Análise Arkade: South Park: A Fenda que Abunda Força tem peidos, super-heróis e altas aventuras
Depois de alguns perrengues, South Park: A Fenda que Abunda Força enfim foi lançado, e traz humor irreverente, peidos para todo lado, batalhas por turnos e muito mais, confira nossa análise!
A brincadeira agora é outra
Quem jogou o excelente South Park: The Stick of Truth deve se lembrar que, naquele jogo, a criançada de South Park estava envolvida em um imenso RPG da vida real com temática de fantasia. havia magos, cavaleiros, princesas e elfos lutando pela posse do Cajado da Verdade — que nada mais era que um galho qualquer.
Desta vez a brincadeira é essencialmente a mesma, mas a temática é outra: Cartman decidiu que é hora de brincar de super-herói, vestiu seu traje de Guaxinim e vai mobilizar toda a criançada para um embate digno da eterna treta Marvel X DC.
O objetivo aqui não é lá muito nobre: de um lado temos Guaxinim & Amigos; do outro, os Amigos da Liberdade. Ambos querem encontrar um gato desaparecido e usar a grana da recompensa (100 dólares) para iniciar sua própria mega-franquia cinematográfica! Claro que logo eles acabam descobrindo que o sumiço dos gatos envolve algo bem pior do que parece, mas na prática a criançada só quer mesmo sair no meio da noite para brincar de super-herói.
Este ar de brincadeira continua sendo um dos méritos do game: é simplesmente muito legal a forma como elas “entram no clima”, com jargões, super poderes e identidades secretas. Mas, da nossa perspectiva, tudo cai por terra quando vemos, por exemplo, uma batalha “épica” sendo interrompida porque os moleques precisam sair da rua para um carro passar, ou quando vemos que a lava que não nos deixa passar é basicamente um punhado de pecinhas de Lego vermelhas.
Todo mundo já foi criança e sabe como boa parte das brincadeiras rolava mesmo é dentro da cabeça da gente. Os games de South Park transmitem esse feeling com muita competência, e apesar da criançada estar o tempo todo com smartphones na mão, tirando selfies e falando palavrões, eles ainda sabem ser crianças como éramos antigamente.
Desnecessário dizer que o game é totalmente impróprio para menores: tal qual a série de TV, os diálogos são extremamente ácidos, cheios de palavrões e muito humor negro. Há toneladas de piadas sexuais, escatologia e conteúdo controverso que pode até ser meio chocante. É bonitinho, parece pra criança, mas não é. Acho absurdo ter que informar isso, mas vai que tem alguém aí que não conhece South Park, né?
O poder do peido
Como no primeiro jogo, não assumimos o controle de nenhum dos garotos conhecidos, mas do “new kid”, o novato da vizinhança, que acaba sendo apadrinhado por Cartman e ganha uma backstory heroica de muito mal gosto — afinal, todo super-herói precisa de um trauma que motive suas ações, certo?
Já de cara podemos escolher uma classe de personagem, mas este jogo é muito mais liberal neste ponto: no decorrer da campanha, mais classes vão sendo liberadas, e você pode equipar até 3 delas ao mesmo tempo, misturando seus poderes e customizando seu arsenal. Se enjoar, basta falar com Cartman para mudar suas classes, sem penalidades. É meio estranho, mas não deixa o jogador engessado em apenas uma classe, de modo que você pode conhecer os poderes de todas em apenas uma campanha.
Independente das classes que escolher, seu maior poder será o peido: através de mini-games e quicktime events você liberará toda sua fúria anal na forma de gases tão poderosos que são capazes de romper a barreira do espaço-tempo, o que lhe concede fantásticas habilidades como pausar o tempo ou mesmo “rebobinar” alguns segundos, o que inclusive anula a última ação do turno adversário!
As novidades
A nova temática, as novas classes e poderes não são as únicas novidades do game: em termos de gameplay, o destaque vai para o novo sistema de combate, que ainda é por turnos, mas agora também incorpora elementos como alcance de ataques e movimentação em quadrantes.
Na prática, isso torna as batalhas ainda mais estratégicas, e pode acontecer de você ter que usar alguns turnos apenas se movendo, a fim de ficar em uma posição favorável para desferir seus ataques.
Confira uma batalha completa no vídeo abaixo:
Isso é apenas o básico, pois há muitas magias e summons que podem ser desbloqueados, e é um mais zoado do que o outro. Além disso, algumas batalhas têm “condições especiais”, como uma que rola em uma casa de striptease, na qual você deve dar cabo das strippers enquanto foge de uma enorme stripper gordona que quer te esmagar sentando em cima de você!
