Editorial: o fenômeno PUBG ou “o que fazer quando não gostamos do jogo do momento?”
Em 2017, houve um fenômeno no mundo dos games. Um fenômeno chamado Playerunknown’s Battlegrounds. Eu joguei muito PUBG, primeiro no PC, depois também no Xbox One. Joguei sozinho, joguei com amigos, joguei e joguei. E ainda não consigo gostar dele.
2017 foi um ano um tanto atípico para mim. Salvo raríssimas exceções, eu geralmente me empolgo com os principais lançamentos de games, e jogos que estão no hype costumam chamar a minha atenção. Aí veio PUBG Playerunknown’s Battlegrounds.
Se você não mora em uma caverna, provavelmente sabe o que é Playerunknown’s Battlegrounds: um game de tiro e sobrevivência no estilo Battle Royale, onde 100 jogadores pulam de paraquedas em uma ilha, e só um pode acabar vivo no final, para ser o “Winner Winner Chicken Dinner” da partida.
Ainda que seja possível equipar seu personagem com diferentes roupas, cortes de cabelo e acessórios, todos começam as partidas sem armas, de modo que os primeiros minutos de jogatina envolvem a exploração do mapa em busca de armas e equipamentos que possam ajudar em sua missão de sobrevivência.
E quando falo em “equipamentos que possam ajudar em sua missão de sobrevivência”, pode deixar a imaginação fluir: até uma frigideira acaba sendo uma grande aliada, pois quando carregada nas costas, protege a retaguarda de seu personagem de tiros e golpes.
Sobrevivendo em PUBG
Ainda que o jogo não conte com animais selvagens te atacando, nem nada do tipo, os outros 99 jogadores espalhados pela ilha não serão o seu único problema: há bombardeios e bolhas elétricas que aos poucos vão reduzindo a área de jogo, para deixar os últimos sobreviventes cara-a-cara na reta final das partidas.
Jogar PUBG acaba tornando-se uma tarefa sistemática: por mais que a distribuição de armas e equipamentos pelo cenário seja aleatória, o mapa em si é sempre o mesmo (no PC só são dois mapas, e no Xbox One apenas 1), tornando possível ao jogador mais empenhado memorizar os locais mais propícios para o surgimento de armas e equipamentos melhores — como a prisão, por exemplo –, ou até mesmo estudar as possíveis posições iniciais nas quais os veículos utilizáveis têm mais probabilidade de aparecer.
Existem dezenas de sites e vídeos compilando dicas de gameplay e sobrevivência pela internet, então eu não vou entrar neste mérito, até porque minhas estatísticas do game mostram que eu não sou lá um perito no assunto. O intuito deste texto é apenas ser um desabafo opinativo para o caso de você, assim como eu, estar na difícil situação de não gostar do jogo mais comentado dos últimos tempos.
PUBG Playerunknown’s Battlegrounds tornou-se um fenômeno no Twitch, e em poucos meses criou todo um ecossistema de ídolos e fãs dedicados, que passam horas transmitindo/assistindo partidas online. Eu não faço parte desta “geração Youtube/Twitch“, mas pelo simples fato de o jogo ter se tornado tão “trending”, eu fui levado a crer que não tinha como eu não gostar dele.
Eu estava errado
Eu entendo parte do hype em torno de PUBG. Ele é um jogo diferente e embora não tenha realmente iniciado o gênero Battle Royale nos videogames — mods de H1Z1 e Arma já ofereciam experiências semelhantes –, foi o game que popularizou o formato, e já há outros jogos pegando uma carona neste sucesso para aproveitar o timing.
Eu joguei várias horas de PUBG na Steam no decorrer de 2017, e nas últimas semanas, também passei um bom tempo com a versão Xbox One X do game. E não consegui me divertir realmente com nenhuma delas. Entendo que o conceito “100 jogadores, só 1 pode sair vivo” do game é interessante, mas na prática isso simplesmente é bem menos emocionante do que parece.
Para começar, a ilha (mapa principal do jogo, o deserto só chegou aos PCs recentemente) é absurdamente grande, de modo que é bem comum você passar vários minutos indo para lá e para cá sem sequer encontrar outro jogador. Isso até pode ser considerado bom, pois a chance de morrermos diminui… mas, em contrapartida, também diminui a probabilidade de matarmos alguém ou fazermos algo mais interessante do que ficar abrindo portas e pilhando casas.
O que nos leva a outro ponto curioso: é mais fácil ficar vivo se escondendo do que partindo para o combate. Eu não tenho vergonha em assumir que não consegui ser o “Winner Winner Chicken Dinner” nenhuma vez, mas consegui ficar entre os 10 últimos sobreviventes mais de uma vez sem fazer nada além de me esconder e rastejar, tendo a sorte de não dar de cara com nenhum outro jogador enquanto me locomovia em campo aberto.
Para alguns, isso pode ser “estratégia”, para mim foi apenas chatice. Eu não consegui me divertir fazendo isso, e, embora a imprevisibilidade de PUBG seja aditiva para alguns, para mim sempre pareceu que o jogo envolve muito mais sorte do que habilidade. Sorte de quem consegue armas melhores primeiro, azar de quem dá de cara com um adversário melhor equipado nos primeiros minutos de jogo.
Isso é o oposto do que acontece em jogos tipo Call of Duty, por exemplo, em que todo mundo já chega equipado e a gente mal respawna e já está tomando tiro sem nem saber de onde. Em PUBG, eu passei mais tempo rastejando e explorando do que dando e/ou tomando tiro, e boa parte das minhas mortes foi por não ter alcançado a área segura a tempo para fugir da radiação. A falta de ação acabou me frustrando mais do que morrer em 5 segundos nas arenas PvP de um shooter tradicional.
