RetroArkade: Derrote vilões no jan-ken-pô em Alex Kidd, o melhor jogo na memória de todos os tempos.
Quem teve um Master System jogou Alex Kidd. O jogo da memória de quase todos os 8-bit lançados no Brasil está na memória de muitos jogadores e é este o jogo da vez na RetroArkade, em viagem para o Miracle World.
Sega x Nintendo e suas batalhas nas décadas de 1980 e 1990 fazendo a história. A Nintendo dominando o globo, especialmente o Japão e os Estados Unidos com seu NES e Mario e a Sega conseguindo conquistas importantes na Europa e no Brasil com seu Master System. Mas o encanador italiano era um incômodo no quartel general daquela que já estava desenvolvendo o Mega Drive como maneira de contra-ataque, e por isso uma reação era necessária.
E na opinião deste que vos fala, a reação foi melhor que a encomenda, já que o resultado foi Alex Kidd, um jogo claramente inspirado nas plataformas de Super Mario, porém com personalidade própria e vários recursos que fazem dele um título melhor do que o do jogo do bigode da Nintendo. Claro que não estamos falando de popularidade nem de conjunto da obra, mas de longe pode-se reparar como Alex Kidd supera seu concorrente Super Mario Bros. numa boa.
Começando pela história. Aqui não era apenas um “salve a princesa”, embora o tema também envolvesse uma invasão num castelo. No manual do jogo podíamos entender melhor as razões da aventura:
“Há muitos séculos, no planeta Aries, vivia um menino chamado Alex Kidd. Durante sete anos ele morou no Monte Eterno estudando Shellcore, uma antiga arte marcial que ensinava as pessoas a ser tão fortes que elas conseguiam quebrar grandes pedras com as próprias mãos. Certo dia, ao deixar o Monte Eterno para ir à sua terra natal espiritual, ele encontrou um moribundo que lhe fez uma revelação: a pacífica cidade de Radactian corria um grande perigo. Antes de exalar o último suspiro, o homem deu a Alex o fragmento de um mapa e um medalhão feito com um pedaço da Pedra do Sol. O que tudo aquilo queria dizer? O único jeito de descobrir seria viajar para o Miracle World e lá procurar as respostas.”
E é a partir daí que nosso herói sai pelo mundo dos milagres para derrotar o mal e entender melhor o que acontece pelos locais em que passa. E como Alex é especialista em uma arte marcial muito exclusiva, consegue quebrar pedras e achar dinheiro dentre delas, dinheiro que servia para comprar itens durante o jogo e até continue, caso fizesse o código corretamente no game over.
Esta compra de itens também é muito inovador para um jogo de 1986, ainda mais para um jogo de plataforma que nem tem a obrigação de coisas deste tipo, mas aqui a loja ajuda e muito na aventura. Recolhendo o dinheiro das fases você pode comprar objetos para auxiliar: veículos, amuletos de proteção, vidas extras e até o famoso anel que amplia o alcance de seus ataques.
Trilha sonora de primeira qualidade.
https://www.youtube.com/watch?v=0ekhxhM1lJs&spfreload=10
Tudo bem, o Master System tinha um problema sério com os sons. Parecendo rádio chiando e não chegando aos pés de seu “irmão” japonês Mark-III que tinha chip FM, mesmo assim em Alex Kidd este problema simplesmente não existe. Sua trilha é muito bem feita e ecoa em nossas mentes até hoje. Ou você não está agora mesmo ouvindo mentalmente (ou mesmo cantarolando) a primeira música de logo quando o jogo começa?
Passando pela música alegre da primeira fase, até a tranquila música da água, passando pela adrenalina da fase da “motinha” até as mais tensas nos castelos e cavernas, as músicas estão entre as mais marcantes dos games e foi feita por Tokuhiko Uwabo, que fez outras obras de arte para a Sega como Phantasy Star. Aguardo desde já uma Sound Test sobre este grande compositor dos games, ouviu Paulo e Henrique? Os apreciadores de boa música agradecem =D.
Batalhas “épicas” contra vilões: pedra, papel ou tesoura?
Agora vamos falar do que Alex Kidd tinha de mais legal: as batalhas com chefes. Em Alex Kidd você não pula na cabeça deles, nem encara batalhas épicas. Aqui o negócio é resolver no jan-ken-pô, ou o pedra-papel-tesoura. Por mais surreal pareça isso para um jogo de videogame, a ideia se encaixou de maneira excelente no jogo e trouxe mais desafio.
No primeiro chefe, a sequência é a mesma, logo é fácil saber o que será revelado pelo inimigo e fazer a escolha que ganha, mas a partir dos próximos chefes, o negócio é prestar bem atenção e mudar no último segundo. Com prática dá pra tirar de letra e até hoje me pergunto o porquê de não existir um jogo apenas de jan-ken-pô…
A motocicleta, o helicóptero…
Outra novidade muito interessante em Alex Kidd eram os veículos que mudavam toda a maneira de se jogar uma fase. Com a moto, o jogo fica mais rápido fazendo o jogador apenas evitar os obstáculos que fazem o personagem perder o veículo. A lancha faz o mesmo papel, sendo que se você perdê-la, cai na água e tem que terminar a fase nadando. E o helicóptero faz o trabalho de alcançar locais inacessíveis de maneira normal ajudando até a derrotar inimigos mais facilmente com tiros.
E cada veiculo tinha sua maneira personalizada de pilotar: era possível definir a velocidade e muito mais, o que fazia dos controles deles algo muito divertido. Me atrevo a pensar que se os jogos viessem com veículos de apoio ao invés de power-ups, tudo seria mais legal. Mas claro que tem o poder do anel que me faz pensar melhor o que acabei de dizer.
Que fim levou Alex Kidd?
Mesmo com todo o sucesso e a competência do jogo, no que depender da Sega, Alex Kidd não tem volta, pelo menos em forma de jogo próprio. Se franquias mais recentes — e populares — como Shenmue enfrentam dificuldades e a empresa pelo que parece se sente satisfeita lidando apenas com o Sonic, não oferece razões para lançar um reboot ou seja lá o que for de uma série a qual muito jogador fora do eixo Brasil-Europa nem conhece direito.
Tivemos outros jogos com Alex Kidd no Master System: jogos de qualidade duvidosa como The Lost Stars e boas surpresas como Alex Kidd in Shinobi World. E após Enchanted Castle, para Mega Drive, que conta com um Alex feio de doer na capa e divide opiniões de amor e ódio (eu sou cinza pra falar dele), nunca mais tivemos games com o personagem cabeçudo. Porém a empresa sempre lembrou de seu ex-mascote.
Com aparições singelas em Shenmue como um brinde colecionável e no Segagaga, onde conta a triste história de quando Sonic roubou os holofotes e o fez cair no ostracismo, seu “retorno” foi muito comemorado em Sonic & Sega All Star Racing, com direito a sua motoca e tudo.
Ainda assim, tem fã fazendo sua parte criando remakes em HD do jogo. Inclusive, já falamos de um bacana remake feito pelo gaúcho Marcelo Barbosa e que você pode conferir como está ficando. Mesmo sem projeção de novidades, pelo menos a Sega coloca o jogo com boa frequência nas lojas virtuais dos consoles, pelo menos para matar a saudade de quem não tem mais um Master System.
Mas um conselho pra quem tem saudades? Arrume um Master System, de preferência os vendidos nos anos 1990 por causa do som. Veja se ele tem Alex Kidd na memória e vá ser feliz. E se cansar do jogo, aproveite a rica biblioteca deste videogame que marcou a nossa vida.