Análise Arkade: o declínio de um grupo em The Walking Dead: Amid the Ruins (Season 2, Ep. 4)

29 de julho de 2014

Análise Arkade: o declínio de um grupo em The Walking Dead: Amid the Ruins (Season 2, Ep. 4)

Hora de voltarmos ao sombrio mundo pós-apocalíptico de The Walking Dead. Na sequência você confere nossa análise praticamente sem spoilers do penúltimo episódio da segunda temporada do adventure, Amid the Ruins.

Antes de começar a ler, fique avisado que, embora nos esforcemos para não soltar spoilers relevantes à trama, alguns comentários podem acabar entregando algumas informações referentes à situação do grupo ou aos eventos vistos nos episódios anteriores.

Aliás, se você “pegou o bonde andando”, não fique de fora: já temos resenhas dos 3 primeiros episódios! Confira nos links abaixo:

Episódio 1: All That Remains

Episódio 2: A House Divided

Episódio 3: In Harm’s Way

Agora sim, podemos ir direto para no novo episódio, que apresenta momentos de muita…

 TENSÃO

Após todo o pesadelo envolvendo Carver e sua trupe, o grupo já começa em maus lençóis visto que o clímax do episódio anterior foi bem intenso. Não há  tempo para respirar: assumimos o controle imediatamente após o desfecho do episódio 3, tendo que se virar “na marra” com as consequências da excruciante escolha final do episódio anterior.

Análise Arkade: o declínio de um grupo em The Walking Dead: Amid the Ruins (Season 2, Ep. 4)

O velho truque de se besuntar de sangue de zumbi para passar despercebido ainda funciona.

Passado o frenesi inicial, o grupo (ou o que restou dele) se reúne em uma praça em ruínas, próxima de uma fonte. Mas esta parada não significa sossego, pois as emoções de todos estão à flor da pele, alguns personagens sequer conseguiram se unir ao grupo. Para piorar, a avançada gravidez de Rebecca deixa a situação ainda mais emergencial.

DECISÕES

Com um grupo desmotivado e disperso, cabe ao jogador — na pele de Clementine — tentar acalmar os ânimos e auxiliar na medida do possível. A evasiva Jane ganha um papel importante neste novo episódio, atuando ao lado de Clementine na busca por abrigo e suprimentos.

Jane é uma aliada e tanto: ágil, corajosa e independente, ela está sempre pronta para a ação, e até ensina um ou dois truques de sobrevivência para Clem. Porém, ela está o tempo todo sugerindo que se livrar do grupo é a melhor maneira de sobreviver. Fechada e misteriosa como ela é, fica difícil saber se Jane é uma pessoa realmente confiável.

Análise Arkade: o declínio de um grupo em The Walking Dead: Amid the Ruins (Season 2, Ep. 4)

Jane é esperta, ágil, corajosa… e misteriosa.

Não tarda para você se reunir novamente com Luke e Sarah, esta última mais catatônica e perturbada do que nunca. É nestes momentos que o novo episódio mostra sua força: raramente é Clem quem está perigo (na real o episódio é até “tranquilo” para ela), mas em mais de um momento no episódio está nas suas mãos a escolha de ajudar (ou não) quem precisa.

E estas escolhas vão ficando mais e mais complexas conforme a moral do grupo oscila perigosamente. Devastado por suas próprias perdas, Kenny se torna volátil, explosivo e até um pouco maluco. Bonnie (aquela mesma do DLC 400 Days), tenta se entrosar, mas cabe a você decidir se aceita numa boa a aproximação dela ou não. Confesso que não consigo confiar nela, nem me esforço para disfarçar isso.

Análise Arkade: o declínio de um grupo em The Walking Dead: Amid the Ruins (Season 2, Ep. 4)

Ser você não sabia que o Kenny está de volta… sinto muito, mas alguns spoilers são impossíveis de escapar.

Quando um novo personagem é introduzido, uma difícil escolha moral se apresenta: roubar os medicamentos dele para dar à Rebecca (que está muito mal) ou deixá-los para uma suposta “irmã doente”. A vida de uma suposta desconhecida doente vale mais que a de alguém de seu grupo? Quem é você para julgar isso? Como de praxe, nunca há uma escolha 100% certa, e independente do que faça, fique pronto para encarar as consequências.

PROBLEMAS

Ao mesmo tempo em que a narrativa se mantém afiada, a reta final desta segunda temporada evidencia o que talvez seja sua maior fraqueza: a falta de um grupo coeso e interessante. Com novos personagens entrando e saindo (e morrendo) aos montes, falta tempo para o jogador realmente se afeiçoar e se importar com os novatos. Com isso, a saída ou morte deles não é tão impactante ou emocionante quanto deveria.

