Análise Arkade: Destiny 2 é o “em time que está ganhando não se mexe” do mundo dos games
Chegou a hora de ressuscitar seu Guardião, pois um novo Mal ameaça destruir a Luz… na verdade não é um Mal tão novo assim, mas ok, né? Vem conferir nossas impressões sobre o grandioso Destiny 2!
Uma nova ameaça…
Após todos os vilões que derrotamos em Destiny (e suas expansões), era de se esperar que os Guardiões teriam um pouco de paz, certo? Errado! Destiny 2 já começa chutando o balde, com o novo vilão — o grandalhão Ghaul — invadindo a Torre e explodindo a p*rra toda. Pior: ele “sequestra” o Viajante (aquela enorme bola branca que fica no céu), e quer dar um jeito de utilizar a Luz dele para seus propósitos escusos.
Sem a proteção perpétua do Viajante, quase todos os Guardiões acabaram desprovidos de sua Luz, o que lhes torna mortais de novo. Quase todos… menos você, é claro! Depois de recuperar sua Luz — e seu fiel companheiro Fantasma — sua missão será reunificar as linhas de defesa dos Guardiões para tentar deter Ghaul e impedir que as forças do Mal levem a melhor.
O início da campanha de Destiny 2 é explosivo e empolgante. Eu transmiti ao vivo as primeiras 2 horas e meia de gameplay da campanha (sem comentários, apenas gameplay), então se estiver com “um tempinho” disponível, assiste aí:
Nem tão nova assim
Apesar de começar com todo esse clima apocalíptico, logo fica claro que Destiny 2 oferece um “mais do mesmo” melhorado. A missão de abertura é incrivelmente intensa e diferentona — e sem dúvida deixa uma ótima primeira impressão — e ali pelo final também temos coisas mais mirabolantes rolando, mas “o miolo” do jogo estabelece um ritmo bem semelhante ao do game anterior.
As coisas são tão parecidas que a Bungie nem se deu ao trabalho de criar novas raças de inimigos. Sabe os Decaídos, os Vex e os Cabais que a gente já matava no primeiro jogo? Pois é, todos eles estão de volta aqui. E a Colmeia e os Possuídos também. Sendo justo, cada espécie possui um ou outro novo tipo de inimigo, mas no geral é tudo a mesma coisa.
Não acho que isso seja exatamente um problema dada a qualidade do gameplay em si, mas acho sim que isso denota um pouco de preguiça dos desenvolvedores. Destiny é um jogo espacial, que nos leva para planetas e satélites completamente díspares, então porque diabos não criar monstros e inimigos realmente diferentes? Aliás, indo de um planeta/satélite para outro, não há mudanças gravitacionais, nem nada que realmente faça grande diferença. A paisagem muda, mas de resto, continua tudo igual — inclusive os inimigos.
Familiar, mas com novidades
Também não temos classes de personagens novas, estando disponíveis os mesmos 3 do jogo passado: Caçador, Titã e Arcano. A novidade aqui é que cada um deles ganhou uma nova subclasse, totalizando 3 variações para cada, com direito a uma nova super habilidade exclusiva.
O gameplay de Destiny sempre foi bom, e continua sendo bom aqui. A Bungie simplesmente sabe fazer FPS para consoles — Halo está aí para comprovar isso — e o feeling de jogar Destiny 2 ainda é um dos melhores que tive o prazer de experimentar. Eu realmente gostaria de estar atirando em “bichos” diferentes (e não nos Cabais e Decaídos de sempre), mas fazer o que, né?
A boa notícia é que algumas das queixas da comunidade em relação ao primeiro jogo (felizmente) foram solucionadas: ainda que a história em si não seja lá grande coisa, a campanha é mais empolgante e variada, não fica mais aquela impressão de que todas as missões são meio que a mesma coisa. E além das atividades de sempre — Missões Principais, Patrulhas, Assaltos, Crisol –, agora temos também as Aventuras, que são meio que sidequests bem interessantes, que revisitam alguns lugares pelos quais você já passou, mas agregam algo de novo aos ambientes.
O vídeo lá de cima termina com uma das primeiras Aventuras do jogo, caso queira dar uma olhada. Deixo abaixo também o gameplay completo de um dos Assaltos, que realizei com 2 amigos:
Fora isso, é muito bacana como o jogo dosa bem humor com a pompa cafona típica do gênero sci fi: enquanto os vilões fazem planos megalomaníacos e falam palavras difíceis, com os Guardiões tudo é levado de forma leve, com uma boa dose de zoeira. Obviamente, Cayde-6 rouba a cena mais uma vez com suas ótimas piadas.
