Análise Arkade: a diversão contagiante de Rayman Legends (PC, PS3, X360, Wii U, Vita)
Rayman está de volta! Ele e sua turma pra lá de maluca retornam para viver novas aventuras em Rayman Legends! Confira nossa análise completa na sequência!
Lançado em 2011, Rayman Origins já foi uma excelente surpresa para os fãs de um bom jogo de plataforma 2D. Muito elogiado por todo mundo, o game reapresentou Rayman ao mundo em grande estilo e cativou muita gente. Esse mesmo povo acabou ficando um pouco desapontado quando Legends foi anunciado como um título exclusivo do Wii U.
Felizmente, a Ubisoft ouviu o apelo dos fãs e voltou atrás nesta decisão, lançando recentemente Rayman Legends para todas as plataformas atuais. Os comandos do tablet do Wii U tiveram que ser adaptados para os demais controllers, mas isso nem de longe tira o brilho deste que é um dos jogos mais criativos, viciantes e divertidos do ano!
Não espere um roteiro digno de prêmios: novamente, a história é uma mera desculpa para entrarmos em ação. Se no primeiro jogo o ronco dos nossos heróis dorminhocos acordou seres do submundo (?!), aqui nossos corajosos protagonistas passaram um século dormindo para se recuperar das aventuras do primeiro game. Neste intervalo, criaturas ainda mais sinistras surgiram para tocar o horror no mundo de fantasia do game, e aprisionar os pobres Teensies.
Para resolver a treta, o sábio Polokus – que aqui virou algo como “O Sonhador de Bolhas” – manda a mosca/sapo/fada Murfy acordar Rayman e seus amigos, para que eles salvem novamente seu mundinho de inimigos que vão de sapos espiões e velhos rabugentos do submundo até “luchadores muertos” e enormes dragões mecânicos estilo steampunk.
E a mosca/sapo/fada Murfy é a primeira novidade do jogo: ele está o tempo todo ajudando os protagonistas em sua jornada, cortando cordas, arrastando plataformas e acionando mecanismos para abrir caminho. Como o game foi pensado para o Wii U, os comandos do Murfy obviamente se valem dos recursos touchscreen do Game Pad.
Isso não quer dizer que a jogabilidade nas demais plataformas fique comprometida. Jogamos a versão Xbox 360 do game, onde todos os comandos do Murfy são feitos com o botão B, e podem ser executados por qualquer jogador que esteja na partida.
Isso deixa as coisas um pouco confusas, especialmente caso você esteja jogando com mais 3 amigos, mas com o tempo, a utilização do Murfy se torna comum, e logo você estará comandando-o de maneira bem automática enquanto corre com agilidade pelos cenários coletando Lums, os simpáticos insetinhos luminosos que estão espalhados por todos os cantos.
Mesmo que Rayman Origins tenha nos brindado com um visual incrível (com a maior cara de desenho animado) e um departamento sonoro inspirado, o jogo de 2011 parece um rascunho para Legends: aqui, o visual cartunesco assume um tom de pintura, com menos contornos grossos e mais sombreados e degradês.
As fases possuem muita profundidade, o tempo todo estão rolando coisas à frente e ao fundo da tela. E tudo, do mais insignificante Lum até o maior dos chefes, é feito com um capricho e uma riqueza de detalhes ímpar. Espere até ver as fases aquáticas, cheias de lasers e silhuetas: elas estão entre as coisas mais bonitas que já vimos em um jogo 2D.
As animações continuam extremamente fluidas, e mesmo os personagens mais bizarros (Rayman não tem braços nem pernas, lembra?) possuem uma movimentação extremamente suave e realista (na medida do possível). Correr, pular, bater, planar, deslizar, tudo é dinâmico e natural.
A trilha sonora mudou um pouco, está com um tom mais orquestrado, mas ainda há espaço para assovios, vocalizações e diversos “barulhinhos” simpáticos. Os Teensies, os Lums e os personagens até balbuciam algumas poucas palavras, mas fora isso, tudo no jogo emite algum som característico, e tudo isso concede muita identidade ao game.
