Kingdoms of Amalur: a decadência e os erros do 38 Studios
No começo deste ano, um jogo que conseguiu se destacar foi Kingdoms of Amalur: Reckoning, jogo que conseguiu ser um sucesso financeiro para a EA, vendendo mais de 1,2 milhões de cópias desde seu lançamento. Mas isto não foi o bastante para a sua desenvolvedora, a 38 Studios, e sua subsidiária, a Big Huge Games, continuar em pé.
O caso do 38 Studios
A história terminou com todos os funcionários da 38 Studios e da Big Huge Games sendo despedidos. Mas como isso aconteceu? Bem, tudo começa com um grande acordo feito com o estado americano de Rhode Island: a 38 Studios fez um empréstimo com o governador Lincoln Chaffe, de Rhode Island.
O acordo consistia em 75 milhões de dólares – vindos dos cofres públicos – para o estúdio sair de Massachusetts e ir para o estado de Rhode Island.
Em troca desta grana, a 38 Studios (e sua subsidiária Big Huge Games) teriam que contratar somente as pessoas que vivem em Rhode Island, criando empregos para um lugar que ainda sente a dor da crise financeira de seu país.
Tudo parecia dar certo: o estúdio seria criado em um novo local, várias pessoas começariam a trabalhar em um grande projeto, ganhando seus salários e movimentando a economia. Mas aí começaram os problemas.
Logo depois que o jogo saiu, no começo deste ano, o objetivo do 38 Studios era pagar os empréstimos e seus funcionários, mas a desenvolvedora falhou nestes dois quesitos. Foi reportado que a 38 Studios não pagou a quantia que devia para as pessoas que trabalharam no jogo, além de um cheque feito pela empresa em US$ 1,125 milhões ter sido retornado.
Foi revelado que o fundador da 38 Studios, Curt Schiling, pagou aproximadamente 49 milhões de dólares da quantia que devia, em março deste ano. Meses se passaram e as vendas de Kingdoms of Amalur: Reckoning fez com que a quantia de US$ 1,125 milhões fosse paga, mas isto não adiantava nada, já que existia uma outra dívida de US$ 2,6 milhões para novembro, e uma de US$ 12,6 milhões para 2013.
Assim foi tudo de mal para pior, a 38 Studios e a Big Huge Games deixaram todos os seus funcionários desempregados, o estado de Rhode Island não recebeu o dinheiro que foi emprestado e, consequentemente, este mesmo dinheiro teria que ser pago pelos impostos sobre os cidadãos de lá, além da possibilidade de uma franquia baseada em Kingdoms of Amalur: Reckoning ter sido totalmente descartada.
Entendendo o problema
O primeiro grande problema foi o investimento contínuo em cima de Kingdoms of Amalur: Reckoning, uma das coisas que o jogo mais poderia se gabar era o fato de ter o famoso escritor R.A Salvatore (criador do famoso Forgotten Realms e vários outros livros) e o desenhista Todd McFarlane (criador de Spawn) como funcionários principais para o jogo, além de ter alguns designers que trabalharam nos primeiros jogos da franquia Elder Scrolls para complementar o time inteiro.
Com este grupo de desenvolvedores de peso, o jogo deveria ser um sucesso financeiro para todos, mas infelizmente antecipação não paga as contas, como bem perceberam os estúdios e o estado envolvidos.
Estas pessoas custam caro para serem contratadas e seus trabalhos em Kingdoms of Amalur infelizmente não conseguiram fazer o jogo ser “o” sucesso que era esperado. Com isso, boa parte do investimento trouxe mais consequências do que benefícios para o jogo.
Outro grande problema foi sua data de lançamento: Kingdoms of Amalur: Reckoning saiu em 7 de Fevereiro de 2012 nos Estados Unidos, pouco menos de 3 meses depois que um outro jogo, um tal de The Elder Scrolls V: Skyrim, foi lançado.
Para seu azar, Kingdoms of Amalur: Reckoning foi extremamente comparado ao monumental Skyrim, por mais que os jogos somente tenham a ambientação fantástica e medieval para se comparar, é preciso de muito pouco para um gamer olhar e decidir se vai comprar aquele jogo ou não.
“Se eu estou jogando religiosamente Skyrim, porque precisaria de outro RPG de fantasia tão cedo?” Esta deve ter sido a pergunta de muitos gamers ao ver Kingdoms of Amalur: Reckoningna prateleira e decidir se vale a pena gastar mais dinheiro em outro jogo.Com esta concorrência de peso, Kingdoms of Amalur: Reckoning, acabou tendo seu brilho ofuscado pelo sucesso de Skyrim. Isso não quer dizer que ele é um jogo ruim, apenas saiu na hora errada, sem dar tempo da poeira épica de Skyrim baixar.
O terceiro problema vem direto do fundador Curt Schiling. De acordo com Curt, houveram vários comentários insultando o estúdio feitos pelo governador, Lincoln Chafee. Eta história fez com que um investidor privado não investisse na produção do game. Com isso uma quantia de US$ 35 milhões foi perdida. Esta quantia certamente teria aliviado a barra da empresa em sua conta.
Ou seja, o governador, sabe-se lá porque não segurou a língua, talvez sem saber que na indústria de videogames comentários sobre o produto/estúdio são armas letais, e podem destruir um projeto antes mesmo dele ser finalizado.
E agora?
Com todos estes problemas, muito foi perdido inclusive para os gamers: R.A Salvatore estava trabalhando em uma história que faria de Kingdoms of Amalur: Reckoning uma franquia enorme (reza a lenda que uma sequência já estava em pré-produção), com um MMO derivado chamado Project Copernicus e possíveis continuações.
Ainda pode existir esperança para o futuro de Kingdoms of Amalur: Reckoning: a EA Games pode tentar realocar a franquia para outra empresa em seu domínio e assim continuar a franquia, mas isto depende exclusivamente da boa vontade da EA.
No final das contas, este problema todo foi causado por um erro de administração, que foi seguido por uma série de eventos lamentáveis e comentários infelizes.
Com isso, 379 funcionários das duas desenvolvedoras perderem seus empregos, o estado de Rhode Island ficou com um grande buraco financeiro… e quem curtiu o game Kingdoms of Amalur: Reckoning ficou com poucas esperanças de ver o game se tornar uma longa e próspera franquia.
Este artigo foi escrito por nosso colaborador Henrique Gonçalves.