Análise Arkade: Bloodshore, um battle royale em FMV para assistir e jogar

3 de novembro de 2021
Análise Arkade: Bloodshore, um battle royale em FMV para assistir e jogar

Battle royales estão em alta no mundo dos games. Mas que tal um battle royale diferente? Bloodshore é um jogo em FMV/filme interativo onde 50 participantes são jogados em uma ilha, mas só um deles deve sobreviver se quiser ganhar o grande prêmio!

Eu gosto muito de jogos em FMV e da tosqueira que é meio que inerente ao gênero. Claro que existem algumas produções mais bem resolvidas financeiramente, mas no geral, o clima de “filme B” desse tipo de jogo — com atores desconhecidos, cenários improvisados e efeitos especiais questionáveis — faz parte da diversão.

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Não por acaso, virei fã da Wales Interactive, empresa que está decidida a não deixar os jogos em FMV morrerem. Já analisei diversos jogos deles aqui no site, e Bloodshore, seu mais novo lançamento, está chegando hoje para diversas plataformas.

Reality Show & Battle Royale

A trama de Bloodshore é relativamente simples, especialmente para quem assistiu ao fenômeno Round 6/Squid Game na Netflix: na ficção do jogo, existe um reality show chamado Kill/Stream que faz um tremendo sucesso e é, essencialmente, um battle royale da vida real.

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50 subcelebridades, streamers, influencers e pessoas que estão dispostas a tudo por um pouco de fama e dinheiro são atiradas em uma ilha, para uma disputa de vida ou morte onde o último sobrevivente leva um grande prêmio em dinheiro e tem a chance de mudar de vida.

Como nos videogames do gênero, armas podem ser encontradas, e milhares de minas terrestres vão sendo ativadas para diminuir gradativamente o “campo de batalha” — uma solução elegante para substituir os ciclones e nuvens radiativas dos games.

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Acompanhamos a história do ponto de vista de Nick, um ex-ator falido que, secretamente, está participando do reality show para investigar uma suposta conspiração que envolve resultados forjados, manipulação de resultados e deepfakes. Então, assim como em Round 6, além do jogo em si, existe uma trama conspiratória sendo desenvolvida em paralelo.

Claro porque, o fato de existir um reality show onde as pessoas se matam ao vivo não é nada de mais, né? O problema é quando o programa está manipulando os resultados. 😀

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Escolhas rápidas

Embora o jogo em si envolva 50 participantes, ao longo da história a gente só vai ver 1/5 deles. Os jogadores são “despachados” em grupos para a ilha, de modo que o fio condutor da história é o grupo do qual Nick faz parte — embora, ocasionalmente, rolem umas trocas de tiros e perseguições com membros de outros grupos que estão ali basicamente para serem os “caras maus”.

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O jogo segue aquele esquema bem típico dos jogos em FMV modernos: a gente mais assiste do que joga, acompanhando o desenrolar de algumas situações até que nos seja dada a oportunidade de tomar uma decisão. São sempre bifurcações: ou a gente faz A, ou faz B, e vê como a história se desenrola a partir daí.

Como estamos falando de um battle royale, muitas dessas decisões colocam a vida de outros participantes em nossas mãos. Você pode ter que escolher se vai salvar um competidor ou outro, ou decidir se mata ou poupa a vida de um integrante de outro grupo. Também acontece de termos que escolher se vamos confiar (ou não) em alguém, ou optarmos por uma abordagem mais stealth ou mais “pé na porta” e vermos o que acontece.

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Temos alguns segundos para tomar cada decisão
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E depois precisamos lidar com as consequências de nossas ações

Essas decisões até têm certo peso narrativo, mas não há um real peso emocional nelas, simplesmente porque nem temos tempo de nos importarmos com praticamente nenhum dos personagens. Salvo 5 ou 6 coadjuvantes, a história simplesmente “atropela” boa parte dos personagens, e o que deveria ser um jogo com 50 participantes acaba focado em meia dúzia deles.

