Análise Arkade: King’s Bounty II é uma boa evolução do clássico RPG tático

23 de agosto de 2021
Análise Arkade: King's Bounty II é uma boa evolução do clássico RPG tático

A franquia King’s Bounty está no mundo dos games desde o início dos anos 1990, com RPGs que geralmente mesclam aventuras em tempo real com batalhas táticas interessantes. Depois de muito tempo de espera, King’s Bounty II chega para agraciar os fãs da franquia com uma grata evolução de sua fórmula clássica.

Apresentando mais uma vez os tradicionais combates táticos baseados em turnos, King’s Bounty II inova em alguns aspectos como a exploração do mundo do jogo e suas narrativas, além de manter pontos positivos de outrora, como a variedade de unidades e temática de alta fantasia de primeira.

Análise Arkade: King's Bounty II é uma boa evolução do clássico RPG tático

A jornada do herói em Nostria

Em King’s Bounty II você não começa criando um personagem do zero como em outros jogos do gênero. Entretanto, você pode escolher entre três personagens distintos, que representam as três classes básicas do jogo: guerreiro, maga e paladina. A origem dos três personagens, infelizmente, não dita como o jogo vai começar: todos têm sempre o mesmo início independente de quem escolhermos.

Porém, a variedade dos três personagens é sentida no decorrer da aventura, com a interação com NPCs de quests, interação com as unidades que comandamos em batalha e com as habilidades naturais de cada um deles. Isso porque, em King’s Bounty II, nosso personagem não é uma das unidades básicas da batalha. Na verdade, ele funciona mais como um comandante que coordena diversos tipos de criaturas no campo de batalha.

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Na história, somos prisioneiros no Forte Crucis após um misterioso ataque ao rei. No entanto, após um pedido de soltura vindo da própria corte, precisamos investigar o que está acontecendo no reino, ao mesmo tempo em que passamos a ter contato com uma trama muito maior (e mais pessoal). A história possui várias complexidades, numa narrativa que lembra brevemente o que vemos em The Witcher 3, com várias missões secundárias complementando muito bem a narrativa principal.

O fato das interações com NPCs serem todas faladas agrega bastante à imersão da jogatina. Infelizmente, King’s Bounty II não possui áudio ou legendas em português brasileiro, o que é uma pena. Mesmo assim, a forma de se contar essa história, cheia de personagens e interações, é muito rica em detalhes se comparada aos jogos anteriores da franquia.

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Combates táticos de primeira

A espinha dorsal de King’s Bounty II, sem dúvida é seu sistema de combates. Lembrando RPGs de peso de franquias como Fire Emblem e Final Fantasy Tactics, mas bem mais apoiado em regras de RPGs de mesa como Dungeons & Dragons, os combates da franquia King’s Bounty sempre foram de ótima qualidade.

Em King’s Bounty II isso não é diferente, mas foi melhorado consideravelmente pelos avanços visuais e técnicos pelos quais a série passou. O campo de batalha é muito mais rico em detalhes e cheio de complexidade, como relevo e objetos que alteram o campo de visão das unidades. O comando da câmera durante o combate, por sua vez, permite zooms consideráveis e rotações que facilitam bastante a visibilidade e a compreensão da batalha.

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De lobos a dragões, passando por golens anões. A variedade de unidades de King’s Bounty II chama a atenção.

Controlando diversos batalhões alternadamente, temos combates táticos cheios de detalhes. Cada unidade possui habilidades próprias, interações específicas e movimentações distintas. Além disso, nosso personagem também pode participar da batalha utilizando magias de apoio ou de ataque. Todas as unidades têm níveis próprios, assim como nosso personagem principal, o que melhora seus status e tamanho com o tempo.

O desafio de combate pesa muito sob os mais apressados, tornando-se algo bem mais morno para aqueles que possuem paciência para se planejar e se preparar devidamente para a exploração e combates. Ao meu ver isso é um ponto extremamente positivo de King’s Bounty II, uma vez que o jogo favorece justamente quem possui mais estratégia e senso de planejamento, claramente dando a oportunidade destes jogadores ficarem bem mais fortes do que os apressadinhos que querem apenas seguir com a missão principal desenfreadamente.

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Estratégia para além do campo de batalha

A estratégia em King’s Bounty II decididamente não está somente nos combates por turno. Existe todo um universo de mecânicas próprias para a construção do seu exército que envolvem planejamento, estratégia e coordenação de recursos. Além disso, a própria resolução de algumas missões principais e secundárias podem conceder vantagens e desvantagens no desenrolar da história.

Isso porque, além de conseguirmos contratar unidades novas em recrutadores localizados em vários pontos distintos de mapas e cidades, também conseguimos desbloquear alguns tipos de unidades ao concluir determinadas missões de formas específicas. Sim, antes que você se pergunte, em King’s Bounty II temos missões com mais de uma possibilidade de final, que causam impacto diretamente no mundo ao nosso redor.

