Análise Arkade: fatiando tudo com Metal Gear Rising: Revengeance (PS3, X360)
Acompanhe agora a análise completa que a Arkade fez do game Metal Gear Rising: Revengeance – novo game da série Metal Gear que deu um descanso para a furtividade para se aventurar pela violência frenética do gênero hack n’ slash – e prepare-se para fatiar absolutamente tudo!
No início, quando Metal Gear Solid: Rising foi anunciado no ano de 2009, a reação inicial dos fãs da série foi de apreensão. Snake saiu de cena, e Raiden tornou-se o protagonista, na forma de um violento cyborg ninja. Os fãs de longa data da franquia temeram que o nome da série Metal Gear pudesse ser manchado por um game que a primeira vista, não tinha nada a ver com o rótulo “tactical espionage action”.
Após passar por um desenvolvimento muito conturbado, havendo inclusive a ameaça de cancelamento do game, Hideo Kojima, o pai da série Metal Gear, tomou uma atitude drástica: ele buscou ajuda, e encontrou o que precisava com o talento da equipe da PlatinumGames. E agora, no ano de 2013, Metal Gear Rising: Revengeance enfim foi lançado, e sem dúvida oferece ação e matança de primeira qualidade!
Antes de tudo, uma pergunta deve ser respondida: “esse game honra o nome da série Metal Gear?”. Se você tem essa dúvida, tranquilize-se, pois a resposta é sim. O game apresenta um enredo conciso, de fácil compreensão e interessante de acompanhar. Obviamente, Rising não possui toda a complexidade característica da série Metal Gear, mas sua história possui identidade, e deixa um recado bem evidente: Rising não quer apagar a história de Snake, mas sim seguir seu próprio caminho.
Por falar em história, vamos a ela: quatro anos após o desfecho de Metal Gear Solid 4: Guns of the Patriots, vemos um Raiden mais maduro e responsável, trabalhando na PMC (Private Military Company) de nome Maverick Security como inspetor de segurança ao lado de seu líder, Boris, e do time de suporte (via CODEC) Courtney e Kevin; Herr Doktor e Wolf, o belo robô em forma de lobo com uma inteligência artificial avançada e muita personalidade. Temos ainda a volta de Sunny, personagem de importância vital em MGS4, para a alegria dos fãs.
Em um trabalho com segurança privada na África, Raiden e sua equipe são atacados pela poderosa Desperado Enforcement LLC, e Raiden, após sofrer sérios ferimentos, vê seu cliente ser friamente assassinado diante de seus olhos. A Desperado Enforcement é liderada pelo cyborg (brasileiro) Samuel Rodrigues, que conta com o auxílio dos cyborgs Mistral, Monsoon e Sundowner para perpetrar suas barbáries contra a paz e estão dispostos a cometer qualquer atrocidade para manter “o mercado da guerra”.
Cada personagem possui suas próprias motivações e seus próprios ideais para agir, como fica evidente durante o desenrolar da história. Raiden luta para proteger os fracos e para que ninguém mais sofra o mesmo terror que ele passou em sua infância. Porém, este ideal nobre é constantemente questionado por ele mesmo: além de travar uma sangrenta batalha contra seus inimigos, ele terá que enfrentar sua própria personalidade, pois sua “criança soldado assassina interior”, conhecida como Jack the Ripper (Jack o Estripador) vez ou outra tenta tomar posse de sua consciência para reacender sua temível sede por violência.
O game está recheado de referências aos games anteriores da série Metal Gear Solid, portanto, apesar do enredo não ser muito complexo, quem não conhece a série anteriormente poderá ficar um pouco perdido nas referências e citações do game. Porém, embora faça referência a acontecimentos e instituições de Metal Gear Solid, o roteiro do game consegue se manter acessível na maior parte do tempo, mas é altamente aconselhável conhecer pelo menos Metal Gear Solid 2: Sons of Liberty para saber (pelo menos) quem é Raiden e quem é Jack The Ripper.
Se você jogou Metal Gear Solid 4: Guns of the Patriots, melhor ainda, pois aí você vai compreender plenamente a situação do mundo de Metal Gear Rising, a expansão da tecnologia dos cyborgs e dominação das PMCs. O game se passa pós-MGS4, então existem links que só serão realmente compreendidos por quem foi até o final do quarto game da série.
Para enfrentar seus inimigos, Raiden conta com um poderoso corpo cibernético desenvolvido por Doktor. É graças a este novo corpo que temos uma nova forma de gameplay para a série: o stealth action clássico da série foi deixado de lado (embora ainda tenhamos breves momentos stealth) para dar lugar ao combate frenético e visceral que já é praticamente marca registrada da PlatinumGames.
O sistema de combate em si é satisfatório e tremendamente divertido: no leque de habilidades de Raiden possuímos ataques rápidos e golpes mais poderosos, que se mesclam com muita fluidez para formar combos pra lá de estilosos. Conforme se progride no game, acumulamos pontos que são usados para realizar upgrades em Raiden, dando-lhe novos golpes e melhorando seus atributos de força e vida, podendo até mesmo desbloquear trajes extras e armas dos chefes vencidos.
