Análise Arkade: The Messenger homenageia Ninja Gaiden com desafio de alto nível e muita zoeira
Você curte o Ninja Gaiden de antigamente? Se sim, PRECISA jogar The Messenger, praticamente um sucessor espiritual da série Ninja Gaiden clássica, que traz gameplay afiado, desafio de alto nível e muito bom humor!
O mensageiro
The Messenger nos apresenta a um ninja que estava em treinamento quando seu vilarejo foi invadido por demônios. Na falta de alguém mais apto, ele acaba sendo “promovido” a Mensageiro, e é incumbido de uma missão importantíssima: entregar um pergaminho ancestral aos sábios que vivem em uma montanha longínqua.
Esta premissa simples esconde uma aventura bastante expansiva, que brinca com clichês do gênero e mistura viagens no tempo com generosas pitadas de zoeira e muito bom humor enquanto testa a habilidade do jogador com trechos insanos de plataforma e boss battles muito empolgantes.
Sou um grande fã de jogos que não se levam a sério, e The Messenger é um game que acerta em cheio no seu tom de humor: as conversas com o atendente da lojinha rendem alguns diálogos incrivelmente engraçados, e o pequeno demônio que nos ressuscita sempre que morremos também solta algumas pérolas impagáveis. The Messenger tira sarro de si mesmo, de outros jogos e da cara do jogador com muita propriedade.
Uma jornada old school
The Messenger traz o verdadeiro feeling de um jogo de ação e plataforma 2D de antigamente: seu gameplay é rápido e afiado, com respostas rápidas aos comandos que demandam agilidade nos dedos e reflexos rápidos. Felizmente, o jogo responde à altura, com a fluidez e suavidade que os 60fps garantem.
De início temos apenas um pulo simples e uma espada para encararmos o mundo, mas conforme a campanha se desenrola, vamos adquirindo novos poderes e habilidades, que vão se integrando às mecânicas básicas com muita naturalidade. Tal qual Guacamelee! 2, o que temos aqui é um jogo que está o tempo todo testando a habilidade do jogador, mas que lhe dá tempo para se acostumar com cada nova mecânica.
Depois das primeiras horas de jogo você estará planando sobre abismos, escalando paredes, atirando shurikens e usando seu gancho com corda para içar-se até elementos do cenário (ou inimigos) enquanto foge de espinhos, respingos de lava, feixes de laser, bolas de fogo e mais uma infinidade de perigos. O level design inspirado entrega desafios onde não há espaço para sorte, e só o que vale é a habilidade do jogador.
É uma experiência bastante nostálgica, tanto pelo visual quanto pela jogabilidade. Você vai morrer — muito — no decorrer da jornada, mas, felizmente, tem ao seu lado o demoniozinho Sofismuto, que está sempre disposto a te colocar de volta no último checkpoint… desde que você pague a dívida com um pouco do seu “dinheiro”, claro!
Viajando no tempo
Quem viu algum trailer de The Messenger talvez já esteja sabendo que um de seus elementos mais interessantes é a viagem no tempo. Não temos controle total sobre ela, mas quando rola é algo realmente incrível simplesmente porque afeta todo o audiovisual do jogo: o que começa como uma aventura estilo 8-bits logo evolui para um jogo 16-bits, com visual e trilha sonora condizentes com essa evolução.
Tipo assim, ó:
O gameplay não sofre nenhuma alteração drástica e todos os seus power ups continuam valendo, mas a mudança estética que esta “viagem no tempo” causa é muito impactante. É como se estivéssemos acompanhando a evolução de um mesmo jogo por 2 gerações diferentes, e as formas criativas com que o game aborda conceitos clássicos de viagem temporal deixa tudo ainda mais legal!
Seja nos 8 ou nos 16-bits, uma coisa que não falta aqui são chefes: eles chegam de todos os tamanhos e formas, exigindo que você decore padrões de ataque e descubra o melhor momento para atacar. Estas batalhas exigem domínio de diversos elementos do gameplay, e são extremamente empolgantes e desafiadoras!
