Análise Arkade: Yooka-Laylee é um literal retorno aos games de plataforma de antigamente
Yooka-Laylee, a reincarnação dos clássicos games de plataforma da época do Nintendo 64, como Banjo & Kazooie já está entre nós! Um dos games mais aguardados e bem-sucedidos em sua campanha de crowdfunding chegou com a promessa de reviver a nostalgia daquela época da forma mais pura o possível. E agora é hora de conferirmos como o game se saiu em sua proposta!
Então venha conosco e confira nossa análise completa do muito aguardado Yooka-Laylee!
Uma nova dupla de heróis que saiu do passado
Yooka-Laylee é completamente uma recriação fiel dos action-adventures de plataforma do passado. Em todos os seus quesitos. Somos apresentados à inseparável dupla que dá nome ao game, Yooka é um jovem iguana (que mais parece um camaleão e é chamado de lagarto) simpático e bem educado. E Laylee é uma morceguinha hilária e bastante sarcástica que está sempre junta de seu amigo.
Eles vivem tranquilamente em seu navio encalhado que após muito tempo foi reformado para virar um lar. Nesse navio, Laylee encontrou um livro misterioso, que ela usa para tudo, de travesseiro até peso de porta, mas que logo em seguida sai voando para dentro das Hivory Towers, uma grande indústria controlada pelo vilão Capital B e Dr. Quack, que estão sugando todos os livros do mundo em busca do One Book, um livro com poder de reescrever todo o universo, e que coincidentemente, é o livro de Laylee.
E assim, a aventura começa com a dupla indo atrás das Pagies, as páginas douradas do livro de Laylee que escaparam quando o livro foi roubado. A dupla precisa reunir as páginas para impedir que Capital B use os poderes do livro, mas não sem uma grande caminhada, pois as páginas, 145 ao todo, se espalharam por todos os mundos do game.
A volta do velho sistema de mundos
Uma das principais características de Yooka-Laylee é sua forma de progressão, uma que jogadores mais novos possivelmente nunca tiveram contato: Os “mundos”. O game é dividido da seguinte forma: Temos um mundo central, um “hub”, dividido em várias sessões diferentes e escondendo vários itens. Dentro desse Hub temos os Grand Tomes, livros que dão acesso aos diferentes mundos do game, sendo cinco ao todo.
Para abrir um Grand Tome, basta ter coletado o número exigido de Pagies, que felizmente é um número baixo. E então você pode acessar esses mundos. E melhor ainda, esses mundos podem ser expandidos! Por mais uma quantia de Pagies, todos os 5 mundos podem ser expandidos, ficando muito maiores e com ainda mais coisas a se fazer neles. E acredite, existe muita coisa a se fazer nesse game!
O melhor de tudo é que o game não é restritivo, você pode avançar para outros mundos mesmo sem terminar tudo dos já habilitados. Na verdade, muitas das atividades dos mundos só podem ser acessadas posteriormente ao comprar novas habilidades para Yooka e Laylee. Mas mesmo assim, o game deixa que você jogue na ordem que você desejar, e da forma que desejar. As únicas exigência são comprar habilidades novas, que felizmente são fáceis de se conseguir. E coletar no mínimo 100 Pagies para abrir a batalha final. O que não é nenhuma coisa impossível de se fazer, exceto se você for muito apressado. E cá entre nós, coletar Pagies é o objetivo principal do game, e mesmo que você deixe algumas de lado, ainda assim é possível coletar as 100 sem muita dificuldade.
Os mundo são únicos, cada um com um tema e arquitetura completamente diferente do anterior. O primeiro mundo é uma floresta com ruínas antigas. É um mundo enorme, com muitas coisas para se fazer em terra e até mesmo em grandes alturas, com torres gigantescas e plataformas flutuantes. O segundo mundo é um lugar de gelo e neve, com coisas para se fazer de baixo d’água, em cavernas e até mesmo num dos lugares mais criativos do game, uma dungeon inteiramente isométrica, ao estilo de antigos puzzles, e lembrando muito o indie Lumo. E por aí vai, com mundos cada vez maiores e mais bonitos visualmente.