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Isso é sensacional do ponto de vista narrativo, uma vez que cada missão (seja principal ou secundária) possui um peso no que vivemos no mundo de Nostria. Assim, a estratégia permeia desde a confecção dos nossos personagens, sua árvore de habilidades e equipamentos, até às respostas que damos a determinados NPCs e por quais ações optamos para concluir uma tarefa.

Um mundo incrível para explorar

King’s Bounty II, ao contrário do que possa parecer, não possui um mapa de mundo totalmente aberto. Na verdade, o jogo é formado por vários mapas, em sua maioria, bem extensos, que chegam a causar a sensação de vastidão que os mundos abertos causam. Mas na verdade a exploração possui algumas limitações bem consideráveis, incluindo paredes invisíveis aqui e ali.

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Mesmo assim, devido a vastidão e variedade dos mapas, a exploração ainda é bastante divertida. Seja pela quantidade de coletáveis que encontramos pelo caminho, seja pelas inúmeras missões secundárias ou inimigos prontos para batalhar. Entretanto, essa exploração ainda possui alguns deslizes, que denotam certa inexperiência (ou relaxo) dos desenvolvedores na hora de criar um combo de câmera, comandos e mapa que seja agradável e intuitivo de se utilizar.

Para começar, a locomoção do nosso personagem no mapa é consideravelmente lenta. A corrida dele é única, não possuindo uma forma de aceleração para além da tradicional montaria. Isso é bem frustrante em alguns momentos, como dentro de cidades, onde a montaria não pode correr — o que torna a exploração mais lenta e maçante do que precisava ser.

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Além disso, visualmente a locomoção do nosso personagem parece meio estranha, como se ele não exercesse peso sobre o chão em que caminha. Isso fica ainda mais evidente quando estamos em uma montaria — os cavalos parecem deslizar pelo chão. Esse efeito (ou falta de) não atrapalha a jogatina como um todo, mas compromete a qualidade do produto em si, quando analisamos a imersão de King’s Bounty II.

Ainda um RPG de primeira

Mesmo com uma veia fortíssima na estratégia, os aspectos propriamente de RPG de King’s Bounty II são igualmente gratificantes. O personagem com o qual escolhemos jogar, mesmo que tenha nome, história e classe fixos, possui outros aspectos de personalização interessantes. A começar pelos equipamentos muito variados que podemos atribuir a eles e influenciam diretamente os status das nossas unidades de combate.

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Além disso, a árvore de habilidades do nosso herói começa em um determinado ponto, mas pode seguir para uma ou outra direção livremente. Tudo depende do nosso progresso. Assim, podemos criar uma paladina que domina as artes da magia, ou uma maga completamente focada no combate direto por exemplo.

Por fim, temos todo um sistema de aproximação ou distanciamento das unidades que comandamos com o nosso personagem principal. Cada um dos três personagens que podemos escolher iniciar a jogatina possui uma índole diferente. Assim o são também as unidades que podemos contratar durante o jogo. Unidades com a mesma inclinação moral que nosso protagonista são favorecidas, enquanto que ações contrárias à nossa própria inclinação moral geram insatisfação nas tropas.

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Desse modo, não só equipamentos, habilidades e magias são personalizáveis, como também as unidades que você opta por utilizar, bem como as escolhas de ação e resposta que você pode tomar durante a jogatina. Tudo se encaixa muito bem num universo de mecânicas complexas que se combinam muito bem, proporcionando uma progressão orgânica, bem articulada e repleta de detalhes.

King’s Bounty II: uma ótima opção de RPG “como antigamente”

King’s Bounty II é um acerto e tanto da 1C Entertainment. Seja pela história cheia de detalhes ou pelos combates repletos de possibilidades, a jogatina se torna envolvente e viciante. Visualmente o jogo é bem agradável, mas os efeitos sonoros e músicas chamam ainda mais atenção. Por fim, o saldo final de King’s Bounty II é consideravelmente positivo, mesmo que o jogo apresente alguns probleminhas aqui e ali.

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O game pode não estar exatamente no nível de grandes AAA da indústria, seu grande escopo de possibilidades de jogatina e detalhes de mecânicas mostram que a produtora está correndo atrás para evoluir a franquia de forma agradável, sem esquecer suas raízes, mas olhando sempre para as possibilidades interessantes à frente.

King’s Bounty II chega oficialmente no próximo dia 24 de agosto (aka amanhã) com versões para PC pela Steam e também para PlayStation 4, Xbox One e Nintendo Switch.

Gilson Peres

Gilson Peres é Psicólogo, Mestre em Comunicação e aqui no Arkade fala principalmente sobre Realidade Virtual, jogos de PC e novas tecnologias desde 2019.

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