Análise Arkade: Prepare-se para morrer muito, muito mais em Dark Souls III
Chegou a hora de se sentar em sua bonfire, relaxar e tentar não morrer com nossa análise de Dark Souls III!
Dark Souls é uma daquelas séries que em pouco tempo cravou sua marca na história dos games. Hoje em dia é difícil encontrar alguém que nunca tenha ouvido falar na série de RPG da From Software, ou que não conheça a série pela sua característica mais marcante: sua dificuldade.
Contando mais uma história envolta em muitos mistérios, oculta nos pequenos detalhes do game, chegou a hora de encarar a escuridão de frente e ver como Dark Souls III se saiu em sua nova jornada cheia de mortes!
OS INACESOS EM BUSCA DO FOGO
Em cada Dark Souls controlamos um personagem de grande importância para o mundo no game. No primeiro game controlávamos o Chosen Undead, em sua busca para reacender a Primeira Chama. No segundo game, controlamos o Bearer of the Curse, que busca um fim para a maldição dos mortos vivos. E em Dark Souls III controlamos o Ser das Cinzas, um Inaceso, em sua busca para trazer os antigos Lordes das Cinzas de volta para seus tronos.
O mundo de Dark Souls gira em torno da Primeira Chama, o fogo que surgiu na antiguidade e está diretamente ligado a vida de todos. Quando o fogo está prestes a apagar, um sino toca, e os antigos Lordes das Cinzas se levantaram de suas tumbas e foram para longe de seus tronos. E com os Lordes saindo das tumbas, os Inacesos também se levantaram. Os Inacesos são mortos vivos desprovidos de suas chamas internas, indignos até mesmo de morrerem e se tornar cinzas, e acompanhamos nosso protagonista erguendo-se de seu túmulo e partindo na busca pelos Lordes.
Em Dark Souls III, a antiga divisão entre humanos e mortos vivos já não tem mais importância. Antes, os personagens do game buscavam a Humanidade, um item que mantinha a sanidade dos mortos vivos e os permitia manter aparência humana, enquanto que aqueles sem Humanidade eventualmente se tornavam Vazios, esquecendo-se de quem eram, e buscando almas e humanidade desesperadamente. Aqui, é o Fogo que separa aqueles que não o possuem e os Lordes das Cinzas, que no passado reacenderam a Primeira Chama.
A história do game mantém o padrão da série. Ela nunca será contada para você, é você que deve ir atrás da história e encaixar as peças. Conversando com todos os NPCs que encontrar, prestando atenção aos cenários e detalhes, lendo as descrições dos itens encontrados, desdes itens consumíveis, armas, armaduras, tudo. Cabe ao jogador desvendar os mistérios do reino de Lothric, o palco do game, onde as terras dos Lordes das Cinzas convergem.
Uma das melhores coisas do game está em suas ligações com os jogos passados da série, principalmente com o primeiro Dark Souls. Temos a volta de alguns personagens bastante queridos (e odiados) e muitas ligações com os jogos passados, traçando pontes com informações que até agora eram um mistério. Dark Souls III é um prato cheio principalmente para os fãs da série que verão essas ligações, que acontecem ora como referências, ora como ligações diretas. A história de Dark Souls III é muito boa, e fica ainda melhor para quem já é fã da série.
UM GAMEPLAY QUE PEGA O MELHOR DE TODA A SÉRIE
Dark Souls III pega muitas coisas de todos os games da “série Souls” da From Software. Desde Demon’s Souls até Bloodborne. Para começar, no game temos o novo Firelink Shrine (Santuário do Elo de Fogo), este é o ponto central do game. É aqui onde você subirá de level, comprará itens, melhorará suas armas, e aprenderá magias. O local funciona como uma mistura do Nexus de Demon’s Souls, principalmente pela semelhança visual, com Majula de Dark Souls II e o Sonho do Caçador de Bloodborne.
O gameplay mantém-se o mesmo desde o primeiro Dark Souls em seus pontos básicos. O jogador ao iniciar o game deve escolher uma classe para seu personagem, sendo as disponíveis: Cavaleiro, Mercenário, Guerreiro, Arauto, Ladrão, Assassino, Feiticeiro, Piromante, Clérigo, e a classe de atributos mais baixos: Despojado. Cada classe possui sua própria Build, seu conjunto de estatísticas iniciais, favorecendo aquelas mais importantes para sua classe. Cavaleiros, por exemplo, possuem foco em força, para causarem mais dano físico. Enquanto Feiticeiros, Piromantes e Clérigos possuem foco em inteligência e Fé, necessários para se conjurar os três tipos de magias do game: Feitiços, Piromancias e Milagres.
