Análise Arkade: Mergulhando na insanidade e terror do indie brasileiro Tamashii

4 de março de 2019

Análise Arkade: Mergulhando na insanidade e terror do indie brasileiro Tamashii

Prepare-se para afundar em um mundo escuro, macabro, imensamente insano e grotesco em uma jornada espiritual dentro do próprio poço de tudo o que é vil e mal, em um indie 100% brasileiro! Tamashii, criado pelo desenvolvedor brasileiro Vikintor é uma nova aventura profana e divertida, e é hora de conferirmos como o game acabou se saindo em nossa análise completa!

Uma jornada pelas profundezas da insanidade

Análise Arkade: Mergulhando na insanidade e terror do indie brasileiro Tamashii

Tamashii é um puzzle platformer com temática de terror ambientado em um mundo de escuridão e dor. No game, uma poderosa entidade dá vida a uma pequena criatura e a incumbe de uma importante missão: Nas profundezas do templo desta entidade, uma força maligna surgiu e está ganhando força, distorcendo suas criações e consumindo seu poder. E você deve colocar um fim nisso.

E assim, a missão do misterioso protagonista é explorar esse templo e livrá-lo das terríveis criatura que lá habitam agora. Mas não será uma tarefa tão simples, pois o conceito de bem e mal não é polarizado, este não é um mundo habitado pelas forças do bem a do mal, e no meio de tudo isso, essa pequena criatura encara questões sobre sua própria existência e seu propósito.

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Tamashii é um game que aborda questões filosóficas interessantes, dentro de um universo de perversão e maldade, nos apresentando uma misteriosa personagem, a Bruxa, que dará uma nova perspectiva ao protagonista sobre o caminho em que segue, ao passo em que oferece diferentes possibilidades de pensamento ao protagonista, na forma de diferentes opções de diálogo, que apesar de não influenciarem a aventura, geram interações interessantes entre os personagens.

Um mundo macabro e opressor

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Que fique claro desde já, Tamashii é um game com um estilo bem violento. Não tanto com cenas de violência, mas sim em sua atmosfera, visual e enredo. Imagine uma obra de H.P. Lovecraft, em que o mundo é dividido entre a parte luminosa e ignorante, e a parte escura e consciente dos terrores que habitam o universo. Tamashii está fundo no lado escuro e flerta com a possibilidade de um salto ainda mais profundo.

O game tem seu principal foco no gameplay, com diálogos pontuais em momentos chave da aventura e alguns pedaços de lore aqui e ali, todos apresentando ao jogador a loucura que permeia em seu mundo. Alie isso a arquitetura e visual altamente grotescos e temos um mundo opressor, sem necessariamente atacar o jogador a todo momento (mas ataca, então esteja preparado).

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E se o game numa primeira olhada não parece tão bizarro, basta alguns minutos de jogatina que isso muda. O game tem momentos de intenso terror e bizarrice extrema, o que é realmente incrível para um game 2D com visual pixelado. O game consegue criar uma atmosfera incrível que vai do sombrio ao horripilante de formas surpreendentes (com alguns jump scares bem inesperados).

Um desafiador puzzle platformer

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Tamashii é um simples game de plataforma, sem muitas complicações. Você controla um pequena figura com o objetivo de resolver puzzles em diferentes salas para abrir a porta para a próxima. Os controles são basicamente andar, pular (contando com pulo duplo), apertar pra baixo para descer de plataformas e criar até três clones.

Os clones são usado para ativar símbolos especiais que desativam certas paredes e para ativar os mecanismos que abrem portas. O desafio do game está em como superar os obstáculos formados por armadilhas, paredes especiais que aparecem ou desaparecem ao se ativar seus respectivos símbolos e destrancar as portas, além de achar o caminho para a porta de saída. Os clones duram por apenas 10 segundos cada, e o jogador ainda pode acelerar o tempo de suas destruições.

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Os clones são pequenas caveiras estáticas que servem para ativar botões e símbolos

Falando parece complicado, mas é bem simples. Simples na ideia, na execução a coisa é diferente. O game inicialmente começa bem fácil, mas quando o jogador enfim se familiariza com o gameplay, aí a coisa complica. Os puzzles ficam bem mais difíceis, contando com mais símbolos para serem interagidos e ainda levando em conta o tempo de destruição dos clones.

No game, o templo que devemos explorar é o hub central, e cada fase é uma das salas diferentes, compostas de diferentes telas, até chegar a seu final. Em todas as salas, o jogador chega em um ponto em que pode escolher um de dois caminhos: o da direita é mais fácil e o da esquerda é muito mais difícil. Mas se o jogador conseguir superar o caminho da esquerda, receberá um item especial que destranca uma porta no topo do templo, que conta com um segredo para habilitar o conteúdo bônus do game, que tem bastante coisa legal.

