Editorial: a difícil missão de zerar jogos muito grandes
Meu nome é Rodrigo Pscheidt. Tenho 32 anos, e ainda não consegui zerar Red Dead Redemption 2. Nem Horizon Zero Dawn. Nem Assassin’s Creed Origins (o Odyssey muito menos). Nem The Witcher 3. Nem Zelda Breath of the Wild. E essa lista vai longe, meu amigo…
A difícil missão de arranjar tempo para jogar
Eu não sei se você também passa por isso, mas preciso desabafar: eu simplesmente não consigo mais ter tempo para terminar jogos muito grandes. Por “jogos muito grandes”, me refiro a games com toneladas de quests, sidequests e atividades aleatórias, salpicadas em mapas que vão ficando cada vez maiores.
Entendo que jogos são caros, e quando gente investe nosso rico dinheirinho em um jogo, espera que o jogo, em troca, ofereça um mínimo aceitável de horas de diversão. É justo. Mas também é algo que torna-se incompatível com a “vida adulta” da gente.
Acredito que me encontro na mesma posição de milhares de outros gamers pelo Brasil afora: acordo cedo e trabalho em horário comercial (8h às 18h). Depois do trampo ainda tem academia, aula, outros compromissos, e tal. Em um dia “normal”, eu só consigo sentar no sofá para jogar algo ali pelas 21h e, com sorte, jogo umas 2 horas e pouco.
Até parece um tempo razoável em uma primeira olhada, mas há jogos que simplesmente não comportam “partidas rápidas”: seus mundos demandam mais tempo, mais comprometimento, mais entrega, para que a imersão aconteça.
Red Dead Redemption 2 é um ótimo exemplo: se eu pegar para jogar por 2 horas e meia, é provável que eu só consiga cumprir uma missão importante, e olhe lá. Eu vou gastar um tempo cavalgado, indo e voltando do acampamento. Durante este caminho, várias coisas podem acontecer — tipo emboscadas, eventos aleatórios, e sabe Deus mais o quê. Aí eu vou gastar um tempinho comprando roupas, fazendo a barba, escovando meu cavalo, tomando um banho… e quando vejo, já acabou o meu “tempo” para jogar, e não evoluí praticamente nada na história.
Sendo bem honesto, tenho consciência de que sou bem dispersivo, e isso também dificulta um bocado as coisas. Posso estar indo cumprir a missão, aí passa uma borboleta (exemplo fictício), eu resolvo segui-la e quando percebo fiquei uma hora e meia no meio do mato, ou dentro de uma caverna, caçando e cumprindo sidequests. Faço muito isso, e talvez você também faça.
A “difícil” missão de analisar jogos
No meu caso, existe o “agravante” de trabalhar em um site de games, então eu nunca estou jogando apenas um jogo, e preciso dividir meu tempo — e minha atenção — entre 2, 3 ou 4 games diferentes. O último trimestre, então, sempre é uma loucura, pois há toneladas de jogos sendo lançados toda semana.
Quem acompanha a Arkade sabe que a gente não fica focado só nos Triple As, e também analisa diversos indie games. Ouso dizer que somos o site brasileiro que mais cobre jogos independentes — e afirmo isso com orgulho. Mas cuidar deles só aumenta nossa carga de trabalho. Longe de mim reclamar disso, mas é fato que as vezes eu tenho mais jogos para jogar do que tempo para jogá-los.
Por exemplo: essa semana foi lançado Darksiders III, e recebemos a cópia de review quase uma semana antes do lançamento. Eu sei que este é um jogo que interessa ao nosso público, então fiz questão de me internar nele para zerá-lo, formar uma opinião e publicar um review antes do lançamento, justamente para quem acompanha o nosso trabalho e estava planejando comprá-lo poder conferir a nossa análise antes de tirar o escorpião do bolso.
Ou seja, todo o tempo que eu tinha para jogar, eu foquei em Darksiders III. Com isso, minha jornada pelo Velho Oeste de Arthur Morgan simplesmente não evoluiu nada. Ainda estou lá, dormindo no hotel de Rhodes, estagnado no longuíssimo Capítulo 3 — sim, Capítulo 3, então sem spoilers, ok?
Sei que posso parecer babaca ao “reclamar” de ter jogos demais para jogar — especialmente se considerarmos que eu nem preciso pagar por eles — mas a verdade é que a vida adulta vem me impossibilitando de dedicar-me a jogos muito grandes, que demandem muito tempo e dedicação.
E talvez isso também aconteça com você. No seu caso o problema pode não ser “jogos demais para jogar”. Talvez você tenha filhos, ou faculdade, ou um trampo extra no contra turno, ou tudo isso ao mesmo tempo, sei lá… o fato é: conforme a gente envelhece, vai ficando cada vez mais complicado se entregar de corpo e alma a um jogo.
