Diretor de Diablo IV e mais dois designers são demitidos da Blizzard após processo
Três nomes importantes da equipe de desenvolvimento da Blizzard foram demitidos da produtora, ao que tudo indica como reflexo do processo de assédios e abusos dentro da Activision Blizzard.
Luis Barriga, diretor de Diablo IV; Jesse McCree, designer chefe do game (e cujo nome foi usado no personagem de Overwatch) e Jonathan LeCraft, designer de World of Warcraft foram demitidos e seus nomes já não constam mais entre o quadro de funcionários da produtora.
A Blizzard não ofereceu nenhuma explicação sobre o porquê de suas demissões, apenas confirmando publicamente que os três nomes foram efetivamente demitidos. No entanto, Jesse McCree e Jonathan LeCraft podem ser vistos da foto da infame “Suíte Cosby“ durante a BlizzCon 2013.
Esse nome faz referência ao ex-comediante americano Bill Cosby, preso por inúmeros casos de estupro. A suíte, que foi descrita por seus participantes como um local de descontração e networking (apesar de conter altas quantidades de bebidas alcoólicas e a já mencionada referência ao ex-comediante), segundo informações não foi criada em referência aos casos pelos quais o ex-comediante foi acusado, pois esses casos só efetivamente vieram a público no ano seguinte, mas já eram de conhecimento em 2013, com muitos funcionários dentro da Blizzard contestando a afirmação de que a suíte era uma “piada” que não envolvia esses casos.
Já no caso de Luis Barriga não há qualquer menção de motivos para sua demissão, apesar de algumas fontes alegarem que sua demissão também tem relação com os casos de assédio dentro do estúdio. Também ainda não há menção sobre a referência a Jesse McCree dentro de Overwatch, com o personagem de mesmo nome.
Em World of Warcraft, todas as referências a Alex Afrasiabi, o principal nome nas denúncias de abuso no processo, foram removidas após muitos protestos. Mas não se sabe se o cowboy McCree de Overwatch poderá passar por algo semelhante.
Essas demissões vem após J. Allen Brack anunciar seu desligamento da companhia. Ele era o presidente da Blizzard desde 2018, e segundo o processo, tinha conhecimento dos casos de assédio e abusos mas não tomava nenhuma atitude para impedi-las, colocando panos quentes sobre o comportamento totalmente inadequado de Afrasiabi.
Em outra notícia relacionada, Frances Townsend, Diretora de Conformidade dentro da companhia dentro da Activision Blizzard, afastou-se de seu outro cargo dentro da empresa, o de Patrocinadora Executiva da Rede de Mulheres Empregadas.
Essa era uma das principais exigência da carta aberta assinada por mais de 3000 funcionários da companhia, após Townsend fazer comentários condenando o processo, considerando-o “fraudulento” e dizendo que contém denúncias “factualmente incorretas, velhas e fora de contexto“.
Além disso, ela passou a bloquear funcionários da Activision Blizzard no Twitter que a criticaram após ela publicar um artigo sobre “o perigo das denúncias“. Após muita rejeição online, ela chegou a desativar seu perfil no Twitter. Apesar de não ser mais Patrocinadora Executiva, ela continua em seu cargo de Diretora de Conformidade.
Outra crucial exigência da carta mostra um posicionamento totalmente contrário dos funcionários da empresa contra a contratação da empresa de advocacia WilmerHale para realizar uma auditoria nas políticas internas da companhia e investigar as alegações de abusos.
Entre diversos motivos para para a rejeição, estão o fato da WilmerHale ser uma empresa que se posiciona em favor dos ricos e de companhias poderosas, em detrimentos de seus funcionários. Como por exemplo ao impedir que funcionários da Amazon formassem um sindicato, após diversas denúncias de condições precárias de trabalho.
Outros motivos estão relações pessoais entre os líderes da WilmerHale e da Activision Blizzard, além das duas companhias já terem feitos negócios no passado, o que torna a WilmerHale parcial nesse caso. E um grupo de acionistas da Activision Blizzard concorda com os protestos dos funcionários, posicionando-se contra a contratação da firma.
O diretor executivo da SOC Investment Group, Dieter Waizeneggar, divulgou uma nota endereçada aos líderes da Activision Blizzard condenando a resposta inadequada ao processo e aos processos de seus funcionários.
A SOC, além de investidores da companhia, também possuem o poder de responsabilizar companhias e seus líderes por comportamentos anti-éticos e pagamentos excessivos a investidores. O grupo inclusive foi contra o pagamento da exorbitante quantia de 155 milhões de dólares em dólares a Bobby Kotick, CEO da Activision Blizzard.
Segundo o grupo, as promessas de mudanças feitas pela companhia e por Kotick não estão nem perto de abordar os enormes problemas atuais de equidade (pagamentos), inclusão e gerenciamento de capital humano. Já sobre a WilmerHale, Waizeneggar disse (tradução livre):
“Essa firma possui uma excelente reputação como defensora dos ricos e seus conectados, mas não possui qualquer histórico em descobrir irregularidades, o investigador líder não possui uma profunda experiência em investigar assédios e abusos no local de trabalho, e o escopo da investigação falha em abordar a amplitude completa dos problemas de equidade do conhecimento do Sr. Kotick.
Nessa conjuntura crítica na história da Activision Blizzard, nós urgimos para que você e o corpo de liderança vão além da resposta inadequada da gerência e tomem os passos necessários para proteger nosso investimento dos riscos reputacionais, financeiros e operacionais que vieram à frente durante a última semana.
É importante relembrar que um segundo processo, movido também por acionista, foi feito contra a Activision Blizzard acusando a companhia de mentir sobre seu conhecimento sobre todos os casos denunciados, manipulando assim possível investidores a firmar contratos com eles.
Até o momento da escrita deste artigo ainda não houve resposta oficial da Activision Blizzard, mas ficaremos atentos a novos desdobramentos. Felizmente, o impacto desse imenso caso te gerado reações positivas, tanto para os funcionários da companhia, quanto para a indústria num todo, ao passo que evidencia a gravidade e profundidade dos crimes de abuso e assédio, que estão profundamente enraizados na indústria de video games.