Análise Arkade: Samurai Warriors 5 é musou de primeira qualidade
A Omega Force e a Koei Tecmo finalmente retornam à clássica franquia que fez o gênero musou se popularizar bastante no ocidente. Depois de sete longos anos desde o último título principal da franquia, finalmente Samurai Warriors 5 está chegando ao ocidente. Dessa vez, para uma vasta variedade de plataformas que incluem desde o Nintendo Switch até o PC pela Steam.
Samurai Warriors 5 traz o que há de melhor na franquia, revitalizando alguns recursos e trazendo alguns modos novos. Com visual impecável e uma das jogabilidades mais fluidas que a franquia já viu, o game pode ser uma excelente pedida para fãs do gênero. Porém, alguns deslizes clássicos da série ainda estão presentes também. O jogo está saindo hoje, mas nós já jogamos, e aqui está nossa análise completa!
As crônicas do clã Nobunaga
Samurai Warriors 5 faz um retorno à história do primeiro Samurai Warriors, lá de 2004: o game acompanha inicialmente a história de Nobunaga Oda durante a Guerra Ōnin, indo até o Incidente em Honnōji, quando Mitsuhide Akechi faz a última investida contra o líder do clã Nobunaga.
Isso por si só já é um acerto excelente deste quinto jogo. Não se tratando de um remake ou algo do tipo, podemos revisitar a história do game lá do PlayStation 2 por uma ótica completamente diferente. Os personagens são totalmente remodelados, temos novos personagens jogáveis e mecânicas muito bem atualizadas para a atual geração.
O início do game nos leva através da juventude de Nobunaga Oda, o famoso e quase lendário samurai, antes dele ganhar relevância histórica. Entretanto, todo o contexto histórico das relações de Nobunaga com outros clãs, sua jornada rumo a unificação do Japão e todas as figuras históricas apresentadas são mostradas num estilo que lembra muito os animes do gênero shonnen, o que por si só é excelente.
Porém a narrativa possui os mesmos deslizes que vemos na franquia desde sempre: quantidades extensas de diálogos monótonos sem muita animação, um narrador que apresenta o contexto dos movimentos territoriais e de seus líderes e, tudo sem legendas em português brasileiro.
Problemas antigos
Samurai Warriors 5 infelizmente insiste em manter alguns padrões que são irritantes, tal como seus antecessores. O jogo em si ser totalmente dublado em japonês é muito legal, principalmente por se tratar de um game que faz homenagens à história, à estética e à cultura japonesa como um todo.
Entretanto, estamos falando de um lançamento ocidental do jogo. Desse modo, ouvir áudios em japonês é bacana, mas ter legendas apenas em inglês é um prato cheio para boa parte do público não dar a mínima para a história ou contexto do jogo. O que é uma pena, visto que sua ambientação é uma das mais incríveis da história do Japão.
Como falamos anteriormente, Samurai Warriors 5 é um jogo com narrativa bem monótona, focado bem mais em jogabilidade. Mas não é como se ele não ligasse para a história que conta. Muito pelo contrário: para quem tiver o autocontrole de não pular os diálogos, temos horas e mais horas de histórias reais sendo contadas entre as dezenas de missões do jogo.
Porém essa narrativa é arrastada, com a história sendo contada de modo muito pouco imersivo. A exceção fica para as (bem escassas) cenas cinematográficas, onde vemos os personagens com mais expressão e movimentação, demonstrando melhor suas diferentes personalidades e funções.
Combates atualizados
Mas independente dos deslizes relacionados à narrativa ou localização do jogo, estamos falando de um musou e, como tal, o que mais importa serão sempre os combates. Para quem não sabe, o gênero musou é uma derivação do hack and slash, famoso por combates rápidos contra vários inimigos simultâneos. No musou, temos um foco maior em combates militarizados, com combatentes heroicos poderosíssimos enfrentando hordas colossais, em lutas contra centenas de inimigos simultâneas.
O gênero surgiu com Dinasty Warriors, que inclusive ganhou um filme de mesmo nome pela Netflix recentemente. Mas Samurai Warriors possui tanta relevância como seu antecessor no mundo dos musou e, como tal, possui como diferencial combates incríveis, cheios de coreografias estilosas e com golpes que, em apenas um movimento, acertam dezenas de inimigos ao mesmo tempo.
