Análise Arkade: Crackdown 3 tem muitas explosões e pouca identidade

15 de fevereiro de 2019

Análise Arkade: Crackdown 3 tem muitas explosões e pouca identidade

Crackdown 3 foi anunciado lá em 2015, prometendo tornar-se um benchmark para a indústria ao utilizar tecnologia de cloud computing para oferecer níveis inéditos de destruição. Corta para 2019, e o que temos… não é bem aquilo que foi mostrado em 2015. Mas ainda é um jogo bem divertido, confira nossa análise!

Salvando a cidade

Crackdown 3 nos coloca em New Providence, uma metrópole futurista dominada pela Terra Nova, uma mega-corporação inescrupulosa que está envolvida em métodos altamente questionáveis de manutenção de diversos serviços: transporte, segurança pública, geração de energia, mineração, etc.

Análise Arkade: Crackdown 3 tem muitas explosões e pouca identidade

A Terra Nova está controlando a cidade com punho de ferro, e os cidadãos parecem dependentes demais destes serviços para se rebelarem contra “o sistema”. Felizmente, existe a Agência, um supergrupo de mercenários com DNAs aprimorados que, liderados por ninguém menos que Terry Crews, irão meio que “explodir a cidade pra salvar a cidade”.

Assim, nosso trabalho é basicamente chegar em New Providence com os dois pés no peito, destruindo estruturas da Terra Nova para chamar a atenção dos cabeças da corporação, que obviamente, irão colocar um exército de soldados, tanques, drones e tudo o mais que puderem em seu caminho, na esperança de frustrar sua missão.

E olha que as vezes eles mandam tudo isso ao mesmo tempo, e a coisa fica nesse nível:

Eu sei que a maneira como descrevi isso faz a coisa parecer séria, mas a verdade é que Crackdown 3 não se leva a sério — e falo isso como um baita elogio. Seus companheiros da Agência estão o tempo todo fazendo piadinhas e trocadilhos, e mesmo alguns dos bosses do game são absurdos, tipo uma inteligência artificial com problemas de auto-estima. É tipo um bom filme de ação dos anos 80: tem tiroteio e explosões pra todo lado, mas sempre sobra um espacinho para a zoeira.

Gameplay

Confesso que tive pouco contato com série Crackdown antes desse terceiro jogo, mas é fato que o gameplay é bastante familiar, visto que bebe na fonte de diversos jogos de ação/mundo aberto modernos: mecanicamente, o jogo me lembrou muito títulos como Just Cause e Agents of Mayhem.

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Um momento típico de Crackdown 3

Há jogos preocupados em contar histórias, mas Crackdown 3 está mais interessado em oferecer mais e mais possibilidades de controle ao jogador. Enquanto jogos como Assassin’s Creed e Sombras de Mordor transformaram o ato de escalar em algo quase automático, aqui o jogador tem o controle de tudo o tempo todo, devendo utilizar com sabedoria as habilidades de seu traje para alcançar lugares elevados. O jogo é cheio de objetivos que são praticamente mini-games de plataforma, e vão testar justamente o controle que você tem sobre seu agente.

Tipo assim ó (ignore os bugs no vídeo, é por conta do streaming):

O básico do jogo resume-se a se locomover de forma ágil e causar destruição: os generais da Terra Nova comandam diferentes setores da cidade, e você deve destruir as instalações de cada um até ganhar o direito de enfrentá-los em uma batalha — ou não visto que certos chefes são vencidos de formas distintas, tipo destruindo suas “bases”.

Por exemplo, há um chefe que cuida de transportes e logística. Para atraí-lo, você deve invadir e tomar todas as estações de trem da cidade. Só ao fazer isso ele irá aparecer para enfrentá-lo. Outro é responsável pela exploração de minérios; desmantelar suas operações é a chave para poder ter acesso a ele. Cada atividade que você executa está atrelada a um chefe, e ao cumprir um número X delas, a chefona do rolê irá exigir que ele tente parar seu avanço.

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Nada como parar para admirar um trabalho bem feito!

Isso acaba deixando a campanha um pouco repetitiva e formulaica, visto que a progressão está o tempo todo atrelada à repetição de coisas como “tome posse de x lugares ou “destrua Y veículos”. Claro que a ideia é que você cumpra os diferentes objetivos conforme explora a cidade, mas como todos eles geralmente envolvem invadir e/ou explodir coisas, acaba meio que dando na mesma. O lado positivo é que isso quebra qualquer indício de linearidade  — você escolhe o que quer fazer primeiro, ou mesmo em qual ordem vai enfrentar os chefes.

Crackdown 3 ganha pontos por ser muito divertido. É simplesmente muito legal assumir o controle de um mercenário turbinado e sair explodindo a p*#ra toda. Desafios de plataforma para desativar torres de rádio, corridas e orbes de power up escondidas incentivam a exploração, e aproveitam a verticalidade do mundo do jogo para testar as habilidades do jogador.

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Hologramas e néon dominam a paisagem

O grande volume de coisinhas brilhantes  para coletar até dá um ar de collect-a-thon ao game, que está o tempo todo atirando números e estatísticas na sua cara, para você sempre saber o que já fez e o que falta fazer. Os colecionistas sem dúvida terão trabalho para fazer 100% do game.