Aliás, vamos falar de frustração: certos jogos causam frustração quando morremos, outros (tipo esse, por exemplo) deixam aquela sensação de que “foi por pouco, na próxima será melhor”. Mas PUBG não me causou nenhuma coisa nem outra. Tudo sempre parece tão aleatório que eu não conseguia necessariamente sentir que estava melhorando, só estava tendo mais ou menos sorte em cada partida.
Claro que a gente invariavelmente aprende algumas coisas — fechar todas as portas, andar agachado sempre que possível — mas isso é algo básico. A impressão que tenho na maioria das vezes é que ninguém sabe realmente o que está fazendo, e todos estão à mercê dos caprichos do acaso quando encontram um veículo ou um fuzil de precisão realmente bom.
Quero acreditar que isso não seja verdade — basta ver o tanto de listas do tipo “10 dicas para sobreviver em PUBG” para percebermos que há muita gente que parece saber realmente o que está fazendo –, mas nas minhas partidas, nenhuma morte pareceu realmente estratégica ou planejada. E mesmo quando eu matei outros jogadores, não foi por habilidade, foi por sorte.
Um jogo meio feio
Não ajuda em nada na minha escala de (in)satisfação o fato de Playerunknown’s Battlegrounds não ser exatamente um primor técnico. Nos últimos tempos, eu joguei em 3 configurações diferentes — usando uma GTX 1050 TI, uma GTX 1080 e um Xbox One X — e em nenhuma dessas máquinas o jogo pareceu rodar de forma realmente agradável.
Ele é cheio de áreas vazias e texturas feias, que vão popando na tela conforme o jogo carrega e um framerate um tanto inconstante, independente se o VSync está habilitado ou não. Ocasionalmente ele até parece “menos feio” e entrega texturas decentes, mas na maior parte do tempo, não é nada de mais.
Sendo justo, o departamento sonoro do game é muito bem resolvido. O som das armas é extremamente realista, e a ausência de música durante as partidas permite ao jogador “mapear” o ambiente. Jogando com um bom par de fones de ouvido — estou usando o Hyper X Cloud Alpha, e recomendo –, podemos perceber pela direção do som se há inimigos por perto ou não. É possível saber até se há alguém no andar de cima de uma casa pelo som dos passos no assoalho. Nesse ponto, PUBG é bem impressionante.
Sei que o jogo acabou de sair do formato Early Access, mas ainda assim, com exceção do gameplay em si, tudo parece bem cru e mal finalizado. É uma situação completamente diferente de Fortnite, por exemplo, que também está passando por um longo período de testes, mas no geral está muito mais redondo do que PUBG.
Com tudo isso quero dizer que…
Existem jogos que agradam uns e não agradam outros, e não há nada de errado nisso. Eu mesmo não gosto de Dark Souls e acho Shadow of the Colossus tremendamente superestimado (opinião que gera revolta em fãs mais afoitos). Com PUBG, eu realmente tentei bastante, mas o jogo simplesmente não conseguiu me cativar. Mesmo trabalhando com jornalismo de games, eu ainda gosto de me divertir enquanto jogo, e isso não estava acontecendo com PUBG.
Isso quer dizer que o jogo é ruim? Claro que não. Se há 30 milhões de pessoas empolgadas jogando (e assistindo) PUBG freneticamente, significa que o jogo é bom PARA ELAS. Eu tentei, não gostei e cheguei a conclusão que o formato Battle Royale não é para mim — e isso inclui o de Fortnite, que também não me agradou. Em se tratando de jogo de tiro PvP, me divirto muito mais com Overwatch, ou mesmo com as caóticas partidas multiplayer de Titanfall 2.
Como tudo que envolve PUBG, acho que o jogo se tornou este fenômeno por um misto de sorte e acaso: ele apareceu na hora certa, foi jogado pelas pessoas certas (streamers, youtubers e influenciadores) e com isso gerou um hype absurdo. As pessoas descem a lenha em problemas técnicos e limitações de outros games — Ubisoft que o diga –, mas parecem fazer vista grossa a tudo isso quando o assunto é PUBG, e ele é cheio de falhas e bugs.
O sucesso dele já anda gerando clones, e eu não irei me surpreender se, num futuro não muito distante, ele acabar perdendo seu trono para um jogo parecido, mas tecnicamente superior. PUBG é uma boa ideia em estado bruto, e se a Bluehole e a PUBG Corp. não quiserem lapidar essa joia, certamente outros farão isso. Talvez nenhum outro jogo do tipo cause o frissom que PUBG causou, mas o mundo dos games está sempre nos surpreendendo com azarões e sucessos improváveis. O próprio PUBG é prova disso.
https://youtu.be/m0Tnp-3W3z4
P.S. Que fique claro que isto é um artigo de opinião. Você não precisa concordar comigo, mas se quiser discordar, por gentileza, faça isso com respeito aí nos comentários. Não precisa “xingar muito no Twitter“. Você pode adorar PUBG enquanto eu não gosto, e não há nada de errado nisso. Somos pessoas diferentes, com gostos diferentes. Se PUBG diverte você, continue jogando, e vida que segue. 😉
P.S.² E caso alguém diga “ué, mas como é que PUBG apareceu na lista de Melhores do Ano de vocês?”, já esclareço: nossa lista é um esforço colaborativo e democrático de toda a equipe. PUBG foi um dos melhores jogos do ano passado para outro membro da equipe, não para mim.