Análise Arkade: revisitando o fim do mundo em The Last of Us: Remastered (PS4)
Pouco mais de um ano após seu lançamento, The Last of Us retorna, “remasterizado” para a nova geração. Mas será que vale a pena revisitar o fim do mundo da Naughty Dog? Descubra na sequência!
A capa do jogo já chega afirmando que The Last of Us ganhou “Mais de 200 Prêmios de Jogo do Ano”. E a gente sabe que estes badges foram muito merecidos, afinal a aventura de Joel e Ellie foi, sem dúvida, um dos melhores jogos dos últimos tempos e oferecer uma aventura tensa, emocionante e extremamente caprichada tecnicamente.
Tudo isso está de volta aqui, mas com umas poucas novidades que agregam valor ao jogo, ainda que não tire a sensação de que este — como Tomb Raider Definitive Edition — é um relançamento extremamente precoce de um jogo que já era excelente no ano passado.
SINOPSE
Para que ainda não conhece, aí vai um breve resumo: Joel é um pai de família trabalhador que vê sua vida se tornar um inferno quando uma variação do fungo cordyceps — que na vida real afeta somente formigas, aranhas e outros insetos — começa a afetar seres humanos, transformando pessoas em aberrações medonhas sedentas por sangue.
A fúria do cordyceps dizimou boa parte da raça humana e acabou com a civilização como a conhecemos. Quem não virou “zumbi” se tornou um sobrevivente duro e frio, que luta todos os dias para se manter vivo. Entre pequenos grupos nômades e grandes milícias militarizadas, os não infectados geralmente são tão perigosos quanto os que foram afetados pelo fungo.
Após duas décadas de sobrevivência aos trancos e barrancos, Joel e sua parceira Tess recebem uma missão inusitada: escoltar a jovem e rebelde Ellie até o covil dos Vagalumes, milícia radical de sobreviventes que ainda não desistiu de buscar uma cura para a praga do cordyceps. E sua missão no jogo é basicamente cruzar metade dos EUA para levar a enérgica adolescente aos Vagalumes.
FALANDO NISSO…
Antes de mais nada, que fique claro que aqui não iremos analisar o jogo como um todo. Já temos uma análise completíssima de The Last of Us, para quem quiser saber mais sobre a história, a jogabilidade e tudo mais. O DLC Left Behind também recebeu resenha por aqui, de modo que você pode saber tudo sobre eles em apenas dois cliques!
Leia aqui nossa análise de The Last of Us!
Leia aqui nossa análise da DLC Left Behind!
Dito isso, podemos nos ater ao que realmente importa, que são as novidades desta versão “Remastered” do jogo, afinal, a campanha e a jogabilidade continuam essencialmente iguais, eo que mudou será abordado.
1080p, 60fps e Comentários
O The Last of Us do Playstation 3 levou o hardware do console ao limite para rodar a 720p em uma taxa constante de 30fps. Como o Playstation 4 é consideravelmente mais poderoso, aqui o jogo roda liso em resolução 1080p e em toda a glória dos 60 frames por segundo.
Essa pode ser uma diferença sutil para muita gente, mas realmente faz diferença. É como se a Naughty Dog tivesse liberado as amarras do jogo para seu verdadeiro potencial (em termos de resolução e framerate). The Last of Us já era lindo no PS3, e conseguiu ficar ainda mais lindo no PS4.
Pelo menu de opções é possível travar o framerate nos bons e velhos 30fps, e foi alternando entre as possibilidades que eu reparei como tudo fica mais fluido em uma taxa de framerate maior, ainda que perca-se um pouco de definição em sombras e detalhes. A profundidade de campo também aumenta consideravelmente, sem aqueles problemas do cenário ir carregando aos poucos, conforme avançamos.
Confira abaixo um vídeo comparativo entre o framerate em 30fps e 60fps:
Claro que o framerate não é apenas estético, mas afeta de leve também a jogabilidade: quanto mais alta a taxa de frames por segundo, mais rápida e responsiva é a jogabilidade. Com isso, o gameplay flui melhor e as respostas aos comandos são mais rápidas, o que faz uma diferença e tanto especialmente no frenético multiplayer do game.