A principal novidade em termos de gameplay, porém, está no ótimo Blade Mode ( ou Modo Katana, no nosso português). Ao carregar a barra de energia da espada de Raiden, podemos utilizar essa habilidade que permite que cortemos praticamente tudo, o quanto quisermos e da maneira que quisermos.
E é tudo mesmo: árvores, carros, trens, caixas, postes, melancias, outdoors e até mesmo pontes podem ser facilmente fatiados sem qualquer esforço. Obviamente, porém, o mais legal é fatiar seus inimigos, o que torna cada batalha uma verdadeira carnificina, com membros voando para todo lado. Basicamente, o Blade Mode é tudo que a série Ninja Gaiden sempre quis fazer, mas nunca conseguiu.
Ao ativar o Blade Mode, o tempo desacelera, e quando estivermos diante de um inimigo, podemos fatiá-lo do jeito que quisermos: decepar seus braços e suas pernas, cortar sua cabeça, rasgá-lo ao meio de cima a baixo, de um lado a outro, e até mesmo picotá-lo freneticamente até que ele se torne uma pilha ininteligível de membros. Há um prazer sádico em finalizar os inimigos desta forma e felizmente, usar o Blade Mode é fácil e intuitivo: quando menos se percebe a técnica já está dominada, e você estará fatiando inimigos com a mesma desenvoltura com que corre pelo cenário.
O Blade Mode abre espaço para outra novidade do game: ao fatiar seus inimigos de maneira correta (em locais específicos), Raiden pode apanhar células de energia de seus corpos mutilados. Em um movimento extremamente estiloso, Raiden fatia seu inimigo, apanha seu núcleo de energia (que geralmente parece uma espinha dorsal luminosa) e esmaga-o com a própria mão, ao melhor estilo “Fatality”!
Esta técnica de cortar e absorver a energia dos inimigos se chama Zandatsu – que traduzindo do japonês significa, literalmente, “cortar e pegar”. Ao melhor estilo Devil May Cry, ao final de cada batalha, o desempenho do jogador é avaliado, e quanto melhor sua performance (derrotar os inimigos em pouco tempo, realizar longos e estilosos combos e, principalmente, fatiar tudo o que estiver pela frente) maior será sua pontuação. Se você é perfeccionista, prepare-se para suar a camisa, pois atingir rank S em cada batalha é uma tarefa das mais árduas.
Para completar o rol de novidades, temos o Ripper Mode, que a partir de certo ponto do jogo, pode ser utilizado quando a barra de poder de Raiden está no máximo. Nesse modo, a personalidade Jack the Ripper toma posse do corpo de Raiden, e cada golpe de sua espada é fatal, matando inimigos instantaneamente e destruindo armaduras e robôs sem dificuldade. Esta mamata dura apenas alguns poucos segundos, e pode ser útil quando você estiver encurralado por muitos inimigos, o que, acredite, irá acontecer várias vezes!
Como Rising é um game que conta com um personagem overpowered (muito poderoso), temos uma boa balanceada nos combates em um detalhe crucial: a ausência de um botão de defesa. Em Metal Gear Rising, simplesmente não temos um botão específico para se defender.
Sabe aquele ditado que diz “o ataque é a melhor defesa”? Pois é isso que temos aqui: ao invés de uma posição de defesa padrão, Rising nos entrega um elaborado sistema de Parry, onde devemos aparar os golpes adversários no exato momento em que eles atacam.
Para fazer isso, basta apontar o direcional para a direção de onde vem o golpe e apertar o botão de ataque rápido: se seu timing for perfeito, o ataque do inimigo será interrompido e sua defesa ficará aberta, possibilitando um contra-ataque rápido e letal. É um pouco difícil se habituar ao sistema de Parry, mas depois que você jogar algum tempo (e apanhar um bocado), acaba pegando o jeito, o que é muito importante, pois em batalhas contra chefes e inimigos mais poderosos, aparar os ataques se torna fundamental.
Na parte visual, o game tem seus altos e baixos. O design dos cyborgs – e do protagonista especialmente – é bem acabado e cheio de detalhes. Os personagens são bastante convincentes em suas expressões, em especial Raiden, que apesar de ter apenas sua cabeça do seu corpo real, consegue transmitir toda a raiva acumulada dentro de si com suas expressões. Outros cyborgs, como Sam, com seu jeito debochado, e Sundowner, com sua personalidade sádica, também possuem ótimas expressões, especialmente nas (várias) cutscenes pré-renderizadas que desenvolvem a narrativa.
Os cenários são lineares mas amplos na maior parte do tempo, porém possuem as famigeradas paredes invisíveis que não eram boas em gerações passadas, e continuam ruins aqui. Para piorar, sempre que um combate se inicia, o game delimita o espaço de batalha dentro de uma “caixa” virtual. Nada que atrapalhe drasticamente a ação, mas é algo meio sem propósito.
