Especial Arkade: retrospectiva The Walking Dead – A Telltale Game Series
Falta pouco para uma das franquias mais importantes da história recente dos games chegar ao fim. A quarta temporada de The Walking Dead – A Telltale Game Series está chegando — inclusive, uma demo do primeiro episódio já está disponível –, e a gente aproveitou o momento para trazer uma retrospectiva da árdua e sangrenta jornada de Clementine, iniciada lá em 2012.
Se você precisa refrescar sua memória — afinal, a série cruzou gerações ao longo de 6 anos –, trazemos aqui um resumo da série como um todo, deixando um espacinho para nossas expectativas sobre o desfecho dessa história. Vem com a gente!
Os novos paradigmas do jogo
A primeira temporada, vencedora de vários prêmios — inclusive de Jogo do Ano em 2012 — meio que apresentou a “fórmula Telltale” para o grande público, se aproveitando da popularidade que a marca ganhava com o auge do sucesso da série de TV, ainda que ambas sejam baseadas ou inspiradas não uma na outra, mas sim na HQ original de Robert Kirkman que trata de um mundo pós-apocalíptico zumbi.
Este modo de contar histórias interativas da Telltale foi depois ampliado para outras franquias, sempre mantendo a identidade estabelecida em TWD. O lançamento episódico em estrutura seriada, o sistema de interação a partir de escolhas de ação e de diálogo, a estética baseada num traço de quadrinhos, as narrativas rizomáticas e a construção da personalidade dos protagonistas a partir do seu comportamento se tornaram sinônimo da empresa a partir dali, ainda que ela já tivesse lançado (bastante) coisa antes.
Protagonizado por Lee e coestrelado por uma Clementine ainda criança, a história seguia um conceito bastante comum a narrativas do gênero, com um grupo heterogêneo de sobreviventes se deslocando, buscando recursos e tentando encontrar uma forma de se adaptarem a um novo contexto hostil onde a morte é uma ameaça constante nos seus mais diferentes aspectos. Ainda que conte com participações de personagens conhecidos de outras mídias, o game traz uma história original ambientada naquele universo, bem como diversos personagens criados especificamente para o jogo.
Tudo se passa logo após o surgimento dos walkers (carinhosamente chamados por nós de zumbis) e os eventos consequentes que desencadeariam a derrocada da sociedade moderna. Há questões éticas e morais em jogo e, muitas vezes, nenhuma das opções possíveis parece ser melhor que a outra.
Essa, aliás, é uma das marcas da franquia, que depois transbordou para outras: ter que escolher entre diferentes opções e arcar com suas consequências, algo que surpreendeu e valorizou a narrativa em detrimento a sistemas mais complexos de jogabilidade. TWD se tornara naquele momento um marco definitivo na história dos videogames.
Em busca de manter o nível
Logo, veio a segunda temporada no final de 2013 e começo de 2014, desta vez elevando Clementine ao posto do papel principal a partir dos eventos anteriores. Mantendo os parâmetros já estabelecidos, o jogo foi também muito bem recebido, ganhando pontos pela aparente fragilidade da heroína e pelo seu arco de amadurecimento, mas a falta de ambientes marcantes e de escolhas morais tão impactantes quando o primeiro ano trazem a percepção de que a continuação acabou sendo inferior ao jogo original.
Tal como a série de TV e as HQs, há sempre um movimento de busca por estabilidade, uma vez que um modo de vida nômade sempre se mostrou problemático e cansativo para os sobreviventes. O jogador passa então a crescer junto com a protagonista, vendo pelos olhos de uma criança escolhas que lhe influenciam e entendendo que é necessário o amadurecimento pessoal, mesmo que precoce, para superar as desgraças do dia-a-dia. O arco, portanto, é de passagem para a heroína. É hora de tomar as rédeas da própria vida.
