Análise Arkade: O belo mundo de magia de Nine Parchments

5 de janeiro de 2018

Análise Arkade: O belo mundo de magia de Nine Parchments

Definitivamente, o mundo da magia e da fantasia está vivendo um dos seus melhores momentos na história da cultura pop. Não só por fenômenos populares como as franquias O Senhor dos Anéis e Harry Potter retornando ao cinema ou Game of Thrones na TV, mas por toda uma cultura nerd que ama viver esses mundos fantásticos.

A Frozenbyte, tal como tantas outras desenvolvedoras e produtoras, sabe que não é somente em universos bilionários que está essa paixão e soube criar um universo belo e imersivo na trilogia Trine, que conseguiu não só explorar esse encantamento do público que buscava, como também criar uma assinatura muito particular.

Análise Arkade: O belo mundo de magia de Nine Parchments

Nesse contexto, apresenta agora Nine Parchments, um game de visão isométrica (no melhor estilo Diablo) no formato twin-stick shooter, com elementos clássicos de action RPG e de fantasia medieval.

Com um visual absolutamente espetacular e um sistema de jogabilidade bastante acessível, o jogo é mais ousado e audacioso que as aventuras anteriores da desenvolvedora. Importante entender se ele consegue se sustentar nesses dois pilares essenciais e fazer valer o universo que apresenta ao jogador.

Análise Arkade: O belo mundo de magia de Nine Parchments

Um mundo cheio de beleza e perigos

O grande trunfo de um mundo de fantasia para se sustentar é a profundidade e as diferentes camadas daquele universo. Em qualquer das franquias mais conhecidas e mais queridas do público, há milhões de possibilidades narrativas a serem exploradas.

Contudo, o foco de Nine Parchments nesse aspecto é bastante modesto. O plot narrativo do jogo, inclusive, é bastante simplório, apresentando uma escola de magia que, por descuido de seus estudantes, acaba espalhando pergaminhos mágicos por todo canto e cabe ao jogador resgatar esses documentos especiais.

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Na prática, o artifício mais simples para uma jornada épica: coisas são perdidas em diferentes lugares e é necessário juntá-las de novo. E pouco — ou quase nada — é adicionado a essa história enquanto se joga, ficando claro que a intenção é apresentar uma justificativa rasa para o que importa, que é a ação mágica.

Aí talvez esteja um dos equívocos da produção. Ainda que os eventos narrativos não precisem ser sempre o foco de uma aventura, mesmo com elementos de fantasia e mitologia medieval, a escolha por não dar profundidade ao mundo e aos personagens os torna genéricos e esquecíveis. Por consequência, a imersão se compromete.

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Partindo para o desconhecido

Quando decide ir diretamente para o que importa, o game é muito bem sucedido em encantar logo nos primeiros minutos. O jogador — sozinho ou acompanhado de até 3 companheiro(s) tanto online quanto localmente — já se depara com uma arte encantadora e com possibilidades de magia e de movimentação muito intensas.

São poucas as vezes que um jogo, logo de cara, já oferece uma gama ampla de magias equipadas e dominadas para serem utilizadas. Desde os primeiros momentos, cada personagem já equipa três tipos de habilidades, sejam magias de ataque ou de defesa.

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A princípio, são dois personagens disponíveis, cada qual com características particulares. Ao longo da jornada, cada jogador vai liberando novos bonecos para escolher, bem como adereços, magias e habilidades. Há um sistema bastante diversificado nesse sentido, e demora um pouco para se entender como utilizá-lo melhor.

Nine Parchments explora um quesito já bastante surrado, que é o de elementos essenciais de magia. Desde Pókemon a Dragon Age, é quase que natural e de conhecimento comum saber que alguns elementos são mais efetivos que outros contra certos inimigos.

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Em outras palavras, um ataque de fogo pode ser bastante eficaz contra um certo tipo de inimigo e totalmente descartável contra outro, as vezes na mesma horda de inimigos. Assim, saber mapear as magias que vai utilizar, considerando inclusive seus parceiros é fundamental para a vitória.

Infelizmente, a mecânica de navegação entre as diferentes habilidades equipadas não é tão dinâmica como poderia. Ainda que o costume possa deixar tudo mais confortável, é inevitável pensar que seria muito mais fácil distribui-las para botões diretos do que adicionar um menu de acesso a elas, principalmente com um sistema de combate em tempo real.

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Ainda assim, a diversidade e a customização são muito divertidos, principalmente e sobretudo quando se joga acompanhado. Na verdade, fica claro que é um game que espera uma jornada colaborativa, já que muitos aspectos funcionam melhor quando compartilhados (assim como em Trine).

