Análise Arkade: O terror animalesco de Overcast – Walden and The Werewolf
Mais um jogo independente surge das trevas querendo sair do “mais do mesmo” e querendo ar novo para os jogos de terror. Mas será que Overcast: Walden and the Werewolf realmente aterroriza? Confira a nossa análise e descubra a resposta!
Jogos de terror são comuns no mundo indie e o motivo desta avalanche de jogos deste gênero específico no desenvolvimento pode ser causado pela facilidade de obter ideias, que geram trabalhos mais criativos e dão mais liberdade a seus criadores, seja no enredo ou no gameplay.
E eles sabem da nossa curiosidade mórbida com experiências de terror. Afinal, aquela adrenalina que temos quando um monstro surge do nada para nos assustar ou o sentimento de que alguma coisa está se aproximando é impossível de adquirir de formas convencionais.
Por essas e outras razões, temos então mais um jogo independente de terror, desta vez desenvolvido pelos brasileiros da Microblast Games, que apresentam seu projeto para colocar a prova se a experiência que eles oferecem será realmente aterradora ou somente mais um clone de jogos que popularizaram o gênero, como Amnesia: The Dark Descent e Slender: The Arrival.
Overcast: Walden and The Werewolf se apresenta como um jogo com grande potencial, desde seu diferente cenário baseado no velho-oeste, passando por uma impressionante trilha sonora e uma jogabilidade que favorece o combate direto no lugar de simplesmente fugir, comum em jogos do gênero. Com certeza é uma forma diferente de se fazer um jogo de terror e em momentos de “mais do mesmo”, a melhor saída ás vezes é mesmo arriscar a inovação e não querer repetir o que já foi feito.
Assim a Microblast Games decidiram tomar certas direções diferentes em seu jogo para sair dos trilhos dos jogos de terror. Porém, várias vezes durante o jogo Overcast dá suas escapadas aos trilhos do trem, em uma busca por originalidade e uma luta contra os clichês de terror.
E infelizmente é muito difícil fugir destes clichês em jogos, tanto é que após um tempo os sustos começaram a ficar manjados. Por exemplo: você está andando em um corredor escuro para pegar um item mas você sabe que ao pegar o item alguma coisa irá acontecer e vai te dar um baita susto, seja um monstro surgindo para te atacar ou um simples grito na tela para te deixar com medo mesmo não tendo nenhum tipo de ameaça. Igual Fatal Frame, igual Resident Evil, igual Silent Hill…
Claro que isto não quer dizer que o jogo não dá medo pois mesmo sabendo que o monstro iria aparecer naquele momento eu continuei na expectativa e ainda gritei de medo igual a uma criança pequena quando ele finalmente surgiu do nada.
No entanto, Overcast não é feito somente de pulos e sustos. Por isso devo dar o mérito de algumas partes em especial que foram criadas de forma estupenda, onde todos os elementos acabaram se casando perfeitamente, com a jogabilidade, trilha sonora e o ambiente lúgubre entrando em uníssono.
Os primeiros momentos do jogos são verdadeiramente aterrorizantes, colocando o protagonista com uma lamparina similar ao de Amnesia: The Dark Descent, porém sem a necessidade de ter que colocar óleo nela a cada dez minutos, uma espingarda e somente seis balas como munição. Os primeiros estágios são bem feitos e conseguem colocar a ideia de que alguma coisa está errada aqui e você não tem a menor ideia do que pode ser.
Overcast acaba desenvolvendo momentos que são tão bem executados que todos seus outros problemas acabam sendo esquecidos por uma pequena duração de tempo, porém ele não consegue recria-los um número de vezes o bastante para completamente esquecer de sua jogabilidade pesada, especialmente na metade do jogo para frente, onde a ameaça se transfere de gritos e o sentimento de perseguição para o complicado tiroteio que ele apresenta.
