Os gráficos de um game importam tanto assim?
Desde que surgiram, os consoles de videogame sempre almejaram se superar cada vez mais; seja entre seus próprios concorrentes de época, seja de uma geração para a próxima. Além das melhorias em tecnologia, memória e outros quesitos, algo sempre pareceu predominar a cada nova geração de consoles ou PCs: os gráficos.
A evolução nos gráficos que a indústria dos games viu nos últimos 40 anos é algo impressionante. A resolução das telas foi aumentando, o número de cores, a definição de imagem, o número de elementos e objetos na tela, os efeitos, a quantidade de sprites, polígonos… De algo tão primitivo e quadradão como víamos na era do Atari, hoje em dia parece que praticamente já não há mais o que melhorar, com os gráficos atingindo um nível praticamente foto realista.
Não só isso, os gráficos sempre foram vistos como um aspecto muito importante, pois passar a sensação de realismo era sempre grande e desafiadora. A cada novo console lançado ou a cada exposição onde as empresas mostravam as novas máquinas que iriam lançar no mercado, os comentários gerais são sempre de que os gráficos estão bonitos e superiores ao que tinham visto até então. Por isso, não é exagero dizer que, se há uma preocupação tão grande com os gráficos estarem cada vez melhores, isso acontece porque existe uma demanda do público, e assim como nossos olhos são os primeiros a reagir a coisas novas que experimentamos, os gráficos de um jogo são a primeira coisa que notamos ao jogar.
No entanto, será que a preocupação com os gráficos acabou indo longe demais a ponto de desconsiderarmos outros importantes elementos dos games? Assim como filmes e outras mídias, os jogos são compostos de diversos elementos, como gráficos, músicas, efeitos sonoros, direção de arte, design, jogabilidade, etc. Tudo isso deve trabalhar em conjunto, de forma que o jogador obtenha a melhor experiência possível com os games que vai jogar. E quando a prioridade acaba sendo os gráficos em detrimento de outros fatores como jogabilidade ou trilha sonora, por exemplo, não importa o quanto eles sejam belos, se o jogo não diverte ou não tem bons controles. É claro que certos gêneros, como jogos de cassino ou puzzles, não necessitam de gráficos maravilhosos por terem jogabilidades mais simples, mas mesmo assim podem ser arruinados se o visual não chamar a atenção ou não tiver uma trilha sonora atrativa, por exemplo.
Temos visto nos últimos anos o crescimento de muitas comunidades retrogamers (fãs de jogos antigos), que desejam o resgate de gêneros e estilos de jogabilidade que andam esquecidos no mercado atual. Por mais que os gráficos dos jogos de hoje estejam incríveis, muitos não demonstram interesse, e os motivos são diversos: não conseguem se acostumar à jogabilidade menos intuitiva e mais “simulador”, não têm interesse nas franquias da atualidade, ou sentem falta de gêneros que hoje em dia são negligenciados pelas empresas, mas que já fizeram muito sucesso, como os jogos de nave ou de briga de rua, que hoje parecem estar relegados às desenvolvedoras indie. Essas desenvolvedoras menores veem que existe um mercado para esses títulos, e procuram resgatar gêneros que as grandes empresas já não priorizam mais.
Mas o mais interessante de tudo isso é ver que, assim como existem jogos indie que têm gráficos muito bonitos e artísticos, também vimos um enorme crescimento no número de jogos que apostam num visual pixelado e retrô, justamente para agradar aos fãs de jogos antigos. Hoje é possível ver uma quantidade enorme de jogos que apostam num visual ao estilo 8 ou 16 bit, e isso não se limita às desenvolvedoras indie, pois recentemente até a SEGA apostou nisso com seu recente Sonic Mania.
Buscando atrair o público das antigas e oferecendo jogabilidades com as quais eles se identificavam mais nos jogos de antigamente, muitas empresas apostam num visual retrô para apelar aos jogadores. O grande problema é que, assim como há jogos lindíssimos com jogabilidade fraca ou cheios de bugs, o inverso também ocorre. Há jogos que usam um visual antigo, com uma proposta de apelar aos jogadores mais velhos, mas também deixam de desejar em termos de jogabilidade ou design.
Portanto, é importante nos questionarmos sobre o que torna um jogo realmente bom. São apenas os gráficos? As músicas? A jogabilidade? Não. Todos são elementos importantes, mas nada conseguem sozinhos. Como dito anteriormente, o que realmente importa é o conjunto da obra, e se o conjunto não for bem construído, a sensação será de um produto aquém do esperado. Da mesma forma, um determinado jogo não ter os gráficos mais avançados não significa necessariamente que ele não é divertido, assim como um jogo com gráficos muito bonitos não necessariamente pode ter uma boa jogabilidade. Como todo tipo de mídia, o importante é o produto como um todo. Em vez de nos atentarmos apenas a elementos específicos, vamos procurar nos atentar aos atrativos que os jogos têm para cada um de nós, não priorizando somente um dos elementos que constituem os games, mas também não descartando algo que pode nos divertir só porque não é bem o que esperávamos.