Análise Arkade: The Falconeer tem falcões guerreiros e muita politicagem

21 de novembro de 2020
Análise Arkade: The Falconeer tem falcões guerreiros e muita politicagem

Voar é uma coisa que me fascina. Eu adoro jogos que me permitem voar. Não falo do jeito sistemático e realista de Flight Simulator, mas de um jeito mais fantástico: voar nas costas de um dragão, ou de um pégaso, na pele de um super-herói, enfim… voar sempre é legal.

Falcões políticos

Ou pelo menos, deveria ser. Eu acompanhei de perto a divulgação de The Falconeer, pois estava muito interessado por ele. Afinal, um jogo em que voamos nas costas de um falcão gigante deveria ser bem legal, certo? Não necessariamente.

A história do jogo se passa em um mundo de fantasia que é quase todo tomado por oceanos. As pessoas erguem cidadelas onde dá: no topo de montanhas, palafitas e ruínas. Obviamente, a humanidade se dividiu em facções rivais, que controlam territórios, rotas comerciais e tecnologias. Talvez inspirado por Game of Thrones, ele se apoia em uma história cheia de política e diplomacia entre os povos, com traições, alianças e tudo mais.

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Os Falconeers que dão nome ao jogo, são, então, sentinelas, mensageiros, diplomatas, dotados da extraordinária capacidade de carregarem as memórias de suas vidas passadas — o que justifica a troca de personagem em caso de morte. Estes guerreiros ocupam diversas funções, de acordo com a necessidade. No papel de um desses personagens, você terá que cumprir missões para várias facções e, invariavelmente, tomar partido no conflito entre os povos.

O jogo tem um lore muito interessante… que infelizmente não vira uma história muito cativante. Este é um jogo de mundo aberto dividido em capítulos — algo que não faz muito sentido –, e a narrativa perde força em meio a menus confusos e longos diálogos entre NPCs que estão envolvidos em conspirações, traições e tretas políticas.

Vida nos Céus

The Falconeer me parecia uma versão melhorada de Panzer Dragoon — jogo que não esconde sua idade nem no remake que foi lançado recentemente. Voar nas costas de um falcão gigante, enfrentando inimigos e cumprindo missões em um vasto mundo aberto parecia um conceito que não tinha como dar errado.

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E assim: o jogo funciona. O problema é que todo esse lado diplomático dele torna seu andamento um tanto lento, e há muitas missões bastante repetitivas e genéricas, que parecem estar ali só para “encher linguiça”. Você nunca se sente um herói que faz a diferença naquele mundo, mas um “pau pra toda obra” que quebra o galho de quem lhe paga.

Nosso Falconeer ganha dinheiro ao cumprir missões, e as pessoas estarão sempre te pedindo coisas: destrua explosivos, procure náufragos, defenda fortes, carregue suprimentos, impeça piratas… mesmo as missões principais podem ser um tanto enfadonhas.

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É falcão ou pombo correio?

Combate aéreo

O gameplay se resume a voar de canto a outro cumprindo missões e carregando coisas, entrando em combate com falcões inimigos, embarcações ou aeronaves quando necessário. Mecanicamente tudo é relativamente simples, porém, voar não é empolgante: o pássaro tem uma barra de stamina que se esvazia muito rápido, então você fica a maior parte do tempo voando mais devagar do que deveria — ou mergulhando no ar, o jeito mais recuperado de recuperar a barra.

Na hora dos combates, temos dois problemas principais: o primeiro é que nosso falcão aguenta muito pouco dano, e morre bem rápido. E não há vidas: quando você morre, troca de personagem e reinicia da cidadela mais próxima, recomeçando do zero qualquer missão que estivesse em andamento.

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Outro problema é que o combate do jogo exige uma precisão que o gameplay simplesmente não comporta. Jogos de combate aéreo geralmente têm tiros teleguiados, ou um sistema de lock on que trava a mira nos inimigos. Aqui, isso não existe: você precisa posicionar (e manter) a mira nos pássaros inimigos se quiser acertar seus tiros, o que dá um bocado de trabalho.

O jogo também não faz um bom trabalho em apresentar seus recursos. As próprias mecânicas de gameplay não são plenamente explicadas, e a utilidade dos upgrades que podemos comprar nunca é muito clara.

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Se livrar de minas é um bom exemplo de missão chata, mas necessária para ganhar grana

Para piorar, estes upgrades são bem caros, e para conseguir acumular ouro, você acabará ficando preso em um ciclo de repetição, refazendo as missões mais simples (e chatas) até conseguir juntar uma grana.

Audiovisual

The Falconeer foi meio que todo feito por apenas uma pessoa, o game designer Tomas Sala. Tendo isso em mente, o resultado é bem impressionante. O visual é bastante estilizado, e ainda que o mundo do jogo seja, no geral, um tanto quanto vazio, ele é muito bonito, artisticamente.

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A trilha sonora também é muito boa, variada e condizente com o tom fantástico do jogo. As dublagens cumprem seu papel, sem necessariamente se destacarem. Infelizmente, não há vozes nem legendas em português, então se não quiser boiar nas intrigas e politicagens, venha preparado.

Conclusão

The Falconeer é mais um daqueles jogos que eu queria muito ter gostado, mas que no fim das contas, não rolou. Para um jogo de mundo aberto, ele é muito engessado, muito preso em processos e burocracias. Voar pelos céus nunca é realmente empolgante, e a trama fica amarrada em um monte de tretas políticas e diplomáticas que não são lá das mais interessantes.

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O que é uma pena, pois ele traz conceitos bem criativos em seu lore: sua arma, por exemplo, recarrega-se através de raios. Então, sempre que vir uma tempestade, voe próximo dela para reabastecer o poder de seus tiros. É um conceito simples, mas engenhoso, que até agrega alguma estratégia aos combates… mas, como o conjunto da obra, não decola (com o perdão do trocadilho)

The Falconeer parte de uma premissa muito bacana e tem um lore interessante, mas não consegue ir além disso, e tem seu potencial desperdiçado. Jogos de combate aéreo envolvendo criaturas fantásticas estão meio sumidos ultimamente, e não foi dessa vez que o gênero renasceu das cinzas tal qual uma fênix.

The Falconeer está disponível para PC, Xbox One e Xbox Series X|S.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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