No geral, o visual não é tão detalhado como em outros games da Platinum (como Vanquish, por exemplo), mas todo cenário conta com dezenas de objetos destrutíveis (móveis, postes, frutas, carros…), que reagem muito bem à inovadora mecânica de cortes multi direcionais do game. Dada a qualidade gráfica característica da série Metal Gear, Rising poderia ser um pouco melhor, mas ainda assim mantém uma boa qualidade. A iluminação do game é bem trabalhada, com efeitos de iluminação, luz solar e faíscas impressionantes.
A câmera, por outro lado, atrapalha um pouco no frenesi das batalhas, mudando seu foco quando Raiden é jogado para longe e ficando presa se estamos encurralados perto de paredes. Em lutas em locais amplos isso não atrapalha tanto, mas em áreas fechadas as coisas podem ficar meio complicadas. Para evitar confusões da câmera, é possivel travar a mira em um inimigo específico, fixando a câmera em um único alvo e impedindo que ela se perca durante as batalhas.
Na parte sonora, o game é embalado por um rock pesado, rápido e agitado, com guitarras virtuosas e viradas de bateria acompanhado a frenética progressão das batalhas. A trilha sonora mantém um padrão neutro quando Raiden não está em um combate, mas basta se aproximar de um inimigo, mesmo sem precisar ser visto, que o rock começa a tocar, aumentado a adrenalina e incentivando que o jogador a partir para a batalha. Em batalhas contra chefes (que geralmente são empolgantes e desafiadoras), temos até músicas cantadas, o que acrescenta mais dramaticidade à pancadaria.
As dublagens também são competentes. Algumas até podem soar forçadas, mas contribuem para conceder personalidade a alguns personagens estereotipados. Falando nisso, em Rising temos os famosos CODECs, conversas via rádio que concedem boas doses de informações extras ao jogador, como já é tradição na série Metal Gear Solid.
Através das conversas via CODEC, é possível conhecer mais sobre os personagens, fatos ocorridos no universo do game, estratégias de como prosseguir pelos cenários, dicas de como derrotar inimigos, informações sobre culinária ao redor do mundo, comentários sobre clássicos do cinema (?!), personagens implicando uns com os outros e muito mais. Para deixar tudo isso mais legal, este é o primeiro game da série Metal Gear a contar com legendas 100% em português brasileiro, e as legendas cumprem o seu papel de maneira satisfatória.
A campanha do game leva 6 ou 7 horas para ser finalizada de forma direta. Esse tempo pode ser expandido se o jogador explorar mais detalhadamente os cenários, pois temos vários itens espalhados, locais secretos, inimigos escondidos em caixas de papelão para serem encontrados, terminais de computador que destravam VR Missions, imagens de mulheres seminuas que podem ser “recortadas” e muito mais.
A simples caça aos braços esquerdos de determinados cyborgs (?!) rende uma boa dose de trabalho extra, visto que muitas vezes executar um corte preciso não é fácil, mas o esforço do jogador em coletar estes braços é recompensado por conteúdos extras, como artworks e itens secretos.
Além do modo principal do game, temos as famosas VR Missions. Quem já jogou Metal Gear Solid sabe do que se trata. As VR Missions são missões realizadas num ambiente de realidade virtual para treinamento. Temos missões simples, com o objetivo de ensinar ao jogador os controles do game, e dezenas de missões que irão testar a perícia do jogador em circunstâncias variadas.
Quem possui a versão Playstation 3 do game poderá ter acesso a uma DLC que adiciona mais 30 VR Missions exclusivas ao game. Há um fator replay leve, se considerarmos que, após finalizar o game, novos níveis de dificuldade são liberados, com inimigos mais fortes e em maior quantidade. Vale lembrar que para conseguir liberar todos os colecionáveis do game é necessário terminar a campanha mais de uma vez.
No final das contas, Metal Gear Rising: Revengeance é um hack n’ slash de ótima qualidade, com uma história que, mesmo sendo menos complexa, se mantém interessante e honra o nome da série Metal Gear por tratar de conspirações globais, corporações inescrupulosas e muitas intrigas políticas.
De maneira nenhuma o game mancha o legado da série Metal Gear Solid, muito pelo contrário: com Rising, fica claro que com um pouco de ousadia e criatividade, franquias já consagradas podem se aventurar por novos territórios e explorar novos horizontes. A identidade frenética da PlatinumGames está presente em cada frame do jogo, sempre equilibrada com o estilo cinematográfico e denso da série Metal Gear.
Se deixarmos de lado alguns pequenos problemas técnicos (em especial a câmera), o game garante muita diversão e carnificina tanto para quem nunca ouviu falar da série Metal Gear quanto para quem já é fã de longa data da série, mas principalmente para os fãs de um bom game de ação frenético e violento.