Vivemos aqui talvez o auge da Telltale enquanto grande expoente dentro da indústria. Seu catálogo aumenta — ao longo dos anos, marcas de peso como The Wolf Among Us, Game of Thrones, Borderlands e Batman fariam parte do seu acervo — e seu sistema se solidifica, reforçando modelos testados e aprovados nesta nova fase da desenvolvedora. A segunda temporada de TWD marca esse estabelecimento do formato, sobretudo no mercado ocidental.
Escolhas e consequências
Lançada entre 2016 e 2017, a terceira temporada, que recebeu o título de A New Frontier (ou A Nova Fronteira) leva a narrativa para uma comunidade um pouco mais adaptada à nova ordem (ou seria desordem?) mundial, trazendo para o protagonismo personagens até então inéditos.
Javier é a principal figura a ser controlada pelo jogador e vemos, pelos olhos dele, as dificuldades de se adaptar a um mundo onde a tirania e a estupidez humana parecem ser muito mais perigosas que os próprios mortos-vivos.
Clementine, agora uma jovem durona e calejada, é novamente uma personagem secundária para a trama, ainda que de vital importância para o conjunto da obra. Há uma sub-trama que se desenvolve com ela que remete ao episódio anterior, e as relações que ela estabeleceu com amigos e inimigos do passado devem ser o plot de motivação para o começo da temporada final. Enquanto isso, entendemos que as relações pessoais, confiança e família são muito mais complexas em situações extremas.
Depois de um spin-off que passou despercebido por grande parte do seu público (a minissérie Michonne, diretamente ligada às HQs), é fato que o formato Telltale de se contar essas histórias sofreu um certo desgaste e as poucas novidades que foram surgindo não se mostraram suficientes para tornar seus novos produtos — cada vez mais volumosos — tão impactantes como eram lá em 2012.
Mesmo mantendo a qualidade esperada de seus produtos, perdeu-se um pouco do apelo, a relevância dos lançamentos se tornou menor, e a reinvenção da estratégia parecia ser um caminho não só interessante, mas necessário para a empresa honrar o prestígio alcançado ao longo dos últimos anos.
Todo começo tem um final
Chegamos então, à quarta e derradeira temporada. A julgar pelo que foi mostrado na demo (já disponível para download), a Telltale parece ter amadurecido em termos de gameplay, ainda que se mantenha fiel ao que estabeleceu e que, ao longo dos últimos anos, se tornou sinônimo do que aprendemos a chamar de “narrativa interativa”.
Os QTE estão lá, as decisões morais e de personalidade idem, mas ao mesmo tempo, há um sentimento de que o jogador poderá ter um pouco mais de controle também de ações dentro do espaço do jogo.
Nos bastidores, a desenvolvedora já anunciou que está trabalhando na renovação de seu motor gráfico para se adequar a novas demandas e superar as evidentes limitações de uma engine que, afinal, vem sendo usada desde a geração passada. Fica claro que a Telltale chega a um novo nível aqui: fechar a sua maior franquia (que também vem perdendo força na TV) para abrir espaço para que novos ciclos se iniciem.
Já vimos a empresa encerrar temporadas de formas espetaculares e outras mais mornas. Botar um ponto final em uma série que já foi GOTY é um novo passo nessa maturação, e também na condição da empresa como contadora de histórias. O público merece um desfecho digno para esta grande narrativa que vem acompanhando ao longo dos anos.
Tal qual sua protagonista, que deve viver um reinício, assumindo o papel que Lee teve com ela lá no princípio de sua saga, a própria Telltale precisa se reinventar, e mostrar que há ciclos que precisam ser fechados para que novas coisas venham. Há mostras de que isso está acontecendo e agora nos resta esperar e conferir o que ela é capaz de fazer com isso.
P.S. Vale ressaltar que a Telltale lançou um site onde você pode “recriar” os momentos mais marcantes de toda a série, criando um save que poderá ser importado para o jogo, permitindo que você comece a nova temporada com a história fresca na cabeça e as decisões devidamente tomadas.
Se você não jogou as temporadas anteriores, quer refazer — ou mesmo alterar — algumas escolhas, esta é sua chance. Clique aqui e monte sua história!