Cine Arkade Review – Tomb Raider: A Origem
O tempo provou de forma empírica que a maioria das adaptações de game para filme normalmente não dá certo, mas existem exceções como Silent Hill e o primeiro Resident Evil (mesmo com suas ressalvas), por exemplo. Tomb Raider: A Origem é o terceiro filme da franquia e o primeiro capítulo de um novo arco que se baseia no reboot do game de 2013.
Inicialmente vale ressaltar, especialmente para os fãs fervorosos da franquia, que o filme não é ruim. Longe disso. Trata-se de um bom filme que respeita o que foi concebido no universo do reboot. Com Direção de Roar Uthaug e roteiro de Geneva Robertson-Dwoter e Alastair Siddons, a história não é exatamente igual a do jogo, mas pega a maioria dos elementos e faz um construto semelhante que serve como referência direta e funciona da mesma forma como um produto individual de entretenimento.
Aqui Lara não é uma arqueóloga com foco em religiões orientas, mas apenas uma pessoa normal tentando pagar as contas do cotidiano. Ela ainda é da poderosa família Croft como no cânone, mas depois que seu pai, Richard, desapareceu em uma de suas aventuras Lara se recusa a assumir sua morte legalmente e por consequência não tem direito a toda a riqueza de sua linhagem.
No começo parece um pouco estranho vê-la trabalhando de entregadora de comida ou participando de atividades culturais da região para conseguir dinheiro, mas logo entendemos que existe uma camada de negação misturada com esperança e um pouco de orgulho. As coisas escalonam rápido em termos de trama, mas não tão abruptamente a ponto de parecer que há algo errado. No jogo, Lara faria parte de uma equipe que participaria de uma grande expedição na qual um documentário de um diretor de TV famoso seria gravado e no filme sua missão é tentar encontrar seu pai ou ao menos saber o que aconteceu com ele enquanto estava na ilha perdida de Yamatai.
Em ambos os casos há a procura por Himiko, uma espécie de deusa japonesa que detém grande poder. E assim como no game há uma empresa que busca explorar essa ilha e encontrar essa grande força. Um elemento muito interessante é que Lara logo no começo do filme aparece treinando em um rinque contra uma adversária e é pontuado que ela frequenta regularmente aquele lugar, então quando surgem as grandes cenas de ação existe uma justificativa para que ela saiba lutar minimamente. Praticamente todos os aspectos que poderiam gerar uma indagação como essa, que tiraria a verossimilhança, é pontuada antes de causar qualquer estranheza.
Tudo é muito bem executado em termos técnicos e o roteiro é fluido, mas existem muitos clichês de filmes de ação e aventura que fazem com que não exista grande carga dramática. Ela precisa chegar até a ilha de Yamatai, por exemplo, então é óbvio que vai encontrar alguém disposto a fazer isso mesmo que seja perigoso e nada proveitoso para o personagem. Aquelas costuras clássicas de roteiros que precisam avançar, porém, isso não é um problema e sim um clichê.
As cenas de ação são bem interessantes e os set pieces são idênticos aos do game de 2013. É literalmente uma experiência de videogame com a ressalva de que não se joga. Elementos clássicos como o arco e flecha e o machado de escalada, assim como sua caracterização, são idênticos ao jogo. Outro elemento absorvido fortemente é a quantidade de vezes em que Lara se machuca, grita, sofre e fica em uma posição de temeridade.
A diferença é que no jogo ela era totalmente destreinada e aqui há base para suas ações. E como a franquia se chama Tomb Raider as tumbas estão presentes, obviamente. Há uma série de puzzles que são realizados e é no mínimo curioso ver em uma tela de cinema a Lara pegando um ‘diamante’ e colocando-o em um buraco, tentando desvendar o quebra-cabeça da forma correta. Essas cenas em si não transmitem urgência e são apenas curiosas. O vilão apresentado também não é incrível, mas ao menos tem uma certa tridimensionalidade e foge um pouco daquele maniqueísmo clássico que estamos cansados de ver. É clichê, mas não compromete de forma alguma.
A trilha sonora não é marcante, mas é bem pontuada no começo do filme e aparece quando necessária. As atuações são boas, mas não há ninguém que se sobressaia por sua maestria. São bons atores que conseguem se manter constantes durante todo o filme. No fim há um gancho para uma sequência e elementos de Rise of the Tomb Raider são usados. A Alicia Vikander é praticamente a única mulher em destaque no filme e isso foi feito propositalmente, segundo a própria roteirista, para que o drama fosse intensificado em função de uma mulher estar sozinha em uma ilha dominada essencialmente por homens.
Em resumo, Tomb Raider: A Origem conseguiu acertar, pois tomou suas liberdades criativas, mas foi fiel e respeitoso ao material original e no mesmo produto conseguiu fazer algo que pode ser consumido por qualquer um. Não há nenhum conhecimento prévio que seja necessário para aproveitarmos o filme e isso é ótimo porque o torna inclusivo.
Estruturalmente tem bom ritmo, o texto é razoável, as cenas de ação são interessantes e as atuações são constantes. O único problema que vejo são os clichês que conduzem a narrativa. Isso enfraquece o filme e o torna mais comum, mas no fim é uma aventura satisfatória e com grande potencial em uma futura sequência.
Tomb Raider: A Origem chegou aos cinemas em 15 de março.