RetroArkade – O dia em que o Show do Milhão foi parar no Mega Drive

6 de fevereiro de 2022
RetroArkade - O dia em que o Show do Milhão foi parar no Mega Drive

No início dos anos 2000, todo mundo tinha apenas um objetivo na vida: acertar as 16 perguntas feitas por Silvio Santos e ganhar um milhão de reais em barras de ouro que valem mais do que dinheiro. Independente do formato de participação, que foi desde cupons em revistas até promoções junto com a Nestlé, este foi um dos grandes sucessos do SBT duas décadas atrás.

E o sucesso, como não poderia ser diferente, chegou aos games. Em uma versão para computador, que justificou até a venda de um “Computador do Milhão”, até a chegada em um console que, embora já não fosse o mais atual, era tipicamente brasileiro, além de já mostrar, naqueles dias, que ia durar por muito mais tempo do que o seu suporte oficial.

Foi assim que, em 2001, chegava ao mercado nacional um produto tipicamente brasileiro, feito por uma aliança tipicamente brasileira: entre SBT, SEGA e a Tec Toy. Os brasileiros conheciam, em cartucho, o Show do Milhão para Mega Drive. Cuja maior diferença era que o vencedor nos games não receberia um milhão de reais nas famosas barras de ouro.

O programa de perguntas e respostas

RetroArkade - O dia em que o Show do Milhão foi parar no Mega Drive

Sempre se apegando ao sonho do brasileiro de ser um milionário, Silvio Santos estreou em 1999 um programa, após semanas de mistério em um anúncio assustador, com a “alma do SBT”: os 22 dias estão chegando. Primeiro lançado como um programa com começo, meio e fim, depois o show continuou sendo exibido pela emissora até 2003.

Para participar, era preciso, primeiro, comprar a “Revista do SBT”, uma revista que trazia informações sobre os programas da casa, e um cupom que, enviado ao correio, permitia a chance de ser sorteado e participar do programa. E, uma vez no programa, você poderia ser sorteado e responder as perguntas, todas valendo dinheiro.

O formato era simples: três rodadas com cinco perguntas cada uma, com prêmios que partiam de mil reais e iam até os R$ 500 mil. Era permitido, com limitação de um uso apenas, solicitar apoio às cartas, onde três ou nenhuma alternativa seria eliminada, as placas, onde os participantes levantavam placas com o número da resposta que achavam ser correta. Ou ainda os universitários, três convidados que falavam a resposta que julgavam a correta.

RetroArkade - O dia em que o Show do Milhão foi parar no Mega Drive
Sidney Moraes, o único vencedor do Show do Milhão

Ainda era possível pular, até três vezes, as perguntas que julgasse difíceis. Passando pelas três rodadas, era oferecido ao participante a “pergunta do milhão”, onde era possível apenas escolher não responder, e terminar com R$ 500 mil em prêmios, ou responder, ficando entre o acertar e levar o milhão para casa, ou errar e perder tudo.

Apenas um participante, em todos estes anos, faturou o milhão. Sidney Ferreira Moraes, que, em 2003, acertou “Em que dia nasceu e em que dia foi registrado o presidente Lula?”. Atualmente, o programa está em exibição, mas em formato modernizado, e apresentado por Celso Portiolli.

O Show do Megão

RetroArkade - O dia em que o Show do Milhão foi parar no Mega Drive

Em 2001, o Playstation 2 já era o sonho de consumo da maioria dos jogadores, que ainda tinham o Dreamcast em seu último ano de vida útil, além da chegada do Nintendo GameCube e do primeiro Xbox, trazendo ainda mais qualidade na disputa dos 128-bits. Além disso, os PCs haviam evoluído bastante, com vários jogos sendo lançados e clássicos sendo afirmados.