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Acredite, o caminho da esquerda é muito mais difícil

Ainda há salas que contém pequenos pedaços de lore do game ou outros conteúdos, como chefões extras, áreas exploráveis e alguns segredos. Aliás, o game é recheado de segredos, com salas e caminhos secretos bem escondidos, códigos com significados bem complicados, que envolvem desde coordenadas geográficas a códigos criptografados. Para os jogadores que gostam de destrinchar games misteriosos e seus segredos mais ocultos, Tamashii é um prato cheio!

Audiovisual

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Tamashii é um game belíssimo, da forma mais grotesca possível. Como já dito, o game tem visual pixelado, mas com imagens recheadas de detalhes do mais repulsivo possível. O game possui muitas imagens e simbolismos sombrios, desde gravuras de Cthulhu, estátuas de demônios e criaturas imensamente aterrorizantes e distorcidas.

Os bosses são um show a parte, todos com visuais que parecem saídas direto de pesadelos, desde uma imensa criatura sem fele, feita de carne, tendões e músculos a esqueletos gigantes que cobrem toda a a tela. O game tem um visual predominantemente em escalas de cinza, mas quando os chefões, ou eventos estranhos acontecem, o vermelho domina tudo.

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Aliado a isso está um incrível sistema de distorção de tela, com glitches programados que “fatiam” a tela horizontalmente e distorcem suas imagens em cores e pixels desordenados. O game ainda conta com um antiquado visual de linhas horizontais de televisões antigas, além de efeito de distorção RGB. Se você já teve ou usou uma TV antiga talvez reconheça o efeito, é quando você está “sintonizando” a imagem e ela se distorce com sombras vermelhas, verdes e azuis.

E caso você não se dê bem com esse tipo de estética, pode desativar esses efeitos de glitch de imagem nas opções do game, além de poder ativar um modo de acessibilidade, que ativa uma câmera para jogadores que tiverem dificuldades visuais com o game.

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Uma amostra do efeito de distorção de cores

Na parte sonora, o game consegue criar sua atmosfera opressora de forma excelente. As músicas são no geral calmas, com aquelas batidas curtas e longas de obras de terror cheias de violência e mistério, como em games como The Suffering F.E.A.R., mas com sua própria identidade. E a medida que o jogador avança nos puzzles de cada sala, a música vai ficando mais agitada e violenta.

Aliado a isso estão vários sons diferentes, como gritos de intensa dor e horror, grunhidos nojentos, sons de batidas, sons que remetem a imagens desagradáveis na mente e várias outras coisas. Prepare-se para sentir bastante desconforto enquanto joga, pois não houve economia no bizarro!

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Se já achou essas imagens bizarras, não se acostume, tem coisa bem pior!

A atmosfera que o game consegue criar, com suas imagens pixeladas imensamente bizarras e seus sons igualmente desconcertantes é excelente. Em um paralelo, posso dizer que o game fez um melhor trabalho em sua atmosfera do que Agony, um game que literalmente te joga no inferno. A diferença é que em Agony depois de algum tempo nada mais impressiona, fica sem graça. Mas aqui a atmosfera permanece intacta, por mais que você eventualmente se torne mais resistente a ela.

E sendo um game brasileiro, ele conta com localização 100% em português, então os jogadores não encontrarão dificuldade alguma em se aventurar nesse mundo sombrio. O game ainda conta com localização em inglês, mas em português é onde ele realmente brilha.

Conclusão

Análise Arkade: Mergulhando na insanidade e terror do indie brasileiro Tamashii

Tamashii é a maior criação de Vikintor, que já criou alguns outros games nos últimos meses mas com menor escopo, sendo um deles o curioso (e gratuito) Ritualistic Madness, um Dungeon Crawler old-school com visual todo vermelho e gameplay simples, como se fosse um game cancelado para o infame Virtual Boy.

Tamashii oferece uma experiência simples e altamente desconcertante, mas envolvente e divertida de se acompanhar. O mundo perverso do game onde nada é preto no branco e com um desenvolvimento interessante sobre suas próprias forças, monstros e entidades torna o game uma aventura interessante não só por ser um ótimo puzzle platformer, mas também um genuíno game de terror. E se já não ficou claro, que fique novamente, o game é bem intenso, então esteja preparado para tudo!

Tamashii foi lançado no dia 27 de fevereiro no Itch.io custando meros 4 dólares (pouco menos de 15 reais) e definitivamente vale seu preço! Em breve o game também estará disponível na Steam, contando ainda com um sistema de conquistas. Se você é fã de games de terror e de platformers, então dê uma olhada no game! Além é claro de ser uma obra 100% brasileira, o que por is só merece ser altamente elogiada!

Renan do Prado

Amante de Metal Gear, platinador de Soulsborne e exímio jogador online (quando o lag não atrapalha).

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