Análise Arkade: o declínio de um grupo em The Walking Dead: Amid the Ruins (Season 2, Ep. 4)
Hora de voltarmos ao sombrio mundo pós-apocalíptico de The Walking Dead. Na sequência você confere nossa análise praticamente sem spoilers do penúltimo episódio da segunda temporada do adventure, Amid the Ruins.
Antes de começar a ler, fique avisado que, embora nos esforcemos para não soltar spoilers relevantes à trama, alguns comentários podem acabar entregando algumas informações referentes à situação do grupo ou aos eventos vistos nos episódios anteriores.
Aliás, se você “pegou o bonde andando”, não fique de fora: já temos resenhas dos 3 primeiros episódios! Confira nos links abaixo:
Agora sim, podemos ir direto para no novo episódio, que apresenta momentos de muita…
TENSÃO
Após todo o pesadelo envolvendo Carver e sua trupe, o grupo já começa em maus lençóis visto que o clímax do episódio anterior foi bem intenso. Não há tempo para respirar: assumimos o controle imediatamente após o desfecho do episódio 3, tendo que se virar “na marra” com as consequências da excruciante escolha final do episódio anterior.
Passado o frenesi inicial, o grupo (ou o que restou dele) se reúne em uma praça em ruínas, próxima de uma fonte. Mas esta parada não significa sossego, pois as emoções de todos estão à flor da pele, alguns personagens sequer conseguiram se unir ao grupo. Para piorar, a avançada gravidez de Rebecca deixa a situação ainda mais emergencial.DECISÕES
Com um grupo desmotivado e disperso, cabe ao jogador — na pele de Clementine — tentar acalmar os ânimos e auxiliar na medida do possível. A evasiva Jane ganha um papel importante neste novo episódio, atuando ao lado de Clementine na busca por abrigo e suprimentos.
Jane é uma aliada e tanto: ágil, corajosa e independente, ela está sempre pronta para a ação, e até ensina um ou dois truques de sobrevivência para Clem. Porém, ela está o tempo todo sugerindo que se livrar do grupo é a melhor maneira de sobreviver. Fechada e misteriosa como ela é, fica difícil saber se Jane é uma pessoa realmente confiável.
Não tarda para você se reunir novamente com Luke e Sarah, esta última mais catatônica e perturbada do que nunca. É nestes momentos que o novo episódio mostra sua força: raramente é Clem quem está perigo (na real o episódio é até “tranquilo” para ela), mas em mais de um momento no episódio está nas suas mãos a escolha de ajudar (ou não) quem precisa.E estas escolhas vão ficando mais e mais complexas conforme a moral do grupo oscila perigosamente. Devastado por suas próprias perdas, Kenny se torna volátil, explosivo e até um pouco maluco. Bonnie (aquela mesma do DLC 400 Days), tenta se entrosar, mas cabe a você decidir se aceita numa boa a aproximação dela ou não. Confesso que não consigo confiar nela, nem me esforço para disfarçar isso.
Quando um novo personagem é introduzido, uma difícil escolha moral se apresenta: roubar os medicamentos dele para dar à Rebecca (que está muito mal) ou deixá-los para uma suposta “irmã doente”. A vida de uma suposta desconhecida doente vale mais que a de alguém de seu grupo? Quem é você para julgar isso? Como de praxe, nunca há uma escolha 100% certa, e independente do que faça, fique pronto para encarar as consequências.PROBLEMAS
Ao mesmo tempo em que a narrativa se mantém afiada, a reta final desta segunda temporada evidencia o que talvez seja sua maior fraqueza: a falta de um grupo coeso e interessante. Com novos personagens entrando e saindo (e morrendo) aos montes, falta tempo para o jogador realmente se afeiçoar e se importar com os novatos. Com isso, a saída ou morte deles não é tão impactante ou emocionante quanto deveria.
