Análise Arkade: Untitled Goose Game, mais conhecido como o “Jogo do Ganso”

1 de outubro de 2019
Análise Arkade: Untitled Goose Game, mais conhecido como o "Jogo do Ganso"

Nos últimos anos, o mundo dos games foi acometido por uma febre de simuladores nonsense. Teve simulador de cabra, de pão de forma, de banho com o pai (:!) e até um simulador de formiga que teve de ser cancelado porque a grana arrecadada foi gasta na zona.

Um legítimo”simulador de ganso”

Untitled Goose Game não se chama “Goose Simulator“, mas talvez seja o jogo que melhor traduz o comportamento do animal real para o mundo dos games. Quem já viu um ganso “ao vivo” ou mesmo em algum vídeo do Youtube sabe que o bicho é arredio, traiçoeiro e gosta de correr atrás das pessoas. Pois é maios ou menos isso que a gente — no controle do ganso — faz em Untitles Goose Game.

O título pode não ser nada criativo (em tradução livre, teríamos algo como Jogo do Ganso sem Título), mas sem dúvida houve alguma criatividade — e muita maluquice — na concepção deste game que é simples, curto e muito estranho, mas esbanja carisma e garante umas boas risadas.

Análise Arkade: Untitled Goose Game, mais conhecido como o "Jogo do Ganso"
Impressionar as pessoas com seus truques também pode ser útil.

Não há realmente uma história aqui: controlamos um ganso, e nosso trabalho é infernizar a vida de quem estiver por perto. Isso inclui roubar chaves, alimentos, roupas do varal, assustar as pessoas com sua “buzina”, fazê-las cair, prendê-las, quebrar suas coisas… enfim, o papel do ganso aqui é ser um legítimo troll pentelho!

Seja o ganso!

Ao contrário de outros simuladores que exageram um pouco demais no absurdo (tipo a língua da cabra), os comandos aqui são totalmente condizentes com o protagonista: nosso ganso pode grasnar, pegar coisas com o bico, bater as asas, correr, andar abaixado… coisas que um ganso de verdade também deve ser capaz de fazer. E é com este limitado repertório de habilidades que iremos encarar os obstáculos do jogo.

Análise Arkade: Untitled Goose Game, mais conhecido como o "Jogo do Ganso"
“Tô na TV!”

Por mais aleatório que pareça o andamento do jogo, sempre há uma lista de tarefas com coisas que podemos fazer em cada área. Quando cumprimos uma boa parte delas, uma última tarefa surge. Ao completá-la, algo no cenário muda, possibilitando que nosso amigo ganso siga em frente, para tocar o horror em outro lugar.

Vou dar um exemplo (com leves spoilers) para você entender: na primeira área do jogo, nossa missão é infernizar um jardineiro ao ponto de fazê-lo colocar uma placa de “proibido ganso” em sua propriedade. No exato momento em que ele vai martelar a placa, devemos dar uma “buzinada” por trás dele: o pobre coitado irá se assustar e martelar o próprio dedo, caindo para trás e abrindo o portão pelo qual acessaremos a área seguinte.

Análise Arkade: Untitled Goose Game, mais conhecido como o "Jogo do Ganso"
O jardineiro é nossa primeira “vítima”.

Ou seja, ainda que o objetivo principal do jogo sempre se mantenha fiel ao tema “ser um ganso e trollar as pessoas”, há uma cadeia de acontecimentos que devemos criar para prosseguir. É como se cada zona do jogo fosse um Escape Room, e nosso objetivo é justamente descobrir como sair.

Nem todas as tarefas são óbvias, e algumas delas envolvem um bocado de tentativa e erro até descobrirmos exatamente o que deve ser feito. E, enquanto alguns NPCs ignoram a presença do ganso, outros irão perseguir e enxotar a ave, especialmente se flagrarem ela “metendo o bico onde não é chamado”.

Análise Arkade: Untitled Goose Game, mais conhecido como o "Jogo do Ganso"
“Cadê o ganso?”

Claro que o jogo aproveita a natureza sacana do ganso para estimular o jogador a realmente trollar as pessoas. Nada que vá quebrar ossos nem deixar ninguém com sequelas, mas sem dúvida são situações capazes de tirar uma pessoa do sério. Não é do nosso feitio colocar palavrões nos textos aqui da Arkade, mas abro uma exceção para dizer: mano, este ganso é um tremendo filho da p*ta!

Audiovisual

Felizmente, toda essa natureza maquiavélica do ganso dilui-se em um visual super bonitinho, um cartoon sem bordas que concede muito charme e identidade ao jogo. E o ganso, cara, ele anda rebolandinho de um jeito tão engraçado e fofo que é simplesmente impossível a gente não gostar dele!

A trilha sonora instrumental tem um quê de desenho animado old school que é bem interessante. Sabe quando, em desenhos tipo Tom & Jerry, a música costuma acompanhar a ação, ficando agitada ou lenta conforme a ação que acontece na tela?

Análise Arkade: Untitled Goose Game, mais conhecido como o "Jogo do Ganso"
Roubar roupas do varal é uma arte.

Untitled Goose Game faz quase a mesma coisa: divertidas músicas incidentais de piano aparecem de acordo com o que está rolando. É um artifício um tanto cômico que combina perfeitamente com essa vibe sem noção do game, e ainda concede um ar de nostalgia que foi uma grata surpresa.

Também é digno de nota o cuidado que eles tiveram ao criar os sons que o ganso faz ao caminhar sobre diferentes superfícies, ou ao grasnar carregando algo (o som de buzina dele com uma garrafa no bico é impagável). Claramente houve muito carinho e capricho nesses detalhes. Ah, e o jogo possui menus e legendas em português brasileiro, uma mão na roda para a gente não ficar boiando na lista de tarefas!

Conclusão

O “jogo do ganso” mal chegou e já pode ser considerado um dos grandes fenômenos de 2019. Os jogadores estão apaixonados por ele, e já estão rolando petições para a Nintendo colocar o ganso em Super Smash Bros. Ultimate e os fãs já estão até imaginando golpes para ele… essa é uma dentre as tantas maluquices que só a internet é capaz de propiciar.

Análise Arkade: Untitled Goose Game, mais conhecido como o "Jogo do Ganso"
Esse garotinho de óculos morre de medo do ganso.

Mas o jogo merece todo esse burburinho? Olha, sendo bem honesto contigo, depende. Ele é um jogo curto e meio bobo, sem nenhuma preocupação narrativa, nem nada do tipo. O lance aqui é trollar geral, experimentando tudo o que um ambiente oferece para atazanar a vida das pessoas.

Assim, por mais curtinha e bobinha que seja a experiência, Untitled Goose Game é um daqueles jogos que deixam a gente com um sorriso no rosto o tempo todo. Seja pelo puro fator nonsense, seja pelo reboladinho simpático do protagonista, é simplesmente impossível ficar de mau humor jogando — ou assistindo alguém jogar. Convenhamos: as vezes só o que a gente quer é um joguinho curto e bobo para espairecer e dar umas risadas, não é?

Só por isso — por ser, antes de mais nada, lúdico, inocente, divertido Untitled Goose Game já merece pelo menos um pouco dessa atenção toda. Não é um jogo para todos, mas quem arriscar dar uma chance a ele, vai ser cativado, e sem dúvida acabará dando boas risadas.

Untitled Goose Game foi lançado em 20 de setembro, com versões para PC (onde joguei para esta análise) e Nintendo Switch. O game possui menus e legendas em português brasileiro.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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