Esses combates receberam algumas atualizações em Samurai Warriors 5, mostrando que a Omega Force e a Koei Tecmo não estão ignorando as outras obras do gênero que foram lançadas recentemente. Um dos principais exemplos dentro da própria franquia é o retorno dos cavalos de Samurai Warriors 4, mesmo que ainda sem muitos combos e possibilidades de movimentação.
Além disso, Samurai Warriors 5 também resgata uma nova mecânica de combate introduzida em One Piece Pirate Warriors 4: a possibilidade de equiparmos até quatro habilidades distintas em nossos personagens, para além das habilidades básicas de cada um deles. Isso aumenta consideravelmente as possibilidades de combo, além de garantir uma fluidez mais orgânica na movimentação de combate.
A jogabilidade mais fluida da franquia
Um dos pontos mais positivos de Samurai Warriors 5 é a fluidez com que o game trabalha sua jogabilidade e combates. Claro que não será em toda plataforma que você conseguirá experimentar o máximo da fluidez que o jogo apresenta — tendo essa experiência afunilada provavelmente para o Playstation 5, Xbox Series X e PC. Entretanto, vale a pena ressaltar que é imensamente gratificante participar de combates contra milhares de oponentes com taxas de frame bem acima dos 30fps tradicionais.
Claro que para isso funcionar, existe um custo: o visual do jogo. Nem tanto o visual em si, mas a qualidade dos mapas e cenários, que não são tão complexos e interessantes quanto outros jogos da atualidade. Isso se deve principalmente pela quantidade insana de oponentes simultâneos em tela. Para sustentar algo de tamanha megalomania, é necessário poupar um pouco em outros âmbitos, como na riqueza dos cenários, por exemplo.
O resultado é uma jogatina ágil, sem quedas de framerate, com combos e habilidades que se encaixam de modo muito orgânico e numa enxurrada de oponentes, explosões, cores e efeitos de luz. Musou nunca foi um gênero de jogo para você apreciar a paisagem, mas sim para se deliciar com a fluidez e magnitude dos combates. E, bom, Samurai Warriors 5 acerta em cheio nesses quesitos.
Visual incrível, mesmo que não tão atual
Em Samurai Warriors 5, os desenvolvedores encontraram um meio termo fantástico para alcançar a fluidez de combates que citei anteriormente, sem prejudicar drasticamente os aspectos gráficos. Claro que, como eu já disse, o visual do jogo não é estonteante como vários outros jogos lançados em 2020 ou 2021, porém isso não significa que ele seja feio.
Isso se deve ao fato do quinto jogo da franquia possuir um aspecto bem mais “artístico” do que a maioria dos seus antecessores. A direção de arte optou por algo mais estilizado, menos realista, que deu um fôlego novo ao jogo, e, de quebra, permitiu que as texturas e movimentações sejam bem menos “pesadas”, o que garante taxas de quadros excelentes, sem comprometer nem um pouco o aspecto visual do game.
O resultado é uma chuva de cores tanto nos personagens como na iluminação e movimentações de combate. Porém o maior trunfo ao meu ver são as novas artes de menu e de movimentos especiais do jogo, que seguem um padrão semelhante às pinturas japonesas, com traços bem demarcados e ágeis, cheios de cores vibrantes. Ainda temos uma “pose heroica” para cada personagem no final de sua habilidade mais poderosa, garantindo telas simplesmente sensacionais que se encaixam muito bem à jogatina.
Várias opções da mesma jogatina
Samurai Warriors 5 traz alguns novos modos de jogo para agregar variedade e fator replay ao jogo. Aspecto esse que constantemente é criticado em praticamente todo game do gênero musou, uma vez que eles são consideravelmente repetitivos, mesmo com uma boa variedade de personagens à disposição.
Dessa forma, temos no quinto game da franquia os modos Musou e Citadel. No modo Musou, temos o tradicional “Story Mode” com a saga completa de Nobunaga Oda durante a Era Sengoku, com vários mapas diferentes para serem jogados, no decorrer de capítulos relativamente curtos da história, mas com várias possibilidades de perspectivas para serem revisitadas.