O lore de Destiny é imenso, e — felizmente — desta vez ele está muito melhor inserido no jogo em si. Em Destiny, tínhamos que acessar um site (ou app) FORA DO JOGO para ver informações sobre seu universo nas famigeradas “Cartas do Grimório“. Agora esse tipo de informação está acessível pelo próprio jogo, e nosso Fantasma está muito mais curioso, escaneando e fazendo comentários sobre dezenas de estruturas, equipamentos e elementos do cenário. Nada é especialmente relevante, mas tudo contribui com a imersão, deixando o conjunto da obra mais contextualizado e orgânico.
Outra coisa absurda do primeiro game era a aleatoriedade dos Eventos Públicos: os fãs chegaram a criar seus próprios sites e apps para notificar quando eles aconteceriam. Este problema não existe mais: em Destiny 2, é possível ver pelo mapa onde estão rolando (ou vão rolar) Eventos Públicos. É chato encontrarmos o mesmo Walker — aquele tanque enorme que parece uma aranha — do primeiro game aqui novamente, mas pelo menos você não precisa sair do game para saber quando e onde ele vai aparecer. E, o confronto com o Walker não é o único tipo de Evento Público disponível, então você ocasionalmente pode acabar sendo surpreendido (ou não, pois há pouca variedade de Eventos).
As naves ainda são basicamente telas de loading, o que eu continuo achando um baita desperdício. Porém, agora você pode agilizar um pouco as coisas selecionando seu próximo destino direto pelo mapa; não precisa perder tempo indo para órbita, e depois selecionando para onde quer ir. Também temos diferentes áreas de pouso, que funcionam como fast travels quando você já está em um planeta. São mudanças pequenas, mas que agilizam bastante as coisas. Houve uma melhoria geral em termos de navegabilidade, menus e telas de loading que deixaram o jogo mais ágil e dinâmico.
O grinding é menos frustrante
Um dos principais problemas do primeiro Destiny era quão frustrante ele poderia ser. Descolar aquela arma ou peça de armadura exótica era trabalhoso e (muitas vezes) aleatório, de modo que você podia gastar muitas horas de jogo se frustrando por não conseguir o que você queria.
Em Destiny 2 isso foi bem melhorado: a distribuição de loot é mais justa, e antes mesmo de concluir a campanha você já vai estar com 3 ou 4 equipamentos exóticos no seu inventário. E considerando que a habilidade Infusão permite que seus equipamentos mais legais “devorem” outros para aumentar seu poder, torna-se um pouco mais fácil conseguir um arsenal poderoso sem sofrer muito. Ainda existem armas que demandam ações bem específicas para serem conseguidas, mas mesmo estas quests estão mais justas, exigindo mais empenho e habilidade do que sorte.
Ainda é trabalhoso aumentar seu poder pós-level 20? É, mas é menos frustrante simplesmente porque agora você vai estar recebendo mais loot — loot bom, não porcarias –, e isso por si só já passa uma sensação de evolução e progresso bem maior. Você não passa horas jogando só pelo grinding sem conseguir nada de bom, você passa horas se divertindo, e de quebra consegue uns equipamentos que serão (no mínimo) bons o suficiente para serem Infundidos às suas melhores armas.
Claro que nem toda mudança foi positiva: os Tonalizadores — itens que alteram a cor do seu equipamento — agora se tornaram itens consumíveis de uso único. Pior: agora você vai usar 1 tonalizador para cada peça de equipamento, não um só para mudar a cor de tudo, como era antes. Obviamente, existe uma simpática moça alienígena que vende Engramas que contém Tonalizadores, e a moeda que ela aceita pode ser adquirida com dinheiro de verdade. Trocando em miúdos: Destiny 2 tem microtransações.
Estes Engramas que ela vende também podem conter mods de armas e equipamentos, que são fundamentais para você turbinal seu arsenal depois que alcançar o level cap (20). Por mais que seja questionável o fato desses itens serem vendidos, também é possível conseguir praticamente tudo isso simplesmente jogando, o que minimiza um pouco o problema.
O pós-game
Quem jogou o primeiro Destiny sabe que o “jogo de verdade” só começa depois do level 20, e isso continua sendo verdade por aqui. A campanha em si está maior e mais variada, mas ela ainda é meio que a ponta do iceberg. Uma ponta bem robusta e divertida, é verdade, mas apenas uma fração de tudo o que temos para fazer naquele universo.