Os 1080p de resolução são muito úteis para tornar o belo mundo criado pela Naughty Dog mais nítido e detalhado. Texturas, efeitos de iluminação e detalhes como a pele, as rugas e os cabelos dos personagens são as melhorias mais notáveis, alcançando um patamar de qualidade e fotorrealismo bem acima do game original.
Completam esta leva de novidades comentários em áudio do diretor do game, Neil Druckmann e dos dubladores de Joel e Ellie — Troy Baker e Ashley Johnson — que aproveitam as cutscenes para falar um pouco do processo de criação do game e de todo o trabalho de captação de interpretação que contribuiu enormemente com o forte apelo dramático e cinematográfico do game.
Vale ressaltar que estas novidades não farão sua cabeça explodir, nem nada do tipo. Até porque, como já dissemos, The Last of Us já era lindo de babar no PS3. Mas, conforme você compara e vai se acostumando com as diferenças, fica cada vez mais claro que os 1080p e os 60fps conseguem tornar o game mais bonito e fluido, ainda que a diferença não seja gritante.
JOGABILIDADE
Ainda que poucas mudanças tenham sido feitas neste quesito, é fato que todas elas foram para melhor. O controller DualShock 4 do PS4 é indiscutivelmente muito superior ao controller do PS3 tanto em ergonomia quanto em funcionalidade, e a Naughty Dog se aproveitou disso na hora de dar uma polida na jogabilidade.
Para começar, como o DualShock 4 tem gatilhos decentes, as funções de mirar e atirar pularam do L1 e R1 (que quebravam um galho, mas estavam longe der ser a melhor configuração) para o L2 e R2. Os shooters já funcionam assim no Xbox há anos, mas como só agora o Playstation ganhou gatilhos decentes, só agora podemos mirar e atirar decentemente.
O touchpad incorporado ao controle aqui serve para acessar a mochila de Joel. Não é lá uma grande mudança, mas como ele é consideravelmente maior (e melhor localizado) que os botões start/select/share/options, sua utilização fica muito mais prática e intuitiva.
O alto-falante embutido no controller cumpre seu papel de maneira sutil, emitindo os cliques de liga/desliga da lanterna (que ainda é ativada pressionando R3) e cuidando de fontes de áudio secundárias, como audio files. Nada de mais e nem necessariamente inédito (Killzone, Tomb Raider e outros jogos já fizeram isso), mas também não incomoda.
A luz que fica na parte superior do controle muda de cor conforme o estado de saúde de Joel: luz verde, tá tranquilo, luz laranja é meia barra de vida e luz vermelha é morte iminente. Este recurso é excepcionalmente útil no nível de dificuldade “Punitivo” (novidade que saiu para o PS3 via DLC gratuito), onde todos os huds da tela são eliminados e você não tem nenhuma referência visual do seu estado de saúde.
DLCs
Para justificar o relançamento precoce do jogo, esta edição além de “Remasterizada” também pode ser chamada de “Edição Definitiva” do jogo, pois traz todos os principais DLCs que foram lançados para o Playstation.
Como já é sabido, porém, o jogo possui apenas um DLC singleplayer, que é a mini-campanha Lelft Behind, que mostra Ellie — acompanhada de sua amiga Riley — um tempo antes de conhecer Joel e Tess. Quem não desembolsou 15 dólares para jogar este adendo no PS3, sem dúvida tem aqui um bom plus nesta edição.
De resto, os DLCs são basicamente mapas e modos de jogo para o multiplayer competitivo Facções. Considerando que a comunidade de jogadores online é bem grande — e está crescendo muito rapidamente no PS4 –, se você curtiu a matança e a coleta de suprimentos do modo Facções no PS3, com certeza vai curtir o “pacotão” de conteúdo que vem com a versão Remasterizada.
PHOTO MODE
Sem dúvida a novidade que mais se destacou para mim. O botão “share” do PS4 já é naturalmente uma mão na roda para quem curte tirar screenshots, gravar vídeos de gameplay ou transmitir suas partidas online.
Porém, jogos como Infamous: Second Son e The Last of Us Remastered vão mais fundo, possibilitando que o jogador pause a ação em praticamente qualquer momento de gameplay e possa mover livremente a câmera por uma cena particularmente épica, acrescentar filtros de cor, molduras e alterar elementos como o brilho ou a profundidade de campo.