Com isso, estes jogos enormes, com mundos abertos colossais recheados de objetivos, que demandam 60, 80, 100 horas para serem terminados, vão ficando pelo caminho. E não é porque eu não gosto deles, é simplesmente porque me falta tempo de apreciá-los.
A difícil missão de se adequar a novos tempos
Aí entram em cena jogos casuais, ou mesmo battle royales: são jogos pensados para partidas mais curtas e diversão mais imediata. Você joga por uns 15 ou 20 minutos, recebe sua recompensa e pronto, segue com sua vida e com seus afazeres até a próxima partida. Acho que FIFA e outros jogos de esporte também se encaixam nesta proposta de entretenimento mais imediatista, mas falo sem conhecimento de causa, pois também não embarco em jogos de esporte.
O problema é que… eu não gosto desses jogos. Já falei (mal) de PUBG em outro editorial (e temos um podcast só falando mal de battle royales), e no geral, acho que eles são muito superficiais para mim. Eu preciso de mais conteúdo, mais história, mais motivação. A competição e o mata-mata por si só não servem para mim. Isso não quer dizer que estes jogos são ruins — afinal, há milhões de players se matando em Fortnite e jogando seu Candy Crush todos os dias — eles apenas não me cativam.
Sendo honesto, eu gosto muito de Overwatch — que é um jogo de partidas rápidas –, mas aí entra outro problema: é preciso jogar mais e mais para se especializar em um herói, manter e/ou aumentar seu ranking. Sempre é possível se manter na diversão sem compromisso das partidas rápidas (que é o que eu geralmente faço), mas quem quer jogar “feito gente grande” nas rankeadas precisará de tanto tempo e dedicação quanto seriam necessários para terminar a campanha de um RPG open world.
Ou seja, se de um lado temos Triple As incríveis que demandam muito tempo e dedicação. Do outro, temos jogos que a) ou não me agradam ou b) sua natureza competitiva e viciante pode acabar demandando tanto tempo e dedicação quanto os jogos que eu não tenho tempo para jogar. E aí, como faz?
A difícil missão de abrir mão
A saída para mim acaba sendo abandonar alguns jogos pelo caminho, sem a certeza de que conseguirei finalizá-los um dia. E, claro, aproveitar jogos que ofereçam campanhas menores, e que me permitem ir do começo ao fim no tempo que tenho para jogar. Caso de Darksiders III, Guacamelee 2, A Way Out e tantos outros bons jogos que foram lançados ultimamente. Até Spider-Man e God of War eu consegui zerar, e olha que eles são bem grandinhos.
O Aranha eu até platinei, mas confesso que esta foi minha primeira platina, em cerca de 8 anos de PSN — fato que deixa claro o quanto eu “não me dedico” plenamente aos games que jogo: platinar um jogo geralmente envolve zerá-lo várias vezes, em várias dificuldades, e cumprir todos os desafios que ele entrega. Não consigo arrumar tempo para fazer isso.
Felizmente, o mundo dos games é extremamente versátil, e ao mesmo tempo que nos entrega Triple As que carecem de dezenas de horas, também nos traz pérolas que podem ser terminadas em poucas horas. Há jogos de 3, 4 ou 5 horas — tipo Journey ou Little Nightmares — que podem ser tão impactantes e envolventes quanto um jogo de 80 horas.
Outra opção são jogos de corrida, luta, ritmo e puzzle, que podem ser aproveitados “com calma”, sem que você perca o fio da meada caso passe algum tempo sem jogar — o jogo da vez nesse quesito está sendo o maravilhoso Tetris Effect. Quando se trata de um jogo enorme com história, se você passar algumas semanas sem jogar, quando voltar pode não lembrar direito onde está, o que estava fazendo ou em que pé estava a história.
Entre um jogo menor e outro, vou tocando Red Dead Redemption 2 devagarinho, tentando conciliá-lo com meu trabalho e minha rotina de “gente grande”. Já os outros games que mencionei por aqui, realmente não sei quando (ou se) vou terminar.
Janeiro já tá aí, e com ele chega Kingdom Hearts III, sem dúvida o meu jogo mais esperado dos últimos anos… e antes dele chegar, eu quero arrumar tempo para (re)jogar Kingdom Hearts II (consegui zerar o I de novo esse ano)… e agora tenho menos 2 meses para fazer isso!
A difícil missão de terminar este artigo
Esse editorial acabou tendo um ar de desabafo, mas acho que o meu problema em zerar jogos grandes demais deve afligir muito mais gente por aí. Gente que faz malabarismo para conciliar trabalho, estudo, família e tudo o mais com a paixão pelos videogames.
E você, consegue arrumar tempo para jogos gigantes? Como concilia trabalho, estudo, família e tudo mais com suas horas de jogatina? Estou aceitando dicas! 😛
P.S. Boa parte das imagens que ilustram esta matéria fazem parte de um projeto fotográfico que mantenho no Instagram. Se curte jogos com Photo Mode e screenshots um pouco mais “artísticas”, me segue lá: @gamesphotomode