Um jogo sem identidade

Crackdown 3 traz alguns elementos típicos do “mundo aberto estilo GTA” — tipo roubar carros de civis –, mas ele está mais preocupado em ser um jogo de ação explosivo do que um jogo de mundo aberto imersivo. A cidade de New Providence é até bonita com todos os seus outdoors holográficos e letreiros de néon, mas ela não parece viva, orgânica, e sua paleta de cores é bem repetitiva. Esqueça o mundo aberto vivo e pulsante de Assassin’s Creed ou Red Dead Redemption, a cidade aqui serve apenas como um cenário apático para as ações do protagonista.

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New Providence: quase uma cidade fantasma

Isso evidencia algo que talvez seja o maior problema de Crackdown 3: ele é um jogo genérico. E olha que ele tem Terry Crews em seu elenco — um dos sujeitos mais carismáticos de Hollywood. Porém, nem a presença deste ícone da testosterona salva a situação, e o potencial cômico do ator é diluído completamente, tornando-o apenas um avatar de luxo. As piadas ficam por conta das conversas que ouvimos pelo rádio, e embora eu respeite o jogo por não se levar a sério, isso não necessariamente torna-o mais interessante. Falta “alma”, sabe?

O audiovisual de Crackdown 3 como um todo é sem graça, e o fato do jogo ter demorado tanto para sair talvez faça com que ele pareça datado se comparado a outros jogos atuais. É aquele tipo de jogo que não é feio, mas também não é bonito, ficando em um meio termo sem sal que… bem, caracteriza produtos genéricos.

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Em alguns momentos ele até parece um jogo da geração passada

Que fique claro: o fato do jogo ser genérico não necessariamente significa que ele é ruim. Como já dito, mecanicamente ele é bem divertido. A questão é que o jogo não tem identidade, e se parece com diversos outros jogos com temática semelhante. Ele lembra o recente Agents of Mayhem, ou uma versão mais urbana de Just Cause.

Área de Demolição e Cloud Computing

Quando foi anunciado lá em 2015, Crackdown 3 prometia um nível absurdo de destruição, com prédios sendo derrubados em tempo real graças à uma inovadora tecnologia de Cloud Computing, que dividiria o trabalho de processar tanta informação com o console. Seria praticamente um benchmark de uma nova forma de se fazer games. Trailers como esse abaixo deixaram todo mundo  empolgado há um tempos:

Pois bem, se você esperava ver tudo isso na campanha, esqueça. A cidade em que se passa a campanha do jogo é bastante sólida, e a maior parte de suas construções continuará em pé, não importa o quanto você atire nelas. É no multiplayer — que foi produzido por outro estúdio e exige uma instalação separada — que vemos um pouquinho disso que nos foi prometido.

A Área de Demolição consiste em uma série de arenas, onde podemos entrar em partidas de 2 tipos: Caçador de Agente (basicamente um mata-mata em equipes) e Territórios (um king of the hill de controle de áreas). O gameplay permanece o mesmo, mas aqui as coisas se tornam explosivas de verdade, com muito vidro quebrando, estátuas gigantes ruindo e estruturas que realmente podem ser destruídas sendo efetivamente destruídas.

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Esse tipo de destruição a gente só vê no multiplayer

Joguei meia dúzia de partidas online, e todas rolaram numa boa, sem engasgos — ainda que o framerate seja cortado pela metade, mantendo-se nos 30fps e quebrando um pouco da fluidez da campanha — e a destruição dos ambientes em si torna as coisas bem caóticas. Sem sacanagem, você pode literalmente abrir caminho até o inimigo simplesmente explodindo pisos e paredes!

Apesar da diversão, é fato que o multiplayer do game é um tanto raso neste primeiro momento: são apenas 2 modos de jogo, e a falta de um senso de progressãonão há level up, nem customização de personagens, nada — acaba não dando muito propósito às partidas. É diversão rápida, mas sem recompensa. Espero que isso melhore no futuro, pois o fato do jogo chegar hoje ao Xbox GamePass lhe dá potencial de criar uma comunidade bem ativa desde o primeiro dia.

Conclusão

Falta personalidade a Crackdown 3, mas sem dúvida não faltam explosões e boas mecânicas. Este é um jogo que se apoia totalmente em seu seu gameplay, oferecendo muitas possibilidades ao jogador para que ele explore (e exploda) como quiser. O quanto você vai se divertir com ele depende muito do quanto sua fórmula pautada por repetição e destruição é capaz de te entreter.

Análise Arkade: Crackdown 3 tem muitas explosões e pouca identidade

Apesar de ser formulaico e meio datado, Crackdown 3 entrega um nível aceitável de entretenimento, afinal, explodir coisas sempre é legal. Isso também vale para seu multiplayer, que é raso mas divertido, e merece ser expandido e melhorado com o tempo para manter o interesse da comunidade.

Se tudo isso vai acontecer eu não sei, afinal o jogo está sendo lançado hoje, mas eu me diverti o suficiente com Crackdown 3 para recomendá-lo a você leitor, ainda que sua gritante falta de carisma tenha me incomodado o tempo todo. Vou me lembrar de sua história ou de seus personagens? Bem pouco provável. Mas o efeito catártico de salvar uma cidade explodindo tudo sem dúvida tem seu apelo.

Crackdown 3 está sendo lançado hoje para Xbox One e PC. O jogo está 100% localizado para o nosso idioma, com dublagens, menus e legendas (mas, para jogar em inglês no Xbox One, só mudando o idioma do sistema).

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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