Análise Arkade: a bagunçada briga de caranguejos de Fight Crab
Recentemente a gente te mostrou aqui na Arkade um jogo chamado Fight Crab. Como o título sugere, ele é um jogo de luta entre caranguejos. Essa premissa me parecia boa demais para ser verdade, eu experimentei o game e agora te conto mais sobre ele.
Briga de caranguejos
Quando se fala em um jogo que coloca caranguejos para brigar, a gente não se atreve a esperar que haja uma grande história sendo contada, não é? De fato, não há: as lutas rolam em diferentes cenários, e cada cenários tem uma frase de introdução que serve para contextualizar a parada… mas no geral o jogo entrega basicamente o que seu título promete: luta de caranguejos.
Um biólogo sem dúvida ficaria impressionado com o cuidado que os desenvolvedores tiveram na recriação dos bichos: há mais de 20 espécies de caranguejos diferentes, e todas são muito detalhadas e parecidas com suas versões reais. Porém, em Fight Crab o realismo para por aqui.
Digo isso porque o jogo nem tenta colocar os caranguejos para brigar em um ambiente que seria considerado próprio para eles. Acho que só a primeira luta do modo Campanha rola em uma praia, dali para a frente vamos para mesas de jantar, castelos medievais, e muito mais.
Também não há preocupação nenhuma em representar os crustáceos de maneira proporcional: em uma arena, eles estão em cima de uma mesa e podem muito bem representar o tamanho real. Em outra, são do tamanho de casas, e podem agarrar postes e carros para usar como armas (?!). É uma maluquice.
Garras & armas
Falando em armas, aqui temos mais um detalhe que passa longe do realismo. Conforme jogamos, vamos desbloqueando diversas armas, desde canivetes até revólveres, turbinas, maças e katanas. Também desbloqueamos outras espécies de caranguejos, que podemos tanto controlar quanto deixar como “assistente”, controlado pela IA.
O gameplay é um tanto quanto desajeitado, mas acredito que isso seja meio proposital. Jogando com um controle, cada alavanca analógica movimenta um dos “braços” do caranguejo. Os gatilhos superiores do controle podem abrir ou fechar as garras, e isso é especialmente útil para coletar e usar as armas.
Assim, uma luta típica de Fight Crab envolve, basicamente, movimentos frenéticos nos analógicos, enquanto abrimos e fechamos as garras. Além de pegar armas, fechar suas garras também serve (um pouco) como defesa, e você pode também “beliscar” partes do inimigo, ou segurá-lo enquanto desce o cacete com a outra mão.
A vitória é dada para o caranguejo que conseguir derrubar seu oponente com a “barriga” para cima por alguns segundos. Ou seja, este não é um jogo tradicional dividido em rounds, mas algo mais próximo de um Super Smash Bros: os bichos não tem uma barra de vida, mas um medidor em porcentagem. Quanto mais alto esse valor fica, maior a chance do caranguejo ser derrubado e não conseguir se recuperar. Em algumas fases com cenário elevado, jogar o oponente para fora do “ringue” também é garantia de vitória.
Como não poderia deixar de ser, temos também golpes especiais: um deles é o Ultra, que deixa seu caranguejo com um contorno azul por alguns segundos, aumentando a força de seus golpes e culminando em uma explosão que afasta os inimigos. Além disso, há um ataque no melhor estilo “kame hame ha”, em que o crustáceo dispara um feixe reto de energia.
Sabe quando falta alguma coisa?
Fight Crab tem esse problema. Coisas como impacto e peso são importantes no mundo dos games. Elas servem não só como um feedback para o jogador, como também fazem com que um jogo seja bom ou ruim de ser jogado. No caso de Fight Crab, infelizmente, a balança pende para o lado negativo.
A gravidade é extremamente zoada, todos os caranguejos parecem leves demais, como se fossem feitos de bolhas de sabão. A falta de impacto e um sistema de colisão bugado também atrapalha: vemos faíscas e brilhos pela tela mas não sentimos o “peso” das porradas… e vemos garras e pernas se atravessando e ficando presas em elementos do cenário.
Falta uma fisicalidade decente, algo que represente a força dos golpes, um feedback tátil para o jogador. Em batalhas com 4 caranguejos, a gente acaba simplesmente girando loucamente os analógicos, na esperança de atingir alguém. As porcentagens de dano sobem, mas não há sensação real de dano, seja infligido ou recebido.
Entendo que a proposta do jogo não é a de ser um fighting game muito preocupado com a realidade, mas do jeito que está, Fight Crab parece um tanto cru, inacabado. Meio que um Early Access vendido como completo — e ainda que não custe muito (menos de R$ 40 na Steam) –, essa grana sem dúvida pode ser investida em algo muito melhor.
Assim, eu não achei o gameplay particularmente empolgante ou prazeroso, ainda que ele seja divertido de um jeito meio bobo e desengonçado. Jogar o modo Campanha traz arenas com desafios crescentes e até chefões: vencer lhe rende dinheiro, que você usa para subir de nível e para comprar armas. No multiplayer (seja local ou online) a maluquice das mecânicas — e da proposta do jogo em si — até rendem boas risadas, mas Fight Crab nunca é um jogo gostoso de se jogar.
Audiovisual
Fight Crab está longe de ser um jogo lindo, mas ele até que não faz feio: como já dito, os modelos de personagens são bastante detalhados, e faíscas, explosões e efeitos e luz conseguem deixar as batalhas bem cinematográficas — até Photo Mode o jogo tem!
O mesmo capricho não pode ser encontrado nos menus: tudo é uma bagunça, os textos são grandes demais, sobrepõem-se uns sobre os outros, e a tela se enche de informação de um jeito que fica confuso de se achar. Não que haja muita coisa relevante para ser lida aqui, mas isso prejudica o simples ato de navegar pelos menus, comprar armas e melhorar seus caranguejos.
A trilha sonora do game traz uma música cantada — que eu não sei se foi composta exclusivamente para o game ou não — e faixas animadas que são condizentes com as arenas (uma música mas épica para o castelo medieval, outra mais oriental para a mesa de jantar, por exemplo). Os sons de pancadaria basicamente cumprem seu papel. Não há muitas vozes no jogo, nem localização para o nosso idioma: menus e legendas estão disponíveis em inglês.
Conclusão
Além de ser um fã de jogos que não se levam a sério, eu sempre gosto de experimentar coisas novas (por mais malucas que sejam), visto que a criatividade dos indies vez ou outra nos brinda com algumas pérolas — como Yoku’s Island Express, um MetroidVania com mecânicas de pinball que tem como protagonista um besouro rola-bosta.
Fight Crab, por outro lado, não é nenhuma pérola. Eu gosto de sua premissa maluca e do cuidado que os produtores tiveram com a aparência dos animais, mas mecanicamente o jogo é uma bagunça: nos controles, na percepção de impacto e dano, em seus menus bizarros e mal diagramados.
Fica difícil recomendar Fight Crab, a menos que você realmente seja um entusiasta de fighting games bizarros (ou caranguejos). Eu vim esperando encontrar algo divertido… e até encontrei, mas a diversão é severamente comprometida pela crueza e falta de polimento da experiência como um todo.
Fight Crab foi lançado em 30 de julho para PCs. Em setembro, o game chegará ao Nintendo Switch.