Análise Arkade – Ratchet & Clank: Rift Apart é o melhor exclusivo do PS5 (até agora)
Finalmente o Playstation 5 recebeu um exclusivo que não é hostil com o jogador! Depois de judiar dos jogadores com Demon’s Souls e Returnal, Ratchet & Clank chegam para mostrar o poder da nova geração em uma grandiosa e divertida aventura pela galáxia!
Bagunça dimensional
Ratchet & Clank: Rift Apart começa, como diria o Silvio Santos, em “ritmo de festa”. Nossos heróis estão sendo ovacionados e homenageados por seus feitos heroicos, e tudo parece bom demais para ser verdade.
Quando Clank revela que construiu um Dimensionador para que Ratchet possa ir atrás de sua família, as coisas começam a dar errado. O eterno vilão da franquia, Dr. Nefarious aparece, e após alguma confusão, o Dimensionador acaba destruído.
Para piorar, o aparelho criou fendas dimensionais que estão bagunçando as coisas em diversas realidades, e nossos heróis são enviados para dimensões separadas, bem como o vilão. Se quiserem se reunir novamente, Ratchet & Clank precisarão dar um jeito de criar um novo Dimensionador para colocar as coisas em ordem.
Ratchet & Clank & Rivet & Nik
Felizmente, eles não estarão sozinhos nessa missão: com novas dimensões, chegam novos personagens, que acabarão unindo forças aos heróis que já conhecemos pata tentar resolver a situação.
Conforme os trailers já haviam mostrado, este jogo nos apresenta à Rivet, uma lombax intrépida e aventureira, que encontra Clank (que foi mandado para sua dimensão) e irá ajudá-lo a se reencontrar com Ratchet. Enquanto isso, em outra dimensão, Ratchet irá conhecer uma robôzinha bastante insegura chamada Nik.
Assim, temos uma campanha que se divide entre as duas duplas de protagonistas: Ratchet & Nik de um lado, Rivet & Clank do outro, trabalhando para ajeitar a bagunça dimensional que foi criada, se reencontrarem e frustrarem os planos do Imperador Nefarious, vilão que é uma versão realmente poderosa do Dr. Nefarious, uma vez que nunca foi derrotada em sua dimensão, e quer aproveitar a deixa para usar o Dimensionador e expandir seus domínios para outras dimensões.
A história do game conduz para o encontro das duas duplas de heróis que passam boa parte do jogo separadas, deixando, obviamente, um enorme gancho para uma inevitável sequência. Este Ratchet & Clank: Rift Apart soa como o primeiro Senhor dos Anéis: é grandioso e conta uma boa história, mas na verdade está preparando o terreno para algo ainda maior.
Opinião polêmica
Longe de mim querer começar esta análise falando mal do jogo — que é ótimo — mas não posso deixar de falar do enorme potencial desperdiçado que temos na personagem Rivet.
Veja bem, como personagem, ela é incrível: seu carisma e personalidade são ótimos, e realmente cativam o jogador. Porém, em se tratando de gameplay, Ratchet e Rivet são basicamente skins diferentes de um mesmo personagem. Eles têm as mesmas armas e habilidades, e se comportam exatamente da mesma maneira na exploração e no combate. Compre uma arma jogando com um, e ela automaticamente estará disponível para o outro. Suba de nível com um, e o level up também vale para o outro.
Embora cada personagem tenha sua importância narrativa e seus próprios momentos de destaque ao longo da campanha, para o jogador, que está com o controle na mão, não muda nada estar controlando um ou outro. Não há nada que os diferencie na ação.
Me parece uma maneira bastante preguiçosa de acrescentar uma nova personagem — que é tão carismática e tem tanta importância narrativa — em uma franquia deste porte. Rivet poderia — deveria, na verdade — ter seu próprio arsenal, suas próprias skills, suas próprias mecânicas. A simpática lombax merecia mais.
Pense na Tawna, namorada do Crash Bandicoot: no mais recente jogo do personagem, conhecemos uma “nova versão” da personagem (de outra dimensão, olha só que coisa), que não é apenas um “Crash de saia”. Ela tem mecânicas próprias, e seu grappling hook adiciona novas camadas de jogabilidade que só se aplicam a ela.
A própria Insomniac já fez algo bem melhor com Miles Morales: o herói não é apenas uma nova skin do Peter Parker, possui poderes exclusivos, trajes e gadgets únicos. Tem bastante em comum com o Peter Parker, claro, mas também tem bastante coisa diferente.
