Análise Arkade: a boa e velha guerra de Rogue Trooper Redux
Era uma vez uma época em que nem todo jogo queria ser um RPG de mundo aberto. Nesta época, fomos brindados com ótimos games de diversos gêneros. No tiro em terceira pessoa, tivemos clássicos como Syphon Filter, Army Men, Max Payne… e um pouco mais tarde veio Rogue Trooper, game meio cult que acabou de ganhar uma versão remasterizada!
Introdução
A geração do Playstation 2 e do XBox original é uma das mais fartas em termos de títulos. Há alguns consagrados e facilmente reconhecíveis para o grande público e há os “descartáveis”, aqueles que ninguém liga muito e que fracassam pela falta de qualidade ou de atrativos. E há um outro conjunto de jogos que não são lá tão conhecidos, mas conquistaram uma legião de fãs que permanece fiel até hoje. Rogue Trooper, lançado em 2006, pode ser considerado um bom exemplo dessa terceira categoria, e é sua nova versão que vamos analisar agora.
Rogue Trooper Redux é basicamente a versão remasterizada para a geração atual do game de 2006, com texturas em alta definição, alguns ajustes em detalhes, mas pouco diferente em termos de jogabilidade. Dentro de sua proposta, é um dos mais tradicionais jogos de ação em terceira pessoa, e um dos pioneiros no uso de recursos como cobertura e furtividade em jogos do gênero, valorizando a estratégia sem abrir mão daquelas doses cavalares de adrenalina e tiroteio.
Uma história de vingança
O game — adaptação de uma história em quadrinhos que é igualmente desconhecida e ao mesmo tempo cultuada — acompanha Rogue, um dos últimos sobreviventes de uma espécie de soldados criados geneticamente em uma guerra civil em Nu-Earth. Rogue está em uma clássica jornada de vingança contra aquele (ou aqueles) que traíram seu exército, causando quase um genocídio. No seu caminho, uma verdadeira legião de inimigos armados até os dentes.
Considerando o contexto de uma guerra aberta entre sul e norte, com duas facções muito bem determinadas e convenientemente separadas e guerreiros criados geneticamente, com aparência muito similar entre eles e com objetivos claros –, o game parece uma mistura entre os eventos da Guerra Civil norte-americana com a treta dos Stormtroopers de Star Wars: Clone Wars. Acrescente a essa mistura uma jornada solitária no melhor estilo Comando Para Matar e pronto: temos o plot de Rogue Trooper Redux.
Ninguém fica para trás!
Ainda que a jornada de vingança solitária seja meio batida, um dos grandes diferenciais aqui é que, mesmo sozinho, Rogue está muito bem acompanhado. Não, não é um paradoxo, nem uma reflexão existencial. É simples: em seus equipamentos, Rogue equipa chips com a personalidade e a consciência de três dos seus companheiros mortos — afinal, eles são todos clones, cada um com um chip “de inteligência” sob a pele.
Além dos bons diálogos durante a jornada, esses partners também ajudam bastante ao longo da jornada, já que algumas atividades como uma arma que dispara sozinha ou um capacete que hackeia portas são fundamentais para o avanço do protagonista.
A narrativa conte com alguns pontos de virada — todos bem clichês hoje em dia, mas talvez nem tanto lá em 2006, com um traidor que vira a casaca, o herói inesperado que surge para salvar o dia, e tudo mais que já foi visto em outros filmes e games.
Na prática, essa versão Redux não muda nada da trama original, ou seja, é um pouco datada, mas que faz parte do que tornou o game emblemático, ainda que com sua dose de clichês. É uma linha temporal simples e direta de eventos que funcionam para conectar missões cheias de tiros e explosões.
Sempre em frente!
Em termos de jogabilidade, Rogue Trooper Redux é bastante funcional e apresenta uma gama interessante de possibilidades ao jogador. Ainda que haja aqui e ali missões que são bastante específicas sobre como se deve abordar o inimigo, no geral há muita abertura para o jogador agir de acordo com suas preferências: do tático que prepara todo o ambiente a seu favor com uma estratégia bem desenhada ao Rambo que chega atirando em tudo o que se mexe até que não sobre nada em pé, em Rogue Trooper Redux tudo é possível.
O jogo ainda oferece um arsenal bem respeitável, e funciona muito bem com a arma principal servindo tanto para combates frenéticos como para tiros a distância. Nada de ficar carregando uma arma só para momentos de sniper, portanto. A mesma arma é dinâmica nessa troca de estilos. E ainda há outras das mais emblemáticas, como o bom e velho lança-mísseis ou a sempre útil pistola com silenciador.
O mesmo acontece com granadas, que podem ser feitas e melhoradas em diferentes estilos: a incendiária, a explosiva, a adesiva, e assim por diante. Tudo com um sistema de melhorias e níveis bem simples e generoso, acompanhando a evolução narrativa e também da experiência do próprio jogador. Há ainda algumas funções muito bem-vindas, como gerador de hologramas, silenciadores e outras traquitanas úteis quando a coisa começa a esquentar.