Vale ressaltar que o jogo chegou ao Brasil totalmente em português. Como este é um jogo com poucas falas, apenas a introdução é dublada, mas fora isso temos menus, legendas e informações na tela, tudo em português brasileiro de ótima qualidade.
Mesmo com todo este deleite audiovisual, não vai demorar para você perceber que a real estrela do game é sua jogabilidade. A jogabilidade de Rayman Legends é simplesmente perfeita. Este é aquele tipo de jogo com uma jogabilidade que é simples e acessível, porém, possui uma boa profundidade, e a perícia do jogador está sempre sendo testada em fases extremamente rápidas e caóticas.
O que já era bom em Rayman Origins está ainda melhor e mais dinâmico em Legends: embora não tenhamos grandes novidades em termos de mecânicas de jogo – a principal delas é o já mencionado Murfy -, Rayman e seus amigos já começam a nova aventura com todas as habilidades adquiridas no decorrer do primeiro game (mergulhar, correr na parede, planar), o que deixa tudo mais fluido desde o princípio.
Isso só melhora graças à velocidade de resposta dos comandos: não há delay, a resposta para qualquer comando é precisa e imediata. Mesmo quando você agir “por instinto” (o que acontece muito nas fases de velocidade e perseguição), a jogabilidade não irá te deixar na mão.
Esta jogabilidade certeira é muito valorizada pelo level design do game, que está ainda mais inspirado que no primeiro jogo. A equipe criativa da Ubisoft Montpellier merece ser aplaudida de pé, pois cada fase de Rayman é única, divertida e extremamente dinâmica.
Galhos vão surgindo e se contorcendo em tempo real para permitir seu avanço, correntes de ar sopram para você planar, passarelas surgem (e despencam) com uma velocidade incrível, monstros com paraquedas que podem ser usados como plataformas caem do céu, enormes serpentes de areia se entrelaçam sob seus pés… Há tanta coisa acontecendo o tempo todo na tela, que cada fase parece um enorme organismo vivo.
Mais do que isso, pois além de serem coloridas, movimentadas e pulsantes, cada fase parece uma enorme reação em cadeia: as coisas vão acontecendo com uma fluidez meticulosamente calculada que é absurda! Muito além de sair correndo, saltando e planando, o jogador precisa pegar “o timing” da fase, e esse “feeling” vai sendo construído e aprimorado conforme você evolui.
Esse lance do timing fica mais evidente do que nunca nas incríveis fases musicais, uma novidade genial que sem dúvida será copiada por diversos outros jogos de plataforma nos próximos anos.
Adaptando músicas reais para a linguagem divertida (e até um pouco zoada) do game, os desafios musicais são extremamente desafiadores e divertidos. Aqui, o timing é imprescindível, pois você deve correr, pular, bater, se dependurar, planar… tudo em uma velocidade alucinante, caso contrário, a progressão da câmera “engole” o seu personagem.
A genialidade destas fases porém, deve-se não só ao level design e à jogabilidade, mas também à sincronia entre a música e o que se desenrola na tela: as porradas, os saltos, a aparição dos inimigos, as explosões, tudo se encaixa na melodia com uma precisão cirúrgica.
O resultado disso são fases extremamente criativas, frenéticas e aditivas, com uma dificuldade que vai crescendo no mesmo ritmo da música. Confira abaixo um gameplay da fase musical Dragon Slayer, que foi inspirada pela canção Antisocial, da banda Trust.
E esta é só uma das diversas fases musicais que o jogo possui. Aliás, Rayman Legends merece pontos também pela quantidade de conteúdo que oferece ao jogador. Além das mais de 60 fases normais da campanha, vez ou outra fases já visitadas serão “invadidas” por inimigos, o que abre uma nova mini-fase que é uma verdadeira corrida contra o tempo.
