Cine Arkade Review – Jumanji: Bem-vindo à Selva
Jumanji, originalmente um livro infantil escrito e ilustrado por Chris Van Allsburg, em 1995 se tornou filme homônimo protagonizado por Robin Williams. Em Jumanji: Bem-vindo à Selva temos uma releitura do longa-metragem atualizando seus conceitos e adequando a linguagem para uma nova geração. Será que funciona? Vamos descobrir!
As ponderações a seguir não vão traçar paralelos com o filme antigo, pois essa nova interpretação de Jumanji deve funcionar por si só, como um produto fechado de entretenimento não necessitando de conhecimentos prévios para aproveitar a experiência.
Porém, vale destacar que, no primeiro filme, a interação com elementos sobrenaturais se dava através de um jogo de tabuleiro. Em 2018, o tabuleiro dá lugar a um cartucho de videogame, que transporta os protagonistas para uma floresta extremamente selvagem em algum lugar daquele mundo fictício, logo depois dos jogadores escolherem seus avatares na tela de seleção de personagens.
O roteiro é extremamente inteligente na cena inicial, que estabelece uma das regras básicas daquele universo: o jogo Jumanji possui algo extraordinário e quem o jogar será transportado do mundo real para algum lugar indefinido. Não há nenhuma tentativa de explicação desse fato, apenas acontece. É vago, mas expositivo o suficiente para causar uma compreensão de tudo que o espectador precisa saber.
Logo em seguida somos apresentados aos personagens principais, Spencer, Fridge, Bethany e Martha, cada um com seu estereótipo, mas que de certa forma evoluem em suas construções durante o filme. Spencer é o clássico nerd, Fridge é o esportista, Bethany é a garota popular/superficial e Martha é aquele tipo de pessoa que prefere ser indiferente com o mundo para não se decepcionar, mas todos esses conceitos não são perpetuados sendo apenas a “ficha técnica” de cada personagem.
Os vemos no começo e no final do filme, inicialmente para conhecer suas características próprias e identificá-las nos avatares do game e no fim para presenciar suas mudanças de personalidade depois da experiência em Jumanji. Tirando essas cenas que não duram muito tempo não há grande destaque para os jovens atores durante os 112 minutos do filme.
Os papéis de Dwayne Johnson, Jack Black, Karen Gillian e Kevin Hart por sua vez, são muito bem executados e há uma boa química entre eles. Os avatares se apropriam dos estereótipos citados anteriormente e constroem uma persona que inevitavelmente se torna engraçada.
Há um fácil entendimento do mundo de Jumanji quando sua estrutura é exatamente como a de um game. Há um começo em que o objetivo é pautado, a seguir vem “a primeira missão” e assim sucessivamente até o ponto final da jornada. O humor é competente e arranca alguns sorrisos, porém, há um problema na repetição das piadas, porque em certos momentos elas quase se sobrepõem. É engraçado, mas praticamente não existe tempo para se respirar entre esses momentos.
O vilão do filme fica recluso ao pano de fundo e não tem nenhum peso na história, servindo apenas como artifício para alguns desenvolvimentos dos personagens. Ele não é um construto com personalidade, simplesmente existe, está ali e tem um objetivo, mas não há nenhuma grande trama em seu envolto.
A história em si também é um pano de fundo para as cenas de aventura e comédia, especialmente porque a missão de Spencer e sua turma é basicamente sair do mundo de Jumanji, terminando as fases e consequentemente sua campanha. E a história do jogo em si trata-se de levar um artefato até determinado local para estabelecer a ordem naquele mundo.
No aspecto técnico a direção e trilha sonora não são marcantes, mas em contraponto o CGI utilizado é bem competente e a própria proposta absurda do filme ajuda, pois o mundo é permissivo e isso torna as cenas de ação bem divertidas. O roteiro de Chris McKenna (Erik Sommers, Scott Rosenberg, Jeff Pinkner – também creditados) mesmo não sendo baseado diretamente em um produto que é um videogame consegue realizar uma transposição fiel do que é um game em sua essência.
Jumanji: Bem-vindo à Selva é muito familiar para quem gosta de videogames. Há NPCS que dão instruções e os próprios protagonistas fazem piada com isso. Os personagens não jogáveis deferem uma frase e em seguida a repetem porque sua programação se limita a isso, como em jogos antigos (ou de orçamento apertado). Há uma barra de status que mostra suas habilidades e fraquezas e isso é explorado durante a aventura. Por fim, mas não menos importante, as vidas são limitadas como na maioria dos jogos, e isso tem importância na narrativa e na construção dos conceitos do filme.
A lição interessante de Jumanji, apesar de piegas, é que os personagens descobrem que muitas coisas são possíveis se nos despirmos de estereótipos. Ao sairmos de nossa zona de conforto, pode haver uma estranheza inicial, mas também há recompensas valiosas pela jornada. É claro que essas questões ficam mais implícitas no subtexto da produção e não acredito que devam ser problematizadas porque essa não é a meta do filme, mas é interessante pinçar ao menos algumas reflexões dentro de um produto evidentemente criado para ser um entretenimento pipoca.
Há alguns excessos em vários segmentos, como por exemplo o fato do filme ser muito dinâmico em explicar as regras do mundo, mas ao mesmo tempo ser muito expositivo/narrativo em certas partes. Os heróis falam, fixam e reiteram certas coisas e isso faz com que ritmo da história seja afetado, especialmente porque há basicamente um cenário (a selva) e o que deveria quebrar essa linearidade, as piadas e a ação, acabam também por se repetir. Tudo parece estar dentro do mesmo ato, sem uma evolução muito pronunciada de lugares e situações.
Para finalizar Jumanji: Bem-vindo à Selva é uma produção minimamente interessante nesse início de ano que cumpre seu papel de entreter. Há elementos familiares para quem gosta de videogames, mas também boas explicações sobre as regras daquele mundo para quem não gosta. O saldo final tende a ser positivo. De forma alguma a roda é reinventada, mas dentro de sua proposta Jumanji diverte e entretém.
Jumanji: Bem-vindo à Selva estreou oficialmente no Brasil em 04 de janeiro de 2018.