Gameplay old school
Tudo é ótimo, mas a questão é que a remasterização acabou mantendo o sistema de combate quase intocado e este, por mais funcional que seja, demonstra os sinais da idade. A movimentação é pouco fluida, o sistema de cobertura é bastante raso e o uso das granadas nem sempre responde ao que se espera. Um exemplo disso é poder se esconder atrás de um pilar, por exemplo, e mesmo com a mira apontando para a cabeça do inimigo, o tiro simplesmente não fica disponível. Pior é que não se pode atirar granadas dentro da cobertura. Ou seja, para preparar e arremessar, é necessário ficar exposto aos tiros inimigos.
Assim, jogos mais recentes como Uncharted e Gears of War superam com muita facilidade o sistema de Rogue Trooper Redux — que merece seu mérito por ter sido um dos pioneiros do gênero. O fato é que ele ganhou uma bela repaginada visual, mas que infelizmente manteve suas mecânicas um pouco travadas intactas. Soma-se a isso o fato de muitas vezes a câmera se posicionar atrás do personagem impedindo o disparo no inimigo, mesmo ele estando a sua frente (já que o cursor da mira some e, sem ele, o personagem não atira). Portanto, é possível que jogadores menos ligados a nostalgia se sintam irritados com erros assim.
De qualquer forma, é um jogo muito divertido e despretensioso que sabe usar muito bem os recursos que tem. No momento em que o jogador releva os probleminhas e se acostuma com esses pontos um tanto problemáticos da jogabilidade, ele acaba aprendendo a lidar com essas limitações de formas criativas e isso ajuda no aprendizado e no amadurecimento durante a jornada, ainda que seja inevitável um morte ou outra decorrente de uma falha de câmera em um momento crucial.
Roupa nova, mas nem tanto
Obviamente que uma remasterização de um jogo de duas gerações atrás — cujo padrão de definição era o SD – marca de forma muito evidente as diferenças visuais, com modelos mais definidos e texturas refeitas com um nível de detalhamento maior e mais notável. E Rogue Trooper Redux não faz feio nesse sentido. Ao contrário, é um game que ficou muito bonito e que funciona muito bem em alta definição.
Ainda assim, continua sendo um game antigo que passou por um “banho de loja”, o que significa que as limitações continuam lá. Assim, os cenários são simplificados, mesmo quando dentro de instalações cheias de aparatos tecnológicos. Montanhas, paredes e ambientes são bastante simplificados e há as boas e velhas paredes invisíveis aqui e ali. É um jogo cujo espaço é amplo, com variedade de cenários, e exatamente por isso, concebido para ser otimizado. Ainda que tenha sido retrabalhado, as limitações estão todas lá.
Portanto, não espere cenários deslumbrantes, mas amplos e funcionais. Os personagens, por sua vez, estão bem melhores do que a versão original e ganharam um tratamento mais robusto, seja na textura de pele, seja nos adereços. As animações não são tão fluidas como a geração atual permite e as expressões faciais em diálogos são bastante tímidas.
Nada disso tira o brilho ou o estilo do game, mas certamente ele não é um dos games mais belos disponíveis, mesmo entre as remasterizações. Pegue a coletânea remasterizada da série Crash Bandicoot, por exemplo (cujo primeiro jogo é 10 anos mais velho que o Rogue Trooper original), e a diferença de qualidade é gritante.
Um acerto é o bom trabalho feito com a trilha sonora do game. Tiros e explosões são bem funcionais, a dublagem canastrona típica de filme B de ação também é presente e a banda musical é das mais legais, mesmo que com o tempo se torne um pouco repetitiva. Ela acaba guiando a ação e ajuda a subir a adrenalina em momentos mais tensos e a desacelerar nos intervalos entre um área de ação e outra. Como um todo, o departamento sonoro do game funciona e traz uma ótima mixagem sem inventar demais sobre o material original.
Conclusão
Como um todo, Rogue Trooper Redux é uma remasterização honesta, cheia de qualidades e com alguns defeitos oriundos de uma época mais simples e menos exigente. Dada a escassez de jogos mais “direto ao ponto” que reina hoje em dia, o game é uma aventura simples e e direta, e é muito bem-vindo para um público que é fiel ao original e até mesmo para quem não conhecia a versão de 2006.
A vantagem do game é a sua simplicidade e o carisma de um herói brutamontes e cheio de testosterona. Não há melindres ou muitos desvios do simples e constante objetivo de sair eliminando os inimigos, explodindo instalações e destruindo tudo no caminho.
Em uma época onde quase todo jogo se leva a sério demais e/ou almeja ser um RPG de mundo aberto, um jogo mais direto e descompromissado é sempre bem-vindo. Se você está em busca de ação pura e simples regada a tiroteios e muitas explosões, Rogue Trooper Redux vai te agradar. As vezes, tudo o que a gente quer é atirar e sair correndo.
Rogue Trooper Redux está disponível para Playstation 4, XBox One, Nintendo Switch e PC. Além da campanha, o game também conta com um promissor modo online, que infelizmente não conseguimos testar para essa review já que jogamos antes do lançamento e, por conta disso, os servidores estavam vazios.