Análise Arkade – God of War: Ascension (PS3) pancadaria mitológica de qualidade

23 de março de 2013

Análise Arkade - God of War: Ascension (PS3) pancadaria mitológica de qualidade

Kratos está de volta. O personagem que abrilhantou praticamente duas gerações da família Playstation retorna para mais uma rodada de pancadaria mitológica. Na sequência, você confere nossa análise completa de God of War: Ascension!

História

Desde que surgiu, no início de 2005, Kratos se tornou um dos personagens mais icônicos do mundo dos games. Porém, é fato que ele sempre foi um sujeito bem unidimensional: sempre grunhindo, rosnando e dilacerando furiosamente suas vítimas, ele se tornou basicamente uma personificação da raiva e do ódio.

Nesta nova aventura, a Sony Santa Monica quis acrescentar certa profundidade ao personagem. Para isso, ela revisita o conturbado passado de Kratos, pouco depois do fato que determinou todo seu futuro rancoroso: a morte (pelas suas próprias mãos) de sua família.

Nesta época, o abalado Kratos tentava a todo custo romper o pacto que forjara com o (então) deus da guerra, Ares. Obviamente, Ares não fica satisfeito com estas tentativas de deserção, e para dar uma lição em Kratos, coloca as temidas FúriasTisífone, Megaira e Alecto – no encalço do espartano. Elas são as principais antagonistas do game, e irão infernizar a vida de Kratos durante toda a campanha.

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Infelizmente, esta tentativa de aprofundar a personalidade de Kratos não é muito bem-sucedida. A trama do novo game é a mais fraca da franquia, e a “nova” personalidade de Kratos não é tão marcante, muito menos interessante.

Talvez se este jogo tivesse sido lançado antes do primeiro (que é onde ele se encaixa cronologicamente), a coisa funcionaria melhor. A esta altura, porém, parece um retrocesso tentar humanizar um personagem que todos já conhecemos (e admiramos) justamente por seu jeito raivoso. Kratos era um personagem unidimensional, mas quem disse que havia algo de errado nisso?

Este problema fica mais evidente pelo fato de que, na prática, o game ainda flui da mesma maneira, basicamente um hack n’ slash furioso com pitadas de puzzle. Em uma ou outra cutscene, Kratos até parece amargurado e abatido (e pasme, ele até sorri e chora em alguns momentos!) mas quando a pancadaria come solta, ele continua sendo a implacável máquina de matar de sempre.

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Pancadaria esta que está bem mais variada,o que não é necessariamente um ponto positivo:como Kratos já dizimou boa parte das criaturas mitológicas mais populares nos games anteriores, colocá-las aqui não daria muito certo (mesmo este jogo sendo cronologicamente anterior aos demais).

Por conta disso, o que temos aqui  é a “raspa do tacho” da mitologia grega, com criaturas nem tão conhecidas pelo grande público. Isso deu muita liberdade aos designers de inimigos, que beberam na fonte de outras mitologias para nos brindar com homens elefantes, bizarros crustáceos gigantes e outros inimigos que, embora sejam visualmente incríveis, não possuem o mesmo brilho de ícones como centauros, chimeras e medusas.

Jogabilidade

Embora a jogabilidade continue bem familiar, o sistema de combate sofreu algumas mudanças bem significativas. Os combos tradicionais de Kratos – combinações dos botões quadrado e triângulo – que o acompanharam durante toda a série agora só aparecem depois de muitos upgrades das Blades of Chaos, e somente quando seu medidor de raiva (outra novidade) está cheio.

Além disso, agora o botão R1 permite que Kratos “laçe” inimigos com suas correntes – podendo até manter um inimigo preso enquanto surra os demais, para então atirá-lo sobre os outros – enquanto o triângulo, que outrora tinha seus próprios combos, agora serve apenas para realizar um ataque isolado.

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Esta mudança deixa o grosso da jogabilidade apoiada apenas nos golpes realizados com o quadrado. Teoricamente isso até faz sentido – Kratos ainda “não sabe” fazer todos os seus ataques devastadores clássicos -, mas na prática, deixa a jogabilidade bem mais limitada, beirando o button mash.