O game mantém seu esquema padrão de controles: Podemos equipar três armas/escudos em cada uma das mãos. Em relação a espadas e escudos, o padrão é: Ataque com a mão direita e defenda com a mão esquerda. Porém isso pode mudar dependendo das armas equipadas, algumas podem ser usadas para ataque em qualquer uma das mãos, outras não. Podemos equipar nossas armas com as duas mãos, causando mais dano e então liberando suas habilidades, uma novidade em Dark Souls.
As armas agora possuem habilidades únicas, ao equipá-las com as duas mãos, podemos usá-las para liberar ataques devastadores, magias (se a arma possuir), ou habilidades extras que auxiliam em combate, como as posturas, que permitem o jogador realizar ataques mais estratégicos, sejam para quebrar a defesa dos inimigos, ou desestabiliza-los, ou então lançar um ataque mais forte causando mais dano.
E uma outra novidade é a entrada da barrinha de mana, não vista desde Demon’s Souls. Nos dois primeiros Dark Souls, todos os tipos de magias possuíam um número de usos, que eram recarregados ao se descansar em fogueiras, agora com essa barrinha, as coisas ficaram melhores. Usar habilidades de armas e conjurar magias consome a barrinha azul, que pode ser recuperada com um novo item, o Frasco de Estus das Cinzas. Para cura, possuímos o bom e velho frasco de Estus, que pode ser recarregado e melhorado nas fogueiras, e o Estus das Cinzas serve para recuperar a barrinha de mana. Porém, é preciso gerenciamento, o jogador deve designar quantos de cada frasco leva. Por exemplo, se o jogador tiver um máximo de 10 Frascos de Estus, ele deve dividir esses 10 entre os dois tipos. 5 de cada, 9 de um tipo e 1 de outro e assim vai. Planeje bem sua quantidade de Estus para não sofrer depois!
Agora não temos mais humanidades nem Efígies Humanas, o item que os substitui são os Braseiros. Esse item é muito importante e raro. Com ele, o jogador recupera sua chama interna, com isso, a barra de HP do seu personagem fica maior e ele ganha um efeito de brasas bem estiloso em seu corpo. Também é possível recuperar sua forma em braseiro ao matar os bosses do game. Com seu braseiro aceso, o ícone ao lado da barrinha de vida fica em chamas. Esse item é necessário para os jogadores que querem jogar online, permitindo que o jogador possa se conectar com outros jogadores, invadir outros… e ser invadido.
DIFICULDADE
O ponto mais importante dessa análise, e a pergunta que todos querem saber a resposta: Afinal, Dark Souls III é mesmo difícil? E a resposta é: Sim! Muito difícil!
Um Dark Souls que se preze deve ser difícil, e isso foi uma grande crítica contra Dark Souls II, por ser muito mais fácil que seu antecessor. Mas fique tranquilo, ou melhor, se desespere, pois Dark Souls III é o mais difícil da série! Para que você tenha uma ideia: Jogando Dark Souls III eu tive a mesma dificuldade que tinha quando joguei o primeiro Dark Souls pela primeira vez, em minha estréia no universo da série. Isso significa que eu morri demais, fiquei perdido, morri, sofri para vencer os bosses e morri um pouco mais.
Em termos de dificuldade, o game é uma mistura do primeiro Dark Souls com Bloodborne. Temos cenários gigantescos e labirínticos, muitas emboscadas a cada novo passo que você dá. Bosses incrivelmente poderosos e difíceis, e inimigos realmente carrascos. Uma regra que Dark Souls III ensina desde o começo: Nunca subestime ninguém, nem mesmo os inimigos mais fracos. Eles estão muito cruéis, inteligentes e estão sempre prontos para pegar você em armadilhas mortais.
Atenção, o vídeo a seguir contém spoilers sobre uma batalha contra um chefão.
Uma coisa muito legal é que as batalhas contra os bosses tiveram muita inspiração nas de Bloodborne. Todas as batalhas contra os chefões do jogo são divididas em duas partes, quando você tira por volta de 50% da vida de um chefão, ele muda e fica muito mais forte, e é aí que o verdadeiro desespero te apunhala na barriga e nas costas ao mesmo tempo. O salto de dificuldade no meio das batalhas é bem grande, digno de dar até medo!
Em algumas coisas, porém, o jogo se tornou mais amigavelmente justo: No início de Dark Souls II, as armas que encontramos possuem uma durabilidade terrível, quebrando com poucos golpes. Aqui, é muito mais difícil uma arma se quebrar, a menos que o jogador seja muito descuidado e permita que isso aconteça. Armas e escudos possuem uma barrinha vermelha debaixo de seus ícones na tela mostrando sua durabilidade, quando a barrinha se esvazia, a arma quebra, e só o ferreiro Andre, um velho conhecido que voltou pra serie, poderá consertar. Ao se descansar nas fogueiras, as armas se regeneram, a menos que estejam quebradas.