Não acho que isso seja particularmente um problema, mas se a ideia era oferecer uma experiência estilo battle royale, seria legal se pudéssemos, de fato, conhecer outros personagens e outras equipes. Poucos minutos depois de o jogo começar, vemos uma das apresentadoras anunciar algo como “começamos com 50, mas agora já são apenas 30 participantes”… e a gente sequer viu a cara desses 20 pobres coitados que morreram.

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Só vemos algumas mortes

O lado “bom” disso é que torna a história como um todo bastante dinâmica: Bloodshore se comporta realmente como um filme, inclusive em sua duração. Como há diversos possíveis finais, você pode rejogar tudo (inclusive pulando as cenas que já viu) e tomar caminhos diferentes sem perder tempo.

Clima de filme B

Como eu disse, acho que a tosqueira é parte do charme de jogos em FMV, e Bloodshore é bastante tosco. Ele até traz umas tomadas aéreas feitas com drones e algumas sequências mais ousadas, mas no geral, das atuações aos efeitos especiais, tudo é risível. O apresentador do reality show é particularmente canastrão, e o comportamento dele ao que rola no jogo é bizarro — de um jeito engraçado.

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O apresentador do jogo é um sujeito bizarro

O battle royale em si também deixa a desejar, e não é só pela já mencionada falta de participantes que tenham alguma relevância. O jogo em si nunca parece realmente violento ou perigoso. Na maior parte do tempo, o que deveria ser um jogo de vida ou morte parece mais uma partida de airsoft.

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Ela parece animada para um jogo de vida ou morte, não acha?

Me parece que isso é proposital e, se realmente for, ótimo, cumpre seu papel. A história é galhofa, os personagens são extremamente canastrões e as mortes, que deveriam ser chocantes, no geral são patéticas — muito por conta dos efeitos toscos e da “nuvenzinha” de sangue que explode na cabeça dos personagens. Mesmo quando um personagem pisa em uma mina explosiva o resultado é mais engraçado do que sinistro.

Como eu já disse, se tudo isso for por querer, tá tudo bem. Mas eu tenho minhas dúvidas se esse é o caso. O jogo realmente parece achar que sua história de conspiração é boa, e seu tom de galhofa não parece 100% incidental. Tenho a impressão de que Bloodshore queria ser um jogo/filme sério… mas não consegue.

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Claro que, para quem estava ao lado do cara que pisou na mina, talvez a coisa tenha sido mais aterrorizante

Vale ressaltar que, já antes de seu lançamento, o jogo oferecia menus e legendas em português brasileiro. Como a gente passa mais tempo assistindo do que jogando, isso é uma mão na roda — ainda que a história que o jogo apresente não seja particularmente boa.

Conclusão

Bloodshore me parece aproveitar muito pouco do potencial de sua premissa. A ideia de um battle royale live action, pautado pelas decisões do jogador, tinha tudo para render uma experiência intensa, imprevisível e brutal… mas o que temos aqui não chega nem perto disso.

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Fico especialmente triste por esta ser uma experiência fraca de uma empresa que, no geral, vinha lançando bons jogos em FMV nos últimos anos. Alguns jogos são melhores do que outros, claro, mas todos eram, no mínimo, decentes. Tanto por sua narrativa quanto por sua produção, Bloodshore me parece um retrocesso, um desserviço para o que os jogos em FMV podem entregar.

Sendo junto, nos últimos dias fiz 2 finais — um BEM diferente do outro — e o jogo conseguiu me manter minimamente entretido nas duas partidas. Mas a verdade é que Bloodshore nunca me empolgou, nem fez com que eu me importasse com a história, ou com os personagens. E isso, para um jogo com atores reais, onde cada morte deveria ter algum peso, é realmente triste.

Bloodshore está sendo lançado hoje (03/11), com versões para PC, Playstation 4, Xbox One (versão analisada), Nintendo Switch e iOS.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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