A Telltale deve ter tido seus motivos para proceder assim, mas não consigo deixar de pensar no retrocesso que há, se comparado à primeira temporada: lembro até hoje de personagens e momentos marcantes da aventura de Lee; ao passo que muitos dos novos rostos que surgiram nesta segunda temporada foram devorados por zumbis ou brutalmente assassinados… e eu realmente não me importei muito com eles. Sequer decorei o nome de alguns deles.
Claro que há exceções notáveis, mas cada vez fica mais evidente que o novo grupo — que na realidade é o que sobrou da fusão de uns 2 ou 3 grupos que foram sendo apresentados no decorrer da temporada — não tem metade do carisma do grupo que conhecemos no jogo que levou (merecidamente) o GOTY em 2012.
Outra coisa que aos poucos foi se tornando incômoda (pelo menos para mim) é a importância surreal que a opinião de Clem tem no grupo: mesmo acompanhada de um bando de adultos, é a garotinha de 12 anos quem toma algumas decisões bem difíceis, e é também quem mais toma iniciativa e se arrisca em missões que facilmente poderiam ser resolvidas por outros personagens.Achei ótimo que a Telltale nos deu a oportunidade de continuar acompanhando Clementine. Por outro lado, justamente por ela ser a protagonista, é dada demasiada importância às suas decisões, afinal se é ela quem o jogador controla, ela deve ser o mais “participativa” possível. Mas, pense comigo: se você estivesse lutando pela vida em um apocalipse zumbi, iria deixar algumas decisões bem significativas nas mãos de uma pré-adolescente?
Sei que Clem já passou por poucas e boas e é mais durona que a maioria dos adultos, mas nem por isso os adultos precisam ser estúpidos, certo? Em um trecho em particular onde Clem, Bonnie e Michael estão em busca de suprimentos, somente Clem é capaz de encontrar itens, os NPCs praticamente esbarram nas coisas úteis, mas ignoram tudo, afinal, é Clem quem deve salvar o dia. Precisava forçar a barra desse jeito?
Por fim, começa a ficar evidente uma escassez de saídas criativas para certas situações. Sempre há aquele zumbi que surge “inesperadamente” de algum canto, sempre há uma morte grotesca a ser perpetrada pelo jogador, sempre acontece algo que impossibilita que um aliado escape dos desmortos. Quando não é um trator é uma cerca, uma janela, ou o desabamento de um piso.
Sei que deve ser um desafio e tanto para os roteiristas manter as coisas sempre frescas e surpreendentes, mas acho que em um game que se apoia quase que totalmente em sua trama, fugir dos clichês e da acomodação é essencial. Eu não preciso ser surpreendido a todo momento, mas quando for, que seja impactante pra valer, e não algo tipo “ah, ok, algo desse tipo já aconteceu antes”.
CONCLUSÃO
Apesar dos parágrafos negativos acima, não se engane: apesar dos problemas (que, veja bem, refletem a minha opinião sobre o game), narrativamente Amid the Ruins ainda é excelente, e seu desfecho (que tem uma pitada de Cães de Aluguel e lembra muito o fim do eletrizante episódio To’hajiilee, 13º da última temporada de Breaking Bad) é extremamente intenso, e consegue nos deixar “na pilha” pelo próximo e derradeiro episódio.
Para quem, como eu, vem acompanhando a série desde o início, é fato que ela continua ótima, porém não é perfeita, e quanto mais avançamos, mais alguns problemas ficam evidentes. Felizmente, a trama (que é o que mais se destaca em um adventure de jogabilidade tão simples) se mantém boa o bastante para que continuemos querendo saber o que vem a seguir.
Mas, considerando que a Telltale acabou de confirmar que teremos uma terceira temporada de The Walking Dead no futuro, esperamos que ela consiga novamente nos surpreender com situações tensas (e diferentes!) e nos apresentar um elenco tão carismático quanto o da primeira temporada.
Até lá, vamos esperar, e cruzar os dedos para que o desfecho da segunda temporada seja tão memorável quanto foi o da primeira!
The Walking Dead: Amid the Ruins está disponível para PC, PS3, Vita, X360 e iOS.