E uma coisa que felizmente foi removida: A barrinha de HP não fica mais diminuindo conforme se morre! Dark Souls II é sim fácil para quem é acostumado com a série, e esse recurso era uma tentativa (e sejamos sinceros, injusta) de deixar as coisas mais difíceis. Agora não temos mais isso, pois Dark Souls III é muito mais baseado no primeiro game da série do que no segundo, o que pessoalmente, considero como sendo o melhor.
Ah, e se achar que o game não está difícil o suficiente, saiba disso: Quando se termina o game, ele lhe permite recomeçar a jornada mantendo todos os seus itens, almas e level. Ao reiniciar a jornada, novos itens são adicionados, como armas e equipamentos. E ainda temos mais inimigos, além do reposicionamento de todos eles, com todos bem mais fortes do que na jornada anterior!
E como é sempre bom relembrar: Dark Souls não tem misericórdia de jogadores afobados e que querem dar uma de Kratos pra cima dos inimigos. Aqueles que chegarem em Dark Souls III querendo sair distribuindo porrada a torto e a direito como num Hack n’ Slash serão terrivelmente massacrados. Se você pretende entrar no mundo de Dark Souls, se prepare, pois estratégia vale mais do que força!
GRÁFICOS E SONS
Dark Souls III tem gráficos incríveis, com muitas inspirações de Bloodborne. Temos lápides, construções em estilo gótico e estátuas assombrosas decorando os cenários do game. Os inimigos possuem visuais grotescamente belos, principalmente os chefões, temos cavaleiros gigantes com armaduras reluzentes, monstros grotescos e de visual repulsivo, e mortos vivos ainda mais detalhados, com expressões aterradoras quando olhamos de perto. Os personagens humanos possuem um visual não muito detalhado, e sem expressões. Agora o jogador tem muita mais opções de customização de rosto, para deixar seu personagem mais belo, ou mais horrível possível.
O destaque fica para os efeitos de iluminação do game, armaduras de metal possuem brilhos incríveis, sejam elas reluzentes como espelhos, ou meio opacas por ferrugem e amassados. Os efeitos de fogo são lindos, com o brilho avermelhado em chamas e em ataques baseados em fogo, sempre soltando faíscas luminosas no ar, sejam de fogo, de luz branca e azul de magias e de explosões. Dark Souls III foi feito com o mesmo motor gráfico de Bloodborne o que lhe deu muitos belos efeitos, mas sem todo o sangue de Bloodborne, que faz um pouco de falta mas que não atrapalha em sua ausência. O game é tão belo quanto Bloodborne, porém com toda a sujeira e escuridão do primeiro Dark Souls.
Porém, o game não é livre de alguns probleminhas, principalmente em quedas de framerate. Nada que chegue a atrapalhar a jogatina, mas em algumas áreas do game o framerate cai um pouco, dando aquelas leves engasgadas, essas quedas não chegam a atrapalhar os combates, mas ainda assim acontecem ocasionalmente e as vezes quebram um pouco o clima.
O departamento sonoro do game continua competente como sempre. Na maior parte do game não há trilha sonora, apenas os sons ambientes, causando um efeito bem mais tenebroso enquanto se joga. Você está seguindo por determinado caminho, e começa a escutar grunhidos estranhos e sons de respiração pesado. Você sabe que tem perigo na sua frente, mas você não sabe de onde ele virá, isso dá aquela sensação de insegurança, de estar realmente andando em direção ao perigo e a morte.
Mas quando a trilha sonora se faz presente, é um verdadeiro espetáculo. As músicas do game tocam nas batalhas contra os chefões, com músicas orquestradas muito belas e carregadas de emoção e peso, dando o exato tom para as batalhas devastadoras que travamos no game.
E para a nossa felicidade, o game está localizado para no nosso português brasileiro! O game conta com menus e legendas em nosso idioma e o trabalho de tradução foi muito competente, mas com algumas escorregadas aqui e ali, com traduções com sentido um pouco diferente do original em alguns itens, e alguns termos um pouco estranhos. Ou, em umas poucas ocasiões, o game traduzia algumas mensagens para o espanhol ao invés do português. Mas no conjunto da obra, a tradução ficou ótima. Infelizmente o game não contém dublagem em português, como em Bloodborne, que possui uma dublagem bem competente.
MULTIPLAYER
Não podia faltar um modo multiplayer em Dark Souls III não é? O modo multiplayer do game funciona da mesma maneira que os games anteriores, mas com novas melhorias.