Entretanto, no Brasil, o Mega Drive seguia em circulação. O console da SEGA, fabricado e vendido pela Tec Toy em nosso país desde 1990, continuava disponível nas lojas naqueles dias, já com novas versões, mais simplificadas em hardware, mas ainda oferecendo o essencial para um 16-bits. A ideia era eliminar questões como a compatibilidade com o Sega CD, mas manter o videogame relevante para o mercado nacional.

“Agora você poderá jogar o Show do Milhão, um dos maiores sucessos da televisão de todos os tempos, em sua casa direto de seu Mega Drive. Tudo isso com um realismo impressionante, e o que é melhor, sem precisar de um computador! Você ainda conta com a voz digitalizada do próprio Silvio Santos, para que seu jogo fique ainda mais parecido com o original e um repertório de 1000 perguntas que garantirão muitas horas de diversão para você e sua família”, era o que dizia a Tec Toy, ao promover o game.

O computador em questão fazia referência à versão de PC. Em 2002, a Folha dizia que, no lançamento da quarta versão do jogo em CD-Rom, um milhão de cópias já haviam sido vendidas. Feito pela Cia do Software, o game foi um grande fenômeno, em tempos os quais um computador não era um item tão presente nos lares brasileiros.

RetroArkade - O dia em que o Show do Milhão foi parar no Mega Drive

Assim, se tornou justificável a parceria com a Tec Toy, que ainda produzia e vendia o Mega Drive no Brasil. Afinal, se tratava de uma alternativa mais barata de introduzir o game aos brasileiros. Para se ter uma ideia, houve o Computador do Milhão, uma parceria de SBT e Microsoft para popularizar o acesso à informática.

Com financiamento de 36 parcelas, um computador destes, com o game incluso, custava R$ 1.928. Valor este que, corrigido pela inflação, seria algo em torno de R$ 6.871,24, em dias atuais. Apesar das parcelas de R$ 88, o valor representava quase a metade do salário mínimo da época, de R$ 180.

Da TV para os videogames

O game, como não poderia ser diferente, é a reprodução do Show do Milhão nos games. Com mil perguntas aleatórias, o jogador tinha acesso ao formato do programa, com premiação simbólica. O game era embalado com a voz digitalizada de Silvio Santos, que ao longo da sua vida, emprestou sua voz para diversos produtos, incluindo CD de histórias para crianças e até um relógio no qual o apresentador fala a hora certa.

Por se tratar de um formato simples, não foi necessário exigir muito do Mega Drive, colocando apenas as perguntas e respostas que, naturalmente, se tornariam repetitivas, fazendo com que os jogadores acertassem de memória as questões. Não deixava de ser uma forma de aprendizado. E o formato simples foi suficiente para que o game se tornasse um grande sucesso, também no videogame.

RetroArkade - O dia em que o Show do Milhão foi parar no Mega Drive
Hoje, até a Alexa joga Show do Milhão com você

Precisamos lembrar que, assim como nos dias de hoje, há muitos consumidores de videogame que estão alheios ao que chamamos de “bolha”. Não sabem das novidades, não tem interesse no que chamamos de “hype” e querem apenas um dispositivo para se divertir. Em 2001, mesmo com o Playstation 2 fazendo muito sucesso no Brasil, através do mercado popular, ainda era um videogame muito caro, fazendo com que pessoas de classes mais baixas, ou mesmo desinteressadas das novidades da época, preferissem o já veterano Mega Drive como plataforma de entretenimento.

O sucesso rendeu uma sequência, o “Volume 2”. Lançado em 2002, o jogo trazia novas perguntas, funcionando mais como uma espécie de expansão, em tempos os quais este recurso estava distante dos consoles, e também fez sucesso. Assim como nos computadores, que rendeu um total de seis volumes. Inclusive, até hoje é comum achar o game, disponível em navegadores, lojas de aplicativos e até na Alexa.

Junior Candido

Conto a história dos videogames e da velocidade de ontem e de hoje por aqui! Siga-me em instagram.com/juniorcandido ou x.com/junior_candido

Mais Matérias de Junior

Comente nas redes sociais