Batman: Arkham City (PC, PS3, X360) review: bem-vindo a Arkham City
Embora os atuais games do Batman não tenham qualquer ligação com os filmes recentes do herói, há um paralelo que pode ser traçado entre eles: tanto Batman Begins quanto Batman: Arkham Asylum começaram com o pé direito e mostraram como se trata um herói dos quadrinhos. As sequências de ambos – o filme The Dark Knight e o novo game, Batman: Arkham City – extrapolaram tudo o que já era bom e conseguiram a façanha de se tornarem maiores e melhores do que os originais. Sim, maior e melhor. Seja bem-vindo a Arkham City.
Aproveite, pois boas-vindas você só receberá aqui: no game, a coisa já começa tensa, com Bruce Wayne (sim, este jogo já começa mostrando a verdadeira face do Batman!) sendo vítima de uma emboscada durante uma coletiva de imprensa. O bilionário é levado para dentro do nada hospitaleiro mega-presídio a céu aberto que é Arkham City, e precisa encarar a terrível verdade que é entregue já nos primeiros minutos: Hugo Strange, o responsável pelo lugar, sabe que Bruce Wayne e Batman são a mesma pessoa.
É claro que o problema com o Dr. Strange é apenas a ponta do iceberg desta aventura. O Coringa está com a saúde debilitada por conta das experiências bizarras à que se submeteu no primeiro game e, de maneira brilhantemente sádica, consegue a ajuda de Batman para se recuperar.
Para piorar, o presídio parece ser apenas a fachada para esconder uma mini-cidade que é literalmente controlada pelos piores malfeitores, que recrutam seus pequenos exércitos para encarar uma disputa pelo poder dentro do próprio presídio. E é assim, em uma das sequências de abertura jogáveis mais eletrizantes dos últimos tempos, que Batman: Arkham City fisga a atenção do jogador sem nenhuma cerimônia e o carrega por uma história fantástica, com reviravoltas surpreendentes e minúncias que podem facilmente lhe render cerca de 15 horas de jogo, que podem facilmente virar mais de 30 dada a quantidade de sidequests existentes.
Como no primeiro game, exploração é fundamental, pois o jogo conta com diversos puzzles que irão fazer com que você utilize a perspicácia – e a tecnologia – do Cavaleiro das Trevas para se dar bem. O bom e velho Detective Mode está de volta, mais útil do que nunca: com novos recursos, agora é possível fazer exames de balística para descobrir a trajetória de projéteis. Um novo equipamento que sintoniza frequências de rádio também será muito útil para descobrir pistas ou encontrar missões paralelas.
Por falar em objetivos paralelos, deve-se dizer que Batman: Arkham City será um verdadeiro paraíso para quem gosta de averiguar cada cantinho dos cenários. O enorme mapa de Arkham City está repleto de segredos, colecionáveis e easter eggs que irão consumir muitas horas daqueles que quiserem “platinar” o jogo. E não estamos falando apenas dos 400 desafios do Charada, mas de armadilhas onde a vida de inocentes está em jogo e telefones públicos que tocam aleatoriamente oferecendo pistas anônimas de acontecimentos. Estas missões podem não acrescentar nada à trama principal, mas servem para mostrar como é dura e atarefada a rotina de um justiceiro.
Felizmente, Batman conta com muitas bat-bugigangas para facilitar sua vida nesta nova aventura: além de já começar com alguns equipamentos do game anterior, como os bat-rangues e o gel explosivo, o herói agora possui novos brinquedinhos como bombas de fumaça, granadas congelantes, uma pistola que dispara cargas de eletricidade e outros gadgets incríveis que serão muito úteis no decorrer do game. Praticamente todo o arsenal do herói é passível de upgrades, que podem ser compradas utilizando-se os pontos de experiência.
Os combates estão ainda mais acirrados – geralmente envolvendo dezenas de inimigos ao mesmo tempo – mas as habilidades de luta do Homem-Morcego cresceram na mesma proporção: desta vez Batman possui golpes que derrubam múltiplos oponentes, uma maior variedade de contra-ataques e muitas novas habilidades destraváveis.
