RetroArkade: Keystone Kapers levou o “polícia e ladrão” da rua para os games
Você era uma criança dos anos 80 que voltou da rua cansada depois de brincar de polícia e ladrão? Então era hora de tomar banho, comer uma bolacha e continuar a brincadeira com Keystone Kapers.
Quem aqui nunca brincou de polícia e ladrão? A brincadeira era como um pega-pega, porém com uma equipe que eram os “policiais” e a outra que eram os “ladrões”. Os ladrões que eram pegos ficavam imóveis até que outro ladrão o tocasse, deixando-o apto para correr. Ou o ladrão pego também era excluído da brincadeira, de acordo com as regras aonde você brincava.
O lance é que entre as molecadas mais maloqueiras a brincadeira não era restrita a um pátio de escola; elas envolviam porões, telhados das casas e até estacionamento de hospital, onde… bom, você entendeu. Tudo isso para deixar a brincadeira “mais real”, criando ambiente perfeito para depois que a correria cansasse, pudéssemos continuar a brincadeira nos videogames.
No princípio, o filme
O princípio de correr atrás de bandidos já era explorado lá nos primórdios do cinema, com a série Keystone Cops, de 1912. Os filmes apresentavam um grupo de policiais atrapalhados que sempre tinham que correr atrás de algum ladrão, seja a pé ou de algum veículo. Seu sucesso foi tanto que os policiais eram coadjuvantes nos filmes de Charlie Chaplin.
E também acabou, querendo ou não, gerando uma “categoria” no cinema para filmes de humor pastelão com policiais atrapalhados, que tem também no seu “hall da fama”, os oficiais da Loucademia de Polícia e o Inspetor Clouseau, de A Pantera Cor de Rosa.
Mas a ideia não ficou restrita apenas no cinema, pois em 1983 o jogo chegou ao Atari 2600 pela fértil era da Actvision, que apresentava um clássico atrás do outro. E para ajudar a entender melhor, o vídeo acima mostra um pouco do que era o tal seriado.
Corre! Aqui é a polícia!
Desenvolvido pelo designer Garry Kitchen, que também programou o port de Donkey Kong para o Atari, o jogo te coloca como o oficial inglês Kelly Keystone, com direito ao chapéu típico da polícia londrina da época, que tem que perseguir o fugitivo Harry Hooligan pelos 3 andares de uma loja de departamentos, impedindo que ele fuja pelo final do terraço.
O gameplay era dinâmico por exigir do jogador raciocínio rápido e muita habilidade. O ladrão sempre desviava de você e um encontro “cara-a-cara” era praticamente impossível. Também era necessário dominar com maestria elevadores e escadas rolantes, que também era utilizado pelo ladrão na fuga. Para piorar, obstáculos iam aparecendo na tela, e aumentavam de acordo com a fase jogada.
Mas o jogo também te ajudava, ao colocar na parte inferior da tela o mapa do local e a posição do ladrão, ajudando um pouco a montar uma estratégia e surpreender o fugitivo.
Capturando o ladrão, a fase se encerrava, seus pontos eram computados e uma nova fase se iniciava do melhor jeito “sem fim” dos jogos do Atari 2600, agora com mais dificuldades e mais obstáculos, que iam se unindo, como carrinhos de supermercado, cercas elétricas e até bolas de praia que insistiam em quicar em sua direção.
Este conceito, simples, porém eficaz, garantiu um enorme sucesso para o jogo, que era inclusive distribuído com alguns modelos alternativos de Atari 2600 que eram vendidos por aqui com o apoio da lei de Reserva de Mercado. E exatamente por causa desta lei, que proibia a importação de dispositivos eletrônicos, tivemos muitos jogos como estes com o nome “Polícia e Ladrão” na capa, já que o jogo lembra de fato a brincadeira com a qual começamos com esta matéria.
Muita coisa com muito pouco
O jogo, mesmo para os padrões de hoje, ainda é uma aula perfeita do que significa um jogo divertido. Seu visual é caprichado, com muitos detalhes. Os jogos do Atari não costumavam ser tão detalhados assim, dando mais valor para o visual de Keystone Kapers. Seu design não deixa o jogador respirar aliviado em nenhum momento e sempre busca levar o desafio para maiores proporções.
Se trata também de um jogo que utiliza as cores como ninguém, pois em uma era aonde a maioria dos jogos contava com um fundo preto ou de outra cor predominante, aqui nós temos um cenário bem definido, com cores de destaque para o policial, as listras para o ladrão fugitivo e todos os obstáculos que chegam até você. Até um belo cenário de fim de dia compõe o ambiente, aparecendo acima do terraço.
E por se tratar de um jogo baseado em uma comédia pastelão, mesmo com as limitações da época, o jogo consegue transmitir isso de forma especial. Os efeitos sonoros e a maneira de correr do policial são de fato divertidos e tiram o lado pesado que uma situação desta tem de fato para dar lugar a um ambiente mais engraçado e digno dos filmes que serviram de inspiração.
Por estas e outras, você que desenvolve games deveria dar uma boa olhada em Keystone Kapers, que mesmo com seus mais de 30 anos de vida, ainda tem muita coisa boa para ensinar. E quem é gamer e busca boa diversão, também encontra no “polícia e ladrão” para Atari momentos de alegria gamer, e da melhor qualidade.