Tem havido certa controvérsia sobre os mundos de Yooka-Laylee, com algumas análises gringas chamando-os de “vazios” ou “sem vida”. Pessoalmente, devo discordar dessas afirmações, pois definitivamente os mundos do game não são nem um pouco vazios ou sem vida. Um grande exemplo é o mundo Capital Cashino, um enorme cassino cheio de minigames e muitas coisas diferentes para se fazer, é sem dúvida o mundo mais criativo do game, e um com tanta coisa que é fácil ficar perdido.
Muitos puzzles, desafios e divertidas boss battles
Yooka-Laylee é um game cujo foco está na resolução de puzzles e desafios do que em combate. O combate do game é extremamente simples, e pode muitas vezes ser ignorado. Yooka pode usar sua cauda para realizar ataques giratórios, Laylee pode usar sua voz para atordoar inimigos, e conforme novas habilidades são compradas, mais coisas podem ser feitas. O combate acaba ficando em segundo plano, muitas vezes com alguns inimigos que são excessivamente irritantes, como as abelhas mecânicas, que só são atingidas no ar, e se estiverem fora de modo de ataque. Além de um par de olhos saltitante que usa diferentes objetos do cenário como corpo, e que podem irritar bastante.
As habilidades são vendidas por Trowzer, uma cobra que usa calças (daí vem seu nome) que vende habilidades novas em troca de Quills, penas douradas espalhadas por todo o game. As habilidades são habilitadas a cada novo mundo descoberto, com habilidades gratuitas conseguidas no hub central e habilidades a venda dentro dos mundos. Mas felizmente o custo dessas habilidades é bem acessível, então você não terá trabalho tendo que caçar Quills desesperadamente.
As habilidades por fim são usadas para diversos tipos de puzzles diferentes. Cada um exigindo o uso de certas habilidades ou até de combinações. Temos corridas, puzzles de plataforma, combates contra certos tipos de inimigos, tiro ao alvo (que sofre com uma mira travada e imprecisa) e muito mais. Cada mundo ainda conta com a presença de uma cientista com uma máquina de transformação. Para usá-la, você deve encontrar um item chamado Mollycool, que felizmente sempre está perto da cientista, para transformar Yooka e Laylee em algo completamente diferente.
Duas das transformações mais criativas são um helicóptero, que pode voar livremente pelo cassino e até realizar missões de carona contra o tempo (que são um pouco irritantes), e um navio pirata equipado com várias armas. Mas nem todas as transformações são muito divertidas. Uma delas, um caminhão de neve, é difícil de se controlar, e ainda mais de se usar nos puzzles para o qual foi feito. Mas fora isso, as transformações ainda adicionam uma boa dose de novidade para cada mundo.
Existem ainda personagens com minigames. Um deles é Kartos, um carrinho de mineração que Laylee ainda brinca e pergunta se ele também é conhecido como “God of Ore”. Ele está presente em todos os mundo com um minigame ao estilo das fases de carrinho de mineração de Donkey Kong Country. Termine o percurso cheio de partes de pulo e inimigos coletando a quantidade de diamantes exigidas e ganhe uma Pagie no final.
Outro personagem muito divertido é Rextro, um T-Rex retrô com visual chuviscado dono de cabines de fliperamas, os diálogos com ele são puramente passado x presente, com Rextro dizendo que precisa apagar blocos de memória para lembrar de coisas novas (Saudades Memory Cards) e com Laylee fazendo comentários sobre como as coisas eram primitivas há 20 anos atrás. Os minigames de Rextro são divertidos, mas alguns são excessivamente longos. Como um ao estilo Flappy Bird, com uma duração grande demais, e que pode cansar bem rápido.
E por fim, temos as boss battles. Bem ao estilo dos games de antigamente, com batalhas que funcionam mais como puzzles. Os bosses são grandes e com padrões de ataque bem definidos, assim, basta sabem quando desviar e atacar quando os chefões deixarem seus pontos fracos expostos. São batalhas bem divertidas exatamente como a dos games de antigamente, o que vai com certeza agradar e muito os jogadores mais nostálgicos.