Um exemplo claro é a soma de magias. Como em Magicka, quando se cruza uma rajada com outra, elas se unem e, inclusive, se angulam de acordo com a posição dos personagens. Isso funciona inclusive com inimigos. Ou seja, é possível disparar um raio que desvie o do inimigo, por exemplo, ou que se una ao do amigo para um ataque conjunto mais poderoso, que combine poderes elementais diferentes.

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Visualmente, inclusive, isso é fantástico. É muito divertido combinar ataques dentro do jogo, ou mesmo utilizar isso para defender amigos. Claro que tudo depende de muito treino e sincronia, já que fazer isso indiscriminadamente surte efeitos contrários, como atrapalhar o combate alheio e até atingir aliados. Mas, se bem feito, funciona, e agrega um fator estratégico aos combates.

Além disso, e da diversidade de magias maior quando jogado em mais pessoas, o próprio jogo acaba ficando mais enfadonho e repetitivo quando se joga sozinho. Claramente, portanto, ainda que ofereça a oportunidade de se aproveitar o game single-player, Nine Parchments foi planejado para o multiplayer.

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Com uma dificuldade que sobe rapidamente, o game convida para a jornada, mas exige bastante para isso. Falhar é comum é recomeçar também. Pena que o lore criado não seja tão sedutor quanto a jogabilidade compartilhada. Talvez até para dinamizar a comunicação e a jogatina de várias pessoas. Mas faz falta.

Cada vez mais lindo

Mesmo sendo uma produção de menor orçamento se comparado a jogos da lógica AAA, não há do que reclamar do game em termos audiovisuais. Ao contrário, assim como estabelecido por Trine, Nine Parchments consegue valorizar o trabalho artístico de forma intensa. E ele sabe que é lindo, já que fica se expondo o tempo todo.

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O mais incrível é que o jogo consegue manter esse fascínio ao longo do tempo, já que detém uma série de elementos que vão ficando ainda mais interessantes quando se presta atenção novamente. É como se camadas fossem se revelando e a cada novo olhar, a cada nova incursão; o jogo fica mais bonito a cada vez que se joga.

Isso graças a uma criação estética que gosta de lidar com a incidência de luz no ambiente de forma complexa e viva, o que fica ainda mais intenso quando mudamos de ambientação, indo de desertos escaldantes e com uma fotografia quente e saturada para ambientes noturnos, frios e misteriosos.

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Ainda que os inimigos não sejam lá os mais originais – escorpiões, lagartos, goblins e outras figuras clássicas estarão lá – a composição visual consegue se mostrar única. O espaço cênico consegue ser mutante dentro de cada fase, fluindo bem entre as diferentes fotografias. É quase como se o mundo mudasse de estação no decorrer da jornada.

Tudo isso junto com uma trilha sonora bastante clássica em termos de fantasia medieval. Espere por músicas instrumentais naquela toada celta épica e efeitos do tipo shinning para magias e ruídos de ambientação. Tudo muito suave e lúdico, soando como a aventura leve proposta.

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Como um todo, há um clima poético quase de sonho, que funciona bem mesmo que, na hora do quebra-pau, o jogo não se comporte com essa leveza toda. É um trabalho muito consistente, como os anteriores da Frozenbyte, e rico em detalhes e em belezas pouco vistas mesmo em produções mais ousadas.

Conclusão

Nine Parchments é, definitivamente, um jogo bastante seguro e pouco inventivo, se apropriando de coisas que já vimos em tantas outras produções. Muitos vão se lembrar quase que imediatamente da franquia Magicka, só para ficar no exemplo mais óbvio. Mas nem por isso, é menos valoroso. Ao contrário o faz muito bem.

Análise Arkade: O belo mundo de magia de Nine Parchments

É um jogo desafiador, feito para o multiplayer, mas mais que isso, para a colaboração. Não é simplesmente “fique com a metade de cá da tela que eu fico com a metade de lá”, como acontece em outros games. O game valoriza o trabalho em equipe e as estratégias coletivas, e parece desenhado para múltiplas abordagens.

Tem uma mecânica um pouco truncada demais por adicionar menus de seleção de magia ao invés de mapear comandos de forma mais ágil, mas essa percepção pode ser muito mais pessoal do que um critério de qualidade. Ao mesmo tempo, encanta com uma direção de arte e de fotografia primorosos e dignos de elogios.

Nine Parchments está disponível para PC, Playstation 4, XBox One e Nintendo Switch. o jogo está totalmente em inglês (com localização de textos para outros idiomas, mas não o português).

Paulo Roberto Montanaro

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