No caso da Rivet, isso não acontece. Salvo pela personalidade de cada herói, nos controles não há diferença nenhuma entre jogar com Ratchet ou com Rivet. Isso me incomodou um bocado, e talvez seja o maior problema de um jogo que, de resto, acerta mão em praticamente tudo.
Explorando dimensões, coletando parafusos
Ratchet & Clank: Rift Apart é um jogo de ação e aventura 3D com mecânicas de plataforma e tiro em terceira pessoa. Seu gameplay é muito fluido e responsivo, o que rende uma experiência muito gostosa de jogar.
Conforme a história se desenrola, nossos heróis terão que passar por diferentes planetas, em diferentes dimensões, cumprindo objetivos variados. No caminho, teremos muitos inimigos para derrotar, e muitos parafusos para coletar — eles são a moeda corrente do jogo, usados para turbinar nosso arsenal com novas armas.
Entre os apetrechos que tornam a navegação mais prazerosa, temos botas magnéticas, um gancho que “puxa” rupturas dimensionais — nos levando para outro ponto do cenário — e ganchos que podem ser usados em pontos específicos. Mas não fica só nisso: também vamos montar em caramujos, voar nas costas de “dragões” e surfar por trilhos em alta velocidade como já fizemos em Sonic, Crash e tantos outros jogos de plataforma 3D.
Abaixo, um videozinho mostrando como a mecânica mais simples de “puxar” as fendas dimensionais para passear por um mesmo cenário funciona na prática:
Nas armas, temos muita variedade — e é uma arma mais maluca do que a outra. Entre equipamentos já conhecidos e outros novos, temos uma arma que dispara brocas-cachorros explosivas (?!) outra que é um regador, e deixa os inimigos presos na relva e até uma que conjura objetos e criaturas de outros jogos da Sony ou da Insomniac Games! Há armas que atiram serras, lasers, mísseis e gosmas, e embora nem todas sejam realmente boas na hora do combate, o arsenal é grande o bastante para todo mundo poder experimentar e investir em suas favoritas.
E já que falamos em armas, é válido falar do feeling do jogo: Ratchet & Clank: Rift Apart faz um ótimo uso do controle DualSense. Seguindo a linha de Returnal, ele oferece “dois níveis” de pressão no gatilho direito, que podem alternar o funcionamento da arma ou garantir uma mira mais precisa. O L2 segue sendo o botão de mira padrão, mas confesso que mal usei-o durante o jogo: aprender a utilizar os diferentes níveis de pressão do gatilho R2 é algo que enriquece a experiência.
Confira um trecho de gameplay abaixo, uma intensa batalha contra um chefe em um espaço apertado, com muita acontecendo ao mesmo tempo:
Set pieces da nova geração
Set piece é um termo que define momentos épicos e cinematográficos em filmes e games. Aqueles momentos de encher os olhos, que muitas vezes são utilizados até nos trailers, para “vender” o produto ao consumidor. Pois bem, explicado o conceito, vamos aos fatos: Ratchet & Clank: Rift Apart é um jogo cheio de set pieces, e quase todos eles são espetaculares.
É ótimo vermos um jogo com orçamento e ambição de aproveitar o potencial de um console da nova geração. Esta nova aventura de Ratchet & Clank é grandiosa e variada de um jeito que até lembra um pouco Uncharted. Em um momento, estaremos perseguindo uma enorme centopeia robótica por um pântano. Em outro, vamos surfar por um cânion que está sendo destruído por um robô gigante.
Até documentei essa parte do robô gigante, confira:
O jogo é cheio de momentos intensos e emocionantes, e acha espaço até para flertar com o terror ao nos colocar para explorar um laboratório escuro e abandonado que tem uma vibe bem Resident Evil — claro que o terror aqui é bem mais cartunesco e inocente, mas você entendeu. Cada um desses momentos parece ter sido a) caro e b) meticulosamente planejado e executado, dada a riqueza de detalhes e o espetáculo pirotécnico que enche a tela.
Diante da grandiosidade do pacote, os puzzles dimensionais do Clank e os “hacks” da pequena aranhazinha robô que Ratchet carrega acabam sendo os pontos mais baixos de um jogo que está quase sempre com a voltagem lá no alto.
Boa parte de toda essa grandiosidade é “o poder da nova geração”. A própria mecânica de troca de dimensões — que acontece em tempo real — (supostamente) só é possível de rolar de maneira fluida e sem loadings graças ao SSD e ao poder de processamento do Playstation 5. Já vimos outros jogos fazendo coisas assim — Titanfall 2 por exemplo, naquela parte da viagem no tempo –, mas acho que nunca tivemos algo com um escopo tão grande quanto aqui.