Para quebrar um pouco desta repetição, temos agora a possibilidade de utilizar armas derrubadas pelos inimigos. Temos uma pequena variação destes equipamentos, entre espadas, porretes (ou martelos) lanças e escudos. Algumas são melhores do que outras em situações variadas – a espada possui ataques rápidos que podem ser intercalados ao combo padrão, enquanto o martelo possui ataques mais lentos e poderosos – mas o jogo oferece uma quantidade razoável delas, favorecendo a experimentação.

Com esta novidade porém, veio outra limitação: desta vez, Kratos não encontra novas armas permanentes – como a espada do Olimpo, o arco-e-flecha de Apollo ou as manoplas de Deimos. Suas Blades of Chaos lhe acompanham durante toda a aventura, o que muda é que agora podemos acrescentar poderes elementais e outras funcionalidades aos ataques, graças ao novo sistema de magias.

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Durante o jogo, Kratos pode adquirir – e evoluir – poderes baseados em quatro grandes deuses: Zeus, Ares, Hades e Poseidon. Entre golpes que eletrocutam os inimigos, outros que congelam, queimam e até evocam mãos mórbidas que surram os adversários, a nova mecânica das magias incorporadas aos combos funciona bem, servindo para acrescentar profundidade a uma mecânica que sem isso, pareceria bem mais limitada que a dos games anteriores.

Outra novidade interessante é a habilidade que Kratos adquire para voltar e/ou desacelerar o tempo. Embora esta habilidade seja útil também nos combates, ela é muito mais utilizada para a restauração de pontes e elementos do cenário, sendo incorporada em muitos puzzles. Aliás, God of War: Ascension conta com diversos puzzles, espalhados com parcimônia pelo decorrer da campanha para dar ao jogador tempo de respirar entre uma batalha e outra.

Aliás, o simples ato de se mover e explorar recebeu diversas novidades. Kratos está mais versátil do que nunca, e pode correr, saltar, planar, se pendurar em correntes, deslizar por paredes e muito mais. Ao invés de cravar suas espadas na parede para escalar, agora ele se vale apenas de suas mãos para escalar beiradas e parapeitos, algo que o deixa mais próximo de heróis “comuns”, como Nathan Drake ou Lara Croft.

Visual e som

E já que falamos em Nathan Drake ali em cima, que é protagonista de uma trilogia que é referência em termos de qualidade técnica, vamos aproveitar para falar da parte técnica do jogo: God of War Ascension é um jogo simplesmente impecável visualmente. Isso pode parecer redundante em se tratando de God of War, mas a qualidade gráfica deste jogo supera até mesmo o também estonteante God of War 3, e talvez até mesmo Uncharted 3.

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Tudo, das texturas às animações, passando pela grandiosidade dos cenários, é de cair o queixo, levando o Playstation 3 (mais uma vez) ao limite. Os efeitos de luz, então, estão tão realistas que em muitos momentos o jogo parece uma pintura, ou uma fotografia, tamanho o nível de realismo das composições.

Para dar conta de toda esta riqueza gráfica, o game não roda mais em 60 frames por segundo como os jogos anteriores, mas isto não afeta muito drasticamente a fluidez do jogo e a movimentação dos personagens. Vez ou outra rolam alguns slowdowns meio tensos, mas na maior parte do tempo, o novo framerate (que oscila de 30 à 50 frames) dá conta do recado.

No áudio, temos novos motivos para comemorar: a trilha sonora está mais incrível do que nunca, com novas composições que se misturam aos temas clássicos da série (muitos deles rearranjados) de maneira sublime, cheia de orquestrações majestosas e corais épicos.

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Os efeitos sonoros também continuam ótimos e cristalinos, com destaque para o retinir das espadas (que em momentos de bullet time, lembra bastante o que já (ou)vimos no filme 300) e o barulho grotescamente sublime de vísceras se esparramando pelo chão.

Aiás, mesmo sem o tradicional mini-game sexual (não se desespere, ainda rolam muitos peitinhos), este é de longe o God of War mais graficamente explícito, com intestinos pulando para fora de barrigas abertas, cérebros sendo expostos e desmembramentos mostrados em câmeras lentas brutais.

As dublagens em inglês mantém o nível característico da série, mas desta temos a assustadora possibilidade de curtir a campanha com dublagens em nosso português brasileiro! E acredite, as dublagens até são competentes… o que não significa necessariamente que sejam boas.