Destiny 2 foi lançado há pouco mais de uma semana, e neste meio tempo já recebeu sua primeira Raid (Incursão), e os Assaltos (Normais e Do Anoitecer) também já estão rolando. Fora isso, há o sempre movimentado Crisol, o PvP do game, com modos de jogo bem tradicionais (Controle, Deathmatch, etc.) que podem ser jogados tanto de forma rápida e casual quanto em uma pegada mais séria e competitiva.
Você deve ter um nível mínimo de poder (os “pontos de luz” do primeiro game) para estar apto a iniciar algumas destas atividades — a Raid, por exemplo, exige um mínimo de 260 de poder –, ou seja, quem quiser se manter em dia com os desafios do game vai ter que continuar jogando, atualizando seus equipamentos e lapidando seu personagem para que ele esteja apto de encarar os desafios mais cabeludos.
Como no primeiro game, aqui também teremos expansões — já há 2 programadas para o “ano 1” — e elas devem trazer novos desafios e Raids, aumentar o level cap, e tudo mais. Considerando a comunidade devota que Destiny formou, está bem claro que a Bungie quer manter todo mundo jogando muito mais do que a campanha em si… e esta primeira semana mostrou que os fãs voltaram mais animados do que nunca, mesmo perdendo tudo o que acumularam no primeiro game (é possível importar somente a aparência dos seus Guardiões, nada de equipamentos).
Para escrever esta resenha, eu joguei a campanha inteira, passei algumas horas matando (e morrendo) no Crisol e cumpri um bocado de Aventuras e Assaltos. Mesmo assim, sequer tenho nível para fazer a Raid ainda — mas jogando mais um pouquinho eu chego lá. E este é o ponto: mesmo já tendo feito tudo isso, eu ainda estou me divertindo com Destiny 2, e não estou a fim de parar de jogá-lo tão cedo.
Audiovisual
Aqui não tem muito o que falar, né? O primeiro Destiny consolidou-se como um dos jogos mais bonitos da atual geração, e esta sequência continua entregando um departamento audiovisual de primeira linha. Perdeu-se um pouco do “fator novidade” e tudo já parece um tanto familiar, mas isso não é demérito algum, dado o alto padrão de qualidade dos 2 games. Em Destiny, tudo é sempre grandioso, épico e muito bem polido.
Destiny 2 chega 100% em português brasileiro, e se você assistiu aos vídeos ao longo deste texto, já teve uma ideia da qualidade da dublagem: algumas são boas, outras nem tanto, mas no geral temos algo que cumpre seu papel. Perde-se um pouco do carisma de alguns personagens — como Cayde-6 –, mas a praticidade de podermos curtir o jogo sem ficar olhando as legendas compensa.
Depois de ter experimentado o beta no PC, acho triste que a versão para consoles fique limitada aos 30 FPS, mas acredito que isso é mais problema das limitações dos hardwares atuais do que do jogo em si. Os PC gamers — que receberão o game em Outubro — sem dúvida terão uma experiência audiovisual ainda mais suculenta sem a limitação de frames por segundo!
Apesar de toda esta qualidade, reforço o que já disse lá em cima: acho que houve uma preguiça dos designers na hora de criar novos inimigos e expandir um pouco mais os horizontes da saga. É o famoso “em time que está ganhando não se mexe”; não há uma real sensação de frescor ou novidade. Parece que todo mundo se acomodou e entregou um “mais do mesmo”, sem muito espaço para criatividade.
Conclusão
O primeiro Destiny foi lançado de forma um tanto problemática, mas evoluiu muito com o tempo, e se tornou um jogo bem mais aprazível ali pela época da Ascensão do Ferro. Lá em 2014 eu escrevi um review completo de Destiny, onde deixei claro tudo que gostei ou não gostei no game em sua versão vanilla, antes de todas as expansões.
Destiny 2 aproveita o know how adquirido de 2014 para cá (e o feedback da comunidade) para oferecer algo muito melhor já de cara: ele é mais variado, menos frustrante e já tem muito mais conteúdo, algo que vai agradar tanto novos Guardiões quanto os players das antigas que já gastaram centenas de horas no game original.
Apesar de todas estas melhorias, ele parece um tanto preguiçoso, acomodado no próprio sucesso. É Destiny 2 com um gostinho de Destiny 1.5. Mas este ainda é um gostinho muito bom, especialmente se jogado com os amigos. Destiny é simplesmente um dos melhores FPS da atualidade, e o feeling de jogá-lo continua excelente.
Agora, se me dá licença, eu vou lá upar mais um pouquinho porque ainda me faltam 8 pontos de poder para conseguir fazer a Raid. 😉
Destiny 2 foi lançado em 6 de setembro, com versões para Playstation 4 e Xbox One, 100% em português brasileiro. A versão PC chega em 24 de outubro.