The Saboteur e L.A. Noire: Dois jogos cujas continuações seriam bem vindas
Apesar do sucesso, principalmente no quesito originalidade, há muitos jogos que não receberam devidas continuações. A lista é tão imensa que me preocupei em escrever uma matéria para cada franquia, como já fiz com Bully e Alan Wake.
Analisando o cenário político atual — tanto em âmbito nacional quanto internacional — há dois jogos da geração passada cujas continuações seriam muito bem-vindas sob a ótica da narrativa.
O argumento não se reduz somente à trama desses games, pois eles também apresentam uma jogabilidade pouco explorada e diferenciada, respectivamente. Estou falando de The Saboteur e L.A Noire.
RESISTÊNCIA FRANCESA
Publicado em 2009 pela Eletronic Arts, The Saboteur é um jogo de ação e aventura em mundo aberto, ao estilo GTA mesmo, mas situado na França da Segunda Guerra Mundial, durante a invasão nazista.
O protagonista é Sean Devlin, um mecânico e automobilista irlandês que viaja pela Europa para participar de corridas. O que poucos sabem é que o personagem é baseado em um cara chamado William Grover-Williams, que também foi um automobilista e participante ativo da Resistência Francesa.
A relação desse segundo fato histórico com o personagem Sean Devlin explico agora. Após toda a parte introdutória, The Saboteur impõe o primeiro conflito de sua narrativa para inserir o jogador na luta armada, quando um coronel nazista trapaceia e vence Devlin numa corrida.
Querendo vingança, Sean bola um plano com seu amigo Jules Rousseau para destruir o carro do coronel. Isso desencadeia diversos conflitos na narrativa, envolvendo torturas, mortes, espionagem, perseguições, trocas de tiros, romances, uniões, encontros, armadilhas e, principalmente, sabotagens.
Confira abaixo o gameplay de Saboteur.
PONTOS ALTOS E BAIXOS
O jogo apresenta um visual bonito, representando muito bem a arquitetura urbana e rural de Paris. As cores são muito bem exploradas, com um cenário preto, branco e vermelho para locais invadidos pelos nazistas, e coloridos para locais libertados pela Resistência.
A ambientação também é irreverente, onde locais invadidos por nazistas são inóspitos e com eventos de violência, enquanto as áreas livres de nazi-soldados desvelam maior movimentação pública e ocupações naturais das pessoas.
A jogabilidade, porém, peca bastante. Focada totalmente no stealth, os elementos não favorecem esse tipo de gameplay. O jogador é facilmente percebido, sem dispor de muitos artifícios que permitam ações furtivas.
O controle dos veículos não foi bem calibrado com a física do jogo. E, por fim, toda a mecânica de ação, tanto para troca tiros quanto para movimentação do personagem, é muito bruta, fazendo com que a execução das ações fique insensível e punitiva demais.
CORRUPÇÃO POLICIAL
Publicado em 2011 pela Rockstar Games, L.A Noire também é um jogo de ação e aventura em mundo aberto. Nada melhor do que a própria empresa responsável por GTA para estar por trás desse projeto.
No entanto, a polêmica da vez não aborda crimes de facções, roubos de carros, assaltos etc. Aqui jogamos com Cole Phelps, um policial do Departamento de Polícia de Los Angeles que busca redenção após ter cometido erros quando era fuzileiro naval da marinha americana.
Mesmo tendo sido reconhecido como herói de guerra pelo governo, Phelps sente culpa e quer se tornar um policial atípico combatendo o crime e a corrupção que se alastra pela “Cidade dos Anjos” do final da década de 1940.
O objetivo consiste em investigar uma série de casos que envolvem assassinatos, acidentes de trânsito, tráfico de entorpecentes, incêndios e entre outros. Os casos são emendados uns nos outros, diferente das missões de GTA que demandam a ativação do player.
Por assumir uma postura honesta, curiosa e comprometida com o descobrimento e solução dos casos, Phelps acaba pagando um preço muito caro. Irreparável. Irreversível. O jogo transmite a mensagem de que, no mínimo, é perigoso enfrentar os interesses dos “poderosos”.
PONTOS ALTOS E BAIXOS
L.A Noire utiliza a mesma engine de GTA IV, com melhorias e adaptações. O jogo flui muito bem nos quesitos de movimentação, tanto dos personagens quanto dos automóveis.
O ponto mais alto reside na proposta inovadora de gameplay, focada no ato de investigar. O jogo dá um show de expressões faciais — cuja diversidade e realismo foram uma novidade para os videogames na época —, proporcionando uma verossimilhança divertida para as etapas de interrogar suspeitos, álibis, vitimas e afins.
Além dos interrogatórios, a análise das cenas de crime, colhimento de provas e formulação de hipóteses também ajudam o jogador a entender cada caso. Há também uma mistura bem equilibrada entre momentos frios e quentes, de investigações minuciosas a perseguições a pé ou de carro.
No entanto, por ser um jogo em mundo aberto, L.A Noire passa uma sensação de vazio ao jogador. Isso porque não há missões paralelas no mapa. Não há nada mais pra se fazer no jogo além dos casos, que constituem o objetivo principal.
Um trabalho desperdiçado, pois é um mapa consideravelmente grande, mas que não oferece incentivos ou benefícios ao jogador por explorá-lo.
Confira abaixo o gameplay de L.A Noire. O jogo não possui legendas em português.
CONTINUAÇÕES SÃO POSSÍVEIS?
The Saboteur foi desenvolvido pela Pandemic Studios, uma produtora independente até 2007. Depois disso, a Eletronic Arts a adquiriu junto com a BioWare, que era do mesmo proprietário.
Logo após o lançamento de Saboteur, a Eletronic Arts promoveu uma reformulação que culminou na demissão de mais de mil funcionários, incluindo muitos da Pandemic. Era óbvio que a empresa seria fechada. E foi.
Por conta disso, é muito improvável esperar por uma continuação de Saboteur. Atualmente, grande parte dos ex-funcionários da Pandemic atuam em estúdios como 343 Industries, Infinity Ward, Treyarch, entre outros.
Já L.A Noire recebeu uma versão remasterizada em 2017 para Xbox One, Playstation 4 e Nintendo Switch. Por conta disso, uma provável continuação não deve ser anunciada tão breve.
Aliás, é possível levantar hipóteses de que esse remaster pode ter sido feito com o intuito de mensurar o sucesso do game no mercado para justificar ou não uma continuação de L.A Noire.
O texto também está disponível no blog Videogame Cultura.