Audiovisual
The Messenger emula com perfeição as duas épocas que homenageia: quando está em sua versão 8-bits, ele realmente parece e soa como um jogo dessa geração, e ao evoluir para os 16-bits a mudança é notável; tudo fica mais nítido, colorido e detalhado. Obviamente o jogo faz algumas piadas com isso.
A música segue o mesmo esquema: a melodia é mantida intacta, mas a “qualidade” do chiptune muda, tornando-se algo muito mais elaborado quando estamos jogando nos 16-bits. Aliás, esse jogo faz coisas muito interessantes com a música — o efeito “abafado” que rola quando mergulhamos é sensacional –, e as composições são maravilhosas, loops extremamente grudentos assinados pelo “retro-compositor” Rainbowdragoneyes.
Vale ressaltar ainda a qualidade do trabalho de localização que The Messenger recebeu aqui no Brasil: o game obviamente não possui vozes, mas todos os seus diálogos e menus estão em português brasileiro. Considerando o volume insano de piadas e referências que temos, entender tudo o que é dito é essencial e rende boas gargalhadas.
Deixo abaixo alguns exemplos de conversas e “telas de Game Over” que me fizeram rir:
Crise de identidade
Geralmente aqui viria a conclusão, mas acho válido ressaltar mais um ponto do game, que é essa crise de identidade. Explicando: boa parte de sua jornada por The Messenger é feita na forma de um jogo de fases linear tradicional, ou seja, passe por algumas telas, encare alguns inimigos e enfrente um chefão no final. Depois de umas 6 ou 7 horas de jogo, porém, rola um plot twist maluco, e o jogo torna-se um Metroidvania: o mapa se abre, e você pode revisitar todas as áreas pelas quais já passou — agora com um novo objetivo em mente.
Essa segunda etapa do jogo traz sua boa leva de novidades — com destaque para os portais que nos jogam dos 8 aos 16-bits em tempo real, e os cenários até sofrem alterações nas diferentes “épocas”, possibilitando novos caminhos — mas é impossível não ficar com a impressão que essa parte Metroidvania do jogo parece forçada, na tentativa de inchar o game e injetar mais horas de gameplay.
Permita-me fazer uma analogia absurda: pegue o bom e velho Street Fighter II. Imagine que você enfrentou todos os lutadores, chegou até o Bison e derrotou-o. Porém, ao invés do jogo acabar, ele continua, e agora você terá que encarar novamente todos os inimigos… em combates por turnos (?!). The Messenger faz tipo isso: quando poderia acabar de forma bastante satisfatória, ele continua, mas agora em um estilo de jogo um pouco diferente.
Isso tira um pouco do brilho do jogo, mas nem de longe consegue arruinar tudo o que ele faz certo. Por mim, The Messenger poderia ser só um jogo de fases com 7 horas, mas ele resolve ser também um Metroidvania, e com isso ganha mais umas horas de gameplay. Essas últimas horas definitivamente não são tão boas quanto as primeiras… mas é praticamente como se tivéssemos 2 jogos em 1, então não sei se é justo reclamar.
Conclusão
The Messenger é uma verdadeira carta de amor aos primórdios da série Ninja Gaiden, que não se limita a “imitar” o clássico, mas injeta humor, personalidade e novas mecânicas ao gênero, trazendo uma experiência que consegue ser nostálgica e moderna ao mesmo tempo. Seu gameplay é impecável, o departamento audiovisual é caprichadíssimo, o desafio é estimulante e a zoeira é um plus muito bem-vindo.
A crise de identidade que descrevi acima estraga a experiência? Não necessariamente. Mecanicamente ele continua incrível e desafiador por toda sua duração, mas o backtracking obrigatório quebra um pouco o clima e a sensação de progressão. Revisitar cenários acaba com o fator novidade, e a reta final do jogo é bem menos interessante por conta disso.
Continua sendo um jogaço, mas ele ainda seria um jogaço mesmo sem essa mudança maluca, e é indispensável para fãs de Ninja Gaiden ou de bons jogos de plataforma 2D.
The Messenger será lançado amanhã (30/08) para PC (via Steam) e Nintendo Switch. Este review foi feito com base na versão Nintendo Switch do game, em uma cópia que recebemos antecipadamente da Devolver Digital para fins de análise.