Arkade Séries: The Walking Dead (9ª Temporada, Ep. 2) – “The Bridge”
O segundo episódio da 9ª Temporada de The Walking Dead tem como tema principal a relação entre as comunidades que eram adversárias, mas que agora precisam trabalhar juntas para construir um novo mundo, ou como é citado exaustivamente, um novo começo. David Leslie Johnson assina o roteiro de “The Bridge” (A Ponte) e a direção fica a cargo de Daisy Mayer.
O nome do episódio evoca questões semióticas porque as comunidades precisam construir uma ponte, literalmente, para facilitar sua comunicação e comércio. Já houve tempo suficiente para que a união dos grupos não se resuma a uma disputa de egos, mas mesmo assim há desconfiança por parte de alguns Salvadores diante da liderança de Rick e vice-versa. Essa falta de comprometimento dos Salvadores gera brigas e, posteriormente, Aaron quase morre em razão disso. Daí advém um dos conflitos do capítulo.
O arco que está sendo adaptado, após a Guerra Total contra Negan, tem como foco a reconstrução da sociedade de forma mais factual. O roteiro não aborda esse tema apenas de forma explicita, mas também por meio de cenas implícitas, expositivas e repetitivas que servem para o espectador se acostumar com determinadas mudanças que vão ocorrer no status quo do universo The Walking Dead. Por exemplo: Rick fala pelo menos três ou quatro vezes em “um novo começo” e isso retrata não só o que está acontecendo na série, mas também fora dela.
É como se o personagem estivesse ciente de sua saída. E diante desse conhecimento sua missão é preparar a audiência para o restante da jornada. Não é prejudicial para a história em si, mas não parece algo que esteja sendo feito com a sutileza necessária. Daryl e Maggie continuam fazendo uma espécie de oposição ideológica a Rick e Michonne e isso gera conflitos entre os protagonistas.
Há outra passagem de tempo de aproximadamente um mês entre o capítulo um e dois. Daryl acha que os Salvadores não podem fazer parte do mundo que está sendo construído e Rick mantém o discurso de união entre todos. Maggie se mantém relutante em ser uma líder mais flexível no começo, mas depois volta atrás e se torna mais amigável.
Há pelo menos dois espelhos narrativos em “The Bridge”. Um acontece quando Maggie fala com Earl, morador de Hilltop que tentou matá-la após ser coagido por Gregory, e descobre que ele tinha sérios problemas com álcool. Hershel, pai de Maggie, nutria os mesmos problemas e isso faz com que ela entenda que há nuances nas ações das pessoas e que não podemos enxergar o mundo sempre com o filtro do maniqueísmo. Ele cometeu um crime e deve ser punido, mas tão importante quanto a punição é entender sua motivação. Nesse caso foi a morte de seu filho, que o impulsionou a beber e, consequentemente, o tornou mais suscetível a má influência de Gregory.
A outra narrativa espelhada envolve um casal improvável: Anne (Jadis) e Padre Gabriel. O romance aconteceu de forma abrupta, mas mesmo assim não pareceu forçado e conveniente, apesar de demandar uma construção mais lenta. Anne e Gabriel fazem parte do grupo dos ‘heróis’ atualmente, mas seus passados são marcados por atitudes covardes e questionáveis e isso de certa forma os aproximou. O sentimento de falha e a busca por redenção faz parte da narrativa de ambos e, em função disso, o romance faz sentido. E o fato de Gabriel dizer que é um padre episcopal, ou seja, que pode se casar e se relacionar com uma mulher, é extremamente bem pontuado. Até então era um fato ‘desconhecido’ por não ser relevante na história.
A linha narrativa adotada por Angela Kang (Showrunner) continua primando pela segurança, mas nesse segundo episódio a construção de tensão foi ótima. Houve um bom equilíbrio entre ação, tensão e conflito, mas com a ressalva de que não aconteceu nada inédito na série.