Após estes primeiros estágios sua jogabilidade começa a tentar se desenvolver para adicionar o combate armado que foi prometido no momento que você empunha seu rifle com as únicas seis balas. E neste momento que Overcast entra em seu primeiro grande empecilho, te colocando um número de obstáculos tão grande para aumentar a dificuldade e acentuar o senso de terror que o ato de manusear o rifle é de pura raiva e desespero.
Para atirar é bastante simples, é somente mirar e atirar, mas para recarregar a história é completamente diferente. Ao apertar a tecla R, o rifle entra uma animação que dura quase 10 segundos para terminar enquanto ela se move no ar e mais uma bala é lentamente adicionada. Agora repita este processo todas as vezes que você der um tiro e verá que o terror não está só no tema do jogo.
A frustração se intensifica ainda mais quando todos os inimigos te matam com um ataque (salvo um monstro que te mata com dois ataques por ser menor que os demais), além do fato que durante quase metade do jogo os inimigos não dá pra acertar os inimigos, seja pelo tamanho pequeno deles, seja pelo fato de que eles se escondem muito bem no cenário. E sim, você morreu de novo!
Pode-se dizer que tudo isto foi uma opção durante seu desenvolvimento para aumentar a dificuldade geral e fazer o jogo ter um desafio de verdade. Mas suas falhas na jogabilidade não criam um desafio divertido, mas sim uma experiência frustrante. É aquela história: jogos difíceis são legais desde que a sua jogabilidade seja boa.
O lado bom é que mesmo com o tiroteio sendo o foco durante as partes finais do jogo, Overcast faz um trabalho esplêndido com seus cenários, não ficando preso somente nas mesmas florestas ou casinhas pequenas de sempre, mas somando calabouços sombrios que ajudam a diversificar os cenários em ambientes abertos e fechados. Isso é algo legal, comparando aos outros jogos de terror que insistem em te manter em um único lugar.
Outra qualidade de Overcast é em sua trilha sonora, que mantém um clima de velho-oeste com músicas tocadas no violão que trazem adrenalina nos momentos de combate e terror nos momentos mais tensos durante o percurso inteiro do jogo.
Overcast conta a história de Walden e o misterioso lobisomem que o está atormentando. Mas o tempo de jogo é curto e quando o jogo começa ficar interessante a última fase surge e o iminente fim chega rápido.
É tão rápido que um jogador experiente chega em seu fim na média de uma hora e meia em até duas horas. E praticamente sem fator replay por você não tem muito o que fazer após o final e pior: não respondendo todas as perguntas que foram criadas no começo do jogo durante sua introdução, demonstrando uma falha gritante em seu roteiro.
Mesmo com estes pontos que observei, Overcast: Walden and The Werewolf consegue somar ao gênero de terror graças aos seus cenários variados e boa trilha sonora, além de conseguir criar momentos excitantes de terror. Porém sua jogabilidade acaba atrapalhando o que poderia ser uma experiência quase perfeita e as partes mais irritantes do jogo envolvem todos os momentos em que você precisa utilizar o seu rifle.
Seus melhores momentos no entanto, surgem e acabam rápido demais, especialmente quando o jogo começa a ficar interessante. Você finalmente perdeu a raiva de recarregar seu rifle, se interesso pela história e… fim! Assim, sem mais nem menos, desejando que ele continue só um pouco mais para ver qual seria o próximo passo para a criatividade do pessoal da Microblast Games.
E você que é fã de jogos de terror e está cansado dos jogos iguais do gênero, querendo tentar algo novo, Overcast pode valer a pena, mesmo com seus vários problemas que citei durante a análise. A tentativa de se fazer algo novo é digna de reconhecimento e serve de escola para que a equipe possa continuar evoluindo e produzindo jogos interessantes.
Overcast: Walden and The Werewolf está disponível no PC pela loja virtual Splitplay, por R$19,99 e a sua extraordinária trilha sonora (sim, eu gostei e recomendo) por R$ 4,29.