Análise Arkade: Lost Ember conta uma bela história do ponto de vista de vários animais
Esses dias eu comentei aqui como tenho uma queda por jogos protagonizados por cães/lobos/raposas, etc. Na ocasião, estava resenhando Spirit of the North, um jogo sem dúvida muito bonito, mas com um level design que torna a jornada por seu mundo um tanto frustrante.
Felizmente, este não é o caso de Lost Ember. Sem puzzles ou complicações, este é um jogo pautado pela exploração e pela experimentação. É meio que um walking simulator com animais? Até é. Mas seu mundo é bonito e imersivo o bastante para que o ato de ir e vir nele seja um prazer.
Vida, morte e reencarnação
Bom, mas antes de entrar nessa área, vamos falar da história de Lost Ember, né? Começamos o jogo acompanhando uma pequena luz vermelha, que representa um espírito recém desencarnado. Ela parece meio perdida no mundo, e acaba indo pedir ajuda para uma loba.
Acontece que aquela loba pode ser mais do que aparenta… e talvez o destino tenha colocado ela no caminho da luz vermelha justamente para que ambas possam se ajudar. Lost Ember nos apresenta ao povo Yanrana, e à forma peculiar com que eles encaram conceitos de vida, morte, reencarnação e espiritualidade.
O grosso do gameplay se resume a ativarmos lembranças, que nos mostram um pouco mais da cultura deste povo, e de situações que envolvem a vida passada de nossa loba. Através destes flashbacks, podemos entender melhor quem ela é e de onde veio.
Sem entrar em spoilers, Lost Ember é um jogo que trata sobre estes temas com muita sensibilidade. O jogo não está querendo doutrinar ninguém, mas apresenta uma história sensível e delicada, que deixa claro que na vida não há apenas o preto e o branco: os tons de cinza entre eles são profundos.
Exploração animal
Nossa primeiro contato com o jogo se dá na forma da loba, um animal ágil, esguio e veloz. Correr pelas belas planícies do jogo na pele dela é um prazer, e como o grosso do jogo envolve simplesmente seguir em frente, é bom que possamos controlar uma criatura que nos permita fazer isso com rapidez e desenvoltura.
A loba é ágil… porém, ela também é grande. E, obviamente, não pode voar. Ou mergulhar. O ambiente no qual estamos demanda que sejamos capazes de fazer tudo isso — e felizmente, o jogo nos oferece todas essas possibilidades de formas muito criativas.
Funciona assim: nossa loba pode farejar o ambiente, e encontrar outros animais pelos arredores. Toupeiras, patos, peixes, entre outros. Quando estiver perto o bastante de outro animal, ao pressionar de um botão você pode “entrar” nele, ganhando controle de suas habilidades enquanto estiver lá. Depois, é só sair e voltar à sua forma lupina.
Então, se por acaso você der de cara com um muro bloqueando seu caminho… que tal assumir a forma de uma toupeira, cavar um buraco e passar por baixo dele? Tipo assim, ó:
Este é o grande “twist” no gameplay de Lost Ember, e o que entrega boa parte da diversão do jogo: assumir a forma de diferentes animais e descobrir as novas possibilidades de exploração que eles oferecem é muito legal.
Em alguns casos, você será obrigado a assumir o corpo de outro animal — para transpor um abismo voando, ou um grande lago nadando, por exemplo — mas há algumas transformações que a gente pode fazer só pela diversão, pela fofura. Os wombats, por exemplo, não servem para quase nada no game (sendo justo, há pequenos túneis que eles podem acessar), mas eles são tão fofos que é legal jogar um pouquinho com eles. <3
E aí entra a experimentação que eu falei: se você simplesmente seguir em frente com a loba, vai ter uma experiência mais rápida, mas também mais limitada. Entrar no corpo de outros animais, ver o mundo pela perspectiva deles, acessar lugares que só eles conseguem, é algo que torna a jornada muito mais variada e interessante.
Há até uns momentos mais scriptados, com alguns QTEs, como este trecho, onde devemos controlar um beija-flor e encarar severas ventanias:
Dito isso, é bom deixar claro que Lost Ember pode ser mais ou menos gostoso de jogar conforme você curte mais (ou menos) essa vibe lúdica que ele tem. Simplesmente ir direto ao ponto, destravando lembranças pode até ser o jeito mais prático de se jogar… mas definitivamente não é o mais divertido.
Audiovisual
Abraçando um estilo cartunesco cheio de personalidade, Lost Ember é muito bonito. Nada de animais realistas aqui, tudo é mais caricato, mas respeita as proporções e a aparência geral de cada bicho. As paisagens e cenários vão na mesma linha: mais estilo, menos realismo, mas sempre com muita identidade.
Ao contrário de outros jogos do tipo — que tendem a ser mais abstratos e interpretativos — aqui temos uma história mais tradicional, com vozes, e tudo mais. Isso sem dúvida enriquece a narrativa do jogo, e as boas dublagens agregam valor e dramaticidade ao conjunto da obra.
A trilha sonora é sutil, pontual, mas sempre aparece na hora certa para enfatizar as emoções e descobertas que o jogador vai encontrar. Ah e, sempre é bom ressaltar, Lost Ember possui menus e legendas 100% em português brasileiro.
Conclusão
Lost Ember, tal qual outros “walking simulators”, não é para todos. Quem espera explosões e ação desenfreada não vai encontrar nada disso aqui. A vibe do jogo é outra, muito mais pacífica e contemplativa.
Se, por outro lado, o que você busca são animais fofinhos e uma bela história — que pode até, quem sabe, mudar a sua forma de encarar “a vida, o universo, e tudo mais” — Lost Ember tem tudo para te encantar.
Não é um jogo particularmente longo, e o preço meio salgado (R$ 91 na PSN, R$ 112 na Microsoft Store, R$ 57 no Steam) talvez não torne ele tão atrativo neste primeiro momento. Mas, quando pintar uma promoçãozinha marota que abaixe um pouco estes valores, ele sem dúvida se torna uma boa pedida.
Lost Ember foi lançado em 22 de novembro, com versões para PC, Playstation 4 e Xbox One. No futuro, ele deve chegar também ao Nintendo Switch. O game está com menus e legendas em português brasileiro.