Análise Arkade: o declínio de um grupo em The Walking Dead: Amid the Ruins (Season 2, Ep. 4)

Telltale deve ter tido seus motivos para proceder assim, mas não consigo deixar de pensar no retrocesso que há, se comparado à primeira temporada: lembro até hoje de personagens e momentos marcantes da aventura de Lee; ao passo que muitos dos novos rostos que surgiram nesta segunda temporada foram devorados por zumbis ou brutalmente assassinados… e eu realmente não me importei muito com eles. Sequer decorei o nome de alguns deles.

Claro que há exceções notáveis, mas cada vez fica mais evidente que  o novo grupo — que na realidade é o que sobrou da fusão de uns 2 ou 3 grupos que foram sendo apresentados no decorrer da temporada  — não tem metade do carisma do grupo que conhecemos no jogo que levou (merecidamente) o GOTY em 2012.

Análise Arkade: o declínio de um grupo em The Walking Dead: Amid the Ruins (Season 2, Ep. 4)

Desculpem caras… mas eu realmente não me importo muito com vocês.

Outra coisa que aos poucos foi se tornando incômoda (pelo menos para mim) é a importância surreal que a opinião de Clem tem no grupo: mesmo acompanhada de um bando de adultos, é a garotinha de 12 anos quem toma algumas decisões bem difíceis, e é também quem mais toma iniciativa e se arrisca em missões que facilmente poderiam ser resolvidas por outros personagens.

Achei ótimo que a Telltale nos deu a oportunidade de continuar acompanhando Clementine. Por outro lado, justamente por ela ser a protagonista, é dada demasiada importância às suas decisões, afinal se é ela quem o jogador controla, ela deve ser o mais “participativa” possível. Mas, pense comigo: se você estivesse lutando pela vida em um apocalipse zumbi, iria deixar algumas decisões bem significativas nas mãos de uma pré-adolescente?

Análise Arkade: o declínio de um grupo em The Walking Dead: Amid the Ruins (Season 2, Ep. 4)

Nadas pessoal, Clem, mas você é muito superestimada.

Sei que Clem já passou por poucas e boas e é mais durona que a maioria dos adultos, mas nem por isso os adultos precisam ser estúpidos, certo? Em um trecho em particular onde Clem, Bonnie e Michael estão em busca de suprimentos, somente Clem é capaz de encontrar itens, os NPCs praticamente esbarram nas coisas úteis, mas ignoram tudo, afinal, é Clem quem deve salvar o dia. Precisava forçar a barra desse jeito?

Por fim, começa a ficar evidente uma escassez de saídas criativas para certas situações. Sempre há aquele zumbi que surge “inesperadamente” de algum canto, sempre há uma morte grotesca a ser perpetrada pelo jogador, sempre acontece algo que impossibilita que um aliado escape dos desmortos. Quando não é um trator é uma cerca, uma janela, ou o desabamento de um piso.

Análise Arkade: o declínio de um grupo em The Walking Dead: Amid the Ruins (Season 2, Ep. 4)

Sei que deve ser um desafio e tanto para os roteiristas manter as coisas sempre frescas e surpreendentes, mas acho que em um game que se apoia quase que totalmente em sua trama, fugir dos clichês e da acomodação é essencial. Eu não preciso ser surpreendido a todo momento, mas quando for, que seja impactante pra valer, e não algo tipo “ah, ok, algo desse tipo já aconteceu antes”.

CONCLUSÃO

Apesar dos parágrafos negativos acima, não se engane: apesar dos problemas (que, veja bem, refletem a minha opinião sobre o game), narrativamente Amid the Ruins ainda é excelente, e seu desfecho (que tem uma pitada de Cães de Aluguel e lembra muito o fim do eletrizante episódio To’hajiilee, 13º da última temporada de Breaking Bad) é extremamente intenso, e consegue nos deixar “na pilha” pelo próximo e derradeiro episódio.

Análise Arkade: o declínio de um grupo em The Walking Dead: Amid the Ruins (Season 2, Ep. 4)

Para quem, como eu, vem acompanhando a série desde o início, é fato que ela continua ótima, porém não é perfeita, e quanto mais avançamos, mais alguns problemas ficam evidentes. Felizmente, a trama (que é o que mais se destaca em um adventure de jogabilidade tão simples) se mantém boa o bastante para que continuemos querendo saber o que vem a seguir.

Mas, considerando que a Telltale acabou de confirmar que teremos uma terceira temporada de The Walking Dead no futuro, esperamos que ela consiga novamente nos surpreender com situações tensas (e diferentes!) e nos apresentar um elenco tão carismático quanto o da primeira temporada.

Até lá, vamos esperar, e  cruzar os dedos para que o desfecho da segunda temporada seja tão memorável quanto foi o da primeira!

The Walking Dead: Amid the Ruins está disponível para PC, PS3, Vita, X360 e iOS.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

Mais Matérias de Rodrigo

Comente nas redes sociais