Misturando diversos tipos de níveis – os de plataforma comuns (que podem ser tanto horizontais quanto verticais), os de velocidade, os de habilidade, os musicais, os de stealth (sim, temos fases stealth!), os encontros com chefes e muito mais, Rayman Legends oferece muitas horas de diversão em uma campanha divertida e extremamente viciante.
Além de todas as fases mencionadas acima, o jogo ainda traz de volta mais de 40 fases do jogo anterior, em uma galeria desbloqueável chamada Back to Origins. O layout das fases é essencialmente igual, mas espere por algumas surpresas e por mais de 250 Teensies clamando por sua ajuda!
E não é só isso: temos ainda o Kung Foot, um mini-game de futebol pra lá de maluco, onde até quatro jogadores devem se dividir para uma partidinha sem regras, onde só o que importa é botar a bola na rede. Apesar de simples, o Kung Foot é uma ótima pedida para partidas rápidas com os amigos.
Acha que acabou? Ainda não! Rayman Legends conta ainda com desafios online, onde você deve superar outros jogadores nas mais diversas situações. Temos desafios variados, como por exemplo, “colete X Lums o mais rápido possível”, ou “vá o mais longe que puder em uma fase”, tudo isso em diferentes graus de dificuldade.
Embora você enfrente apenas o “fantasma” de outros jogadores, estas fases podem se tornar uma obsessão para os mais competitivos (eu me incluo nesta lista), e acrescentam um fator replay enorme ao jogo. E o melhor é que existem os Desafios Diários e os Desafios Semanais, ou seja, todos os dias tem algo novo esperando por você!
Falando nisso, o jogo oferece outros estímulos para você dar uma espiadinha diária: se você coleta um número X de Lums por fase, ganha uma raspadinha, que pode te render muitos prêmios, inclusive dezenas de Creatures, criaturinhas feiosas que lhe darão recompensas diárias. Então, sempre que puder, dê uma olhadinha nas suas Creatures para ganhar mais Lums e medalhas.
Já ficou claro até aqui que Rayman Legends é um jogo extremamente viciante e divertido, certo? E ele fica ainda mais legal se você jogá-lo com a sua galera: como no primeiro jogo, a campanha toda pode ser curtida em multiplayer local. Você pode curtir o jogo sozinho se quiser, mas é fato que o fator diversão aumenta de acordo com o número de jogadores.
Aliás, fica a dica: o visual simpático, os Teensies fofinhos, a jogabilidade simples (ainda que profunda), tudo isso torna Rayman Legends uma ótima pedida para você curtir com namoradas, irmãs e/ou amigas não-gamers. O clima alegre do jogo é contagiante, capaz de cativar qualquer um.
Se há algum defeito neste game, é o sumiço de alguns bons elementos do primeiro jogo (como os King Lums cantores) e a falta de criatividade na criação dos personagens: temos 4 personagens principais – Rayman, Globox, um Teensie e a guerreira Bárbara – e uma porrada de personagens destraváveis.
Porém, estes personagens extras nada mais são do que variações do quarteto principal: um Rayman roxo, um Globox vermelho, irmãs gêmeas da Bárbara, Teensies de roupas e cores diferentes… os novos heróis parecem simplesmente “skins” dos protagonistas originais.
Obviamente, estes detalhes não tiram o brilho de um game que é praticamente perfeito em todos os outros aspectos. Visual, som, jogabilidade, quantidade de conteúdo… Rayman é um jogo cativante do começo ao fim, com um nível de desafio crescente e viciante, e um fator diversão acima da média.
Se você curtiu o primeiro game, este jogo é obrigatório para sua coleção. Se você não jogou o primeiro, mas curte o gênero plataforma 2D, também precisa ter o seu. E mesmo se você sequer conhecia o Rayman, mas quer um jogo bacana para jogar sozinho ou com seus amigos, Rayman também é uma ótima pedida.
Que Mario e Sonic não fiquem com ciúmes, mas Rayman Legends sem dúvida é um dos melhores games de plataforma 2D que pintaram nos últimos tempos.