Análise Arkade: Pawarumi, um bullet hell com interessantes mecânicas de jokenpo
Se você curte um bullet hell de navinha, esta semana temos um ótimo novo jogo do gênero sendo lançado: Pawarumi incorpora mecânicas de jokenpo ao gênero, e oferece um desafio de alto nível ,confira nossa análise!
Naves tribais
Pawarumi se passa em uma época “pré-Colombiana” majoritariamente tribal. Nosso protagonista é Axo, a melhor piloto de sua tribo. A moça foi possuída por uma forma de vida alienígena, que a forçou a fazer coisas abomináveis contra seu próprio povo.
Quando ela retoma sua consciência e se dá conta da destruição que causou, fica desolada. Agora, só há uma coisa a ser feita: vingar-se. Assim, ela vai usar todos os recursos de sua nave Chukaru para levar fogo e destruição a quem lhe fez perpetrar atos horrendos.
A história não é realmente complexa, e apresenta-se quase toda na forma de flashbacks. A maior parte das fases mostra Axo ainda possuída. A última fase é a sua vingança. Curiosamente, a dificuldade altera o número de fases e a ordem que iremos enfrentá-las, ou seja, jogar no Easy, Normal ou Hard altera a ordem de acontecimentos — e o modo Easy sequer nos apresenta ao final do jogo.
Jokenpo espacial
Em uma primeira olhada, Pawarumi parece um “shooter de navinha” horizontal bastante tradicional. Porém, o jogo possui um interessante twist em suas mecânicas, que se apropria de elementos de jokenpo para trazer um toque de estratégia aos combates.
Isso não quer dizer que você vai jogar “pedra, papel e tesoura” com os inimigos, mas que existem diferentes tipos de tiros, que são mais (ou menos) efetivos em inimigos de respectivas cores. É uma releitura de mecânicas elementais do tipo “água x fogo” que já vimos em dezenas de RPGs, com a diferença que aqui os ataques não têm necessariamente propriedades elementais.
A nave Chukaru se modifica em tempo real para usar 3 padrões de ataque distintos, que canalizam a energia de um trio de divindades chamado de Trinity: Condor é um laser (azul), Serpent é uma metralhadora (verde), e Jaguar são mísseis teleguiados (vermelhos). Cada tipo de munição é atribuído a um botão do controle, e todos eles têm munição infinita.
Aí entra o lado “jokenpo” do game: inimigos azuis tomam mais dano dos tiro Jaguar (vermelhos), e se o inimigo for vermelho, tiros azuis (Condor) causarão mais dano. É uma mecânica bastante simples e auto-explicativa, mas ganha um pouco mais de profundidade com os diferentes recursos do game.
Boost, Crush & Drain
Aí estão alguns termos que você vai ter que aprender e se habituar para se aventurar por Pawarumi. Como eu disse ali em cima, o jogo tem essa mecânica estilo “pedra papel e tesoura” com padrões de ataque e inimigos de diferentes cores. Até aí tá tranquilo, mas usar a cor oposta nem sempre vai ser o que você quer.
Explicando: no rodapé da tela, temos duas barras distintas; uma é a Shield, outra a Super. A Shield indica o quanto de escudo você tem — só temos uma vida em Pawarumi, então manter seu escudo cheio para absorver alguns tiros inimigos é o que vai te salvar da morte em diversos momentos. Já a barra Super é consumida para um super ataque devastador capaz de limpar a tela — ou causar um belo estrago na carcaça de um chefe.
Como encher e/ou recuperar estas barras? Através de diferentes combinações de ataques. Crush é o dano cumulativo que você consegue ao usar a cor oposta a do inimigo (vermelho x azul, verde x vermelho, azul x verde). Seu único papel é causar dano massivo, destruindo inimigos mais rapidamente e sendo um jokenpo bem literal.
Quando você atira em um inimigo com a mesma cor dele, porém (verde x verde, vermelho x vermelho, azul x azul), está entrando no modo Boost — seu tiro aumenta o poder de fogo do inimigo que está sendo alvejado, mas restaura o seu medidor de escudo.
Por fim, quando você resolve usar o padrão de ataque Drain — (verde x azul, azul x vermelho, vermelho x verde) –, seus ataques causarão dano moderado, mas sua barra de especial vai sendo preenchida, o que vai permitir que você carregue-a para chefes ou momentos críticos.
São mecânicas relativamente básicas, mas que acrescentam camadas extras de complexidade aos combates, e ainda trazem aquela tensão de risco e recompensa: vale a pena deixar seus inimigos ainda mais poderosos para recuperar seu escudo? Esse é o tipo de decisão que você precisa tomar o tempo todo, no calor dos combates, enquanto tenta não ser alvejado por incontáveis projéteis. É estratégico, mas sem quebrar a fluidez (e o caos) de um legítimo bullet hell.
Audiovisual
Ainda que se mantenha fiel ao estilo de jogabilidade 2D típico dos shoot’ em ups, Pawarumi é um jogo com cenários e naves tridimensionais, inseridos em um gameplay 2D. Isso concede profundidade e volume aos modelos, e as cores predominantes do sistema Trinity em neon enriquecem bastante o visual do jogo.
Eu gosto particularmente de como tudo tem um aspecto meio tribal: é quase como se estivéssemos vendo uma releitura futurista de povos como astecas, incas e maias. Há muitas pirâmides, totens e arabescos que remetem a estas culturas. Não lembro de ter visto nada assim em algum outro jogo do tipo, e a criatividade aplicada na concepção do mundo e das naves são dignos de nota.
Em termos audiovisuais o jogo é mais contido, mas entrega o que se espera do gênero: músicas aceleradas e efeitos de tiros, lasers e explosões satisfatórios. A história é contada através de telas estáticas com belas artes, e os menus e legendas em português brasileiro sem dúvida são muito bem-vindos.
Conclusão
Pawarumi pode até parecer um “jogo de navinha” bastante tradicional, mas ele consegue inserir nuances de gameplay bem interessantes, ao mesmo tempo que foge de convenções típicas do gênero: aqui não há power ups, nem boosts — seu desempenho é realmente pautado pelo seu controle sobre o sistema Trinity e pelo bom uso que faz (ou não) dos diferentes padrões de ataque da nave Chukaru.
Acho que justamente por isso, ele consegue ser especial: é difícil inovar em um gênero tão tradicional, mas Pawarumi consegue fazer isso, e no geral se sai muito bem em tudo o que arrisca fazer. Vale ressaltar que o jogo oferece um tutorial bem explicativo para que o jogador já comece sua jornada entendendo o conceito de Crush, Drain e Boost.
É possível jogar mesmo sem entender tudo isso? Até é, mas sua jornada será bem mais difícil e penosa. As camadas de estratégia que foram adicionadas à fórmula de Pawarumi estão aí justamente para ajudar o jogador, e irão recompensá-lo se ele não se limitar a “sentar o dedo no gatilho”, e fizer um bom uso do sistema.
Por tudo isso, acho que Pawarumi é um jogo indispensável na galeria de quem é fã de shmups e “jogos de navinha”. Ele traz novidades interessantes e bem resolvidas, que sem dúvida conseguem tornar a experiência diferente de outros jogos do gênero, sejam eles clássicos ou jogos contemporâneos.
Pawarumi está sendo lançado hoje (24/07) com versões para PC, Nintendo Switch e Xbox One. Este review foi feito com base na versão Nintendo Switch do jogo, em uma cópia que recebemos antecipadamente para fins de análise.