O bom e o ruim dos games de antigamente
Yooka-Laylee é basicamente um game de Nintendo 64 lançado em 2017. Ele é simplesmente um game do passado que está sendo lançado hoje, com os mesmos pontos positivos e negativos do passado. O game fez um trabalho impecável em trazer a nostalgia a tona entregando exatamente a mesma experiência de antigamente, mas recebendo bem-vindas atualizações.
A jogabilidade do game é excelente no quesito plataforma. O game funciona de forma muito satisfatória e funcional, sem muitas complicações ou coisas que tornam o simples em algo difícil, com algumas exceções que trataremos mais adiante. Por exemplo, o sistema de corridas pulos e quedas é muito bom, pode parecer pouco, mas pessoalmente uma das coisas que mais me incomodam em platformers antigos são aquelas corridas escorregadias e pulos tão complicados de controlar que as vezes parecem depender mais da sorte. Outros pontos do gameplay no entanto deixaram a desejar.
Uma das habilidades de Yooka é a de absorver elementos ao comer certos tipos de frutas. A de fogo o permite soltar chamas pela boca, água, um jato contínuo de água, granadas e gelo soltam projéteis. Em alguns puzzles é preciso usar essas habilidades para atacar inimigos ou atingir alvos, e as coisas complicam bastante aí. Há uma mira manual no game, porém que deixa Yooka completamente imóvel, ela é complicada de controlar, lenta e imprecisa. Ainda há a possibilidade de não usar a mira, mas você precisa posicionar Yooka de forma perfeita, o que também é muito difícil.
Laylee possui habilidades de voo que são usadas de duas formas: A primeira a permite voar por uma curta distância, o que funciona de forma muito satisfatória, a outra forma de voo que é uma habilidade desbloqueável lá pra depois da metade do game permite que o jogador realmente voe livremente pelos cenários, mas os controles de voo não funcionam de forma muito boa. Laylee automaticamente voará para frente, e virar para os lados se torna uma tarefa muito complicada pois Laylee fará um movimento circular ao invés de simplesmente virar para o lado, fora que se você precisar virar para trás piora tudo, pois não há um comando para isso, já que se você apontar seu analógico para baixo fará Laylee pousar.
Um problema do passado que infelizmente foi trazido para o game esta em questão de respawns. O game não possui game over ou número de vidas. Existem dois status que precisamos ficar de olho nos protagonistas: A quantidade de borboletas, que representa a barrinha de vida, e a barra verde de energia, que é gasta ao se usar as habilidades dos personagens. Se você perder todas as suas borboletas (que são recuperadas comendo as que encontrar nos cenários), você voltará para a última porta que entrou. Então se por exemplo você atravessar um mundo até o seu final e acabar morrendo, volta pro começo de tudo, felizmente sem perder nada do que coletou, mas muito longe de onde estava antes. Isso pode atrapalhar muito pela questão da distância e pelos obstáculos.
A câmera do game é bem funcional, mas as vezes pode dar uma engasgada. Por exemplo ao entrar em salas pequenas, em que a câmera fica fora de posição e você não consegue ver o que há em volta para progredir. Não acontece sempre, que fique claro, mas vai acontecer vez ou outra com você.
Um ponto importante a se discutir sobre o game é justamente ele ser um game do passado lançado no presente. Hoje em dia os games (e os gamers) evoluíram muito, e há muitos anos não vemos um game como Yooka-Laylee. Isso significa que o game possui um padrão de desafio igual a seus antepassados, e para a geração atual que não é acostumada a esse estilo, o game pode acabar não atraindo muito. O game não te dá indicações sobre o que fazer, tudo é muito simples e direto: Entre nos mundos do game, colete Pagies e Quills e só. É apenas isso o que você precisa fazer. Não há minimapa (o que seria de grande ajuda aqui), seta indicando objetivos, dicas nem nada disso. É por sua conta. Para mim, Yooka-Laylee foi um game que me divertiu muito, mesmo com alguns momentos de frustrações. Talvez a nostalgia presente no game atraia mais justamente um público mais velho do que os mais jovens.
