Elos da Alma — que são basicamente save points — praticamente em qualquer lugar. Porém, criar um Elo da Alma consome uma barra própria de energia — a mesma usada, por exemplo, para ataques carregados –, de modo que você deve criar seus saves com cautela especialmente no início do game, onde seu medidor de energia ainda é bem limitado.
Dificuldade ajustável
O jogo do ano passado não tinha opção de dificuldade, e seu alto nível de dificuldade deve ter assustado os jogadores mais casuais, pois neste relançamento, temos diferentes níveis de dificuldade, indo do Fácil ao (provavelmente impossível) modo Vida Única. Outra boa novidade é o fast travel, que interliga todas as “Fontes“ do jogo, e sem dúvida vai adiantar muito a sua vida a busca por todos os colecionáveis.
Como eu já tinha zerado o jogo original em sua dificuldade padrão (e morrido bastante no processo), desta vez optei por jogar a campanha no modo Difícil. E cara, foi difícil! Ao final das minhas mais de 9 horas de jogo, eu havia acumulado mais de 500 mortes! Uma pequena parte delas foi por besteira/falta de atenção, mas na maioria dos casos, foi porque o jogo é realmente difícil, e nesta dificuldade qualquer esbarrão em um espinho ou inimigo é morte na hora, o que complica ainda mais.
Se você não está convencido do nível de perícia e desafio que o jogo oferece, confira abaixo um trecho de gameplay de uma parte excepcionalmente desafiadora, onde devemos fugir alucinadamente de uma enchente que, caso nos alcance, é morte certa. Não esqueça de aumentar a resolução do vídeo!
Achou tranquilo? Pois saiba que você nunca pode criar um save “no meio” destes trechos mais frenéticos, de modo que se morrer, tem que voltar lá do início, ou seja, tem que passar tudo de uma tacada só, como no vídeo. Em muitos casos você acaba “decorando” o caminho, mas certamente vai morrer várias vezes no processo.
Um jogo feito no capricho
Acho que exaltar a beleza gráfica deste jogo é desnecessário, pois isso bem óbvio em cada frame e em cada screenshot. O visual parece uma mistura do estilo de Rayman Legends com as cores de Trine e aquele tom meio aquarelado de Dragon’s Crown. Tudo isso acompanhamento de um departamento de arte e level design pra lá de caprichoso, que faz com que cada frame deste jogo pareça uma pintura, uma obra de arte. Um ano já se passou desde o lançamento do game original, e Ori and the Blind Forest continua sendo sem dúvida um dos jogos 2D mais bonitos já feitos.
Bonito e exemplarmente programado, aliás: mesmo sendo rápido e frenético na maior parte do tempo, Ori and the Blind Forest roda liso em 1080p a 60fps e o único load time rola no início, depois o jogo flui totalmente sem loadings. Em tempos onde jogos AAA sofrem downgrades e não correspondem às expectativas, ver um indie bonito como esse rodando desse jeito é pra glorificar de pé!
Para completar este primor visual, temos uma trilha sonora inspirada — e inspiradora — com temas orquestrados que vão do melancólico ao empolgante para acompanhar as emoções do jogador. O jogo tem pouquíssimas falas — todas elas em um idioma próprio — mas, felizmente, chegou ao Brasil com menus e legendas totalmente em português.
Sabe o que combina com todo esse primor técnico? O menu Cinema, que é outra novidade da Definitive Edition e permite que você veja artes conceituais, vídeos de bastidores, cutscenes e tudo mais. E alguns dos vídeos mostram mecânicas de gameplay em estágio bem “cru”, com cubos animados e desenhos “no Paint“, muito antes do game tomar forma.
Tipo isso:
Parece Thomas Was Alone, mas é um estudo de animação de inimigos voadores de Ori and the Blind Forest idealizado nos primeiros estágios do desenvolvimento do game. Legal, né? O menu Cinema tem outros conteúdos bacanas desse tipo.
Conclusão
Ori and the Blind Forest foi um dos melhores games de 2015, e este relançamento com conteúdo extra mantém a excelente qualidade do game, e ainda traz um bom número de novidades que fazem ele valer (ainda mais) a pena. Ainda que não “reinvente a roda” do gênero, ele faz tudo o que se propõe a fazer tão bem, com tanto capricho e cuidado, que é simplesmente impossível não gostar dele.
Misturando audiovisual surrealmente incrível com uma jogabilidade muito bem calibrada e um nível de desafio excelente que te obriga a “ser melhor”, Ori and the Blind Forest: Definitive Edition é muito mais que “um rostinho bonito”, e merece ser jogado por quem curte jogos de plataforma, por quem curte o gênero MetroidVania e, claro, por quem curte belos jogos e não tem medo de um bom desafio. Que venham mais jogos assim.
Ori and the Blind Forest: Definitive Edition foi lançado no dia 11 de março para Xbox One. Posteriormente, ele deve chegar também aos PCs. A versão original do game, lançada em 2015, está disponível para ambas as plataformas (PC e XOne).