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Não nos entenda mal, é louvável o trabalho da Sony em localizar totalmente o game, porém nem todas as vozes “casam” com os personagens. Ouvir a clássica narração de Gaia ou os bordões raivosos de Kratos em português é algo que não funciona. Tudo parece meio forçado; pense em inimigos falando coisas como “você desonra esparta, perjuro!” ou “um reles mortal como você jamais irá me derrotar!”).

O fato de já estarmos habituados às vozes originais dos personagens causa ainda mais estranheza, o que, somado à falta de sincronia labial em vários momentos, rende diálogos que deveriam ser dramáticos, mas acabam se tornando meio cômicos.

No Youtube já é possível encontrar detonados e cutscenes do game dublado em nosso idioma. Não vamos colocar nada aqui para evitar spoilers, mas se quiser assista algum destes vídeos e tire suas conclusões. Você é quem decide em que idioma jogar, mas é recomendável que habilite as legendas em português e deixe o áudio em inglês, mesmo.

Multiplayer

Depois que concluir a campanha principal – que dura as mesmas 7 ou 8 horas características – chega a hora de nos aventurarmos no inédito modo multiplayer do game. Já publicamos nossas impressões sobre a fase beta-teste do multiplayer, caso queira saber mais sobre isso.

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Para surpresa geral, o multiplayer de God of War: Ascension funciona muito bem e é tremendamente divertido. Seja em arenas de 8 jogadores, seja em partidas cooperativas contra hordas de inimigos controlados pelo computador, a jogabilidade dinâmica e o combate brutal foi muito bem adaptado para esta nova realidade, oferecendo batalhas épicas e empolgantes.

Não podemos controlar Kratos nestas arenas, mas o sistema de customização dos Campeões oferece opções para todos os gostos, permitindo que você personalize não apenas o visual do seu guerreiro, mas também suas roupas, armaduras e adereços.

Você deve prestar fidelidade a uma divindade antes de entrar em combate, e, em troca, o Deus escolhido irá lhe oferecer uma pequena fração de seus poderes para a realização de magias e golpes especiais. São basicamente variações das magias do próprio Kratos, mas que ganham uma importância no multiplayer.

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Os modos de jogo são bem manjados de outros gêneros (Deathmatch, Team Deathmatch e até mesmo Capture the Flag), mas se adequam muito bem à mecânica de God of War. É sadicamente recompensador você eliminar outro jogador com um brutal kill e assistir de camarote seu campeão explodir a cabeça dele com marteladas ou botar suas tripas para fora.

Ao final de certos modos de jogo, ainda surge uma enorme criatura ao fundo do cenário, e os objetivos mudam: atacar a equipe inimiga deixa de ser uma prioridade, pois a equipe campeã será aquela que derrubar o monstrengo. Sempre que isso acontece, a adrenalina sobe, pois todos querem ser os responsáveis pela morte do chefe, o que rende momentos de combate ainda mais frenéticos!

Curiosamente o temido lag não é um problema tão grande: o que atrapalha mais é a demora em conseguir entrar em alguma sala. Indo pelo método mais rápido (quick match) o negócio já é meio lerdo, já para entrar em uma partida personalizada o jogo oferece um legítimo teste de paciência.

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Esperamos que a Sony melhore este serviço (ou crie novos servidores), pois o multiplayer de God of War: Ascension foi uma grata surpresa, e tem potencial de oferecer muitas horas de diversão.

Conclusão

É complicado dizer que God of War: Ascension é uma evolução para a série. Em sua maior parte, ele é essencialmente igual aos demais jogos da franquia, e algumas mudanças (simplificação de combos, pouca variedade de armas e magias) acabaram não sendo assim tão positivas.

Por outro lado, o jogo já vai logo para o topo da lista dos games mais bonitos do Playstation 3, e deve agradar em cheio quem é fã de longa data desta grandiosa saga.

A magnitude dos inimigos não é a mesma, mas o estilo cinematográfico e brutal consegue manter o tom épico desta nova jornada, e se a história não é mais tão empolgante, o multiplayer chega para extender a vida útil do game por tempo indeterminado.

Com o iminente lançamento do Playstation 4, God of War: Ascension faz mais ou menos o que God of War II fez no Playstation 2, em 2008: chega para “encerrar” em grande estilo o ciclo de vida da plataforma (só na teoria afinal, na prática ainda teremos grandes jogos nos próximos meses), tanto em aspectos técnicos quanto em diversão.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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