Audiovisual
Mas se tem uma coisa em que Yooka-Laylee foi excelente é em seu visual e parte sonora. O game é realmente lindo. Cheio de cores, muitos personagens e cenários diferentes, e um universo enorme com muitas coisas para serem exploradas. Os personagens possuem um visual muito bem feito, com detalhes, expressões e movimentação bem fluída. Os inimigos possuem visuais bem interessantes e diferenciados, principalmente quando se trata dos chefões.
Isso já foi repetido a exaustão nessa análise, mas é exatamente como se você estivesse jogando um antigo game de Nintendo 64 com gráficos atualizados. Temos uma dupla de heróis com um visual simpático e até fofo, inimigos com visuais cartunescos e porque não dizer “abobalhados” (o que está totalmente longe de ser uma crítica, afinal, sempre foi assim nesse estilo de game).
A trilha sonora do game é fantástica. Cada mundo possui sua trilha sonora própria e todas elas são muito boas. São músicas com aquele verdadeiro clima de game de plataforma, e que caem como luvas para tipo de cenário em que entramos. As vozes dos personagens são feitas apenas de fonemas, assim como em Banjo & Kazooie, então elas acabam sendo “as mesmas” para cada diálogo dentro do game, algumas vozes podem acabar se tornando irritantes por seus sons, mas no geral, são divertidas.
Easter Eggs e a demolição da Quarta Parede
Uma das coisas mais legais do game são seus Easter Eggs e a quebra da quarta parede. Existem muitas referências a muitas coisas do passado e do presente dentro do game. Desde referências a games e até sistemas antigos, como o próprio Nintendo 64 e o Playstation 1, referências a filmes, games de hoje em dia e muito mais.
Além da hilária quebra da quarta parede. Várias vezes os personagens comentam coisas do próprio game. Como em alguns trechos em que é preciso passar por um Quiz para seguir adiante, e Laylee reclama que eles são incrivelmente chatos. Ou quando algum personagem reclama da preguiça de um game designer em algum trecho do game, e principalmente várias piadas sobre crowdfunding, afinal, Yooka-Laylee acabou se tornando possível graças a isso.
O game é recheado de humor, de uma forma bem descompromissada fazendo piada com tudo, incluindo a si mesmo. O game ainda faz piada com o próprio jogador. Na tela de loading do game, várias mensagens e dicas diferentes são apresentadas, e uma delas diz para o jogador procurar a solução de puzzles na internet, caso ele seja ruim demais para resolvê-los sozinho.
Conclusão
Yooka-Laylee é um game muito divertido, com muito conteúdo espalhado por seus cinco mundos e seu hub central, muito humor por todo o lado e com muitos Easter Eggs para ninguém botar defeito. O game ainda conta a participação do Shovel Knight com diálogos bem engraçados e alguns puzzles!
Yooka-Laylee trouxe para a geração atual exatamente a mesma experiência dos games de plataforma de ação e aventura da década de 90, tanto as coisas boas daquela época como seus erros do passado. Mas ainda assim é um game muito divertido e acima de tudo desafiador. Como já dito, talvez o game acabe não atraindo muito o público mais jovem, que não teve contato com a geração do Nintendo 64, mas proporcionará uma boa diversão para quem encará-lo. O game tem uma boa duração, com mais de 25 horas para se terminar a campanha principal, e ainda um modo multiplayer local onde até quatro jogadores podem se divertir com os arcades de Rextro liberados ao longo do game!
E uma coisa que o game em vários momentos deixa claro é que a Playtonic, produtora do game, e a Team17 já tem planos para uma sequência. Os personagens do game ainda comentam como serão as coisas na sequência, bem como quais personagens podem ou não seguir adiante. Yooka-Laylee tem muito potencial para se tornar uma franquia. O game já chegou com tudo trazendo sua nostalgia pura, agora está na hora de evoluir, corrigindo os erros do passado que foram inseridos aqui, e adicionando ainda mais conteúdo e principalmente mais diversão.
Yooka-Laylee está sendo lançado hoje, dia 11 de abril com versões para PC, Mac, PS4, Xbox One e Switch.