Outra novidade são as selfies: se no primeiro jogo tínhamos uma interface parecida com o Facebook, aqui o esquema é o Instagram — ou melhor, o Coonstagram. Tirando selfies com os outros personagens você vai angariando reputação, que é convertida em pontos de experiência e liberam upgrades para seu personagem. O detalhe é que diversos NPCs só vão aceitar tirar uma selfie contigo depois que você já for popular o bastante, ou se você cumprir alguma sidequest para eles.
Ah é, há muitas sidequests aqui, que vão te levar para todos os cantos da cidade. O mapa é basicamente o mesmo do primeiro game, mas como o jogo meio que se divide em dias — as missões principais quase sempre rolam à noite, quando a molecada foge de cada para virar herói –, sempre há algo de novo ou bizarro acontecendo em algum lugar.
Nem todas as novidades são tão boas: o jogo força a barra nos quick time events, em alguns casos envolvidos em mini-games que provavelmente eram engraçados na cabeça dos desenvolvedores, mas não são tão legais na prática. Por exemplo, você pode cagar em praticamente todas as privadas da cidade, mas isso envolve um QTE de girar as alavancas analógicas e pressionar sequências de botões que logo se torna chato. Na já mencionada boate de striptease, um controverso mini-game de lap dance também exagera nestas mecânicas.
Gravei esse mini-game da boate, confere aí:
Fora isso, acho que esta sequência não parece um jogo realmente novo: tudo é tão parecido que fica a impressão que estamos jogando um mod do primeiro game, com skins diferentes. Ok, a história é outra, as missões são outras, o combate mudou um pouquinho, mas no geral tudo é bastante familiar: você vai explorar a mesma cidade, cumprir missões, coletar tranqueiras para montar itens e adereços para mudar seu visual. Isso não chega a ser um problema dada a qualidade de ambos os games, mas não se pode negar que o frescor de novidade que marcou o primeiro jogo não existe aqui.
Audiovisual
Aqui não há do que reclamar: jogar South Park: A Fenda que Abunda Força é como participar de um episódio gigante do desenho. O visual é absolutamente fiel ao desenho, e ainda que o humor no geral funcione para todos, há toneladas de referências que só os fãs da série animada irão pegar.
Sempre pensando em agradar o público brasileiro, desta vez a Ubisoft traz o game dublado em português brasileiro pelo mesmo time que dubla a animação. Estou acostumado com as vozes originais dos personagens então mantive minhas dublagens em inglês, mesmo, mas pelos vídeos dublados em PT-BR, o trabalho parece de altíssima qualidade.
Se quiser tirar suas conclusões, confira um trailer dublado abaixo:
Ah e vale ressaltar que o jogo vem com um bônus maneiríssimo: quem comprar o game para qualquer plataforma nesta época pós-lançamento leva na faixa um código para baixar o primeiro jogo, The Stick of Truth, ou seja, são dois jogos excelentes pelo preço de um!
O brinde vale tanto para mídia física quanto para digital, mas o código só pode ser resgatado até 31 de janeiro de 2018, ou seja, se quer garantir o seu combo de South Park, não espere muito para comprar A Fenda que Abunda Força!
Conclusão
South Park: A Fenda que Abunda Força é um RPG incrível, que adapta com perfeição o humor escrachado e controverso do desenho animado para o mundo dos games. A campanha é longa e, embora a história em si seja meio bobinha, o carisma dos personagens e as situações bizarríssimas em que eles se metem são motivos mais do que suficientes para você continuar jogando.
A Ubisoft pode não ter sido muito ousada nesta sequência, mas mesmo assim arranjou espaço para acrescentar algumas novidades. Nem todas são boas, mas o conjunto da obra é um ótimo RPG, desbocado e peidorrento, que é gostoso de jogar e vai te arrancar muitas risadas.
Pessoalmente, acho que o jogo tem ainda mais valor por se manter tão fiel ao gênero RPG por turnos. Em minha análise do excelente Battle Chasers Nightwar eu comentei como este gênero anda meio sumido — quase todo RPG quer ser jogo de ação em mundo aberto hoje em dia –, então é delicioso ver que um jogo que poderia funcionar de diversas outras maneiras (inclusive como um jogo de ação) se mantém fiel ao estilo por turnos “de raiz”, desta vez ainda com o plus da movimentação em quadrantes e ataques em área.
Se você curtiu o primeiro game, não tem nem que pensar duas vezes: tire as crianças da sala e prepare-se para “altas aventuras ao lado de uma turminha da pesada”. E se você não jogou o primeiro, bom, então aproveite a promoção e leve os dois logo de uma vez!
South Park: A Fenda que Abunda Força foi lançado em 17 de outubro, com versões para PC, Playstation 4 e Xbox One. O jogo está 100% em português brasileiro.