Games que possuem recursos desse tipo sempre me chamaram a atenção — os jogos de corrida Blur, Need for Speed The Run e Gran Turismo 6 contavam com isso desde a geração passada — e eu gosto de acreditar que minha falta de talento para fotografia no mundo real é compensada no mundo dos games. Eu simplesmente adoro “construir uma cena” bacana e clicá-la da melhor maneira possível.
Em Infamous: Second Son eu aproveitei o Photo Mode para tirar ótimas imagens de Delsin usando seus poderes, especialmente os de fumaça e neon, que são os mais “fotogênicos”. Agora, com The Last of Us Remastered, eu me peguei maravilhado pelas possibilidades que o Photo Mode oferece.
Se o game já é bonito “de longe”, ter a liberdade de girar a câmera a ponto de vermos em detalhes cada ruga, cada fio de barba, cada dente (?!) e cada imperfeição da pele só o deixa mais bonito, e enaltece o excelente trabalho feito pela Naughty Dog. É como se pudéssemos produzir em casa aquelas imagens de divulgação caprichadas que as empresas usam para divulgar seus jogos.
Talvez os menos empolgados com fotografia nem se importem tanto com isso, mas eu realmente gasto um bom tempo brincando com efeitos e filtros de imagem sempre que me deparo com uma situação que mereça um clique. O resultado, modéstia a parte, ficou muito bom. Todas as imagens que ilustram esta análise foram feitas com o Photo Mode do game, e abaixo coloco uma pequena galeria (sem spoilers!) das que mais gostei:
Acredite você ou não, todas estas imagens representam momentos de puro gameplay, que foram “congelados” pelo Photo Mode, para que eu pudesse brincar com o ângulo da câmera, o zoom e os filtros e efeitos. E é justamente ao aproximarmos a câmera dos detalhes que podemos apreciar a beleza e o capricho da Naughty Dog.
Vale ressaltar que o Photo Mode foi adicionado por um patch no mesmo dia de lançamento do game e não fica ativado automaticamente: para usá-lo, você deve acessar o menu de opções/jogo e ativar o Modo Foto. Aí, sempre que quiser (menos em cutscenes pré-renderizadas) basta pressionar o L3 para pausar a ação (seja um tiroteio frenético ou a mordida fatal de um clicker) e brincar com a câmera e com os efeitos disponíveis.
O QUE PODERIA TER SIDO MELHORADO…
Enquanto algumas produtoras aproveitam a chance de não apenas “remasterizar” um jogo, mas também melhorá-lo consideravelmente — como a 4A Games acabou de fazer com a coletânea Metro Redux –, outras preferem o “caminho mais fácil”, e The Last of Us infelizmente trilha este segundo caminho.
Por mais que seja um jogo incrível, The Last of Us não é perfeito. Além dos bugs — que parecem ter sido ignorados e continuam presentes aqui — a limitada inteligência artificial do jogo que já deixava bastante a desejar no PS3 continua presente aqui.
É bizarro como os inimigos só vão atrás de Joel e geralmente ignoram o fato de Ellie (ou Bill, ou Tess ou qualquer outro NPC) passar correndo, fazendo barulho e se escondendo mal e porcamente pelo cenário. Só Joel parece estar realmente em perigo na maior parte do tempo.
Seria ótimo se a Naughty Dog tivesse aproveitado esta oportunidade para não só remasterizar o game, como também melhorar o que precisava ser melhorado. Ok, 1080p, 60fps, DLCs inclusos e Photo Mode são ótimas novidades, mas este é um jogo que merecia mais alguns ajustes para ficar ainda melhor na nova geração.
CONCLUSÃO
No fim das contas, vale a pena gastar seu dinheiro em uma versão remasterizada de um jogo tão recente? Depende. Você jogou The Last of Us no PS3? Gastou seu dinheiro baixando Left Behind, mapas e conteúdos extras do multiplayer? Então talvez não haja nada de muito atrativo para você nesta “nova versão” do game.
Porém, se você por ventura deixou escapar este jogo na geração passada, mas já tem um PS4 e está sem nada de bom para jogar nele (convenhamos: a nova geração anda carente de bons jogos), The Last of Us Remastered é uma excelente opção, visto que é uma versão melhorada e com poucas (mas boas) novidades deste que é, sem dúvida, um dos melhores jogos dos últimos anos.
The Last of Us Remastered foi lançado no dia 29 de julho de 2014, exclusivamente para o Playstation 4.