Análise Arkade: Mail Mole, um esforçado (mas genérico) jogo de mascote

20 de março de 2021
Análise Arkade: Mail Mole, um esforçado (mas genérico) jogo de mascote

O nome desse jogo pode soar meio estranho em português, mas não se engane: Mole é toupeira em inglês. Ou seja, Mail Mole é um jogo de plataforma 3D que traz uma toupeira carteira como protagonista!

Como alguém que cresceu jogando Sonic , Earthworm Jim e, posteriormente, Crash Bandicoot, Gex e Spyro, eu tenho certa fascinação pelos jogos de mascotes. Sabe como é, animais antropomorfizados (ou não) têm um charme inerente, e, no geral, protagonizam ótimos jogos.

Análise Arkade: Mail Mole, um esforçado (mas genérico) jogo de mascote

Mail Mole, lançamento de 2021, mas poderia muito bem estar entre os jogos de mascotes de meados dos anos 90. É um jogo relativamente simples, mas produzido com dedicação pelo estúdio indie Talpa Games, que claramente fez o seu melhor em questão de level design, mas deixou a desejar em um ponto bem importante: carisma.

Crise de energia

O protagonista é Molty, a “mais veloz toupeira entregadora de Carrotland” que é tirada de suas merecidas férias para ajudar seus amigos. Uma carta de seu primo lhe avisa que a região está ficando sem energia, o que coloca em risco o tradicional Summer Festival da região.

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No comando de Molty, nossa missão é explorar diversas fases temáticas em busca de baterias que ajudarão a restabelecer a energia e salvar o Festival. Conforme avançamos na história, vamos descobrir que há um par de vilões por trás dessa crises de energia, e teremos que lidar com suas máquinas malucas, que lembram as criações do emblemático vilão Dr. Robotnik/Eggman.

A história não é nada de mais, servindo apenas como pretexto para que, no papel de Molty, a toupeira, nos aventuremos pelos diversos estágios do jogo, que trazem desafios de plataforma 3D divertidos, ainda que não particularmente inovadores.

No controle da toupeira

Embora o protagonista do jogo seja Molty, a gente não vê muito ele no jogo. O que acontece é que ele se move por debaixo da superfície, então só o que vemos na maior parte do tempo é um montinho de terra se movendo pelo cenário.

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Tipo assim

Em muitos aspectos, Mail Mole parece misturar conceitos e mecânicas de jogos do Mario com Super Lucky’s Tale. Molty pode pular para fora da terra, mergulhar em alta velocidade e também dar uma “bundada” para baixo no melhor estilo Mario para pressionar botões e acionar mecanismos.

Embora a movimentação seja livre no ambiente 3D, a câmera é fixa, não podemos controlá-la livremente. É uma escolha inusitada, que deixa o jogo com um jeitão de Super Mario 3D World. Felizmente, na maior parte do tempo a câmera faz um bom trabalho, seja para nos deixar ver a ação, seja para esconder passagens secretas e colecionáveis.

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Esses rabanetes são enormes, mas ficam bem escondidos

Um grande diferencial é que Mail Mole é um jogo totalmente pacífico: salvo pelos vilões — que nunca atacamos diretamente, apenas sabotamos suas engenhocas malucas –, não há inimigos no jogo. Isso quer dizer que o desafio está diretamente relacionado à exploração, aos saltos entre plataformas móveis e ao ato de evitar espinhos, abismos e outras armadilhas.

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As boss battles são assim: “de longe”

E isso ele até que faz bem. O level design não é particularmente criativo — e traz muita coisa que já vimos em jogos do Mario — mas entrega um desafio decente. Em termos de gameplay, a única coisa realmente ruim é que o pulo normal do personagem é ridiculamente baixo, então precisamos ficar mantendo o botão de pulo o tempo todo, pois o salto que realmente presta é o carregado.

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Como em jogos do Mario, aqui as plataformas são ativadas/desativadas conforme você pula

Cada área temática (ruínas, gelo, praia, deserto, etc.) de Mail Mole tem 4 fases, que duram entre 2 e 5 minutos, em média. Conforme restabelecemos a energia da Peaceful Plaza (área principal que é o hub do jogo), ganhamos acesso ao inusitado meio de transporte local — canhões — que nos mandam para as fases.

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Tipo esse

Nosso objetivo é basicamente chegar ao final de cada estágio no menor tempo possível — há medalhas de ouro, prata e bronze, sem penalizações caso você não consiga nenhuma. As cenouras colecionáveis são o dinheiro do jogo, podendo ser trocadas por chapéus, óculos e acessórios para Molty. Os rabanetes são mais raros (há apenas 3 escondidos em cada fase), mas também servem basicamente para trocar por itens cosméticos um pouco mais exclusivos.

Audiovisual

Mail Mole é um jogo sem grandes ambições de ser lindo, ou impactante visualmente. Seu visual é um 3D meio low poly que não tem nada de muito especial. Não há texturas, nem cores muito vibrantes, tudo é muito chapado. Particularmente, acho que seria possível tornar o jogo mais atrativo (sem comprometer o orçamento) com uma direção de arte um pouco mais ousada.

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Os modelos de personagens — que podemos ver basicamente no hub central do jogo — até são bonitinhos, mas não tem quase nada de carisma. Sem vozes, só o que temos são diálogos em texto. Aliás, o jogo também não recebeu localização para o nosso idioma, e está disponível somente em inglês (não se preocupe, não há uma grande narrativa sendo desenvolvida).

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Esse morcego mercenário vende corações de vida extras só nas fases mais difíceis

A trilha sonora, elemento que costuma ser bom em jogos de plataforma, aqui, infelizmente, deixa a desejar. As músicas no geral são lentas, baixas e pouco inspiradas — sem exagero, algumas até parecem uma bossa nova acústica. Esse é o tipo de jogo que merecia músicas grudentas e animadas com um toque meio rústico, algo na linha do que David Wise — compositor de Donkey Kong e Snake Pass — sabe fazer muito bem.

Conclusão

Mail Mole definitivamente não é um jogo ruim. Ele é esforçado, seu level design é bem feitinho e suas mecânicas são funcionais na maior parte do tempo. O problema é que ele não é ousado, nem marcante, e seu mundo colorido em tons pastel é simplesmente genérico.

Análise Arkade: Mail Mole, um esforçado (mas genérico) jogo de mascote

Jogos de plataforma 3D são meio raros hoje em dia, mas de vez em quando pinta alguma boa surpresa — como o excelente Pumpkin Jack, por exemplo, uma das boas surpresas de 2020. Pela escassez de bons jogos do gênero, Mail Mole talvez seja uma boa pedida, mas venha com as expectativas bem calibradas.

O fato é que Mail Mole poderia ser muito melhor se fosse mais vibrante, colorido e carismático. Do jeito que está, ele é um jogo que entretém ao longo de sua duração, mas definitivamente não vai deixar lembranças na cabeça de ninguém.

Mail Mole está disponível para PC, PS4, Xbox One (versão analisada) e Nintendo Switch.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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