Dentro desse modo temos a mecânica batizada de My Castle, onde podemos administrar os recursos do nosso “feudo”, treinando personagens no Dojo, melhorando ou craftando novas armas no Blacksmith, comprando acessórios gemas e materiais no Shop ou administrando nossas montarias e suas respectivas habilidades e níveis no Stable. Além é claro, de jogar as missões da história na opção March, tanto no modo campanha como no tradicional Free Battle.
Mas a maior novidade fica mesmo por conta do modo Citadel, no qual também temos acesso ao My Castle, mas ao invés das missões de campanha, temos batalhas nas quais precisamos proteger nossos feudos contra invasores. Durante essas batalhas, missões opcionais surgirão e quanto maiores nossos combos, execuções e missões opcionais cumpridas em menor tempo, maior a pontuação feita ao final do embate.
Essa pontuação permite que tenhamos acesso a novos itens e loots mais poderosos, além de servir para fortalecer nossos personagens e a amizade entre eles. Essa amizade serve justamente para liberar habilidades únicas combinadas entre dois personagens específicos, tendo animações fantásticas — que podem ser revistas na opção Hermit’s Retreat.
Entretanto, mesmo com essa relativamente maior variedade de tarefas dentro do jogo, Samurai Warriors 5 ainda não consegue escapar da repetição. As novas mecânicas de administração de recursos são ótimas adições, mas não são nada crucial, que faça o ritmo do jogo muar drasticamente.
O desenvolvimento de cada personagem
Felizmente, essa administração de recursos, mesmo que não dê variedade para a jogatina, pode servir em certos momentos de fio condutor para a própria jogatina repetitiva. Samurai Warriors 5 apresenta quase 40 personagens únicos que, ainda que compartilhem as mesmas armas em alguns momentos, possuem movimentos e habilidades bem diferentes uns dos outros.
Essa á a possível salvação para a falta de variedade já comum no gênero. Assim, administrar a maestria de cada personagem, organizar seus pontos de habilidade, equipá-los com os equipamentos ideais e montar os melhores combos para você são atividades que independem necessariamente do modo história ou da Citadel para serem feitos, e acabam por ocupar um bom tempo do jogador que tiver interesse nisso.
Porém, se você não gosta desse tipo de contrução de personagens, utilizando dezenas de personagens diferentes alternadamente, esse recurso de nada servirá para te ajudar a sentir de modo mais leve a repetitividade inerente de Samurai Warriors 5.
Mas, além de todos esses detalhes, é imporante ressaltar que, assim como em seu visual, os aspectos de jogabilidade do quinto jogo da série principal da franquia representam uma evolução gratificante em comparação ao seu antecessor de 7 anos atrás. Mesmo que ainda possua alguns deslizes aqui e ali.
Acima de tudo, um excelente musou!
Samurai Warriors 5 não é um jogo perfeito ou inovador. Na verdade, dentro do gênero musou, ele é um título bem “feijão com arroz”, trazendo bons personagens, jogabilidade afiada e recursos interessantes, mas sem acrescentar nada necessariamente novo nesse processo. Entretanto, existem momentos nos quais o “feijão com arroz” cai muito bem, principalmente com o “tempero” certo.
Assim, Samurai Warriors 5 dá sequência à franquia de modo sólido, consistente e seguro. Não se arrisca em muita coisa e nem chega a consertar os problemas que o gênero já possui há décadas, mas é um título polido, atual e aprazível, que também serve como uma ótima opção para estreantes do gênero, por ter uma jogabilidade bem fluida, visual estiloso e história bem redondinha. Se você curte cultura japonesa e a pancadaria frenética do gênero musou, esta pode ser uma boa pedida pra você!
Samurai Warriors 5 chega hoje, dia 26 de julho de 2021, para PlayStation 4, Nintendo Switch, Xbox One e PC (via Steam). Ele também pode ser jogado via retrocompatibilidade no Xbox Series X e no Playstation 5.
*Este review foi feito com base na versão Steam do game, que recebemos antecipadamente para fins de análise. Jogamos o game em um notebook gamer com processador i5-9300, 24GB de memória, placa de vídeo GTX 1650 de 4GB e SSD de 450 GB.