A jogabilidade não passou por grandes mudanças, mas recebeu alguns polimentos aqui e ali para ficar ainda mais intuitiva e dinâmica. Considerando que o game já começa tacando o o jogador no meio da ação, isto é uma mão na roda, pois quem está familiarizado com o sistema de combate do primeiro game vai se sentir em casa: é fácil emendar porradas, contra-ataques e golpes especiais em combos destruidores, onde o timing é mais importante, em detrimento do button mash. Isto faz com que mesmo a mais injusta das batalhas se transforme em uma verdadeira diversão para o Homem-Morcego.
Nos momentos em que o stealth se faz necessário, ninguém é melhor que o Cavaleiro das Trevas: utilizando as já conhecidas táticas de se fazer passar despercebido (se pendurando por gárgulas ou esgueirando-se por dutos de ventilação), agora Batman pode dar cabo silenciosamente de mais de um inimigo ao mesmo tempo, e seus takedows ganharam variações, inclusive uma versão um pouco mais violenta que bota os inimigos para dormir mais rapidamente.
Como se não bastassem todas estas novidades, temos ainda a sexy inclusão de ninguém menos que a Mulher-Gato, uma personagem importante para a trama, que poderá ser controlada em alguns momentos específicos (mediante a aquisição de um DLC), mostrando o outro lado da moeda em momentos chave da trama. Embora a jogabilidade da moça seja bem parecida com a do Batman, ela possui seu próprio acervo de golpes – e seu chicote – o que deixa suas aparições muito interessantes para dar uma variada no jogo.
Porém, mesmo com todas estes novos vilões, equipamentos e habilidades, a verdadeira estrela de Batman: Arkham City é sem dúvida sua história. Novamente assinada pelo experiente Paul Dini, a trama do game é primorosa, repleta de reviravoltas e consegue amarrar com maestria os acontecimentos e os personagens, sempre respeitando a personalidade única de cada um deles. Fica evidente que Paul Dini antes de ser um roteirista é um fã do Homem-Morcego, tamanho o respeito que ele demonstra com o universo e a mitologia do herói.
Respeito este que é sem dúvida compartilhado pelo pessoal do Rocksteady Studios, que se esmera para deixar o game impecável em sua parte técnica. Os gráficos estão mais límpidos do que no game anterior, e o colossal novo mapa entrega uma variedade de ambientes muito maior que a vista em Arkham Asylum. A modelagem dos personagens continua incrível e as novas animações acrescentam ainda mais naturalidade aos acrobáticos movimentos do herói.
Mais caprichada que os gráficos, só mesmo a dublagem: o excelente time de dubladores – encabeçado por Mark “Luke Skywalker” Hammil (Coringa) e Kevin Conroy (Batman) – entrega alma ao roteiro afiado de Paul Dini. Novos personagens também foram agraciados com ótimos dubladores (o Pinguim é dublado por Nolan North, mesmo ator que empresta a voz para Nathan Drake, de Uncharted), e o conjunto da obra faz inveja às melhores animações produzidas em Hollywood.
A trilha sonora também não deve nada ao cinema, enchendo de tensão os momentos mais intensos com elaboradas trilhas orquestradas. O compositor Nick Arundel se supera e cria uma trilha realmente épica, que poderia facilmente estar presente em um próximo filme do Batman. Os sons ambientes e conversas aleatórias captadas pelas bat-traquitanas tornam Arkham City realmente viva, imersiva e perigosa.
Batman: Arkham City é um pacote completo: agrada aos fãs de bons games e aos fãs do herói, e ainda presta uma senhora homenagem ao universo do Cavaleiro das Trevas. Adicionando alguns novos elementos e potencializando o que já era bom no game anterior, o game é maior e melhor em todos os aspectos. Não se limitando ao Batman, é fácil perceber que a Rocksteady entregou a experiência definitiva em games de super-heróis. Que outras produtoras sigam este exemplo na hora de levar outros grandes personagens dos quadrinhos para os games.
Este review foi publicado originalmente na edição 29 da Revista Arkade.