Filmes de games – 15 anos de altos e baixos
Desde que a indústria cinematográfica resolveu investir em filmes baseados em games, fãs do mundo inteiro vibraram ao ver seu título preferido na grande tela, porém com a mesma intensidade se decepcionaram ao ver que o seu grande jogo não repetiu a mesma qualidade do mundo virtual na “vida real”. Já são mais de 15 anos de muito filme (e lixo) produzido.
Não-fidelidade
Provavelmente a maior decepção com games da minha vida foi o filme do Super Mario Bros. Eu, com meus 12 anos e já passando da marca dos 3 milhões de cogumelos comidos, fui ao cinema para me deparar com um filme nota zero. Inimigos que eu nunca havia visto antes, no lugar dos goombas colocaram monstros grandes com cabecinhas pequenas! E o vilão que capturou a princesa? Um loiro que consegue ter um corte de cabelo ainda pior que o dos seus capangas. Sem falar nos dinossauros, seria alguma tentativa frustrada de fazer referência aos Yoshis?
O grande problema é, na verdade, a incapacidade da indústria cinematográfica em se manter fiel ao jogo. Em alguns momentos, a desatenção a detalhes é tanta que chega a ser desrespeitoso. Por exemplo Max Payne (2008). No jogo havia uma droga verde chamada V, que era frequentemente referenciada como névoa verde, e inclusive na famosa cena em que Max é envenenado com a droga, a tela fica toda verde. No filme conseguiram a proeza de reproduzir a droga como sendo azul! Porquê? Não faz o menor sentido! Eles sequer jogaram o jogo para produzir o filme? O absurdo é tanto que seria a mesma coisa que fazer um filme de Zelda e colocar uma roupa vermelha no Link.
Roteiro Adaptado
Um grande problema encontrado pelos diretores é a adaptação do roteiro do jogo. As histórias de alguns games foram criadas apenas para servirem ao jogo e não para ter o complexo enredo de um longa metragem. Devido a esta grande distância entre os roteiros dos jogos e dos filmes acabam surgindo as mais mirabolantes encheções de linguiça. Em alguns casos, a falta de criatividade é tanta que o jogo é completamente esquecido e um novo roteiro é criado, como é o caso de Doom, um filme tão ruim que a cada cena uma vontade de mudar de canal cresce no telespectador.
Outro exemplo é o Resident Evil (o primeiro), a história do game daria um filme de terror extremamente bom: uma mansão no meio de uma floresta em uma cidade infestada por zumbis. Que clima! Porém, Hollywood conseguiu estragar tudo ao colocar raios laser e atores medíocres. Por outro lado, um filme que, apesar de não se manter totalmente fiel à trama do jogo, acabou surpreendendo positivamente foi Silent Hill, que em alguns momentos consegue reproduzir com exatidão a atmosfera claustrofóbica do jogo.
Clichês em excesso
Hollywood tem uma regra para seus filmes: Quanto mais clichês, melhor. O vilão que aprende a amar, o carro que não pega, a mistura de duas situações perigosas (tais como aviões e serpentes), ou as sábias últimas palavras antes da morte. Com os filmes baseados em games não poderia ser diferente. Mesmo que o jogo tenha uma história original, os roteiristas conseguem inserir alguns para estragar. Em Tomb Raider, assim como em qualquer filme de ação, esses clichês estão por todos os lados. As balas das armas que acabam na pior hora, além de outras situações que teriam sido inesperadas se estivessem no primeiro Indiana Jones, mas totalmente previsíveis para um filme lançado em pleno século 21. Por incrível que pareça, neste caso é só ignorar os clichês e assistir. Já que não há como dormir vendo o par de coxas da Angelina Jolie de um lado pro outro, o filme consegue ser “assistível”.
Atores e efeitos especiais medíocres
Quanto menor o orçamento do filme, maior deve ser a criatividade do diretor para adaptar e improvisar as cenas. O filme Mortal Kombat, por exemplo, mesmo com poucos atores conhecidos na época conseguiu unir o bom figurino a efeitos especiais para criar os verdadeiros personagens da série. Quando vi pela primeira vez o Scorpion na tela tive a sensação de que aquele era realmente o Scorpion. Infelizmente nem sempre é o que sempre acontece e ao ver alguns personagens, como por exemplo, o Luigi em Super Mario Bros, a primeira frase que vem na cabeça é: “Quero meu dinheiro de volta!”
Futuro
A história provou que muitos games adaptados para filmes fizeram feio. Na verdade, até hoje a maioria dos melhores filmes de jogos foram os longa metragens feitos em animação. Talvez com a maior facilidade e menor custo de efeitos especiais vamos poder, num futuro próximo, ver filmes baseados em jogos com baixo orçamento e boa qualidade, tanto em roteiro quanto em fotografia. Além disso, com a atual popularização da cultura gamer é, sem sombras de dúvidas, de interesse das produtoras fazerem filmes mais fiéis aos jogos. Esperamos que a nova onda de jogos baseados em filmes previstos para os próximos anos venha confirmar isto.
Este texto foi publicado originalmente na edição 2 da Revista Arkade. Para ler a Revista na íntegra, clique aqui.