Análise Arkade: Os complexos poderes e obstáculos de Vitrum

21 de junho de 2014

Análise Arkade: Os complexos poderes e obstáculos de Vitrum

Jogos de plataforma em primeira pessoa não são lançados com tanta frequência quanto deveriam, mas não se preocupe: para desafiar esta regra recebemos o interessante Vitrum, cuja análise você confere agora!

Nenhum jogador curte quando um game cobra missões envolvendo mecânicas que claramente não foram feitas para ele — como acontece muitas vezes em shooters “convencionais” que exigem pulos e acrobacias para se cumprir certos objetivos. Afinal, é muito mais fácil fazer um pulo preciso quando você tem uma perspectiva em terceira pessoa, ou lateralmente em 2D, por exemplo, do que executar os saltos em primeira pessoa sem saber ao certo as dimensões do personagem que você está controlando e usando comandos que não foram feitos para isso.

O pior de tudo é quando isso vira uma espécie de tradição, como nos famigerados clichês tipo “fase da água” e “missões de escolta” — trechos que podem ser muito chatos quando os comandos não foram elaborados corretamente para isso. Bem feitos ou não, ultrapassar obstáculos utilizando os reflexos em jogos de primeira pessoa é algo que aparece cada vez como mecânica básica no desenvolvimento de jogos.

Análise Arkade: Os complexos poderes e obstáculos de Vitrum

Porém, algumas vezes chegam a nós aqueles projetos que quebram quaisquer preconceitos criados em torno dessa ideia, e decidem mudar um pouco a regra, conseguindo ser satisfatórios durante a correria e as acrobacias ou até mesmo voltando seu foco inteiramente para este tipo de jogabilidade, que envolve correr, desviar de obstáculos e muitas vezes solucionar quebra-cabeças. É o caso de jogos como Antichamber, Q.U.B.E, Quantum Conumdrum, Mirror’s Edge e a série que revolucionou este conceito, nos mostrando que nem só de chumbo para todos os lados vivem os games em primeira pessoa: Portal.

E eis que, seguindo esta linhagem, temos Vitrum, jogo criado pelo estúdio indie nacional 9Heads.

Ao jogar Vitrum a primeira lembrança que nos vem a mente é do jogo Portal. Suas similaridades vão desde o ambiente de laboratório da Aperture Science, onde tudo parece limpo e perfeito, enquanto na verdade o ambiente está cheio de defeitos, como portas e paredes quebradas; Seus obstáculos e objetos como caixas para colocar em certos lugares para abrir portas, e lasers situados em diversas formas como obstáculos; E, por último, sua complexidade em diferentes puzzles, dando a sensação de ser uma fase difícil de passar mas no final quem estava complicando era o próprio jogador, ou seja: o jogo traz aquela realização de perceber que a resposta da fase estava na sua cara o tempo inteiro.

Análise Arkade: Os complexos poderes e obstáculos de Vitrum

Vitrum tem tudo isso aliado à uma mecânica baseada em cristais com os quais você interage para adquirir certos poderes e habilidades — pense em power-ups. Cada cristal tem uma cor correspondente à habilidade que ele oferece. O amarelo inverte todas as dimensões e o jogador se vê de cabeça para baixo, o azul claro consegue criar plataformas temporárias, o azul escuro é utilizado para adquirir super velocidade durante alguns segundos e por ai vai.

Para complementar a física do ambiente, cristais que afetam tudo à sua volta e cristais que fazem mal ao jogador também foram implementados, então temos um cristal laranja que inverte a gravidade se o jogador estiver por perto, um cristal roxo que dá um empurrão em todas as direções de tempos em tempos, além de alguns ainda mais letais, como cristais verdes radioativos e pretos que matam o jogador instantaneamente.

Todos estes componentes dão uma boa sensação de desafio e mostram como esta mecânica se diferencia dos demais jogos. É extremamente satisfatório passar de uma fase utilizando os cristais que são encontrados durante seu percurso, combinando-os e conseguindo resolver aquele quebra-cabeça que anteriormente parecia impossível de ser solucionado.

Análise Arkade: Os complexos poderes e obstáculos de Vitrum

Vitrum consegue dar esta sensação de descoberta todas as vezes que uma fase é passada com sucesso. Nas primeiras fases tudo é novo e empolgante para o jogador, enquanto nas fases mais avançadas o game se foca em combinar todos estes poderes ao seu favor; Em um determinado momento você precisará usar o poder do cristal amarelo em uma mão para inverter a gravidade enquanto se prepara para atingir aquele momento perfeito e utilizar o poder do cristal azul, criando uma plataforma no ponto certo e se salvando de qualquer ameaça de morte. É um jogo de timming desafiador e divertido.

Tudo se mescla mais ainda quando a sua impressionante trilha sonora surge, com músicas que às vezes são calmas e relaxantes, e outras exploram a adrenalina que dos percursos. O que importa é que sua trilha sonora é tão bem produzida quanto o carinho que foi dado no desenvolvimento de cada puzzle.

O que faz pensar como os nossos desenvolvedores brasileiros tem um bom ouvido para produzir ótimas trilhas sonoras, como é o caso de games como Overcast – Walden and the Werewolf, Dreaming Sarah e Mr. Bree+, somente para mencionar alguns.

Análise Arkade: Os complexos poderes e obstáculos de Vitrum

Um problema que devo apontar é relacionado ao movimento do protagonista: Como expliquei no começo desta análise, por ser em primeira pessoa sua dificuldade se baseia inteiramente na forma que o jogador precisa encontrar as dimensões de seu corpo, problema que se agrava em Vitrum pelo fato de sua movimentação ser extremamente escorregadia, parecendo que você está sempre patinando no gelo quando anda.

Este problema piora quando somos lembrados de fazer vários pulos seguidos para se esquivar de lasers estáticos ou em movimento, além de fases que foram criadas para utilizar somente um tipo de poder. É muito frustrante quando você consegue fazer tudo que é pedido pelo jogo mas acaba morrendo por um laser porque esqueceu de calcular a antecipação correta de seu pulo.

No fim, Vitrum consegue ser um jogo indie bem interessante graças à implementação de poderes especiais através dos cristais que mencionamos, ele pode trazer muitas similaridades de outros jogos conhecidos do gênero mas ainda consegue trazer ideias boas, além de uma extraordinária trilha sonora, para a mesa.

Vitrum está disponível pela loja virtual de games independentes nacionais, a SplitPlay, por R$ 19,99, assim como no Steam graças à sua bem-sucedida campanha via Steam Greenlight.

Henrique Gonçalves

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