Boa parte dessas trocas de dimensões são bijuteria, e só estão ali para serem bonitas. Mas, quando quer, o jogo explora bem esse recurso: precisamos pegar algo em uma dimensão e usar na outra, por exemplo. Pense em The Medium, com a diferença que aqui não temos a tela dividida, mas as divisões ficam “sobrepostas”, e alternam-se em uma fração de segundo.
Embora Ratchet & Clank não tenha o apelo de um God of War ou The Last of Us, ele sem dúvida soube aproveitar bastante as capacidades do novo console da Sony. Ratchet & Clank: Rift Apart é um jogo lindo para quem joga e para quem assiste, e também é um baita showcase do potencial do console.
E o melhor é que ele faz tudo isso sem ter cara de tech demo: sua campanha dura umas 15 horas, e no geral é muito divertida e variada. A história é agradável de acompanhar, e o desenvolvimento das relações entre os personagens é muito satisfatório.
Vale ressaltar que, além das missões principais, o jogo ainda oferece um bom número de colecionáveis e algumas missões opcionais, bem como um New Game + que deve agradar aos “platinadores” de plantão, que gostam de extrair 100% de cada jogo.
Audiovisual
A direção de arte de Ratchet & Clank: Rift Apart é simplesmente espetacular. O jogo entrega momentos cinematográficos e ambientes incrivelmente detalhados o tempo todo. Cada mundo que visitamos é único, e mesmo ambientes “simples” — como o bar do Zurkie — são extremamente caprichados, repletos de detalhes e com ótimos efeitos de iluminação.
O reboot de 2016 já tinha muitas dessas características e uma cara de “filme da Pixar interativo”, mas aqui o salto de qualidade é mais notável justamente por conta da exclusividade da nova geração: efeitos como o ray tracing — aplicado até nos reflexos dos olhos dos personagens — resoluções mais altas (optei por jogar em 4K com ray tracing a 30fps, mas é possível priorizar os 60fps com resoluções mais baixas) — e um número absurdo de elementos em tela o tempo todo entregam uma experiência audiovisual sublime.
No departamento sonoro, temos o mesmo nível de qualidade. A trilha sonora acha um meio termo confortável entre os temas grudentos típicos dos “jogos de mascotes” e as orquestrações épicas de grandes produções. O trabalho de localização também foi muito bem feito: joguei a campanha toda em português brasileiro, e as dublagens são todas de alto nível — Clank é o mais sem graça, enquanto o pirata Pierre rouba a cena com seu sotaque francês.
Vale ressaltar também o bom trabalho executado no feedback háptico com o DualSense. Já falei do uso dos gatilhos, mas o jogo também sabe usar as vibrações e o alto falante do controle para aumentar a imersão. No comecinho do jogo, precisamos encontrar um bar, e a vibração do controle muda de direção e fica mais forte conforme nos aproximamos da música alta daquele ambiente. É só um detalhe, mas que evidencia um dos gimmicks mais interessantes do PS5.
Conclusão
Enquanto Kratos e Aloy não chegam — e nem terão jogos exclusivos do PS5 –, o posto de melhor exclusivo do Playstation 5 já tem dono(s): Ratchet & Clank. A Insomniac Games realmente se superou, e entregou uma grande aventura espacial, cheia de momentos memoráveis e visual de cair o queixo.
E o melhor: estamos falando de um jogo leve, bem humorado e family friendly. Como falei no meu review de Returnal, até agora parecia que os exclusivos de PS5 queriam punir e castigar o jogador — seja pela dificuldade ou pelas regras implacáveis. Rift Apart não faz isso: ele quer agradar a todos e deixar todo mundo com um sorriso no rosto. E consegue.
Como eu disse, acho que o maior deslize é transformar a novata Rivet em uma versão feminina do Ratchet, sem nada que os diferencie mecanicamente. Mas esse é um detalhe que não ofusca o brilho de um grande jogo, produzido com muito capricho para deixar um gostinho de “quero mais” na boca dos fãs.
Que nesta geração possamos ter mais de um jogo desta dupla (ou seria quarteto?) tão querida!
Ratchet & clank: Rift Apart foi lançado em 11/06, exclusivamente para Playstation 5. O game está 100% localizado para o nosso idioma (dublagens, menus e legendas).