Existem diferentes formas de se jogar multiplayer do game, mas é necessário que o jogador esteja com seu Braseiro aceso. Usar o Braseiro libera o modo multiplayer do game das seguintes formas: O jogador encontrará os Sinais de Invocação de outros jogadores e NPCs espalhados pelo chão. Ao ativá-los, o jogador que deixou esse sinal entrará em seu jogo para ajudá-lo. Da mesma maneira, o jogador pode deixar seu próprio sinal para que outros jogadores possam convocá-lo. Existe ainda o sinal de invasão, que permite que você chame um adversário para enfrentar.
As invasões ocorrem somente com o Braseiro aceso. Com isso, o jogo pode ser invadido a qualquer momento por outros jogadores e NPCs. Os invasores atacam os jogadores para roubar seus braseiros, e normalmente dão muito trabalho. Porém, há um recurso para ajudar aqueles que foram invadidos, os Pactos. Existem vários pactos diferentes no game em que o jogador pode fazer parte. Esses pactos tem como propósito ajudar seus membros. Se você fizer parte de um pacto e for invadido, o próprio pacto chamará jogadores para te defender, bem como pode chamar você no meio a partida para ajudar alguém em necessidade.
Atenção, o vídeo a seguir contém spoilers sobre uma batalha contra um chefão.
https://www.youtube.com/watch?v=ZcwL52MCCno
Temos uma novidade vinda de Bloodborne para ajudar os jogadores a se conectarem com seus amigos: O recurso de senhas. Os jogadores podem deixar Sinais de Invocação com senha, dessa forma, somente quem tiver essa senha poderá invocá-lo para uma partida. Dessa forma, amigos podem chamar uns aos outros de forma mais fácil.
Temos ainda recursos exclusivos do multiplayer presentes ao longo da aventura: Mensagens, Fantasmas e Manchas de Sangue. Estando com seu jogo online, o jogador pode deixar mensagens no chão para a posteridade. Com dicas de como derrotar inimigos ou prosseguir, mensagens engraçadas, ou dicas falsas para atrapalhar os outros. Uma novidade é a possibilidade de adicionar mais palavras nas mensagens e gestos para ilustrar a mensagem. Se você quer avisar que há um inimigo perigoso que vem por cima, deixe sua mensagem com o gesto apontando para cima para ajudar mais os outros.
Os fantasmas são vistos por todo lado, e representam outros jogadores que passaram, ou estão passando por onde você está ao mesmo tempo em que você. Já as manchas de sangue são uma grande ajuda. Elas mostram os últimos momentos de vida de um jogador, portanto sempre que puder confira as manchas de sangue, para ter uma ideia dos perigos a frente.
Mas se o jogador assim decidir, pode jogar o game inteiro em modo offline, assim nenhum jogador invadirá sua partida, somente os NPCs do game. Porém, jogando offline não é possível ver nenhuma mensagem, fantasma e mancha de sangue, deixando o jogador literalmente por conta própria, sem contato com nenhum outro jogador.
CONCLUSÃO
Depois de tudo isso, podemos dizer que Dark Souls III é o melhor e mais difícil game da série! O game mantém seu estilo de história oculta e cheia de mistérios e interpretações, e ainda conectando os novos mistérios com os dos games anteriores, de forma a fazer todo fã da série se empolgar em ir atrás de cada detalhe.
O game possui uma dificuldade maior que os anteriores. Claro que para alguns jogadores o nível de dificuldade pode variar, uns podem achar mais fácil, outros mais difícil. Mas se pegarmos Dark Souls III e compararmos ele com seus antecessores, então podemos realmente dizer que esse é o mais difícil da série. Um desafio de altíssimo nível, muitas e muitas mortes de fazer você arrancar os cabelos e um mundo totalmente obscuro e opressor aguardam aqueles que desejarem se aventurar por Lothric.
Como padrão da série, futuramente deverão vir DLCs com novos conteúdos, inimigos e bosses para o game. E se o padrão se manter, podemos esperar por desafios ainda mais difíceis do que o jogo apresentou até o momento, mas se manter a mesma qualidade, essas expansões serão muito bem vindas.
E aqui vai uma dica: Se você está pensando em começar a se aventurar pelo universo de Dark Souls, aconselhamos a começar a partir do primeiro game. Dark Souls III foi criado para superar a dificuldade dos games anteriores, e enquanto o primeiro game foi bem difícil e o segundo foi fácil, aqui temos um desafio bem, bem grande, que pode acabar assustando novos jogadores muito mais do que o primeiro game da série. Mas se você é do tipo de jogador que encara o desafio e não tem medo, então vai fundo! Glória ao Sol e muitas mortes o esperam!
https://www.youtube.com/watch?v=xVs-L_NbKss
Dark Souls III foi lançado inicialmente no Japão no dia 24 de Março e no dia 12 de Abril para o resto do mundo, produzido pela From Software e pela Bandai Namco. O game está disponível para PC, Playstation 4 e Xbox One.